1. Utilizei esta expressão "floresta assassina", com algum eco público, aquando dos trágicos incêndios de Pedrógão no verão passado. Agora, depois do inimaginável dia de ontem, já em pleno outono, é caso para dizer que a assassina virou serial killer perante os nossos olhos incrédulos.
Com a devastadora perda de tantas vidas humanas no mesmo ano, o problema dos fogos florestais já não é apenas de ordenamento, limpeza e vigilância das florestas. Com a mudança climática a somar-se à inexoravel desertificação humana das zonas rurais, o que começa a tornar-se claro é que deixámos de ter condições logísticas para manter o país transformado numa extensa mata quase contínua de pinheiro bravo e de eucalipto ao serviço da indústria da celulose (na imagem a inquietante carta de risco de incêndio já em 2005).
2. Chegou o momento de questionar se queremos pagar um preço tão alto em vidas humanas e em inglório investimento na prevenção e combate aos incêndios, para tentar manter, com insucesso crescente, uma floresta industrial cada vez mais inadequada às condições orográficas, climáticas e humanas do País, em vez de equacionar corajosamente o regresso ao antigo coberto florestal de espécies autóctones, como o carvalho, o castanheiro, o sobreiro, a azinheira e outras, muito menos vulneráveis aos fogos florestais.
Os interesses identificados com a floresta industrial são poderosos e não são dados a escrúpulos na pressão sobre o poder político. Mas até quando é que estamos preparados para assistir sem revolta a dias de desespero como o de ontem?!
Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
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segunda-feira, 16 de outubro de 2017
domingo, 18 de junho de 2017
Portucaliptal (15) - Floresta assassina
Publicado por
Vital Moreira
1. Condições climáticas propícias aos fogos florestais sempre tivemos e teremos cada vez mais, à medida que as alterações climáticas se acentuarem. Mas os fogos florestais dependem essencialmente do combustível, ou seja, do tipo de floresta que temos e do ordenamento florestal que estabelecemos.
Infelizmente em Portugal, nas últimas décadas escolhemos deixar invadir o país por eucaliptos, sem qualquer ordenamento. Enormes áreas, mesmo nas serranias de difícil acesso, estão ocupadas pelo monocultura extensiva do eucalipto, pasto privilegiado para os fogos florestais.
O trágico incêndio florestal de ontem em Pedrógão Grande - uma dessas manchas de floresta contínua e de quase monocultura do eucalipto -, que reclamou várias dezenas de vidas, muitas delas apanhadas de surpresa dentro de automóveis em estradas no meio de pinheirais e eucaliptais, transformadas em fornos crematórios, testemunha o risco em que levianamente incorremos, em aras aos interesse da fileira da celulose.
2. Não basta agora chorar os mortos e lamentar as "condições climáticas atípicas", que podem repetir-se no futuro.
Além de responsabilizar os proprietários pela limpeza das suas matas e pela abertura e manutenção de caminhos e aceiros, bem como das margens de segurança em relação a habitações e vias de comunicação, é preciso encarar de vez o paiol de pólvora representada pela floresta que escolhemos ter. Se os interesses da celulose e o poder do seu lobby impedem a reversão da área eucaliptizada - uma nova teoria perversa dos "direitos adquiridos" e da "proteção de confiança" -, ao menos que se reduzam os perigos da monocultura extensiva, obrigando a criar clareiras corta-fogo que sirvam de barreira à propagação dos fogos e, sobretudo, a intercalar as plantações florestais de pinheiro bravo e de eucalipto com faixas de espécies menos vulneráveis aos fogos, como os sobreiros e os carvalhos (como várias vezes aqui defendi nesta longa série de textos sobre o tema).
Se o terrível incêndio de ontem deixa muitas interrogações no ar sobre a capacidade existente de previsão e prevenção de desastres destes, a sua repetição seria imperdoável. É preciso convencermo-nos de que deixámos criar uma floresta assassina.
segunda-feira, 19 de junho de 2017
Portucaliptal (16) - Portugal à frente!
Publicado por
Vital Moreira
Não são as condições climáticas, que se agravaram para todos os países. Também não é o abandono e envelhecimento da população rural, que é igualmente comum. Tampouco é a eficácia dos meios de combate aos incêndios, onde Portugal tem investido maciçamente. Qual é então a diferença? É obviamente a floresta! Essa divergência coincide com a invasão selvagem do eucalipto em Portugal, transformando o país num imenso eucaliptal industrial, sem paralelo em nenhum outro pais europeu. Já cheguei a escrever que se a Toscana ficasse situada em Portugal já estava coberta de eucaliptos.
Por isso, a "floresta assassina" a que me referi em post anterior tem um nome próprio - o eucaliptal assassino!
Adenda (20/6)
O Público de hoje traz um artigo de João Camargo ("Tirar a Floresta das Mãos do Eucalipto") que defende o mesmo argumento da ligação entre o aumento dos incêndios florestas e a invasão do eucalipto nas últimas décadas. Vale a pena ler.
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
Não dá para entender (3)
Publicado por
Vital Moreira
Será que não havia outra personalidade para a chefia da unidade de missão para a montagem do novo sistema de prevenção e combate aos fogos florestais além do chefe do departamento florestal da indústria de celulose, que é a principal responsável e beneficiária da transformação de Portugal num paraíso do eucaliptal, que fez do país um incendiário barril de pólvora e criou uma verdadeira "floresta assassina"? Pois não é evidente o potencial conflito de interesses, entre o interesse público da proteção da floresta em geral e o interesse da fileira agro-celulósica na proteção e expansão da sua própria floresta?
Decididamente, não dá para entender!...
Decididamente, não dá para entender!...
segunda-feira, 19 de junho de 2017
Portucaliptal (17) - "Killer forest"
Publicado por
Vital Moreira
A minha expressão "floresta assassina", que usei neste post, foi utilizada para título desta peça do jornal eletrónico Politico sobre o eucalipto em Portugal, que vale a pena ler.
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