sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Paraísos fiscais

(Créditos da ilustração aqui)

1. A notícia de que entre 2012 e 2014 a maior parte das transferências para paraísos fiscais devidamente reportadas pelos bancos não foi objeto de divulgação nem de escrutínio fiscal para efeito de eventual tributação é politicamente muito grave. Como se não bastasse a toxicidade política associada aos paraísos fiscais, ainda se junta o desmazelo do Ministério das Finanças no seu tratamento fiscal!
É evidente que o responsável governamental da altura pode invocar desconhecimento da inação dos serviços tributárias competentes. Mas, para além de parecer pouco credível tal desconhecimento durante vários anos, a verdade é que os governantes têm sempre de assumir a responsabilidade política pelas faltas dos serviços sob sua direta orientação. Há sempre uma obrigação de acompanhamento e de vigilância a cumprir.

2. A confirmar-se no parlamento essa responsabilidade política do Governo de Passos Coelho , ela vem somar-se à responsabilidade pela operação de manter debaixo do tapete a má situação da banca (Banif, CGD) até às eleições de 2015, o que tem comprometido visivelmente a capacidade de oposição do PSD e do CDS ao Governo do PS na área ultrassensível das finanças públicas.
Quando a oposição, cujo papel consiste em colocar o Governo à defesa, "vira" alvo de ataques fundados do Governo e se vê ela mesma acantonada na defensiva, algo lhe está a correr manifestamente mal.

3. A verdade é que, depois de ter neutralizado à partida a oposição à sua esquerda, tornando o BE e o PCP parceiros na solução governativa, o Governo de António Costa tem conseguido muitas vezes contrariar os ataques da oposição de direita com contra-ataques bem sucedidos. Esta operação é tanto mais certeira quanto é certo que o PSD manteve a liderança de Passos Coelho e a anterior ministra das Finanças como porta-voz nessa área, o que os torna alvos mais visíveis.
A direita tem sido obrigada a passar mais tempo a defender o seu anterior Governo das acusações da atual maioria do que o contrário. Mas nestas cenas de papéis trocados, a oposição só pode queixar-se de si mesma e dos esqueletos que deixou no armário!
[título modificado]

Adenda (25/2)
A assunção de responsabilidide política por parte do secretário de Estado envolvido no caso era devida mas fica impune, por não haver demissões retroativas. E a mancha sobre o Governo a que pertenceu e sobre a atual oposição de direita não vai desaparecer facilmente.