domingo, 22 de fevereiro de 2015

Vertigem grega (14)

Nos termos do acordo feito com a UE há dois dias, o Governo grego vai ter de retomar e completar, sob supervisão da UE e do FMI, o programa de resgate que tentou renegar (incluindo a suspensão de algumas medidas já anunciadas) como condição de receção da fatia remanescente do empréstimo correspondente. É um profundo golpe no programa eleitoral do Syriza, por mais que a propaganda governamental tente dourar a pílula.
Mas o Governo grego pode aproveitar a oportunidade e o impulso político da UE para realizar as reformas de que o País carece e que continuam em grande parte por realizar: corte nos privilégios da elite política e económica, incluindo os da igreja ortodoxa (cujas salários e pensões são pagos pelo Estado!), reforma e racionalização da administração, criação de uma eficaz máquina fiscal e alargamento da base fiscal, liberalização da economia (ainda há preços tabelados no mercado de bens e serviços).
A realização dessas reformas não trará alívio imediato na austeridade orçamental a que o País está obrigado; mas criará as condições necessárias para um melhor desempenho económico, que só ele permitirá a geração de emprego e a realização sustentada dos excedentes orçamentais de que o País vai precisar para reduzir a dívida e para se manter no euro.
Amanhã veremos se a lista de reformas que Atenas vai transmitir aos demais governos da zona euro corresponde a um propósito de engagement leal e construtivo com a UE ou se se traduz na manutenção do clima de guerrilha e de confrontação que até agora têm pautado a conduta do Governo Syriza.

Adenda
É verdadeiramente patética a tentativa do governo Syriza e seus apoiantes para tresler o acordo com a UE e ver nele "uma batalha ganha" por aquele. Ver esta explicação em português entendível por toda a gente. Parece que outros comentadores leram uma versão diferente, provavelmente em grego...