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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Ser de esquerda

Comentando o meu post abaixo contra o aumento geral das pensões, um leitor diz que devo ser "o único pensionista contra".
Imagino que não deve haver muitos, mas estou habituado a defender aquilo que me parece justo mesmo que vá contra os meus interesses pessoais. Aliás, não vejo como é que alguém da classe média pode ser genuinamente de esquerda se não estiver disponível para defender posições contrárias aos seus próprios interesses, como, por exemplo, IRS progressivo, imposto sobre sucessões de valor elevado, prestações sociais familiares apenas para quem não tem recursos, preços das utilities (água, transportes públicos, etc.) que cubram pelo menos os custos (com tarifas sociais para quem tem menos rendimentos), etc. Mas, pela mesma razão, e ao contrário da esquerda irresponsável, sou a favor do pagamento de portagens nas autoestradas, de taxas moderadoras no SNS (com as devidas isenções) e de propinas no ensino superior (com bolsas de estudo para quem não pode pagá-las), etc.

Adenda
Ser a favor de um generoso Estado social é fácil. O problema é que são cada vez menos os que estão dispostos a pagá-lo...

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O dinheiro vem do céu

Há umas décadas o PCP animou a campanha do "não pagamos" contra o aumento de propinas no ensino superior (tal como animou mais recentemente a luta contra as portagens nas SCUT). Perdida essa batalha, regressa agora com a proposta de suprimir as propinas.
No entanto, o  PCP continua a não explicar duas coisas; (i) de onde é que viria o dinheiro para manter e desenvolver as universidades e politécnicos, que entretanto aumentaram em número e em custos; (ii) que justiça social é que há em facultar ensino universitário gratuito a quem o pode pagar (e que antes de mais proporciona vantagens a quem obtém um grau académico) e fazê-lo pagar pelos impostos de muitos que não tem nenhuma possibilidade de o terem.

Adenda
Tal como outrora, continuo a defender o aumento da propinas no ensino universitário (embora não no ensino politécnico), por várias razões: (i) porque as atuais propinas não pagam senão uma pequena fração dos custos do ensino superior; (ii) para permitir aliviar a carga fiscal geral; (iii) para permitir dedicar mais recursos ao financiamento de bolsas de estudo para quem não tem meios próprios para custear o ensino superior; (iv) para aumentar os recursos próprios das universidades, que é condição da sua autonomia; (v) por uma questão de justiça social (os que não podem frequentar o ensino superior, por razões económicas ou outras, não devem ser chamados a subsidiar os que o podem fazer e que podem pagar).

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Coerência

Um leitor pergunta-me por que é que, dada a minha confortável situação económica, defendo a criação de um imposto sobre o património e o reestabelecimento do imposto sobre sucessões e doações, o que vai obvimente contra os meus interesses.
A minha resposta é simples: pela mesma razão por que há muitos anos, estando os meus filhos na universidade, defendi as propinas no ensino superior público; ou por que, sendo funcionário público (e com muita honra!), sempre denunciei as prerrogativas da função pública; ou por que, sendo um próximo aposentado da função pública, não considerei intolerável a redução das pensões da CGA no contexto do ajustamento das finanças públicas; ou por que, sendo beneficiário da ADSE, ousei propor a sua extinção; ou por que, tendo alguns rendimentos de capital, sempre defendi o aumento do respectivo imposto, bem como das mais-valias mobiliárias.
Poderia dar outros exemplos. Do que se trata sempre é de ser coerente com as ideias que se defende. É o que me distingue dos que, sendo titulares de nutridas pensões públicas (bem acima das contribuições que fizeram para o efeito...), acham que os sacrifícios podem impender sobre todos os rendimentos menos sobre os deles, sem ao menos se darem ao cuidado de uma declaração de interesses...

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Peço meças (2)

Desde há muito anos me habituei, muitas vezes contra a corrente à esquerda, a combater os privilégios de grupo ou os interesses instalados no Estado à custa do interesse (e do erário) público.
Sem preocupações de fazer uma lista completa, recordo os casos da criação de novos municípios, das propinas no ensino superior, da liberalização das farmácias, dos privilégios da Universidade Católica, do serviço de saúde oficial dos jornalistas, da deriva corporativa das ordens profissionais, das SCUT rodoviárias, do encerramento de pseudo-maternidades e de pseudo-centros de saúde, da eliminação de escolas básicas sem alunos e sem condições, da unificação do sistema de segurança social, da extinção da ADSE, da eliminação dos privilégios corporativos no sector público, da redução das freguesias, etc. etc.
A principal missão da esquerda democrática é a luta contra os privilégios e pela igualdade de tratamento do Estado. Não há maior perigo para a saúde da democracia e para o desempenho do Estado social -- causas prioritárias da esquerda social-democrata -- do que a captura do Estado por grupos de interesse ou por visões corporativistas, incluindo os que operam ou se manifestam no seio do próprio Estado.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Antologia da irresponsabilidade política

O Bloco de Esquerda -- quem havia de ser ?! -- propõe uma amnistia das propinas por pagar no ensino superior. Da próxima vez proporá uma amnistia das multas de trânsito, das contas de água e electricidade, das rendas, dos impostos e das dívidas em geral...
Assim vai a irresponsabilidade política em Portugal!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Coerência

Um jornal diário apontava ontem uma alegada contradição a Sócrates, por defender a escola pública no Governo e depois ter os filhos em escolas privadas. Sem razão, porém.
Antes de mais, toda a gente tem liberdade de ter os filhos em escolas privadas, mesmo que defenda a aposta política na escola pública. A diferença essencial está em que, ao contrário de outros, Sócrates não pretende que o Estado lhe passe a pagar as propinas dos seus filhos nas escolas privadas, pelo contrário, e bateu-se mesmo pelo fim das deduções fiscais dessas despesas, pelo menos para os titulares de rendimentos acima da média, o que o abrangeria a ele. Foi o PSD que se opôs ao corte desse subsídio público à frequência de escolas privadas, tal como é a direita que se bate pelo chamado "direito de opçao", ou seja, pelo reeembolso das despesas com escolas privadas pelo Estado.
Por conseguinte, Sócrates defende e implementa convictamente as posições políticas do PS nesta matéria contra os seus próprios interesses pessoais. A isso chama-se coerência republicana com as convicções politicas e desprendimento pessoal. Ao invés, há quem mantenha os filhos em escolas publicas, mas que provavelmente os trasnfeririam para escolas privadas de elite se o Estado pagasse --, o que justamente pretendem que passe a fazer. A isso chama-se instrumentalizar o Estado ao serviço de interesses privativos.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Não desperdiçar uma boa crise

O Governo vai finalmente rever o sistema de "associação" de escolas privadas, mediante o qual o Estado suporta as propinas aos alunos destas, como se de escolas públicas se tratasse.
O esquema foi inicialmente justificado como solução de recurso para suprir os défices de cobertura do sistema público. Só que em breve se verificou um enorme abuso desse esquema, como forma de sustentar escolas privadas à custa das públicas, tanto mais que a cobertura do sistema público é hoje tendencialmente de 100%.
Por isso, há que pôr fim a este meio de subvenção de escolas privadas pelo orçamento do Estado, quando este é bem necessário para melhorar as escolas públicas, que, essas sim, constituem uma obrigação do Estado.
Só foi pena ter sido necessário uma crise para pôr fim à captura do Estado pelo poderoso lobby do ensino privado.

Aditamento
É evidente que o PSD não pode deixar de apoiar esta virtuosa medida de redução da despesa pública, ainda por cima despesa de todo em todo injustificada...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Trocar propinas por bolsas

«OCDE considera inevitável subida das propinas nas universidades».
Defendo a elevação das propinas no ensino superior desde há vinte anos. Desde logo, para dispor de mais recursos financeiros para aumentar as bolsas de estudo e os empréstimos bonificados, em número e valor. Trata-se de aumentar a justiça social no acesso ao ensino superior, diminuindo o actual subsídio aos ricos e aumentando a ajuda a quem precisa.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Escolas privadas

Diferentemente do que Camilo Lourenço me imputa no Jornal de Negócios, eu não critico nada o facto de as escolas privadas de elite serem procuradas pelos melhores alunos (ou escolherem-nos...).
O que eu sustento é o seguinte: (i) a posição de uma escola no "ranking" tem menos a ver com a sua natureza pública ou privada do que com a origem social dos seus alunos; (ii) são uma minoria as escolas privadas que sobressaem em relação às públicas, sendo isso devido à selectividade social que o seu preço e uma política expressa de selecção proporcionam; (iii) o "vale escolar" não garantiria o acesso a essas escolas a toda a gente, desde logo porque ele não chegaria para pagar as elevadas propinas; (iv) uma política de "vouchers" seria financeiramente incomportável, visto que por cada aluno que saísse dos sistema público, implicando o respectivo custo, não haveria uma idêntica diminuição de despesa, dadas as despesas gerais do sistema público; (v) independentemente disso, um Estado laico deve financiar um ensino público aberto e plural, como forma de inclusão social e de igualdade de oportunidades, e não um ensino segregado de acordo com orientações religiosas ou filosóficas particulares.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Contra, porque sim

A propósito do novo regime de empréstimos garantidos pelo Estado para a frequência do ensino superior, sustentei que ele constitui uma vantagem adicional para os seus beneficiários, bem como um apoio (e um encargo financeiro) adicional do Estado, que se soma aos apoios existentes, proporcionando a possibilidade de frequência do ensino superior a quem de outro modo não poderia fazê-lo ou só o poderia fazer com muitas dificuldades.
Os críticos do referido regime (aqui e aqui), em vez de contestarem essa mais-valia (não vejo como), desviam a conversa para outros temas que não estão em discussão, como as propinas e a acção social escolar, sabendo bem que nem as primeiras vão aumentar nem a segunda vai diminuir (pelo contrário). Quando não convém conversar sobre alhos, fala-se em bugalhos...

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Ensino superior (3)

Era uma lacuna importante na garantia do direito de acesso ao ensino superior, para além do apoio social escolar. Com a aprovação do regime de empréstimos aos estudantes, com juros controlados e sem necessidade de garantias pessoais -- a garantia é assegurada por um fundo suportado pelo Estado --, há condições para generalizar esse importante instrumento de apoio à frequência do ensino superior por parte de pessoas economicamente carenciadas, bem como de autonomia pessoal dos estudantes.
Alguns aspectos menos merecedores de aplauso (como o prazo de carência reduzido a um ano para o início do reembolso, depois da conclusão do curso) não anulam a importante mais valia do mecanismo agora introduzido.
Com este novo instrumento criam-se também condições para, a prazo, ser equacionada (como desde há muito defendo) a elevação do montante das propinas (sem prejuízo das isenções devidas), de modo a reforçar o nível de recursos e de auto-suficiência financeira das universidades e politécnicos.

sábado, 25 de novembro de 2006

Referendos em causa própria

«Fenprof promove referendo nacional sobre Estatuto da Carreira Docente».
Ainda haveremos de ver um referendo entre os jornalistas, sobre se aceitam perder o seu subsistema de saúde; um referendo entre os enfermeiros, sobre se aceitam deixar de ter direito à aposentação antes dos 60 anos; um referendo entre os juízes, sobre se aceitam perder o subsídio de habitação; um referndo entre os estudantes universitários, sobre se aceitam pagar mais propinas; um referndo na Madeira, sobre se aceitam perder as transferências do orçamento do Estado, etc.
Como é bom de ver, trata-se de referendos de resultado muito problemático!

domingo, 1 de outubro de 2006

Mais um pouco de seriedade política, pf

Será que o Presidente do PSD não sabe a distinção entre impostos, por um lado, e as taxas e contribuições que (como as da segurança social) são destinadas a custear benefícios específicos e pessoais de quem as paga? Se, por hipótese, o Governo decidisse aumentar as propinas do ensino superior, isso também seria um aumento de "impostos"?
Dito isto, é fácil ver que o Governo bem poderia ter escapado a esta crítica demagógica, tornando a ADSE facultativa, de modo a pagar e beneficiar apenas quem quer.

terça-feira, 19 de setembro de 2006

histórias a meio

e depois há o episódio do rapaz tímido, toda a vida geek, que chegou a casa mais feliz do que nunca no dia em que - aos 22 anos e com as óptimas notas de sempre - concluiu o seu curso superior. À sua espera, os pais deram-lhe os parabéns sentados à mesa da cozinha e passaram-lhe para as mãos um caderno de ar antigo mas bem conservado. Nas suas páginas estava exposto um relatório de dívidas. Todo o dinheiro, contado ao escudo e depois ao cêntimo, de propinas a lápis, que os pais tinham gasto na sua educação.

terça-feira, 4 de julho de 2006

Correio dos leitores: Deduções fiscais

«Desta vez, excepcionalmente, não estou de acordo com o teu artigo de hoje [no Público]. Aceito bem os fundamentos teóricos, mas julgo haver coisas importantes a ter em conta.
1. As deduções parecem-me ser uma forma, talvez enviesada, de atenuar o que julgo ser um excesso de progressividade do nosso IRS. A taxa que me atinge é aquela que se aplica em outros países a rendimentos muito superiores, em termos de poder de compra.
2. Parece-me errado pensar só nas propinas. Livros, materiais escolares, transportes, etc., podem significar uma grande despesa. Não é coberta pelo Estado e, por isto, não pode haver o argumento de os mais ricos já estarem a financiá-las com os impostos mais elevados e a beneficiarem da dedução, por outro.
3. Da mesma forma quanto ao que se refere a dedução dos pagamentos a privados. Concordo, no que se refere ao ensino básico e secundário, em que a opção pelo privado pode ser um luxo e uma marca de classe. Mas eu, como muita gente com filhos no público, tive sempre de pagar (e deduzir) uma despesa importante que o Estado nunca me evitou: os tempos livres ou de estudo, numa espécie de escola privada, à tarde, enquanto trabalhávamos. Parece-me perfeitamente equivalente à excepção que tu próprio abres para o pré-primário.
4. Não me parece que estejas a ser muito objectivo em relação à universidade privada. Concordo quanto ao caso particular da UCP, cheia de meninos bem. No entanto, posso dizer-te que a generalidade dos meus alunos, na privada, fazem enormes sacrifícios, comem mal, não conseguem comprar os livros que eu recomendo. São vítimas, pelo menos no meu curso, do maltusianismo corporativo na fixação de vagas públicas, que tu tanto criticas e muito bem.
Finalmente, confesso não ter percebido muito bem porque diferencias estas deduções das com a saúde. Eu também posso deduzir despesas feitas em clínicas privadas.»

João V C

quarta-feira, 26 de abril de 2006

Para reduzir o défice das contas públicas (8)

8ª medida: Aumentar as propinas do ensino superior público, tal como foi recentemente preconizado mais uma vez pela OCDE, no seu relatório sobre Portugal, de modo a aumentar a contribuição de quem pode para os respectivos custos (neste momento pouco acima dos 10% em média) e libertar mais recursos para bolsas de estudo para quem não pode pagar o seu curso. A discriminação económica constitui um dos fundamentos para a baixa taxa de frequência do ensino superior entre nós, quando comparada com a média europeia.

quinta-feira, 23 de março de 2006

Correio dos leitores: Primeiro emprego

«Tenho seguido as notícias relativamente ao que se passa em França devido ao contrato de primeiro emprego, e não me deixo de preocupar com o futuro da Europa. Os jovens europeus deviam compreender e entender o futuro melhor do que os nossos pais mas em vez disso preferem o imobilismo e não querem enfrentar o futuro. Infelizmente preferem fazer como a avestruz. O "contrato de primeiro emprego" [francês] é mau; o ideal seria termos muito mais segurança no emprego. Contudo, neste mundo globalizado tal já não é possivel. Amanhã só as empresas com bons profissionais sobreviverão e as empresas europeias vão ter de competir com as empresas chinesas e indianas. O conhecimento será a arma estratégica do futuro. As empresas actualmente não contratam ninguém porque a legislação laboral é rígida e depois o que acontece é que as empresas abusam dos recibos verdes e dos contratos temporários. A nossa lei pode não ser flexível mas os jovens trabalhadores já sabem o que os espera no mercado de trabalho, a precariedade. Por isso, os estados europeus só podem fazer uma coisa, formar os europeus e dar-lhes a possibilidade e a esperança de conseguirem fazer a transição da melhor maneira possível. O que me preocupa é não termos universidades ou politécnicos no topo dos melhores do mundo. No último estudo da OCDE as melhores universidades que constam no top 20 são esmagadoramente americanas. Nenhuma francesa ou alemã. Duas inglesas e uma japonesa. Os jovens franceses, como os jovens portugueses, deveriam ir para a rua mas para exigir melhor ensino. Enquanto os jovens franceses protestam contra o CPE, os espanhóis contra a proibição de beberem na rua, e nós contra as propinas, os chineses, os indianos e os dos países de leste estudam para preparem o futuro. Eles estudam e preparam-se, e nós?»
Élio Oliveira

quarta-feira, 7 de setembro de 2005

Correio dos leitores: Colégio Militar

«Mas qual é o mal de o Estado ser proprietário de uma escola que se rege pelos princípios da escola privada? O Colégio Militar é um colégio como qualquer outro - sujeito a propinas - a única diferença é que, em vez de ser propriedade de um particular, de uma cooperativa, de uma IPSS, ou de uma igreja, é propriedade do Estado. Tal como o Estado fornece, nas suas Universidades, mestrados que se regem pelos princípios do utilizador-pagador - ou seja, que não são gratuitos - também pode perfeitamente fornecer Colégios que se regem pelos mesmos princípios. (...)»
Luís Lavoura

Comentário
O "mal" está na violação dos princípios constitucionais da gratuitidade, igualdade e universalidade do sistema público de ensino básico. O pretenso paralelismo com as actividades "de valor acrescentado" das universidades públicas não é procedente, visto que o ensino universitário nem é universal nem gratuito, havendo um mercado de pós-graduações com operadores públicos e privados sujeito às regras do mercado.
O Colégio Militar podia compreeender-se no século XIX, quando não havia sistema de ensino público universal e quando ele funcionava como instrumento de formação da "classe militar". Não tem nenhum sentido hoje, salvo como sobrevivência de um privilégio de casta do passado.

Correio dos leitores: Colégio Militar

«No seu blogue "Causa Nossa" afirma (11-08-2005):
«A propósito de escolas militares, o que é que justifica hoje a existência de escolas de ensino básico e secundário, como o Colégio Militar, se não um deslocado espírito de casta (aliás reservado a rapazes)?»
Em resposta aos protestos de alguns leitores publica um segundo post:
«Não vejo onde é que se enquadra, constitucional e legalmente, a possibilidade do Estado manter Colégios "privados"».
Desconhecerá o Prof. Vital Moreira a história e a excelência do ensino do Colégio Militar? Não creio! Insurge-se contra aquilo que chama "espírito de casta". Mas que casta? A casta dos que promovem essa excelência: a instituição militar, os professores, os funcionários, os antigos alunos e os pais que pagam um ensino com um elevado padrão de qualidade, procurando incutir nos jovens valores e levando à prática a máxima grega, "mente sã em corpo são".
O Prof. Vital Moreira questiona a constitucionalidade e a própria legalidade de "o Estado manter Colégios "privados"". Ora, o Colégio Militar não é uma escola "privada". É um colégio público. As elevadas propinas são suportadas pelos pais. O Prof. Vital Moreira defende a ideia da gratuitidade absoluta do ensino, com propinas praticamente inexistentes. Nesse caso o que poderia propor era a igualização das propinas do Colégio Militar ao valor das propinas das demais escolas públicas!
(...) Escola Pública, tutelada pelo Ministério da Defesa e com tutela pedagógica do Ministério da Educação, é frequentada por rapazes a partir dos 10 anos. Com regras mais exigentes de que as demais escolas públicas no que tange ao aproveitamento escolar, é um exemplo de excelência no ensino. (...) Neste enquadramento, o que explica a existência de algumas vozes questionando a existência do Colégio Militar? Desejo de nivelar o ensino por baixo? (...)».


Comentário
O que eu disse, e mantenho, é que não cabe ao Estado manter escolas pagas (como se fossem escolas privadas), à margem do sistema nacional de ensino. Por uma simples questão de universalidade e igualdade. Seria o mesmo que o Estado manter clínicas de luxo, pagas, ao lado dos hospitais do SNS. Quem quiser escolas de elite, exclusivas, crie-as e pague-as -- é para isso que existe a liberdade de escolas privadas --, em vez de colocar o Estado ao serviço de privilégios de grupo.
O que eu defendo é a separação entre a lógica da escola pública e a lógica da escola privada. O Estado não deve invadir a esfera própria dos privados.
É a Constituição que estabelece a gratuitidade para o ensino básico obrigatório público e é a lei que o estabelece para o ensino secundário. E bem, por que se trata de níveis de ensino que são, ou deveriam ser, de frequência universal, incluindo para quem não tem dinheiro para frequentar o Colégio Militar...

sexta-feira, 2 de setembro de 2005

Correio dos leitores: Desprezo

«A má-criação é uma constante no nosso dia-a-dia e um atavio dos portugueses. As pessoas insultam-se e berram em qualquer circunstância independentemente da gravidade do facto, do lugar em que se encontram ou da pessoa a atingir. Porque alguém teve uma condução menos correcta o(a) outro(a) abre o vidro e lança obscenidades ao(à) faltoso(a). Porque a polícia se sente lesada nos seus privilégios, chama "gatuno" a um ministro. Porque os universitários não querem pagar as propinas, chamam "ladrão" ao reitor. Porque há uma arruaça as televisões estão lá e transmitem os palavrões dos arruaceiros. Porque o árbitro decidiu mal, insultam-no à exaustão. O palavrão e o insulto são usados por pais em frente às crianças, por "cavalheiros" a senhoras, por polícias a ministros, pelo presidente da região autónoma da Madeira a quem o incomode. A provocação ou a arruaça surgem por "dá cá aquela palha".
A minha visceral repulsa ao palavrão cedeu lugar, ao longo da minha vida, a uma atitude racional de que de tanto ser dito e repetido por qualquer um, não importa o posto, o palavrão já não tem significado nem produz efeito.
Nos meus 12, 13 anos, recordo-me de ir a correr com os meus irmãos à janela para ouvir os impropérios que lançava à sua volta uma pobre mulher demente e alcoólica que subia diariamente a minha rua por volta do meio-dia.
- Vem aí a Amelinha, dizíamos uns aos outros.
(...) De facto os impropérios eram inócuos: a mulher disparava-os sem direcção. Até que um dia, um cãozito num portal, assustado talvez com a algazarra, ladrou-lhe. No seu desbragamento grita-lhe a desgraçada com o dedo em riste: "E bocê?! O qué que bocê quer também?". Lembro-me que o bicharoco não meteu o rabo entre as pernas nem sequer ripostou: quedou-se a olhar espantado.
Transpondo a história, há por aí muitas "Amelinhas" que vociferam obscenidades para o ar e o melhor é de facto não fazer como o cão: responder ao insulto nivela humanos e animais.»

Maria José Miranda