Instrumentalizar Abril

Este Governo já foi acusado de muita coisa, justa e injustamente. Mas nunca tinha sido acusado de fazer perigar o regime democrático.
Num discurso na Assembleia da República no dia 25 de Abril, o cabeça de lista para as eleições europeias do PSD Paulo Rangel veio, a pretexto do crescimento da dívida pública, acusar o Governo de "renegar às gerações futuras... o bem da liberdade" que Abril conquistou. E como é que o Governo do PS estaria a querer minar a democracia portuguesa? Roubando"a liberdade de escolha às gerações futuras" com o seu "programa de grandes obras públicas" porque este deixaria "uma dívida monstruosa".
Vamos a ver se percebemos: estamos em crise. A receita baixa. A despesa sobe, nomeadamente em consequência das medidas de protecção social aos desempregados e outras para combater a crise.
Até há alguma margem de manobra, já que o Governo do PS conseguiu diminuir consideravelmente o défice orçamental - esse sim, monstruoso - deixado pelos Governos PSD (Portas/Santana/Durão).
O Governo aproveita essa margem e prevê o aumento do endividamento para estimular a economia. Nesta altura, quais são os Governos nos países ocidentais (e não só) que não se endividam para atacar a crise?
Mas explicar isto às pessoas complica e densifica a mensagem. E o PSD não acredita em mensagens complexas. Em conteúdos. Tem os eleitores em pouca conta.
Mais. Como o PSD do Dr. Rangel sempre defendeu precisamente as políticas económicas neo-liberais que mergulharam na crise Portugal e o mundo, é preciso lata para agora atacar o Governo do PS, quando este toma decisões difíceis - e necessárias - para tentar amortecer a queda e relançar a economia.
É triste ouvir o Dr. Rangel instrumentalizar o 25 de Abril para fins eleitoralistas. Será pouco apego às liberdades que declara estarem em perigo, ou pouco respeito pela Revolução que as implantou?

Diário de candidatura (26)

1. Nesta campanha eleitoral há um campeonato que seguramente eu não quero ganhar - o da algazarra e da vozearia, o do ataque pessoal aos adversários, o da demagogia e da mistificação.

2. Os ataques pessoais de que tenho sido alvo desde que sou candidato às eleições europeias -- muitos deles odientos e desprezíveis -- não me abalam, antes me motivam. Até me lisonjeiam, pela distinção. Só se ataca quem se teme.

sábado, 25 de abril de 2009

25 de Abril sempre!


Onde estava no 25 de Abril? repetem-me a pergunta nestes dias. E eu respondo: afortunadamente, estava lá.
O telefonema do Toné chegou às 7 da manhã. "Tropa na rua. É desta!"
Seria? Mês e meio antes não fora...
Vesti-me, ainda consegui apanhar o 29 para a Junqueira, cheguei à Compania Portuguesa de Congelação, onde trabalhava (tinha sido suspensa da Faculdade em Janeiro...), para ver todo o pessoal a ser mandado embora para casa. "Será que é mesmo desta?"
Uns telefonemas : "Onde hei-de ir ter?". Para a Baixa, para a Baixa!
Passei a manhã a calcorrear as ruas entre o Rossio e a Rua do Arsenal.
À hora do almoço, em reunião improvisada no Cineclube Universitário, à Almirante Reis, os prognósticos eram pessimistas: "Spinolismo? uma nova forma de marcelismo." Mas largamos ao principio da tarde para o Largo do Carmo, fundindo as incertezas na multidão vibrante que vitoriava os soldados e exigia a entrega de Marcelo.
Ao fim da tarde gritava "assassinos" a plenos pulmões na António Maria Cardoso, quando as G3 da pidaria vomitaram sobre nós. Recuei, corri, tropecei, entrei de roldão com muito mais gente num vão de escada, a seguir ao S. Luiz. Fiquei, ficámos, à espera não sei de quê. Terão sido minutos, pareceram horas. Alguns soluçavam, era mais a raiva que o medo.
Era insuportável ficar ali, escondida. Escapuli-me. À frente da Brasileira, alguém conhecido me parou e fez beber água para me acalmar a respiração ofegante. Vi o Adriano com o calcanhar a sangrar, vi-o ser metido num carro e ser levado. Houve mortos, corria.
Uma hora depois o rumo era Caxias. Era preciso exigir a libertação dos presos. Corriam perigo, os canalhas poderia retaliar sobre eles.... Já não me lembro quem nos levou até lá de carro. Mas lembro-me da espera, na noite cerrada, no meio dos pinheiros que entrecortavam pequenos aglomerados de gente como nós. E lembro-me da luz de repente brotar, uma porta a abrir-se e eu a procurar as caras de amigos presos. E de repente ter à minha frente o Tó Luis e saltar-lhe ao pescoço, doida de alegria!
Ah, maravilhoso 25 de Abril e corajosos capitães! Quanto vos devemos e tanto que, tantas vezes, o esquecemos!
Devemo-vos um país!
Porque sem a liberdade e a democracia que o 25 de Abril abriu, Portugal não valia a pena!

Diário de candidatura

Estranha sensação a de celebrar o 25 de Abril na Madeira, onde a revolução não tem comemorações oficiais e onde a Flama resolveu dar um ar da sua graça, exibindo a sua bandeira em plena baixa do Funchal.
Peculiaridades do poder de A. João Jardim...

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Assombrações

"Candidatas fantasmas" - Manuela Ferreira Leite disse sobre mim e Elisa Ferreira.
Por mim, lamento as assombrações que possa causar à líder do PSD.
No domínio da fenomenologia do além, cabe retorquir que eu não acredito em bruxas. Pero que las hay, las hay...

PSD ... aos papéis

É com pena que vejo não voltarem às listas do PSD e do CDS/PP para o Parlamento Europeu muitos colegas com quem mantive sempre boas relações pessoais e cuja actuação me habituei a respeitar e até por vezes a admirar, independentemente das divergências políticas. De João de Deus Pinheiro a Vasco Graça Moura, passando evidentemente pela minha amiga Assunção Esteves.
Se não me espantei diante da exclusão de José Ribeiro e Castro, por o saber honrosamente distante da orientação Paulo Portas, já me caiem os queixos quando vejo a direcção do PSD desperdiçar um deputado de invulgar qualidade e excepcional influência em questões económicas e sociais como José Silva Peneda. Qualidade e influência reconhecidas em todo o espectro partidário, ao ponto de o seu próprio Grupo político, o PPE, já o estar a predestinar para coordenador da área social na próxima legislatura, segundo me afiançaram vários colegas desse Grupo, incrédulos com a perda.
O papel dos coordenadores é decisivo nas orientações e nas actividades do respectivo Grupo - e, note-se, PSD e CDS não tinham qualquer coordenador neste mandato (enquanto a delegação portuguesa no PSE tinha quatro coordenadores - Elisa Ferreira na Economia, Capoulas Santos para a Agricultura, Paulo Casaca nas Questões Orçamentais e eu mesma para a Segurança e Defesa).
Acresce que quando chega ao PE pela primeira vez qualquer deputado, por mais esforçado que seja, anda cerca de dois anos a procurar entender como se funciona e a conhecer "os cantos à casa" (digo-o eu, por experiência própria, apesar de muito ajudada pelos meus antecedentes profissionais como diplomata).
Enfim, a actual direcção do PSD, em vez de tirar partido do investimento feito nos seus deputados nesta legislatura e do papel e influência que ganharam no seu Grupo Político, entendeu antes apostar em candidatos que, na sua maior parte, irão para o PE começar por andar... aos papéis.

Se a América pode...

A semana passada o Departamento de Justiça dos EUA decidiu publicar o argumentário jurídico que serviu para justificar o injustificável durante a Administração Bush: a tortura de suspeitos de terrorismo em democracia.
Mais uma decisão que demonstra a vontade de cortar com o passado do Presidente Obama.
E que inspirou Ali Soufan, agente do FBI envolvido nos interrogatórios de alguns dos mais notórios terroristas da Al Qaeda, a contar o que sabe no New York Times de hoje.

Aqui vão umas amostras (traduzidas do inglês):
"[A revelação, através de métodos de interrogação convencionais, de que Khalid Shaikh Mohammed era o cérebro do 11 de Setembro] confirma aquilo que eu fui descobrindo ao longo da minha carreira no contra-terrorismo: técnicas tradicionais de interrogação têm sucesso em identificar operacionais, desmontar conspirações e salvar vidas."
"... para além disso, constatei que o uso destes 'métodos alternativos' foi contraproducente em várias situações."
"Uma das piores consequências do uso destas técnicas cruéis foi a reintrodução da chamada 'muralha da China' entre a CIA e o FBI, numa reedição dos obstáculos de comunicação que impediu as duas organizações de trabalharem juntas para impedir os ataques do 11 de Setembro." [O FBI recusou-se a usar as novas técnicas de interrogação da CIA e não pôde participar em operações que delas fizessem uso.]
"A decisão de publicar estes memos [o argumentário jurídico que sustentava as práticas de tortura] foi a correcta, porque é preciso que se saiba a verdade... é do nosso interesse nacional recuperar a nossa posição como o principal defensor dos direitos humanos no mundo."

E em Portugal, quando é que são publicados os documentos do governo de Durão Barroso e seguintes relativos à participação portuguesa no programa da deslocalização da tortura da Administração Bush?
Porque prossegue o encobrimento?

quarta-feira, 22 de abril de 2009

A propósito de um vídeo difamatório

Se alguém divulga um documento alheio difamatório para outrem, o divulgador também comete o crime de difamação. Se o crime for cometido através dos media, a pena será agravada. E se a vítima for um membro de órgão de soberania, também tem pena agravada. Além disso, se se tratar de documento de um processo em segredo de justiça, há também o correspondente crime.
O problema é a lentidão da nossa justiça penal...

terça-feira, 21 de abril de 2009

Falso deputado?

Guilherme Silva, o dirigente do PSD-Madeira que me acusou desonestamente de "falsa candidata" e de "duplicidade enganosa", segundo a sua declaração de interesses no sítio do PSD na AR, acumula múltiplas actividades profissionais com as funções de deputado à Assembleia da República:
é
- advogado,
- consultor do BPI,
- consultor do Governo regional da Madeira,
- Presidente do Conselho Fiscal da Casa da Madeira em Lisboa,
- Presidente da Assembleia Greal da LSG, Comércio de Imóveis e Serviços, SA no Funchal
- Presidente da Assembleia Geral da ETE- Empresa de Tráfego e Estiva, SA, em Lisboa.
Tudo conforme a lei, sem dúvida. Embora a lei esteja mal, na minha opinião.
Eu, que nunca acumulei, não acumulo e nunca acumularei funções públicas com outros cargos ou actividades profissionais, públicas ou privadas, entendo poder questionar se, perante a multiplicidade de afazeres profissionais do Dr. Guilherme Silva, lhe resta tempo para se dedicar às obrigações de deputado para que foi eleito.

Qual é a moralidade do PSD?

Qual é a moralidade deste PSD que, para deflectir atenções da negociata que preparava entre o PSD Madeira e a líder do Partido, vem esgrimir acusações torpes contra mim e Elisa Ferreira a pretexto de sermos candidatas tanto nas eleições europeias, como nas próximas autárquicas?
Será que quem critica, pratica a virtude da dedicação exclusiva ao mister parlamentar e nunca concorreu em eleições distintas das legislativas ou europeias?
Qual quê?!
Eu fiz o trabalho de casa e consultei o sítio da bancada do PSD na AR. E encontrei quase 1/3 dos seus deputados a acumular funções parlamentares com autárquicas, fora as actividades privadas na advocacia, consultadorias, gestão de empresas, docëncia etc : 8 Vereadores (incluindo um Vice-Presidente com pelouros numa autarquia) e 15 membros de Assembleias Municipais, incluindo entre eles 6 Presidentes.

Quem é que é falso?

O Deputado Guilherme Silva, do PSD, em declarações que ouvi ontem na TSF, procurando negar declarações suas ao DN-Madeira que o PÚBLICO de ontem citava - e hoje volta a confirmar (segundo as quais o representante da Madeira na lista de candidatos a eurodeputados do PSD beneficiaria da desistência de duas candidatas à sua frente) - aproveitou para me acusar, e também a Elisa Ferreira, de sermos "falsas candidatas" e de "duplicidade enganosa" por concorrermos ao PE na lista do PS e ao mesmo tempo sermos candidatas à presidência das Câmaras de Sintra e Porto.
Rejeito totalmente as acusações do Deputado Guilherme Silva. Não sou falsa, e muito menos "falsa candidata" ao PE.
Sou candidata mesmo.
Não estou na lista do PS para o PE para efeitos decorativos - e o meu trabalho no PE no corrente mandato atesta-o.
Nem estou na lista para o PE apenas para permitir ao PS cumprir formalmente a lei da paridade - nunca aceitaria qualquer acordo de desistência posterior, como aquele que Guilherme Silva, conforme declarou ao DN-Madeira, admitia negociar e impor às candidatas do PSD (por mim espero que elas também nunca aceitassem tal indigno negócio - e talvez por isso, além da publicidade antecipada, a negociata foi afastada...)
Sou, sim, candidata ao PE e espero ser eleita. Serei também candidata à Câmara de Sintra nas eleições que decorrerão mais tarde. Sem falsidade, sem duplicidade, sem querer enganar ninguém, com total transparência assumi as duas candidaturas.
Eu, que nunca acumulei quaisquer cargos - com muita honra, sou formada na escola de serviço público do MNE - já disse e redisse que nunca acumularei os dois cargos, se os munícipes de Sintra me elegerem Presidente da sua Câmara. Nesse caso, abandonarei o PE e dedicar-me-ei exclusivamente à Câmara de Sintra. Não apenas porque a lei impede hoje essa acumulação (que antes não impedia e que não é impedida noutros países europeus): mas porque eu sou convictamente contra as acumulações de cargos políticos por quem é eleito para um parlamento.
Será possível mais honestidade e transparência, posta à consideração dos cidadãos que vão votar, tanto nas eleições europeias, como nas autárquicas?
Rechaço, assim, a acusação de "duplicidade enganosa" que Guilherme Silva desonestamente me atirou.

Diário pessoal (ocasional)

Amanhã, 4ª feira, à noite, estarei presente na Feira do Livro de Coimbra, pavilhão da Leya, para autografar o meu livro Nós Europeus.

Diário de candidatura (24)

1. A ver se eu percebo bem: se alguém, depois de eleito eurodeputado, se candidatar a (ou aceitar) outro cargo político e por causa disso deixar (ou não) o Parlamento europeu, como sucedeu várias vezes, não há nisso nada de mal. Mas se um candidato a eurodeputado, anunciar antecipadamente, por razões de transparência democrática, a sua intenção de se candidatar proximamente a outro cargo político, então tudo mal. É isto, não é?

2. Não procede o argumento de que a representação do PS deixará de cumprir a "lei da paridade", caso Elisa Ferreira e Ana Gomes venham a deixar o PE no seguimento da sua candidatura aos cargos municipais a que já anunciaram ir concorrer. De facto, bastará assegurar que as vagas daí resultantes sejam preenchidas por outras candidatas da lista, mantendo a mesma representação feminina.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Sintra - escolas em risco

Na terça-feira passada, dia 14 de Abril, visitei a Junta de Freguesia de Monte Abraão, concelho de Sintra. A Presidente da Junta, Fátima Campos, expressou-me particular preocupação com a situação decrépita das escolas sobrelotadas da freguesia, incluindo a de mais recente construção, que apenas em um ano e meio já apresentava infiltrações e outros problemas estruturais, como o calor insuportável no verão. Disse-me ter avisado repetidamente por escrito a Câmara, sem reacção. Pedira repetidamente uma fiscalização - nunca viera.
Três dias depois, a 17 de Abril, caiu o tecto falso de uma sala dessa mesma escola, a EB1/Jardim de Infância, provocando estrondo, ferimentos em três professores e grande comoção nas 160 crianças entre os 5 e 10 anos de idade. A polícia para entrar teve de forçar os portões, que não abriam.
Amanhã a escola deve reabrir com trabalhos de adaptação de feitos à pressão durante o fim-de-semana, contra a opinião da Presidente da Junta que recomenda uma vistoria mais profunda.
Trabalhos de adaptação aparentemente feitos tão sobre o joelho quanto a construção de raiz da escola, em menos de um ano, para abrir em Novembro de 2007.
Como é que é?
Ninguém cuida de averiguar se é precisa de intervenção mais de fundo na estrutura da escola, nem Câmara, nem Ministério da Educação?
Ninguém é responsável pela construção deficiente da escola, nem na Câmara Municipal de Sintra, nem na "Educa", a empresa municipal que tem centenas de funcionários, gasta balúrdios à Câmara e pouco faz para os justificar?
Ninguém liga aos alertas da Presidente da Junta da Freguesia sobre a situação muito grave de uma outra escola básica local, onde se enlatam 900 alunos e onde há um muro a ruir à entrada da escola?

Tratolixo - é o tratas...

A Tratolixo, uma empresa municipal controlada por quatro Câmaras nas mãos do PSD - Sintra, Cascais, Oeiras e Mafra - era suposta tratar dos resíduos sólidos urbanos.
Mas era tudo treta - não tratava!
A ponto de ter originado um crime ambiental, aparentemente "o mais grave do género registado no país", segundo o Secretário de Estado do Ambiente: a contaminação de solos e de águas subterrâneas provocada pela deposição descontrolada de resíduos na estação que era suposta ser "de tratamento" da Tratolixo, em Trajouce (Cascais).
Ficamos a aguardar que quem de direito - o Ministério do Ambiente, o MP e tutti quanti - actue criminalmente contra quem é responsável pelo "grave crime ambiental", se este se confirma.
Mas, a avaliar pelas notícias na imprensa, mais provável é darmo-nos por contentes se a Tratolixo se dignar tratar de apresentar novos planos para tratar o que não tratou, nem trata, além de descontaminar o que contaminou. Planos que metem contratos com empresas de "spinning" mediático e aconselhamento juridico, tão precisos, tão científicos, tão tratados que a Tratolixo estima poder orçar entre 2,5 e ... 10 milhões de euros.
A pagar por quem ? pelos contribuintes dos 4 municipios de gestão camarária PSD que contrataram a Tratolixo e agora tratam de assobiar para o ar.
A Tratolixo não trata do lixo, mas os representantes do PSD nestas 4 autarquias tratam de nos lixar.
Para quê pedir à Dra. Ferreira Leite mais demonstrações do "PSD de verdade"?

Agentes do status quo...

O PR Cavaco e Silva, diante de uma audiência de empresários e gestores cristãos criticou os "empresários e gestores submissos ao poder político" e os "agentes que beneficiaram do status quo - e que tiveram um papel activo nesta crise financeira - continuam a ser capazes de condicionar as políticas públicas, quer pela sua dimensão económica, quer pela sua proximidade ao poder político". Implícita estava, a denúncia dos agentes do poder político atreitos a promiscuidades com tal nata empresarial...
O PR sabia, por saber feito de experiência própria, do que falava. E falava para uma audiência aquiescente, devidamente abrilhantada por um dos expoentes máximos desse conúbio condicionante: Durão Barroso.
Pena é que ainda não tenham passado do reconhecimento dos seus pecados a qualquer elementar acto de contricção: o Presidente, por exemplo, esperará fúria divina para mandar Dias Loureiro saltar do Conselho de Estado?

Furacão ou Furação?

Ricardo Pinheiro, alto quadro do BPN, disse há dias na AR que, nas vésperas de uma busca no quadro da Operação Furacão, a direcção do Banco fez sair para Cabo Verde dois contentores de documentação.
E então ninguém se incomoda na PGR ou onde quer que seja? Ninguém protesta? Ninguém investiga ou pelo menos faz que investiga?
Nem sequer aquele novo chefe sindicalista do MP, tão intrépido a denunciar pressões sobre a justiça como, dias depois, a desmentir que as tivesse denunciado?
Ninguém se emociona com esta evidente frustração da Operação Furacão, por alguém certamente de dentro do sistema judicial ou policial?
Ou será que já é caso para chamar Operação Furação à Operação Furacão?

Ciclone - do Caldas para Viana

Fez bem o Ministro da Defesa Nacional em mandar instaurar inquérito ao processo da construção dos navios "Atlântida" e "Anticiclone" pelos Estaleiros Navais de Viana dos Castelo, por não corresponderem às especificações contratadas.
Esperemos que as averiguações sejam céleres e esclareçam a perturbação comercial e aparentemente tecnológica que atingiu os ENVC depois que o inefável Ministro Paulo Portas entendeu... restruturá-los.

A 40%, o crime compensa?

O PS apoiou na AR - e eu aplaudo - a proposta do BE de pôr fim ao sigilo bancário. E aparentemente, foi até mais longe propondo, pela mão de Vera Jardim, a metodologia espanhola para o controlo a exercer pelo fisco sobre as contas bancárias.
Claro que ainda falta criminalizar o enriquecimento ilícito - espero que aí cheguemos, apesar dos fundamentalistas supostos zeladores pela não inversão do ónus da prova (não inverte nada, ao MP continuará a caber provar que há bens em desconformidade com a declaração fiscal e não justificados, ao acusado basta demonstrar que os adquiriu licitamente).
O que não percebo é a lógica de uma proposta governamental que visa imputar uma taxa de 60% ao enriquecimento patrimonial injustificado de valor superior a 100 mil euros. Como é que é? Se é injustificado, deve investigar-se se há crime, não é? E se há crime, como só cativar 60% e não confiscar integralmente?
Alguém me explica ou sou eu que estou embotadinha de todo?

Insolações....

Não percebi, francamente, o interesse de Portugal convidar (e pagar) a um grupo de estudantes estrangeiros para virem fazer turismo a Portugal e ver como vamos de energias renováveis. Sobretudo em tempo de crise... E sobretudo quando, realmente, não vamos tão bem como poderíamos ir, se houvesse mais investimento público na inovação nacional para construir soluções tecnológicas mais rentáveis e exportáveis. Na energia solar e não só.
Mas ainda menos percebi, quando apesar de todas as campanhas de promoção governamental dos incentivos financeiros a dar à compra e instalação de painéis solares pelos cidadãos, abrindo oportunidades comerciais a PMEs, afinal os bancos - incluindo a CGD - não estão realmente preparados para aconselhar fornecedores e equipamentos.
Ou alguém desmente o artigo do PÚBLICO, de 18 de Abril, "Bancos prestam informação confusa e escassa sobre campanha dos painéis solares" ?

sábado, 18 de abril de 2009

Diário de candidatura (23)

Realiza-se hoje em Lisboa uma sessão das Novas Fronteiras para apresentação da lista do PS às eleições europeias, incluindo a participação do ex-Presidente da República, Jorge Sampaio.
Tendo em conta raridade da intervenção política do antigo Presidente da República, apraz-me registar e agradecer o seu apoio.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Coimbra, 17 de Abril de 1969


Foi assim que tudo começou, há quarenta anos. Quando esse Abril de Coimbra prenunciou outro Abril.

Um pouco mais de seriedade política, sff

Depois de ter proposto a criminilização do enriquecimento injustificado -- que, isso sim, dificilmente poderia ser defensável sem alteração constitucional, por inverter o ónus da prova em matéria penal --, o PSD vem agora considerar inconstitucional o agravamento fiscal dos rendimentos injustificados acima de certo montante, que nada tem a ver com punição penal nem sequer com sanção fiscal.
Vá-se lá entender a contradição. Decididadamente, o PSD perdeu o sentido da responsabilidade e da seriedade política.

Diário de candidatura (22)

Há gente com uma concepção tão integrista da organização partidária que não concebe a ideia de que um partido plural e aberto possa admitir posições políticas diferenciadas dos seus candidatos ou deputados (o que obviamente lhe dá mais autoridade e legitimidade para tornar vinculativa uma posição oficial e esperar o respeito por ela, quando entenda ser caso disso) .
Pelos vistos, o "centralismo democrático" do PCP está a conquistar inesperados seguidores...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A isto chegámos

«Jardim diz que lei do pluralismo é "nazificante" e de "iniciativa fascista"».
Duas questões: (i) até quando é que teremos de aturar estes despautérios institucionais provindos de um titular de um cargo público? (ii) Até quando é que o PSD continuará a "assobiar para o ar", sem se sentir obrigado a demarcar-se da reiterada incivilidade política do seu líder regional?

Diário pessoal, quando calha

Só podia ser negativa a minha resposta ao pedido de um conhecido jornal popular para uma reportagem (ou série) sobre "casais políticos", ou algo assim, em que os dois cônjuges desempenham cargos políticos ou afins.
Por menos "fashionable" que seja, não tenciono mudar na minha concepção de que os políticos (em cuja malquista condição vou reentrar, inesperadamente) não têm de fazer exposição pública da sua vida privada e familiar, muito menos deixar explorá-la para efeitos políticos. Se não posso evitá-lo, já posso pelo menos não colaborar nisso.

Afeganistão - outra Somália?

Discordo de Manuel Alegre quando este critica a decisão do governo de reforçar a presença militar portuguesa no Afeganistão.
Discordo ainda mais da caracterização da missão da NATO no Afeganistão como "aventura que nada tem a ver com a nossa tradição e a nossa História".
Devo dizer que sempre desconfiei de argumentos que se baseiam na sacralização da "tradição", como se o passado português fosse uma fonte inesgotável de sabedoria, mais importante do que os valores imperativos do presente e as ambições para o futuro.
Manuel Alegre considera que o fortalecimento dos laços militares entre Portugal e a CPLP, nomeadamente no apoio à estabilização da Guiné-Bissau "é muito mais importante e urgente para nós do que o Afeganistão" e que a presença portuguesa neste país não reflecte os interesses portugueses e não contribui para a segurança nacional. Claro que Portugal e a CPLP podiam fazer mais pela Guiné-Bissau - mas o que podiam fazer não implica necessariamente enviar militares. O que é preciso é fazer os militares guineenses abandonar o poder e as lutas de poder.

Já estive no Afeganistão.
A situação neste país, que origina mais de 90% da heroína disponível no mercado mundial (e na Europa em particular) e onde a ausência de Estado, lei e direitos humanos criou um ambiente acolhedor para organizações terroristas e criminosas com alcance global, constitui indubitavelmente um perigo para a segurança global - e por isso também portuguesa.
A estabilização, a reconstrução e o desenvolvimento do Afeganistão é por isso do interesse nacional.
Tropas não chegam. E é por isso que a União Europeia é um dos maiores dadores de ajuda ao desenvolvimento para o Afeganistão, embora durante a Administração Bush se tenha resignado a não contribuir para a orientação estratégica da presença internacional no país. Mas não é possível construir escolas, estradas e hospitais sem proteger os internacionais e os locais que trabalham no terreno.
Parece-me que a nova estratégia flexível de Obama que assenta num reforço do contingente militar, mas também - e acima de tudo - numa abordagem regional que inclua o Paquistão, num novo ênfase no desenvolvimento, no erigir das instituições, e na protecção das populações, merece pelo menos o benefício da dúvida.
E os EUA agora estão mais abertos do que nunca para discutir alternativas e propostas europeias: por exemplo, recentemente, pela primeira vez, Javier Solana foi convidado pelo Secretário da Defesa Gates e pelo Chefe do Estado Maior Geral das Forças Armadas dos EUA, o Almirante Mike Mullen, para consultas sobre o Afeganistão. Pela primeira vez, o Comandante do Comando Central americano, o General David Petraeus, deslocou-se a Bruxelas para discutir o Afeganistão com o Comité Político e de Segurança da União Europeia.
A NATO e os EUA fizeram erros, e muitos, no Afeganistão. A solução é fazer melhor. Não é abandonar o Afeganistão à sua sorte. E não é apresentar uma falsa alternativa entre apoiar os países da CPLP e apoiar a estabilização do Afeganistão.
Já temos um estado falhado, negligenciado pela comunidade internacional, entregue à violência, à fome e ao fanatismo: chama-se Somália.

STOP CORRUPÇÃO - em português


Já está online a versão portuguesa da petição STOP CORRUPÇÃO, que foi ontem lançada por mim e pelo eurodeputado José Ribeiro e Castro (PPE), no Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa, durante a conferência de imprensa da sessão de abertura de Lisbon 2009 ECPR, um congresso de ciência política que reuniu cerca de mil académicos de mais de 300 instituições europeias e internacionais.
A petição insta a Comissão Europeia e os Estrados Membros da União Europeia (UE) a propor legislação e mecanismos de combate à corrupção, em particular nas relações da UE com países terceiros.
Nos países em vias de desenvolvimento ricos em recursos naturais os montantes subtraídos ao Estado chegam, por vezes, a igualar os valores da dívida nacional. A corrupção ao mais alto nível reduz a capacidade de muitos Estados para garantir serviços básicos às populações, como o direito à alimentação, habitação, saúde e educação.
Lutar contra a corrupção é, por isso, uma questão de direitos humanos. E toca a todos, porque todos pagamos.

Assine em http://www.stopcorruption.eu/

Diário de candidatura (20)

Pedem-me um comentário acerca da absurda acusação do cabeça de lista do PSD sobre uma pretensa "mordaça" que eu teria colocado à discussão de temas nacionais nas eleições europeias.
Comento que a excitação juvenil pode gerar disparates. Defendi e defendo que, sendo as eleições para o Parlamento Europeu (que vai aprovar as leis europeias, aprovar o orçamento europeu e escrutinar o executivo europeu), elas devem centrar-se naturalmente em temas europeus.
Verifico, porém, que, mesmo sem "mordaça" nenhuma, a apresentação do candidato do PSD primou pelo vazio de ideias sobre as questões europeias. Imagino que, se se tratasse de eleições para a AR, o candidato do PSD se recusaria então a discutir problemas nacionais, preferindo talvez tratar de assuntos locais do Porto...
Quando faltam as ideias e propostas, a tentação é desconversar. Pelos vistos, é isso que o PSD se prepara para fazer nas eleições europeias. Terá a merecida resposta.

Diário pessoal

É hoje o lançamento público da minha colectânea de textos sobre a Europa, intitulada «Nós, Europeus». António Vitorino, que já escreveu o prefácio do livro, "faz as despesas" da sessão. Registo aqui a minha gratidão pela sua disponibilidade.
Além dos meus amigos, convido para a sessão todos os interessados na União Europeia.
Aditamento
Perguntam-me sobre a coincidência do título do livro com o lema da minha candidatura às eleições europeias. Esclareço que a ideia do livro (que faz parte de um projecto mais vasto, de reunir em volumes temáticos a minha colaboração jornalística ao longo dos anos) e o respectivo título (que vem do título de um dos artigos coligidos) são anteriores à candidatura (só o derradeiro artigo foi acrescentado posteriormente). Logo após a aceitação da candidatura, dei-me conta de que o título do livro constituía um excelente motto político. Por isso o adoptei.

Um pouco mais de jornalismo, sff

«Irmão de Santana Lopes ligado ao caso BPN».
Mas que raio de interesse é que tem a referida ligação familiar, senão o de envolver enviesadamente o mencionado político num caso a que é alheio?!

terça-feira, 14 de abril de 2009

Notícias da crise

Comenta-se que as novas projecções económicas do Banco de Portugal (que os dados sobre o comércio externo e sobre o investimento já prenunciavam) configuram "a maior crise desde 1975".
Falta dizer que o mesmo ou pior sucede em muitos outros países, sendo que em alguns a crise é a maior desde a Grande Depressão, ou seja, nos últimos 80 anos.
Quando se fazem comparações convém não ser selectivo.
[revisto]

Diário de candidatura (19)

Apraz registar que finalmente o PSD foi capaz de ultrapassar as aparentes dificuldades na escolha dos seus candidatos ao Parlamento Europeu. Dou as boas-vindas a Paulo Rangel, como meu adversário mais directo nesta disputa eleitoral.
Mau sinal é, porém, que o cabeça de lista do PSD tenha começado a sua campanha a combater os fantasmas ele próprio ficcionou de acordo com as suas conveniências. Se ele prefere disputar as eleições europeias como se fossem um ensaio para as eleições nacionais (por não ter nada a dizer sobre as questões europeias), sinta-se totalmente livre para o fazer, sem as "mordaças" que ele inventou. Obviamente, não ficará a falar sozinho. Vamos a isso!

Diário de candidatura (18)

«The  [European] parliament’s clout is growing and will grow even more if the EU’s Lisbon treaty enters into effect as planned next year. Love it or loathe it, the parliament is increasingly the place to turn to understand what drives the EU.»
(Tony Barber, Financial Times).

Obama delivers

«Obama põe fim às restrições de viagens e ao envio de dinheiro para Cuba».
Venha agora o fim do embargo comercial, e o regime cubano perderá o seu principal argumento contra os Estados Unidos e a principal desculpa para as dificuldades da ilha...

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Diário pessoal

Na próxima 4ª feira, dia 15, pelas 18:30, no Belém Bar Café, em Lisboa, faz-se o lançamento público do meu livro "Nós, Europeus", que reúne os meus textos sobre temas europeus publicados no Público e no Diário Económico nos últimos 10 anos, acrescentados de um prefácio de António Vitorino.
A sessão é pública.

O PSD de verdade

Não encontro na net, para aqui deixar devidamente ilustrada, a imagem desse PSD DE VERDADE que nos vai assombrando aí pelas esquinas e rotundas.
Refiro-me aos "outdoors" admoestantes da soturna Dra. Manuela Ferreira Leite, trajando de castanho sombrio sobre fundo cinzo-castanho-acabrunhante, carregado ainda pelo contraste com fina estria alaranjada que tudo enquadra.
Duas perguntas:
Com "outdoors" destes, para que precisa a Dra. Manuela Ferreira Leite de Luises Filipes Menezes?
Não poderá o PSD rentabilizar o "outdoor" oferecendo a concepção gráfica à Servilusa ou congènere cangalheira?

Salazar também era português

Os cronistas apuram-se, na imprensa dos últimos dias, na exegese das diversas opiniões dentro do PS sobre Barroso.
Como se o que mais interessasse fosse o futuro de Barroso e não o futuro da Europa.
No afã de marcarem os seus pontos, tratam de me citar selectivamente, distorcendo o que disse e penso.
Por isso entendo esclarecer:
Não subscrevo as “razões patrióticas” que o Governo do PS invoca para apoiar a renovação do mandato de Durão Barroso à frente da Comissão Europeia.
Não adiantei o nome de António Guterres como possível alternativa a Barroso por ser português. Indiquei-o por ser figura de indesmentível competência para o lugar (tanto que em tempos foi para ele desafiado), independentemente da sua nacionalidade.
Não adiantei o nome de António Guterres isoladamente – integrei-o num rol de personalidades de diferentes nacionalidades que, além de serem da família socialista ou social-democrata europeia, têm inquestionavelmente perfil para o cargo: citei Pascal Lamy, Margot Wallstrom, Mary Robinson e Poul Nyrup Rasmussen (atenção “Publico” de 8 de Abril, o outro Rasmussen, o Anders Fogh, é neo-liberal de direita, ainda mais à direita que o Dr. Barroso, e na minha opinião nem para porteiro da NATO deveria servir...)
Adiantei ainda um outro nome não português que, não sendo socialista nem social-democrata, é progressista e portanto susceptível de ser apoiado por gente de esquerda como eu, se depois das eleições europeias de Junho for preciso agregar mais apoios para encontrar uma alternativa de esquerda a Barroso: o verde alemão Joshka Fisher.
São por isso totalmente ilegítimas e manipuladoras as interpretações que me atribuem a sugestão do nome de António Guterres para, rejeitando Barroso, ir apesar de tudo ao encontro dos sentimentos nacionalistas dominantes.
Queridos e queridas cronistas e comentadores: sou completamente imune a patrioteirices dessas. É que eu sei bem que, para efeitos políticos, ser português não basta e sobretudo não salva mesmo nada. Convém não esquecer que Salazar também era português.

domingo, 12 de abril de 2009

Aventino

Conhecia-o desde os anos exaltantes e exaltados do MRPP post-25 de Abril, de me cruzar com ele na sede da Álvares Cabral, no Infantário Ribeiro Santos, nas manifs diversas e na azáfama do 25 de Novembro, claro.
Há anos que só nos encontravamos, volta e meia, por acaso, no Procópio. Da ultima vez pareceu-me anormalmente mais magro, estaria já doente, da doença que o levou agora.
Sempre me fascinou como, debaixo da farfalhuda bigodeira, aliava humor caustico, agudeza na crítica política e fidelidade nas amizades. Com o General Eanes, em particular, com quem vinha almoçar religiosamente todas as quintas-feiras, sem nunca deixar de praguejar a torto e direito. Praguejava sempre afavelmente, quando nos cruzavamos nos corredores de Belém.
Um dia, no início de 1985, começou a preparar-se uma visita do Presidente à China. A primeira de um Chefe de Estado português a Pequim, Xangai, Quilin, Cantão e Macau. Ia começar a discutir-se a passagem de Macau para a administração chinesa.
O Aventino, obviamente, achava que tinha de ir – fora uma passagem por Macau que o ligara a Eanes. E China, chineses e sobretudo maoistas era com ele, o MFA de serviço no MRPP...
Passou a descer ao meu gabinete, todas as semanas: “Olha lá, já há lista da comitiva?”. “Não, deixa estar que quando houver, eu aviso”.
A lista foi-se fazendo (eram um castigo aquelas listas de comitivas, até à partida para o aeroporto iam sendo alteradas e sobretudo acrescentadas, para desespero do Protocolo e dos embaixadores ...).
Mas nada de Aventino.
Comecei a picar o Presidente: “Então e o Aventino?”. “O Aventino?!”, erguia-se o sobrolho, decerto espantado pela minha insolência (afinal o amigo do peito era dele, Eanes). “A ver vamos...”
Passaram mais semanas e o Aventino além de continuar a passar lá pela Casa Civil, passou a telefonar. “Atão, o gajo já me pôs na lista?”. “Pá, tá descansado, a lista ainda se está compôr...”.
“Mas eu já topei que ele se está a torcer todo. Tá bem lixado comigo, tá!..”.
“Calma! Isto compõe-se...”
A verdade é que não se compunha, nunca mais se compunha, por mais que eu intercedesse pela nervoseira do Aventino.
Na véspera da partida, ao fim da tarde, finalmente, o Presidente, disse-me que avisasse o Aventino para fazer a mala (ele já tinha visto no passaporte e tudo, havia eu esgrimido uns dias antes...).
Há dias encontrei a fotografia, em que estamos sentados, ao lado um do outro, no avião a caminho da China. O Aventino bigodudo e eu. Ele acabara de me passar uma carta para a mão. Uma carta que havia escrito ao amigo Eanes uns dias antes, para o caso de não estar ali no avião para Pequim. Uma carta desnecessária, afinal. “Pá, lês e rasgas logo!”
Começava: “Porque é que eu não vou à China e tu, assim, também não vais a lado nenhum”.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Um pouco mais de jornalismo, sff

Ainda sem perder a capacidade de me surpreender com as prioridades dos media, verifiquei o destaque noticioso dado ontem às normas de indumentária e de conduta estabelecidos num serviço do Estado de contacto com o público, como se não fosse evidente a sua justificação e razoabilidade.
Às tantas ouvi uma criatura protestar contra a violação dos "direitos de personalidade" dos funcionários, ficando a reflectir sobre se entre eles se inclui o direito de cada um a vestir-se em serviço como quiser, incluindo por exemplo usar alpergatas, calções ou blusas abertas até ao cinto. E já imagino os militares, os polícias, os sacerdotes católicos, os empregados de inúmeras empresas e estabelecimentos que exigem uniforme, os alunos dos colégios privados, etc. a protestarem contra a violação dos seus "direitos de personalidade" quanto à liberdade de indumentária.
Quando o sentido do ridículo falha, a sensatez entra em licença sabática.

Diário de candidatura (17)

Há cinco anos, antes das eleições europeias de 2004, o Governo de Durão Barroso também anunciou a apoio a uma possível candidatura de António Vitorino, nessa altura um dos mais proeminentes membros da então Comissão cessante. Mas logo o PPE veio reivindicar que, caso ganhasse as eleições europeias, como se prenunciava, o Presidente da Comissão Europeia deveria ser «da mesma cor política».
E assim foi. Face à vitória eleitoral da direita europeia, a candidatura do comissário socialista não se concretizou, tendo ele sido preterido a favor de... Durão Barroso. O PSE absteve-se naturalmente de avançar com um candidato próprio.
Importa recordar esta história, quando entre nós parece haver quem na área do PSD entenda que o PPE deveria manter o direito à presidência da Comissão, mesmo que perdesse as eleições.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Diário de candidatura (16)

Será precisa grande dose de discernimento para distinguir as situações em que os partidos deixam liberdade de voto aos seus deputados daquelas em que os deputados invocam unilateralmente a liberdade de voto contra os partidos que representam?
Pelos vistos, porém, há quem nem as distinções mais óbvias quer ver, quando convém...

Diário de candidatura (15)

Primeiro, eu era um "seguidista" de Sócrates (apesar das numerosas vezes em que divergi do Governo em questões importantes, desde as SCUT à ADSE, desde os benefícios fiscais ao regime de assistência religiosa nos serviços públicos, desde o acordo com a ANF até ao caso do estatuto dos Açores, para só citar alguns exemplos); agora passei a ser um "pretensioso", só por ter opinião própria sobre a escolha do presidente da Comissão Europeia.
Vá-se lá entender o "racional" de certos comentadores!

Não existe direito à injúria nem à difamação

Não tem nenhum fundamento, nem poderia ter num Estado de Direito, a ideia de que a liberdade de informação e de opinião inclui a liberdade de injuriar e de difamar, quando se trata de atacar políticos.
Nem os políticos sofrem de nenhuma privação congénita do direito ao bom nome e reputação, nem os jornalistas e comentadores gozam de nenhuma imunidade, nem muito menos irresponsabilidade, penal.
As queixas penais de políticos por motivo de injúria ou difamação não constituem nenhum "atentado à liberdade expressão" nem "ataque aos jornalistas" (aliás, se a queixa se revelar infundada, será um tiro pela culatra...), mas sim o exercício de um elementar direito de defesa de direitos de personalidade. Por mais que isso custe a alguns jornalistas e comentadores, os políticos não perdem o direito à defesa da honra só por o serem.

Aditamento

A defesa de um "direito à injúria e à difamação de políticos" é especialmente censurável quando se trata de militantes partidários na pele de jornalistas e de comentadores.

Aditamento 2
Se acham que não cometeram nenhum crime, porque é que os visados e os seus defensores ficam tão irados? Não seria melhor fazerem valer os seus argumentos nos tribunais, como convém num Estado de Direito?

Gostaria de ter escrito isto

«Se Cavaco quer forçar a mão ao Governo (como sugere outra fase do livro: "Não temos o direito de deixar aos nossos filhos, e aos filhos deles, um passivo que tenham dificuldades em suportar, condenando-os a um nível de vida inferior ao que os nossos pais proporcionaram") devia ser mais claro. Mesmo arriscando um conflito institucional: o País precisa de um Presidente vigilante (até porque a oposição é o que se vê).
Mas isso é diferente de deixar no ar expressões/ideias que não têm sustentação no quadro constitucional (que embora inspirado no semipresidencialismo francês difere dele ). Alimentar instabilidade política quando o País já tem sarna para se coçar não ajuda.»

(Camilo Lourenço, Jornal de Negócios)

terça-feira, 7 de abril de 2009

Diário de candidatura (14)

A tentativa de instrumentalização política da recandidatura de Durão Barroso à presidência da Comissão Europeia por parte do PSD suscita duas perguntas:
a) Será que o PSD defende que o PPE (em que se integra) deve manter o direito de indigitação do seu candidato à presidência da Comissão, mesmo que perca as eleições europeias?
b) Tendo assegurado desde o princípio também o apoio oficial do Governo português e do PS à sua recandidatura, concorda Durão Barroso com a referida operação de baixa instrumentalização política interna do seu nome pelo PSD?

Diário pessoal

Ontem ocorreu mais uma reunião do conselho consultivo do Centro Hospitalar de Coimbra, a que presido desde 2007. Na agenda, a aprovação do relatório de actividades do ano passado e do plano de actividades para corrente ano, entre outros temas.
Tratando-se de um órgão de natureza consultiva e não sendo uma tarefa remunerada, esta não será incompatível com o cargo de deputado europeu, pelo que não terei de a abandonar. Ainda bem! Tenho gosto no desempenho desta missão de responsabilidade cívica.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Mudança radical

«EE UU promete a Europa liderar la lucha contra el cambio climático».
Obama supera todas as expectativas de mudança quanto às posições reaccionárias dos Estados Unidos da era Bush.

Diário de candidatura (13)

Dentro em pouco, vou ter companhia na candidatura socialista às eleições europeias. Segundo uma informação tornada pública, a Comissão Política Nacional do PS reúne-se na próxima quarta-feira para eleger a lista de candidatos socialistas às próximas eleições para o Parlamento Europeu.

Diário de candidatura (12)

Em relação à especulação indevidamente feita à volta das minhas declarações, ontem no Porto, sobre a eleição do presidente da Comissão Europeia, importa clarificar o seguinte:
a) Entendo que, de acordo com as regras comuns da democracia eleitoral, deve ser o partido mais votado nas eleições europeias a indigitar o presidente da Comissão Europeia, o qual tem de ser aprovado pelo Parlamento Europeu ;
b) Assim, se o PPE for de novo o partido mais votado, cabe-lhe obviamente indigitar o Presidente da Comissão, para o qual aliás já aprovou oficialmente a candidatura do actual presidente, Durão Barroso;
c) Nesse caso, sendo ele naturalmente o nome proposto pelo Conselho ao Parlamento Europeu, não tenho nenhuma razão para não votar a favor, respeitando o voto dos cidadãos europeus, tratando-se além disso de um cidadão português;
d) Caso, porém, seja o PSE a ganhar as eleições, é lógico que, mesmo sem um candidato pré-eleitoral, seja ele a propor o candidato a presidente da Comissão.
e) Não desconheço a posição oficial do PS de apoio à recandidatura de Durão Barroso, mas também é público e notório que o PS respeita as posições individuais dos seus deputados ao PE nesta matéria.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Regulação financeira internacional

Uma das medidas dignas de aplauso da cimeira do G20 em Londres foi o reforço da regulação financeira internacional, mediante a criação de uma nova instituição internacional -- o Financial Stability Board --, a partir do já existente Financial Stability Forum, criado em 1999 pelo G7, mas agora com uma composição alargada -- incluindo todos os G20, mais a Espanha e a Comissão Europeia (o que reforça o peso da UE) -- e sobretudo com poderes mais extensos e mais efectivos.
Para quem desde há muito defende uma "regualção global da economia global", trata-se de uma boa notícia.

Notícias da crise

Embora algumas economias da zona euro já dêem alguns tímidos sinais de que a recessão pode ter atingido o fundo, em Espanha as perspectivas continuam a ser muito negras, com o Banco de Espanha a prever o pior para este ano, incluindo a contracção do PIB de quase 4%, um défice orçamental de mais de 8% e, pior de tudo, uma taxa de desemprego em mais de 17%!
Dada a imbricação da economia portuguesa com a espanhola, estas também são más notícias para nós, mesmo se os indicadores para a nossa economia sejam bem menos negros do que os espanhóis.
Aditamento
Tanto ou mais preocupante do que a Espanha na zona euro é a recessão na Irlanda -- o primeiro país europeu a entrar em recessão em 2008 --, com uma previsão de descida do PIB de cerca de 7% para este ano, um défice superior a 9% e uma taxa de desemprego de quase 12%.

"Understatement"

Não posso deixar de concordar com esta análise de Marina Costa Lobo sobre a relação problemática do PCP e do BE com a integração europeia. Penso, porém, que caracterizá-la como "eurocepticismo" é um "understatement"...

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Muito boa...

... esta entrevista de Luís Amado ao Jornal de Negócios.
Excelente esta passagem:
«Os mercados financeiros globalizaram-se mais rapidamente do que quaisquer outros sectores e não têm uma supervisão nem uma regulação global. O modelo ultra-liberal do " Estado mínimo " à escala global é, no caso dos mercados financeiros, o do " Estado nulo " . É absolutamente inadiável criar uma liderança e mecanismos de supervisão e de regulação mundiais. Essa liderança só pode ser conferida a uma estrutura muito mais do tipo do G20 do que do G7. Nós apoiamos o G20 nessa perspectiva, porque é mais abrangente, integra as economias emergentes e uma massa crítica de Estados que são responsáveis por mais de 80% do PIB mundial. (...)»

Uma provocação

A nomeação de um empresário recentemente condenado por corrupção para uma empresa intermunicipal só pode ser uma provocação. Nem tudo o que a lei não proíbe é politicamente suportável. Por isso, este apelo faz todo o sentido.

Boas notícias

Podem ter ficado aquém dos desejos mais ambiciosos os resultados da reunião do G20 em Londres. Mas as decisões tomadas em matéria de injecção de novos recursos financeiros no FMI e outras instituições internacionais e especialmente em matéria de regulação dos sistema financeiro são boas notícias. Como se diz logo no início do comunicado, «a global crisis requires a global solution».
Pelo seu impacto na recuperação da confiança no sistema financeiro internacional e nos mercados financeiros em geral, a reunião de Londres poderá ficar como marco de inversão do clima económico negativo na actual crise.

O mesmo caminho?

Paulo Portas foi buscar a Londres uma credencial do Partido Conservador britânico para a sua projecção europeia.
Tendo em conta que os conservadores britânicos, assumidamente eurocépticos, acabam de anunciar o abandono do Partido Popular Europeu, será que o CDS-PP português seguirá o mesmo caminho, afastando-se também do PPE, cuja representação portuguesa actualmente compartilha com o PSD?

Diário de candidatura (11)

No próximo domingo, 5 de Abril, tenho a honra da companhia de Mário Soares na sessão de apresentação da candidatura socialista ao Parlamento Europeu, a realizar no Porto, no Hotel Sheraton, pelas 16:00.

Diário de candidatura (10)

No contexto da preparação das eleições europeias de Junho, a Euronews realizou um importante debate entre os líderes dos diferentes grupos políticos no Parlamento Europeu.
Deve recordar-se que os cinco partidos portugueses com representação no PE estão integrados em apenas três grupos políticos, dado que o PSD e o PP estão juntos no Partido Popular Europeia (PPE), o PCP e o BE pertencem ambos à Esquerda Unitária Europeia, e só o PS se encontra singularmente representado na sua própria família política, o Partido Socialista Europeia (PSE).

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Diário de candidatura (9)

O PCP vem asseverar que não é anti-europeísta, ao contrário do que é comummente acusado. Diz que é, sim, por uma "outra Europa".
Que não é a favor da Europa da União Europeia, bem o sabemos, pois o PCP esteve contra a adesão de Portugal à então CEE e tem rejeitado todos os passos da integração europeia, desde o Tratado de Maastricht até ao Tratado de Lisboa. Mas tendo em conta as suas notórias saudades da União Soviética e dos demais "países socialistas" do Leste europeu, bem como o seu nunca abandonado desprezo pela democracia liberal (ainda que também Estado social) e pela economia de mercado (ainda que regulada), não é difícil imaginar qual será a "outra Europa" com que o PCP sonha...