sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Disgusting

Tão "infeliz" e "inapropriado" como o comentário do embaixador dos Estados Unidos -- termos moderados usados no voto de protesto parlamentar do PS contra ele -- só a retirada desse mesmo protesto, aliás sem explicação. Triste manifestação de "respeitinho" ao arrogante e humilhante comentário do embaixador norte-americano, esta do PS.
Simplesmente disgusting.

Para Norte ver

Durante uma década inteira o PSD foi a força de bloqueio da regionalização. Por isso, é de saudar a recente inversão da sua posição nessa matéria.
Todavia, não lhe fica bem passar, de súbito, de inimigo da regionalização para campeão da mesma, antes de mostrar que há alguma sinceridade na conversão. Há "fugas para frente", incluindo uma revisão constitucional ad hoc, que mais parecem puro oportunismo eleitoralista, para Norte ver.

Greve

Qualquer que tenha sido a adesão à "greve geral" da função pública e por mais justificadas que sejam as razões da mesma (do ponto de vista sindical, bem entendido), o Governo não deve dar nenhum sinal de amolecimento nos grandes objectivos da reforma da Administração Pública, ou seja, a modernização administrativa, a eficiência do sector público e a redução do peso relativo das despesas de pessoal no orçamento do Estado e no PIB (muito acima da média da UE e da OCDE).
Por maior que seja a importância política dos funcionários públicos, sobretudo quando se caminha para o final da legislatura, há dois interesses ainda mais importantes, a saber, o dos cidadãos em geral, que querem melhor Administração, e o dos contribuintes, que pagam a sua ineficiência e o seu peso excessivo. O facto de nenhum desses grupos ter sindicato nem fazer greves não lhes retira a primazia que devem ter numa política democrática.

"Direitos Humanos e Desenvolvimento - Uma estratégia para África"

AMNISTIA INTERNACIONAL
PORTUGAL

Direitos Humanos e Desenvolvimento
Uma estratégia para África

Centro Europeu Jean Monnet - 6 de Dezembro de 2007

10:30 Abertura

Lucília José Justino, Vice-Presidente da Direcção da Amnistia Internacional (AI) Portugal

10:40 O desafio da boa governação: enfrentar questões de direitos humanos

Moderador: Miguel Portas, Deputado ao Parlamento Europeu, Bloco de Esquerda
João Fernandes, Director Executivo da OIKOS
Victor Nogueira, Associação da União Europeia, AI
Marielle Hart, Directora de Políticas Europeias, Stop AIDS Alliance

11.45 Coffee Break

12:00 Defender os direitos humanos em África

Moderadora: Ana Gomes, Deputada ao Parlamento Europeu, Partido Socialista
Berhanu Nega, Autarca eleito de Addis Abeba, ex-prisioneiro de consciência, Etiópia
Primrose Matambanadzo, Zimbabwe Association of Doctors for Human Rights, Zimbabué
Luís Araújo, SOS Habitat, Angola

Almoço

15:00 Conferência de imprensa

15:30 A alastrante crise do Darfur

Moderador: José Ribeiro e Castro, Deputado ao Parlamento Europeu, CDS-PP
Fernando Nobre, Presidente da AMI
Padre Leonel Claro, Plataforma por Darfur
Usman Bugaje, Deputado Nigeriano (a confirmar)
Salih Mahmoud Osman, Advogado, Vencedor do Prémio Shakarov 2007
Mohamed Abdel Shakur, Jornalista e Activista, Refugiado Sudanês

17:00 Encerramento: Uma estratégia para a cooperação UE - África
Natalia Alonso, EU Office da AI

Língua de trabalho: Inglês

Organizado com o apoio de:
Ana Gomes, Deputada ao Parlamento Europeu

Centro Europeu Jean Monnet - Entrada Livre (Agradecemos confirmação de presença junto da AI)
Largo Jean Monnet nº1 - 6º, Lisboa
Tel: +351 21 3504900

Para mais informações e confirmação contactar Amnistia Internacional
Av. Infante Santo, 42, 2º 1350-179 Lisboa • Tel.: +351 21 3861652 • Fax: +351 21 3861782
http://www.amnistia-internacional.pt/ • aueportugal@amnistia-internacional.pt

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Coisas diferentes

No seu pedido de apreciação de constitucionalidade da lei sobre o emprego público (ver post precedente), o PR questionou a aplicação da lei aos magistrados judiciais, não pondo em causa a sua aplicação aos magistrados do Ministério Público.
De facto, como mostrei aqui, o estatuto funcional dos agentes do Ministério Público pode ser politicamente controverso, mas não é constitucionalmente equiparável ao dos juízes. Assim se frustraram as tentativas corporativas de atrelar o estatuto daqueles ao destes...
Adenda
Obviamente, a decisão do PR de não questionar a inclusão dos agentes do MP na lei do emprego público traduz-se numa enorme derrota da (improcedente) tese de que isso envolvia um atentado à autonomia do Ministério Público, em que lamentavelmente se comprometeu, com inesperada leviandade, o próprio Procurador-Geral da República.

Fez bem o Presidente da República...

..ao solicitar ao Tribunal Constitucional a fiscalização preventiva da constitucionalidade da lei sobre o emprego público, dada a relevância da lei e as objecções de inconstitucionalidade que foram levantadas contra ela.
Há leis que convém que só entrem em vigor constitucionalmente "limpas". Aliás, tendo sido suscitada desde cedo a controvérsia sobre a constitucionalidde de vários pontos da lei, só é de estranhar que o Presidente tenha demorado tanto tempo para decidir.

Esperança em Annapolis

O medo do Irão, a fraqueza de Olmert e Abbas, a crescente radicalização do Médio Oriente e um Presidente americano ansioso por salvar o pouco que resta da sua credibilidade: estes ingredientes produziram um resultado positivo em Annapolis - o princípio de um processo negocial que tem um limite temporal (fim de 2008). Mas infelizmente os mesmos ingredientes que serviram para começar o processo não chegarão para o concluír com sucesso. E aqui a Europa tem que ser parte da solução.
Javier Solana esteve em Annapolis. Mas a Europa está ausente das conclusões da cimeira. No entanto, é importante entender que os tempos mudaram desde Oslo. Desta vez não pode haver processo de paz do Médio Oriente sem a Europa, que é há anos o principal dador à Palestina.
Cabe agora à Europa insistir num papel à mesa.

Parabéns à Presidência portuguesa!

Na Sexta-feira passada, os Estados Membros da União Europeia e o Parlamento chegaram a acordo em relação ao orçamento da União Europeia para 2008. Ficou garantido, em princípio, o financiamento público europeu para dois projectos importantes: o sistema de navegação por satélite Galileo e o Instituto Europeu de Tecnologia. Parabéns Presidência portuguesa.

Mas hoje, Quinta-feira, os Ministros dos Transportes têm que decidir sobre as modalidades do financiamento para o Galileo. E com tensões consideráveis entre Estados Membros sobre como distribuir os contratos pelas industriais europeias, nada está garantido!

Boa sorte, Ministro Mário Lino!

P.S: Que eu saiba, pela primeira vez na história da União uma decisão sobre um orçamento anual (neste caso 2008) foi tomada por maioria qualificada, com a Alemanha a votar contra sozinha! Foi preciso coragem da Presidência portuguesa para ir a votos sem haver consenso!

Perguntas inconvenientes (2)

«Jardim acusa Constitucional de "terrorismo de Estado"».
O Presidente da República -- que aliás não se tem coibido de comentar publicamente a vidqa política, incluindo actos da esfera governamental -- poderá ficar silencioso perante mais esta aleivosia do líder madeirense, de indicustível gravidade institucional?

Perguntas inconvenientes

Se a UE se prepara para aceitar a secessão e declaração de independência unilateral do Kosovo, por que é que alinha com Pequim na condenação da secessão de Taiwan, aliás há muito consumada? Não é um caso evidente de "double standards"?

A caminho do desastre

O radicalismo esquerdista e a inépcia política de Evo Morales encaminham a Bolívia para a desagregação territorial e social. Nada que não fosse previsível, infelizmente...

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Equidade social

No "Estado social" contemporâneo não existem somente serviços que, pela sua essencialidade para a realização humana, devem ser universais e gratuitos (ou tendencialmente gratuitos), tal como a educação básica e a saúde. Além disso, por razões de igualdade social, há também outros que, embora sendo onerosos, devem porém ser acessíveis a todos independentemente da condição económica de cada um, pelo que devem ser gratuitos ou devem ser subsidiados, para quem os não pode pagar. Assim sucede, por exemplo, com a justiça e com o ensino superior, entre outros.
Assim deveria suceder com certas prestações e apoios sociais públicos, que deveriam beneficiar somente quem não dispõe de rendimentos suficientes para os poder pagar por si. Ora, não é isso que sucede quando o Estado subsidia as instituções (IPSS) directamente, em vez de subsidiar as pessoas carenciadas, pois desse modo está a beneficiar toda a gente indiferenciadamente, desperdiçando dinheiro que poderia reforçar o apoio a quem mais precisa.

Aeroporto (2)

«Primeiro, define-se a solução; depois, encomenda-se o estudo». O autor tem razão evidentemente quanto aos recentes estudos da CIP e da ACP, a defender respectivamente as soluções Alcochete e Portela+Montijo. De facto, trata-se de estudos com conclusão encomendada, aliás feitos à pressa por encomenda de grupos de interesse privados. Mas não assim no caso da solução Ota, que resultou de estudos de muitos anos por iniciativa de entidades públicas sobre várias alternativas (aliás, muito anteriores ao actual ministro).

Aeroporto

A defesa que a Associação Comercial do Porto faz da manuenção do aeroporto da Portela, acrescentando-lhe um aeroporto secundário no Montijo -- para o que conseguiu o apoio de mais um estudo (há estudos para todas as soluções...)--, tem de levar o devido desconto.
A ACP acha que se Lisboa não tiver um novo aeroporto internacional, o aeroporto do Porto pode lucrar com isso (como se fossem aeroportos alternativos!...). Do que se trata, porém, não é de saber que solução é que melhor convém a um suposto interesse local mais sim qual a que melhor defende o interesse nacional.

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Isto é o do Paulo, ou quê?


Já está na ABA da CAUSA o texto do artigo que escrevi para o COURRIER INTERNACIONAL, publicado na última edição de 23.11.07.
O título - "Aliado mas pouco fiável" - traduz a forma como Portugal é visto nos circuitos UE e NATO onde se já sabe que o ex-Ministro Paulo Portas fotocopiou que se fartou documentos oficiais classificados antes de sair do Ministério da Defesa Nacional. E onde se começa a perceber que não há uma única autoridade pública neste país que tenha coragem para mexer uma palha e, pelo menos, ordenar uma investigação e apurar as responsabilidades do ex-ministro por possível violação de regras de segurança básicas.
Temos Estado ou isto é ... o do Paulo ?

Haja pudor!


Segundo a imprensa, o Embaixador dos EUA afirmou-se "profundamente preocupado quando soube dos planos de Portugal para reduzir os seus esforços em prol da jovem democracia afegã" (de 162 militares para uma equipa de 15 e um avião C-130).
Antes de comentar as preocupações do Embaixador, reitero o que já aqui defendi várias vezes: que a Europa deve fazer os possíveis para garantir o desenvolvimento sustentável e a estabilidade do Afeganistão. Não podemos fugir nem às nossas responsabilidades, nem às consequências de um Afeganistão outra vez nas mãos dos Taliban. Para isso é preciso reforçar o papel da ONU no país, gastar mais e melhor na ajuda ao desenvolvimento e pressionar o governo afegão a punir a corrupção e a combater a impunidade por crimes de guerra passados. Mas como tudo isto não pode acontecer num clima de insegurança, as tropas internacionais da missão da NATO são úteis e necessárias.
Dito isto, vamos lá ao preocupado Embaixador.
Ao criticar a decisão do Governo português, o Embaixador esquece uma das razões fundamentais para gravidade da situação persistente no Afeganistão: a decisão da Administração Bush de abandonar a "jovem democracia" de Cabul, para ir construir outra "jovem democracia" em Bagdad. Agora estamos a braços com duas "jovens democracias" e nenhuma delas serve de modelo, nem de inspiração, para ninguém.
Antes se pronunciar sobre as decisões do aliado português, era bom que o Embaixador americano nos explicasse porque é que os EUA acharam que uma tarefa geracional (reconstruir o Afeganistão de forma sustentável) foi considerada terminada em apenas dois anos. O Afeganistão continua extremamente instável, à mercê de uma aliança entre Taliban e seus apoiantes paquistaneses, traficantes de droga e grupos terroristas da Al Qaeda, porque a Administração Bush desviou fundos, tropas e capital político de objectivos legais e legítimos no Afeganistão – 1) a guerra contra os Taliban, que albergavam a Al Qaeda, que concebeu e telecomandou a barbárie do 11 de Setembro de 2001 e 2) a reconstrução do Afeganistão - para outro objectivo injustificável, ilegítimo e contraproducente - a invasão do Iraque.
Portanto, senhor Embaixador, poupe-nos e poupe-se, please! Haja pudor!

Hortolices


"Durão Barroso para Nobel da Paz".
Pelo que fez pelo Iraque ?
Ou pelo que fez por Timor?
Enquanto MNE, até 1995, fez o que lhe competia por Timor. E fez bem. Fez, decerto, mais e melhor do que vários dos seus predecessores todos juntos.
Mas quem se esqueceu que Durão Barroso, líder da oposição, em 1999, no momento crucial se enganou redondamente, não querendo que se arriscasse e se fizesse o referendo de 30 de Agosto – sem o qual Timor Leste nunca teria tido a independência? Só talvez o Presidente Ramos Horta, que também não queria lá muito...
O que vale é que o Presidente Ramos Horta já várias vezes reconheceu que estava enganado. Aquele referendo ou se fazia então – ou nunca mais se faria!
Valeu Xanana Gusmão, interpretando os sentimentos da resistência de dentro, que sabia o que o povo queria. E que assumiu a responsabilidade de arriscar e de propor ao CNRT que arriscasse e pedir o mesmo a Portugal. Mesmo sabendo que se poderiam pagar pesados custos. É pelo destemor em correr certos riscos, em momentos cruciais, que se medem os líderes.
A imaginação e a versatilidade são, reconhecidamente, apanágios do Presidente Ramos Horta. Quando é que um destes dias o vamos ver a propôr também o Nobel para o Ministro Ali Alatas, que até passou a trabalhar pela paz em Timor- Leste, ao negociar e tornar possível o referendo de 1999 e sobretudo depois, ajudando a convencer os indonésios a deixar Timor Leste seguir o seu caminho e os refugiados a retornar ? .

Durão Barroso e o Iraque (3)


Terceira tese: 'O Iraque está a ferro e fogo, o Irão mais forte que nunca e o Médio Oriente no caos - mas Portugal vai bem, obrigado'
Durão Barroso acha que apesar de aquilo no Iraque estar "a correr manifestamente muito mal" (momento de lucidez numa entrevista pontuada pela obfuscação e o revisionismo), contas feitas "do ponto de vista português, não houve nada a lamentar." Óptimo, ficamos todos muito aliviados!
Barroso justifica este resumo positivo do 'dossier Iraque' principalmente com a sua própria nomeação para Presidente da Comissão, "que demonstra que [a posição de Portugal na altura] não prejudicou em nada a imagem de Portugal junto dos seus parceiros europeus."
Barroso parece estar convencido de duas coisas:
Primeiro, que o facto de ele próprio ter sido escolhido para Presidente da Comissão serve como barómetro da opinião pública europeia e mundial sobre Portugal. Tipo Luís XIV - l'état c'est moi. Só que o absolutismo já acabou e há muita gente, dentro e fora de Portugal, que não foi acometida de amnésia em relação ao papel de Portugal na guerra do Iraque lá porque Durão Barroso é agora Presidente da Comissão.
Segundo, Barroso parece achar que ser nomeado Presidente da Comissão em 2004 representa um grande triunfo para Portugal; eu continuo a pensar que ele chegou lá porque Tony Blair o “inventou” justamente porque ele se perfilava como um Presidente às ordens, fraco (acabava de ser derrotado nas eleições europeias, em que o PS de Ferro Rodrigues arrancara 45% ds votos!). E por ser o mínimo denominador comum. O facto da nomeação de Barroso travar o passo a figuras da estatura política de um Jean-Claude Juncker ou de um Chris Patten (para não falar em António Vitorino, que Barroso dizia apoiar, enquanto há meses cozinhava com Blair e quejandos a sua própria candidatura) não abona especialmente em favor de Portugal. E muito menos em favor da coerência da política portuguesa em relação ao Iraque.

Durão Barroso e o Iraque (2)


Segunda tese: 'Até nem queríamos - empurraram-nos para a guerra'
Durão Barroso diz que Portugal teve "sempre uma posição moderada" e que "nós realizámos a cimeira dos Açores porque nos foi pedido pelos nosso aliados e amigos. Os Estados Unidos, o Reino Unido... Espanha. Sobretudo Espanha."
Afinal, em que é que ficamos: Portugal pôs-se do lado dos que queriam ir para a guerra porque tinha informações que provavam que não se podia esperar nem mais um dia para invadir o Iraque (primeira tese)? Ou fomos apenas moços de recados, a quem ninguém realmente pediu opinião (segunda tese)?
Acima de tudo, é esclarecedora a facilidade com que o ex-PM admite submeter-se a “diktats”, desde que venham de amigos poderosos.
Eu tenho notas escritas das conversas com Durão Barroso e Martins da Cruz sobre a guerra que se preparava, conversas em que acompanhei Ferro Rodrigues, então líder do PS na oposição. Uma delas convocada acintosamente para dia 15 de Fevereiro de 2003, à hora da manifestação contra a guerra que percorria as ruas de Lisboa (e por isso não pude lá estar). Lembro-me de ter ficado estarrecida por Durão Barroso já então utilizar o argumento da Espanha de Aznar. Mas o “spin” que ele lhe dava nessa altura era outro: era o de que os interesses estratégicos de Portugal não consentiam a ultrapassagem pela Espanha no zelo aliado junto dos americanos. Tenho notas de lhe ter observado: ”Mas Portugal é independente e não província de Castela, porque nunca teve medo de seguir o seu próprio caminho e de, justamente, se diferenciar dos vizinhos espanhóis!....
Claro que a assinatura de Durão Barroso na 'Carta dos 8', de 30 de Janeiro de 2003, também fora ditada pela obsessão de não se deixar ultrapassar por Aznar na subserviência a Washington. Esse documento consolidou a divisão da Europa e indicava já quem estava disposto a embarcar na marcha para a guerra de Bush, acrescentando cinicamente que se o Iraque não cumprisse a resolução 1441, "o Conselho de Segurança perderá credibilidade e a paz mundial sofrerá."
A credibilidade do Conselho de Segurança sobreviveu a 40 anos de quase-paralisia durante a Guerra Fria. E também sobreviveu à guerra no Iraque, tanto que a Administração Bush entretanto descobriu que interessa utilizá-lo, seja para a Birmânia, o Darfur ou o Irão...
Só a credibilidade de Durão Barroso, Aznar, Blair e Bush é que nunca recuperou.
Durão Barroso então tratou de pôr-se em bicos de pés para a fotografia da famigerada Cimeira das Lajes. Agora tenta esconder-se por detrás dos outros três, para escamotear a sua quota-parte de responsabilidade na tentativa obscena de legitimar a guerra em 2003. Não veio sequer ainda reconhecer o erro e pedir desculpa. Veio antes, despudoradamente, tentar desculpar-se.

Durão Barroso e o Iraque (I)


A entrevista que Durão Barroso recentemente deu ao DN e à TSF, publicada no dia 18, merece ser dissecada, sobretudo quanto à tentativa de limpar o seu nome em relação ao fiasco iraquiano.
Primeira tese: 'Fui uma vítima de uma conspiração da CIA, do MI-6, e do SIEDM!'
Durão Barroso diz: "houve informações que me foram dadas ... que não correspondiam à verdade".
Primeiro, apresentar o processo de tomada de decisão que levou à invasão do Iraque como mero reflexo da intelligence disponível na altura, significa reduzir o papel do político a mero autómato, escravo dos serviços de segurança. Se o Presidente Kennedy tivesse seguido esta lógica durante a crise dos mísseis de 62 - em que os seus conselheiros defendiam (com a excepção do irmão Bobby) o bombardeamento de Cuba - a Guerra Fria teria sido no mínimo morna. Mas Kennedy tinha cabeça para pensar. Os serviços de informação servem para informar as decisões dos políticos - não para as substituir.
Segundo, um bocadinho de senso comum ajudou muita gente, na altura, a duvidar da objectividade das informações a que Durão Barroso alude. Até porque só a ânsia belicista podia explicar porque é que um regime sinistro que tinha sido aliado e até ajudado a armar, e depois da invasão do Kuweit 'contido' (“in a box”, segundo Madeleine Albright), de repente se transformara na maior ameaça à paz a nível planetário.
Terceiro, e se o Iraque tivesse mesmo ADM? Porque é que atacar um país supostamente armado até aos dentes de ADM, com a capacidade de atingir Londres "num espaço de 45 minutos", foi o método escolhido? Alguém já pensou em atacar a Coreia do Norte desde que o regime assumiu ter bombas nucleares?
Recordo que, na altura, eu várias vezes admiti que o Iraque ainda pudesse ter algum programa nuclear secreto, tendo presente o que os inspectores da ONU haviam desmantelado no início dos anos 90 e o jogo de gato-e-rato com o Conselho de Segurança em que se comprazia Saddam (podia ou não ser táctica dissuassória de quem tem tabuleta à porta a avisar “cuidado com o cão”, sem ter cão). Mas se realmente existissem instalações nucleares encobertas no Iraque um bombardeamento, cirúrgico ou às cegas, não poderia deixar às costas da "coligação" umas mini-Hiroximas?
Só engoliu a patranha quem quis engolir. Barroso não foi vítima, foi algoz.

domingo, 25 de novembro de 2007

Aeroporto

Esta manhã no aeroporto de Lisboa. Filas de dezenas de pessoas num corredor escuro para o controlo de passaportes. Sala de espera superlotada, com muitas pessoas em pé. Mais filas por escadas esconsas para acesso ao autocarro de transporte para o avião. Espera no autocarro, de portas abertas ao frio matinal. Longo périplo pela periferia da aeroporto para chegar ao avião, estacionado do outro lado da pista. Mais uma paciente espera e lenta subida da escada do avião, ao ar livre (é pior quando chove).
Chamam a isto um aeroporto. E há mesmo quem defenda que o País não precisa de outro!

Outro que vai

A derrota do partido liberal-conservador de John Howard na Austrália, em favor do Partido Trabalhista, marca a queda de mais um dos membros do clube da guerra do Iraque, aliás um fiel seguidor de Bush. Entre as medidas anunciadas pelos trabalhistas conta-se a retirada das tropas australianas do Iraque e a assinatura do Protocolo de Quioto.

sábado, 24 de novembro de 2007

Mugabe já roubou o "show", mesmo se não vier

"Preparations for the EU Africa Summit were overshadowed by lots of ink spilled on the attendance of Robert Mugabe and the British «ultimatum». Despite the fact that Mugabe will not be the only oppressive and corrupt ruler at the table, his distinction from other human rights violators - such as the leaders of Sudan, Eritrea, Libya and Ethiopia, just to name a few - stems from a Common Position adopted by all EU governments in 2002, imposing travel restrictions.
Sanctions are meant to cast opprobrium on their targets. But that has been undermined, since Mugabe was, after all, invited by Portugal to attend the Summit. The Portuguese Foreign Minister admitted he would rather not receive Mugabe in Lisbon, reasoning that he would steal the show. Mugabe knows that EU leaders have no escape: they are politically and legally bound to confront him with his responsibilities in impoverishing and oppressing the Zimbabwean people. Mugabe may even outsmart them all, choosing not to come in the end: he will have, in any case, stolen the show".

Extracto de um artigo que escrevi esta semana para a próxima edição do jornal "European Voice".

Crítica infundada

Não percebo esta crítica. Quem sustentou que não faz sentido incluir os juízes no âmbito da função pública fui eu! Outra questão é a de saber se o mesmo vale para os agentes do Ministério Público, como sustenta o PGR, a meu ver sem nenhuma razão.

Gostaria de ter escrito isto

«Os recentes ataques à Administração Fiscal protagonizados pelos líderes da direita portuguesa são tudo menos o resultado da sua preocupação com os contribuintes, se fosse essa a preocupação há muito que se teriam manifestado. A verdade é que as vozes que se levantam não são outra coisa senão a voz do dono e o dono são os que têm vivido num paraíso fiscal à custa da corrupção, da fraude e evasão fiscais e da incompetência dos dirigentes que puseram à frente de alguns lugares chave da DGCI.
O que os políticos que se têm vindo a manifestar não é uma Administração Fiscal mais justa, querem antes um fico ineficaz que deixe de fora os seus financiadores.»
(O Jumento)

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Plano rodoviário

Não fora a demora de dois anos na definição do modelo de gestão e financiamento da rede rodoviária nacional (finalmente estabelecido com a concessão à Estradas de Portugal) e estes investimentos já estariam no terreno há mais tempo, criando emprego e dinamizando a economia.
Trata-se dos primeiros projectos já da responsabilidade da nova empresa concessionária (cuja administração foi hoje mesmo empossada), a realizar em regime de parceria público-privada (PPP), com investimento privado e diluição do pagamento pela EP ao longo da duração do contrato.

Conflito de interesses

Eu tendo a compartilhar desta apreensão sobre a escolha do novo presidente da RTP. Não vejo como se pode transitar directamente da gestão de empresas privadas de comunicação social para a gestão do serviço público sem potenciais conflitos de interesses.

Equiparar o que não é comparável

Há por aí uma enorme confusão -- para a qual até o Procurador-Geral da República indevidamente contribuiu -- sobre a independência dos juízes e a autonomia do Ministério Público, que alguns teimam em equiparar. Ora, como mostrei aqui, nada há de comum entre as duas coisas.
Os juízes gozam de independência individual. Não integram nenhum corpo ou instituição hierarquizada, a cujos órgãos devam obediência. No exercício da sua função própria -- que é a de julgar -- não estão sujeitos a ordens nem orientações de ninguém, nem são, em princípio, responsáveis pela decisões que tomam. A Constituição garante essa independência pessoal e funcional dos juízes, como condição da independência dos tribunais e como exigência incontornável da separação de poderes e do Estado de Direito.
Por sua vez, os magistrados do Ministério Público não gozam individualmente de nenhuma independência funcional. A Constituição garante sem dúvida a autonomia do Ministério Público como instituição face ao Governo, através da autonomia dos seus órgãos próprios, a saber, a Procuradoria-Geral da República, à frente da qual se encontra o PGR. Mas os magistrados do MP são simples agentes da instituição. No exercício das suas funções, são independentes do Governo por causa da autonomia do MP, mas estão sujeitos a orientações e, mesmo, instruções hierárquicas da PGR ou dos escalões intermédios. Por isso, a autonomia do MP não pressupõe, nem pode pressupor, a autonomia pessoal dos seus agentes, que a Constituição não estabelece, nem consente.
Em suma, não se pode "contrabandear" a equiparação dos agentes do MP aos juízes, à conta da autonomia do MP como instituição (e dos seus órgãos), que aliás não está em causa. Eis porque a integração dos magistrados no universo subjectivo da lei da função pública só é constitucionalmente censurável em relação aos juízes (o que não quer dizer que os magistrados do MP não devam ser considerados como um "corpo especial" dentro da função pública, com estatuto próprio). É assim tão difícil perceber?

Abuso de poder corporativo

Importei para a Aba da Causa o meu artigo desta semana no Público, com o título em epígrafe, sobre a ilegalidade do Código Deontológico da Ordem dos Médicos, na parte em que pune como "falta disciplinar grave" a prática de IVG.

Coerência

«PCP propõe ruptura com orientações da UE em nome da soberania nacional».
Quando propus que o reclamado referendo sobre a UE fosse mesmo sobre a permanência na UE, alguém argumentou que tal referendo seria redundante porque "hoje nem sequer o PCP põe em causa a UE". Como se vê, não é verdade. De facto, como poderia o PCP conformar-se com essa criatura e agente do "capitalismo neoliberal" que é a UE? Louve-se, pois, a coerência e a sinceridade do PCP!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Quatro anos

O Causa Nossa perfaz hoje quatro anos. Na efémera blogosfera é muito tempo.
Ao longo destes anos, vimos nascer e morrer muitos blogues. Nós vamos prosseguir, como até aqui, serenamente. E não precisamos de modificar a nossa declaração de princípios.

Discurso sindical

É surpreendente esta passagem da entrevista do PGR à Visão: «se puserem os magistrados [do Ministério Público] como funcionários públicos, a partir daí recebem ordens tal como o funcionário das Finanças que responde perante o seu chefe que, por sua vez, reporta ao ministro».
Na verdade, como mostrei aqui, a subordinação dos magistrados do Ministério Público ao PGR não implica nenhuma subordinação do Ministério Público, em geral, nem do PGR, em especial, ao Governo, desde logo porque a autonomia do MP está constitucionalmente garantida.
A mistura de uma coisa com outra pode caber na retórica sindical, mas não é própria do discurso institucional. Aliás, o PGR não pode queixar-se ontem de "feudos" dentro do MP que minam a sua autoridade e hoje vir "flirtar" com a posição sindical de autonomia pessoal e funcional dos agentes da instituição.
Diga-se o que tem de ser dito: entre nós, a autonomia do Ministério Público, incluindo a independência do PGR face ao Governo, não está em causa (embora não seja um requisito necessário do Estado de Direito democrático); mas um dos maiores equívocos do nosso sistema de justiça é a ideia de que a autonomia do MP implica a equiparação dos estatuto dos agentes do Ministério Público aos juízes, contrariando os princípios da subordinação e da responsabilidade daqueles, expressamente previstos na Constituição. É tempo de questionar esse mito.
Aditamento
Pinto Monteiro pode estar descansado quanto ao seu estatuto próprio. Qualquer que seja o estatuto pessoal dos agentes do Ministério Público, o PGR, venha de onde vier (do Ministério Público, da magistratura judicial, da advocacia, etc.). nunca é, enquanto tal, funcionário público, mas sim titular de um cargo público, enquanto durar o seu mandato. Nem se vê, aliás, como é que essa questão pode ser seriamente suscitada. Também nas universidades, por exemplo, o reitor, enquanto tal, não passa a ser funcionário só porque os professores e investigadores o são...

Liberalização do notariado

As recomendações da Autoridade da Concorrência sobre a liberalização do notariado legitimam (e excedem em muito) as medidas recentemente anunciadas pelo Governo .
Como aqui se defendeu na altura própria, esta orientação só merece aplauso. A qualidade e os preços dos serviços profissionais são hoje um elemento essencial da competitividade económica em geral.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Self-restraint

Não se dará conta o PGR de que o cargo que desempenha não é compatível com a loquacidade institucional?!

A melhor universidade

O Jornal de Negócios de hoje (sem link) informa que a Universidade de Coimbra continua a ser considerada, tal como nos anos anteriores, a melhor universidade portuguesa no prestigiado "ranking" mundial e europeu do Times Higher Education Suplement, seguida de perto pela Universidade Nova de Lisboa.
Isto mostra que o marketing de outras universidades pode impressionar a opinião doméstica mas não conta nos rankings internacionais.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Ingerência

A censura do embaixador dos Estados Unidos às parcerias da Galp com a Gazprom russa e com a companhia petrolífera venezuelana constitui um caso manifesto de ingerência onde o embaixador não é chamado. A empresa portuguesa, aliás de capital maioritarimante pivado, faz negócios com quem lhe convém, e não cosnta que tenha menos escrúpulos políticos do que as empresas norte-americanas (e o próprio Governo dos Estados Unidos!) que negociam nas oligarquias árabes ou noutras conspícuas ditaduras por esse mundo fora.
Haja decência!

Que Portugal na UE?

A Comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu ficou hoje com imagens contrastantes da Presidência portuguesa da UE: Luís Amado e Nuno Severiano Teixeira partilham o XVII Governo Constitucional, mas aparentemente pouco ADN político.
De um lado, linguagem verbal soporífica e gestualidade a exprimir enfado em relação ao Parlamento Europeu, à Europa e, no fundo, ao mundo; do outro, entusiasmo e vontade de explicar, convencer e mobilizar. De um lado, exposição vaga, genérica, e incompleta; do outro, respostas detalhadas, alicerçadas em pensamento próprio e conhecimento das matérias. De um lado, cepticismo em relação ao papel da UE e comprazimento em martelar a sua credibilidade limitada, por falta de ambição, visão estratégica e liderança (para que serve uma Presidência, então?); do outro, defesa da "autonomia política europeia", perspectivada como essencial ao multilateralismo eficaz e também ao reforço da cooperação transatlântica.
Em suma, um encarnou uma tradição diplomática anacrónica, sem coragem de assumir que vê a UE com grande desconforto, sem agilidade para a utilizar e, ainda menos, empenho em a aperfeiçoar. O outro demonstrou reconhecimento de uma nova forma de soberania que Portugal tem o privilégio e o dever de ajudar a construir... sem lhe faltar, para tanto, ambição e engenho.

Não é bem assim

Na sua edição de hoje, o Público anuncia, no subtítulo de uma peça sobre a votação do orçamento, que uma «entidade liderada por Vital Moreira para comemorar centenário da implantação da República recebe ajuda [orçamental] do PS».
Há aqui um equívoco. Não presido a nenhuma entidade dessas. Presidi de facto a uma Comissão de Projectos para a Comemoração do Centenário da República, nomeada em Outubro de 2005, mas essa comissão já cumpriu o seu mandato e terminou as suas funções, com a entrega do seu relatório em Setembro de 2006. E não precisou de nenhuma verba orçamental, porque os seus membros trabalharam de forma inteiramente graciosa.
Aditamento - Verifico que a mesma notícia consta de outros jornais, o que quer dizer que a sua origem deve estar na Lusa.

Justiça e questões científicas

«(...) ficou provado [que o cozinheiro] é portador de VIH e que este vírus existe no sangue, saliva, suor e lágrimas, podendo ser transmitido no caso de haver derrame de alguns destes fluídos sobre alimentos servidos a consumidores que tenham na boca uma ferida.»
Foi com este argumento que os tribunais coonestaram o despedimento de um cozinheiro de um hotel, argumento esse que, porém, a medicina não corrobora.
Em questões de facto de natureza científica (contágio da Sida, efeitos electro-magnéticos das cabos de alta tensão, consequências da co-incineração, nocividade das antenas de telecomunicações, etc.) não seria de os tribunais deverem seguir a opinião de comités científicos independentes, em vez da aleatória prova feita em cada julgamento, segundo a subjectiva convicção do juiz?

A doutrina PCP sobre os referendos...

...acaba de receber mais um contributo original, a saber, o valor vinculativo independentemente do número de votantes.
O facto de a Constituição exigir a participação da maioria dos eleitores para que os referendos sejam vinculativos não deve atrapalhar. Que importa a Constituição quando o PCP tem uma diferente perspectiva sobre o interesse público?!

O mal e a caramunha

É evidente que o direito à greve inclui o direito de piquete para persuadir os demais trabalhadores a aderir à paralisação mas não abrange nem o direito de impedir os não grevistas de trabalharem nem o direito de vedar o acesso às instalações da empresa, como sucedeu agora na Valorsul. Violar a lei da greve e depois acusar os outros de o fazerem é uma velha técnica político-sindical que já não convence ninguém. Se querem que o direito de greve seja garantido, os grevistas devem ser os primeiros a respeitá-la.
Aditamento - A greve pelas horas extraordinárias.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Não é bem assim...

Independentemente da opinião sobre as quotas mínimas de música portuguesa na rádio, a verdade é que a Lei da Rádio não faz tal imposição a todas as estações de rádio, diferentemente do que parece supor J. Pacheco Pereira. Com efeito, a Lei da Rádio dispõe que o regime das quotas mínimas «não é aplicável ao serviço de programas temáticos musicais cujo modelo específico de programação se baseie na difusão de géneros musicais insuficientemente produzidos em Portugal», cabendo à ERC definir e publicar os critérios de identificação dessas emissões.

domingo, 18 de novembro de 2007

Não foi bem assim

Diferentemente do que aqui se diz, eu não critiquei Jorge Sampaio por defender o referendo sobre o tratado europeu. Limitei-me a defender uma posição diversa.

O "objectivo"

Penso que os governos -- ou os partidos candidatos a serem-no -- não se devem comprometer com objectivos quantificados sobre variáveis que no fundamental não controlam, como é o caso da criação de emprego, que depende essencialmente do crescimento da economia. Mas a verdade é que o Governo está em boas condições para preencher o objectivo de criação de 150 000 postos de trabalho durante a legislatura, pois já foram criados mais de 100 000 até agora, a quase dois anos do termo do mandato.
Se a taxa de desemprego, agora estabilizada depois de uma subida contínua, começar a diminuir, Sócrates pode celebrar mais um sucesso.

sábado, 17 de novembro de 2007

Desvio de poder

É evidente que a falta de desconto da hora de almoço no tempo de trabalho,a ser provada, constitui uma falta disciplinar de José Rodrigues dos Santos. Mas tudo indica que essa alegada infracção disciplinar constitui um pretexto para o punir com a sanção máxima (o despedimento) pela acusação que ele fez recentemente à administração da RTP pela interferência desta, em 2004, na nomeação de uma correspondente no estrangeiro, contra a posição da direcção de informação por ele ocupava.
Chama-se a isso "desvio de poder"...

Não é bem assim

«Louçã frisou que a concessão da rede rodoviária nacional à Estradas de Portugal S. A., «não implica risco nenhum» para a empresa criando, em contrapartida, mais encargos para Estado e para os contribuintes».
Como é que se pode dizer uma coisa destas, quando a verdade é que, com a concessão, as estradas não vão custar mais um euro de impostos aos portugueses (a "contribuição rodoviária" é fiscalmente neutra, pois foi descontada do imposto de produtos petrolíferos) e, pelo contrário, vão render ao orçamento vários milhões de euros anuais, a pagar pela empresa pública concessionária?

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Discriminação étnica

Ela existe, ostensivamente, a discriminação dos ciganos, como traço pouco honroso de muitos países europeus, incluindo o nosso, constituindo um dos mais graves problemas de direitos humanos na Europa. O Tribunal Europeu de Direitos Humanos acaba de condenar a República Checa por segregação dos alunos ciganos em escolas especiais, a pretexto de "deficiência intelectual".
Provavelmente vários países vão ter de rever as suas políticas de ensino em relação aos ciganos. Ainda bem!

Português técnico


Logo pela manhã o Boina Frígia alertava: temos casus belli com Washington!
Tudo porque George W. Bush se permitiu mostrar que considera a língua portuguesa menor ou em vias de extinção, logo indigna de escolas americanas.
Eu não acredito na tese da retaliação linguística. Não, o homem pensa pouco e é mesmo ignorante. E línguas não são decididamente o seu forte, nem sequer a própria, em que ele tantas vezes escorrega...
Mas se for preciso ir para a guerra, a gente numa penada embucha o "cámone"! Em português técnico, claro...

Aeroporto (10)

"A decisão [sobre a localização no novo aeroporto] é política, não é técnica", disse o presidente do LNEC.
Quando os políticos procuram exonerar-se das suas responsabilidades e entregar decisões políticas aos técnicos é salutar ouvir um técnico recordar o óbvio.

Desafio

A recusa da Ordem dos Médicos em pôr o seu regulamento deontológico de acordo com a lei constitui um intolerável desafio à primazia da lei e ao Estado de Direito. Não se pode consentir que uma corporação profissional pública - cujos poderes são conferidos pela lei e que deve obediência à lei -- se coloque fora da lei.
O Estado tem de impor o respeito pela autoridade da lei. O despautério da Ordem dos Médicos não pode prevalecer.

Simplex

É de aplaudir o desaparecimento do recenseamento eleitoral e do cartão de eleitor. Acabará a inscrição no recenseamento, a necessidade de mudança de inscrição com a mudança de residência, a perda do cartão e do seu número, etc. Acabarão também as omissões de cidadãos nos cadernos eleitorais por falta de recenseamento. Doravante, todos os cidadãos serão eleitores e poderão votar, chegadas as eleições.
O programa Simplex é isso: eliminar procedimentos administrativos supérfluos, facilitar a vida aos cidadãos.

Mentiras

Será que o Bloco de Esquerda e os seus porta-vozes vão retractar-se da grave acusação que dirigiram ao Primeiro-Ministro de que "mentiu" na AR na questão da duração da concessão da rede rodoviária à Estradas de Portugal, quando garantiu que o prazo ainda não estava fixado e que poderia ficar aquém de 2099?
Perante esta evidência, é óbvio que não houve nenhuma "mentira" e que o BE incorreu numa acusação precipitada e pouco digna. Infelizmente, não é a primeira vez...

Reformas

«Portugal "revolucionário" n[a reforma d]o sistema de pensões».
Há para aí uns negacionistas por vocação que acham que não está a ocorrer nenhuma verdadeira reforma...

TGV sobe-e-desce

«"Pode ainda valer a pena explorar se há ou não há vantagem de ter uma solução mista. Isto é, ponte do lado esquerdo [do rio Tejo] e túnel do lado direito do rio", afirmou José Manuel Viegas, adiantando que esta nova solução para a Terceira Travessia do Tejo exige a utilização da ilha existente no rio Tejo.» (transcrito daqui).
Ora aqui está um conceito original para uma travessia de TGV: a montanha russa ou o sobe-e-desce!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Boas perspectivas

Depois do anúncio, pelo Governo, de que o défice orçamental ficará abaixo do fixado (3% do PIB), antecipando o fim do défice excessivo, foi a vez de o cauteloso Banco de Portugal antecipar a previsão do cumprimento do objectivo do crescimento para 2007 (1,8%), bem como -- o que é mais animador -- a previsão do aumento do investimento, cujo comportamento negativo era a principal preocupação quanto ao crescimento económico.
Boas perspectivas para 2008, restando saber se a dinâmica da retoma é suficientemente forte para varrer as nuvens existentes no horizonte económico (impacto da crise financeira norte-americana, escalada do preço do crude, contínua valorização do euro face ao dólar).

O estado a que o Estado chegou (3)

O Presidente da República, o Primeiro-Ministro, os Ministérios da Defesa e dos Negócios Estrangeiros – Ministros, Secretários de Estado, Secretários-Gerais, Directores-Gerais, etc... não vão incomodar-se com a manchete do “EXPRESSO” sobre a furia digitalizadora de um Ministro da Defesa nas vésperas de largar o cargo?
Vão continuar mudos e quedos diante dos índícios de terem sido grosseiramente violadas as estritas regras de segurança da NATO e da UE em relação a documentos confidenciais, por cujo cumprimento todos são responsáveis?
Não lhes passa pela cabeça exigir ao PGR uma investigação a sério, exaustiva? Uma investigação a Paulo Portas, ex-Ministro da Defesa, e aos outros seus colegas de Governo fotocopiantes de documentos oficiais, por eventual violação de segredo de Estado e das disposições legais aplicáveis à documentação oficial pública?
A Assembleia da República também encolhe os ombros?
Os deputados não ficam estarrecidos diante da desfaçatez com que Paulo Portas fez copiar documentos do Ministério da Defesa Nacional - que, obviamente, não trata de sabões nem de cebolas, mas da segurança e defesa nacionais e da segurança das Alianças de que Portugal faz parte? Não ficam alarmados diante da eventual possibilidade de terem também desaparecido documentos oficiais do MDN?
Não ficam escandalizados diante da passividade com que o Ministério Público reage em relação a Paulo Portas e aos seus colegas de Governo, face ao apurado nesta matéria no âmbito do caso Portucale? Não tratam de exigir ou determinar uma investigação competente e exemplar?
Ainda por cima quando os documentos dizem respeito a um tempo e a um Governo que tornou Portugal conivente na invasão ilegal de um país e na violação dos direitos humanos de pessoas sequestradas, à margem da lei, em Guantanamo e noutras prisões secretas, assim fazendo objectivamente o jogo de terroristas e expondo os portugueses à retaliação?
Ainda por cima quando os documentos respeitam a contratos envolvendo milhões e milhões de euros do erário público, em que se avolumam as suspeitas de corrupção - como os respeitantes à aquisição dos submarinos, equipamento claramente não prioritário?
Então como é?
Que mensagem querem as autoridades deste país dar aos milhares de funcionários públicos por cujas mãos passa documentação sensível e confidencial todos os dias – é fartar vilanagem, a fotocopiar, digitalizar, sonegar, para o que der, vier e vender?
Que confiança podem ter os nossos aliados da NATO ou da UE, e os nossos parceiros no combate ao terrorismo e ao crime organizado, por exemplo, se em Portugal as regras de segurança mais estritas são despudoradamente violadas pelos mais altos responsáveis ministeriais, se papéis classificados como confidenciais e respeitantes aos dossiers mais reservados voam por quaisquer janelas ou portas, sem que ninguém se importe?
Ainda há Estado em Portugal? Ou resignamo-nos ao descrédito total?

O estado a que o Estado chegou (2) - interesse público ou "pessoal"?

O que mais choca é que, apesar de ter sido registada pelo Ministério Público no contexto do processo Portucale, a epopeia digitalizadora de Paulo Portas foi considerada banal e a investigação deixada cair.
Tudo porque Luís Nobre Guedes, Telmo Correia e Nuno Morais Sarmento, colegas de Paulo Portas no Governo, também terão passados noites em claro, afadigados a fotocopiar papeladas lá dos Ministérios deles, segundo o Ministério Público.
Será caso para o país ficar mais descansado, já que o DCIAP afiança que "o apurado quanto à digitalização realizada noutros ministérios permitiu atenuar as suspeitas que recaíam sobre a digitalização realizada no MDN"!
Um exercício de dedução jurídica embasbacante, se não fosse grotescamente ofensivo de elementares normas da segurança do Estado e do funcionamento da administração pública.
"OK, delinquentes indiciados - se os vossos colegas de oficio também roubarem, violarem ou matarem um bocadinho, atenuam-se as suspeitas sobre os vossos delitos e pode abandonar-se a investigação".
O MP prossegue o interesse público?

O estado a que o Estado chegou (1) - documentos "pessoais"?

61.893 páginas de documentos "pessoais" levados do Ministério da Defesa pelo ex-Ministro Paulo Portas! Documentos "pessoais" que não estavam em casa, mas guardados no seu local de trabalho...
A vida "pessoal" do comum dos mortais costuma ficar documentada em dossiers de “vencimentos”, "contas", "impostos", "escolas dos filhos", «PPRs», etc...
Mas pela edição de sábado passado do “EXPRESSO” ficou a saber-se que a vida "pessoal" do ex-Ministro Paulo Portas estará milimetricamente registada, à escala universal, em documentos "pessoais" que ele admite ter levado, digitalizados, do Ministério, apesar de classificados como "confidencial", "Iraque", "submarinos", "ONU" e "NATO".
Nem James Bond deve levar uma vida "pessoal" mais agitada, com ou sem arquivo de classificação tão planetário!...

Reorganização da rede consular

Segundo li no DN de ontem, o Ministro dos Negócios Estrangeiros terá assegurado na Assembleia da República que ao projecto de regulamento consular, há meses em circulação, se deverá tão só atribuir a natureza de “mera proposta de trabalho”.
Será caso para nos congratularmos, se o Ministro percebeu, finalmente, que devia pôr “rei e roque” nas derivas da elocubração legislativa a que se entregou o seu Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. Porque é impossível não assinalar que o faz tardiamente, já que quer o Conselho Diplomático, quer a Associação Sindical dos Diplomatas Portugueses, há mais de cinco meses, haviam sido chamados pelo Dr. António Braga a pronunciar-se, formalmente e nos termos da lei, sobre um projecto legislativo que, naturalmente, assumiram como consolidado e credível.
Mas eu quero interpretar esta atitude como assomo de consciência, pelo Dr. Luis Amado, dos riscos que comporta (alguns, aliás, já materializados) a “roda livre“ consentida a um Secretário de Estado obviamente impreparado para levar a cabo uma reforma do melindre que assumem todas as pertinentes à representação externa do Estado.
Os dislates no âmbito da reorganização da rede consular portuguesa que o Dr. António Braga já logrou levar o Conselho de Ministros a cometer irão ser pagos, bem caro, em futuro próximo, por todos os contribuintes portugueses. Para além das sequelas político-diplomaticas negativas e irreversiveis para a representação de Portugal no mundo e para o apoio que deve ser prestado às comunidades portuguesas.
Pacovices gratuitas custam a tolerar. Pacovices dispendiosas são intoleráveis. Ainda por cima quando nada têm de inocentes, pois - como eu aqui alertei há meses – servem para distribuir “jobs” por “boys” de duvidosa qualificação e idoneidade. Como a nomeação (em boa hora frustrada) de um fugitivo à justiça brasileira para Cônsul Honorário em Cabo Frio já bastamente demonstrou.

Racismo à solta em Itália e na Roménia

É repugnante a onda de xenofobia que se desencadeou em Itália, por um romeno da etnia rom (conhecida como «cigana», em Portugal) ter sido acusado de espancar e violar uma italiana, que acabou por morrer no hospital.
A polícia arrasou acampamentos ciganos; os telejornais encheram-se de generalizações racistas, com políticos e jornalistas de todos os quadrantes a fazerem afirmações escabrosamente xenófobas; já vão na casa das dezenas as 'expulsões fast-track' de quaisquer estrangeiros - incluindo europeus - considerados como uma "ameaça à segurança pública"...
Indecorosamente, Romano Prodi encabeçou uma reacção governamental demagógica, como se os problemas do mundo tivessem nascido ontem: chegou mesmo a pedir à UE uma estratégia para a integração dos «roma», obrigando Durão Barroso a ripostar que Itália, por acaso, nem se havia candidatado aos fundos já existentes para a integração destas comunidades... Será que vão também ser tiradas da cartola umas 'deportações fast-track' de polícias e “hooligans” italianos, envolvidos na violência que antecedeu o jogo entre o Lazio e a Juventus, no domingo passado?
Para insuflar a escalada racista contribuiram, intoleravelmente, declarações do Comissário Franco Fratini: “ajudou à missa” para se promover como futuro candidato pela direita em Itália, fazendo tábua rasa das responsabilidades que lhe cabem como Comissário Europeu com o pelouro da Justiça e Assuntos Internos, incluindo a... Emigração.
De pouco valerá a trintena de polícias que a Roménia pôs à disposição "para ajudar a combater a criminalidade relacionada com a comunidade rom em Itália". Muito menos quando é o próprio MNE romeno que, despudoradamente, revela como chegou a considerar comprar "um bocado de deserto no Egipto para lá pôr todos os que prejudicam a nossa imagem"!
Mas se a “romfobia” grassa na própria Roménia, muitos romenos não estão para levar com 'racismo made in Europe'. Incluindo dos mais inesperados quadrantes: na semana passada, cinco deputados romenos ameaçaram abandonar o grupo fascistoide “Identidade, Tradição e Soberania” no Parlamento Europeu, por causa de declarações anti-romenas da sua colega de bancada Alexandra Mussolini, neta do de má memória. Agora, parece que é ela ou eles. Se eles saírem, o grupo desfaz-se, por falta de quórum. Valha-nos ao menos isso, como consequência desta sórdida vaga de racismo e xenofobia, que envergonhando a Itália e a Roménia, deve alarmar toda a Europa!

Um referendo a quê?

Ontem, enquanto votavamos no plenário do PE, onde agora somos vizinhos, demarcando onde acaba o PSE e começa o GUE na nossa fila, o Miguel Portas avisou-me que se tinha “metido comigo” no blogue. Rimos quando lhe ripostei: “era o que tu querias, que eu te desse trela...”.
Mas, confesso, não resisti e fui mesmo dar uma espreitadela ao “Sem Muros” (http://www.miguelportas.net/blog/?p=235).
E o Miguel, não vai, afinal, sem troco!
O que li não me surpreendeu: a retórica do Miguel e do BE em relação à UE continua, no essencial, na linha do PCP - oscilante entre a denúncia anti-capitalista e a sistemática acusação de défice democrático, além de desvalorizadora do papel da União no mundo, abusando do cliché fácil "da UE ao serviço dos EUA".
Perante uma visão tão negativa, seria legítimo perguntar se Miguel, BE e PCP querem a UE tal como ela existe hoje, ou se não valeria a pena pôr termo a uma criação política que corresponde tão pouco às suas aspirações.
Mas o problema é que o BE e o PC só atiram de viés à Europa, sem levar a sua linha de argumentação consequentemente até ao fim.
Entre críticas devastadoras à UE (BE) e apelos à sobrevivência da soberania nacional (PCP), um mínimo de coragem política exigiria uma tomada de posição clara contra a UE. Mas nem o PC, nem o BE, têm essa coragem porque sabem que a UE continua a gozar de infinitamente mais apoio popular do que eles próprios.
Esta contradição emerge no texto do Miguel, ao admitir:
"Com maioria de razão, o Vital sabe que o que está a propôr é um plebiscito da liderança europeia contra moinhos de vento - nenhuma força política em Portugal, nem hoje o PCP, defende a nossa saída da União."
Pois não! Defendem tudo menos isso!.
Um referendo sobre a questão de fundo – deve Portugal continuar na UE ?- na linha do que o Vital e eu sustentamos, exporia, de uma vez por todas, o oportunismo de formações políticas que têm pouco de substantivo, e de construtivo, para dizer sobre o que faz a UE e sobre o que devia fazer e ser a Europa.

Sahara na Madeira, afundado por Marrocos

Pressões de Marrocos levaram ao cancelamento de um seminário sobre «Cultura Saharaui», que devia decorrer esta semana, na Madeira, com a participação de poetas e peritos dos dois lados do muro de separação entre a frente marroquina e a frente da Polisário - um muro militarizado que se estende ao longo de 2720 km.
O seminário tinha sido planeado no quadro da ONU. Mas nem o envolvimento do ACNUR, nem o carácter cultural e destinado a criar confiança entre partes que estão envolvidas em conversações na ONU, demoveram o Governo de Marrocos de boicotar o encontro.
Rabat tem medo da discussão livre entre marroquinos e saharahuis. E por isso procura impor o silêncio internacionalmente e auto-censura nas cabeças daqueles que vivem de ambos os lados do muro ...
E a presidência portuguesa da UE? Continua de pau, silenciosa e indiferente a uma causa justa, em tudo semelhante à do povo timorense? Que, se não for resolvida, ameaça alimentar um foco de instabilização, à mão de semear de terroristas, aqui mesmo às nossas portas?

Alhos & bugalhos

No seu comunicado contra a inclusão dos magistrados do Ministério Público na nova lei do regime de emprego público, a SMMP apela a uma «tomada de posição urgente e firme por parte do Conselho Superior do Ministério Público em defesa da autonomia do Ministério Público».
Ora, há aí um manifesto equívoco. A autonomia institucional do Ministério Público -- que está constitucionalmente garantida em termos orgânicos e funcionais -- não tem nada a ver com autonomia dos respectivos agentes. Pelo contrário, a Cosntituição é clara ao estabelecer a natureza hierarquicamente subordinada e responsável das suas funções (diferentemente do que sucede com os juízes, que, esses sim, são funcionalmente independentes e irresponsáveis). A prova de que a autonomia institucional de uma organização não é incompatível com o estatuto dos seus agentes como funcionários públicos está, por exemplo, nas universidades.
Por conseguinte, a qualificação dos respectivos magistrados como funcionários públicos (sem prejuízo de especificidades do seu regime) não afecta de modo algum a autonomia do Ministério Público. Basta que não exista nenhuma ingerência externa na gestão da relação de emprego dos respectivos agentes.

"Juízes-funcionários"

Importei para a Aba da Causa o meu artigo desta semana no Público, com o título em epígrafe.
Dois excertos:
«(...) Deve considerar-se constitucionalmente infundada e politicamente errada a qualificação dos juízes como funcionários ou trabalhadores da administração pública.»
«Ao contrário do que se poderia supor, o discurso precedente sobre a qualificação funcional dos juízes não vale para os magistrados do Ministério Público.»

Direito de resposta: o "Sol" e as "Estradas de Portugal"

«Acabo de ler mais uma das suas notas dedicadas ao SOL, neste caso sobre o relatório do Tribunal de Contas e a Estradas de Portugal, e porque fui responsável directo da edição do referido trabalho, não posso deixar de o corrigir, se me permite, na substância da sua análise. (...)
Vamos por partes: o SOL publicou um trabalho sobre uma auditoria do Tribunal de Contas à Estradas de Portugal, reportando o que aí estava escrito, incluindo até o contraditório do senhor ministro das Obras Públicas, Mário Lino. (...)
A primeira reacção do ministro das Obras Públicas foi a de que o relatório não existia. Concordará comigo em como essa afirmação, no mínimo, não corresponde à verdade? O relatório existe, até tem o contraditório do ministro das Obras Públicas e da Estradas de Portugal, mas Mário Lino prefere agarrar-se a um formalismo – não terá ainda recebido o texto final – para dizer que não existe.
Depois, a crítica (atabalhoada) ao trabalho jornalístico evoluiu e, nessa segunda fase, os números divulgados pelo SOL eram falsos. É, como sabe e muitas vezes tem escrito, uma estratégia antiga, a de matar o mensageiro. É fácil, é barato e dá milhões, pensou Mário Lino. Pensou e fez, mas fez mal. (...)
Vamos então ao post que escreveu sobre esta matéria. Cita uma notícia do Diário Digital, que passo a citar e, se me permite, a comentar:
1 - «O valor de 2,5 mil milhões de euros consta do relatório final, mas resulta de um ficheiro fornecido pela própria Estradas de Portugal, correspondente a um acumulado de mais de 20 anos e que inclui muitos ajustes directos autorizados, mas que nem sequer foram executados, explicou o ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, que lamentou a «leitura enviesada» dos dados». Afinal, os 2,5 mil milhões de euros existem, estão no relatório, mas têm uma explicação. Concordará, também, comigo num ponto: o SOL não inventou números, reportou os que estavam no relatório, mais uma vez sublinho, com o contraditório do próprio ministro. Têm, segundo o ministro, uma explicação que não consta do relatório, como poderá constatar se o leu.
2 - «A situação económica não é preocupante e a situação financeira da EP está a caminho de se poder resolver», afirmou Paulo Campos (...). Também aqui, a avaliação de que a situação é preocupante é do Tribunal de Contas, que a repete várias vezes, como terá constatado se leu o relatório. O SOL não inventou nada, reportou o que foi escrito.(...)
O SOL também se engana e eu, da minha parte, assumo que tenho dúvidas. Mas neste caso concreto, a existirem enganos – e vamos tomar por verdadeiras todas as afirmações do Ministério das Obras Públicas – foram do Tribunal de Contas, no mínimo por omissão. (...)»
António Costa (editor, semanário Sol)

Esclarecimento
A fonte utilizada pelo Sol era o projecto de relatório do TC e não o relatório final. Uma leitura atenta desse texto não autorizava as conclusões que o Sol quanto ao endividamento e ao volume de adjudicações directas da EP.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Querido IVA

Decididamente, o Bloco de Esquerda não se dá bem com a coerência política. Condenou a subida do IVA, há dois anos, até por se tratar de um imposto socialmente cego, que onera relativamente mais os mais pobres, que consomem todo o seu pouco rendimento. Porém, agora que a situação orçamental pode abrir margem para uma baixa do imposto a curto prazo, o BE vem propor a manutenção do IVA, consignando a receita de 1% do mesmo a diversas despesas públicas adicionais (aliás, em violação da regra constitucional da não consignação de receitas fiscais). Afinal, o IVA deixou de ser um imposto "cego" e socialmente "regressivo"?
Louve-se neste ponto a coerência do PCP, que defende a redução do imposto (embora o pretenda já, quando a folga orçamental ainda não é suficiente)...

Dez anos?!

«Acordo Ortográfico: Portugal vai pedir moratória de 10 anos».
Dez anos para aplicar um acordo ortográfico é um manifesto exagero. Nem os livros escolares têm tal prazo de vigência, nem se vê nenhuma outra razão de interesse público para um prazo tão dilatado, salvo o interesse privativos dos nossos grupos editoriais em adiar o máximo possível a vigência da nova ortografia. Mas os interesses privados não deveriam contar nesta equação...

Os salteadores da Arca de Zoe

Já está disponível na Aba da Causa o meu último artigo para o Courrier Internacional sobre a recente tentativa de rapto de várias crianças africanas por parte de uma ONG francesa. Nele sublinho que "os fins mentirosos e os métodos criminosos da Arca de Zoe não são compatíveis com a ética de uma ONG humanitária."

Porquê tanta demora? (3)

Chegou a ser anunciada uma reforma dos hospitais militares, no sentido da sua racionalização do seu excessivo número, consolidação de recursos e maior eficiência. Mas não veio a público nenhum desenvolvimento nessa matéria.
Que se passa? Ficou na gaveta essa reforma?

Porquê tanta demora? (2)

Entre os regimes excepcionais do sector público que deveriam ser suprimidos (junto com os dos militares, dos magistrados, etc.) estava o da carreira diplomática. Mas passados dois anos, não se conhece a revisão legal desse estatuto.
Que se passa? Ficou no tinteiro essa reforma?

Porquê tanta demora? (1)

Passou mais de um ano sobre o pacto PS-PSD em matéria de justiça (sobre ele ver os meus posts de 7 de Setembro de 2006), cujas medidas deveriam ser todas implementadas durante o ano de 2007.
Ora, algumas das mais importantes, como o novo mapa judiciário e a revisão do estatuto dos juízes e do Ministério Público estão por implementar, não se conhecendo sequer as propostas de lei. Que se passa?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Um pouco mais de seriedade, sff.

Será que o semanário Sol, e os órgãos que lhe deram eco quanto às bombásticas notícias sobre a empresa Estradas de Portugal, vão dar o mesmo destaque às correcções que mostram as fantásticas falsificações e mistificações veiculadas pelo referido semanário!?

Aeroporto (9)

No seu militante editorial de hoje, o director do Público afirma que os defensores da alternativa Alcochete, académicos e empresários, são todos "conhecidos". Ora, não é essa a ideia que se tem sobre os financiadores do estudo da CIP, que sustenta essa opinião, sendo conhecidos apenas quatro ou cinco dos mais de vinte financiadores.
A verdade é que a CIP nunca deu a conhecer oficialmente a identidade desse grupo de beneméritas empresas. E pelos vistos, até agora, também nenhum órgão de comunicação social achou relevante investigar essa identidade. Não é estranho? Havendo obviamente grupos económicos interessados no aeroporto na margem sul do Tejo -- desde a Lusoponte e os seus accionistas ao grupo Sonae, por exemplo --, não seria relevante saber quem financiou o estudo?

Aeroporto (8)

A CIP perdeu a serenidade e a compostura, inventando uma "campanha" do Ministro das Obras Públicas, por intermédio da Rave, contra o seu estudo para o novo aeroporto.
Mas não tem razão. Primeiro, a Rave não se pronunciou sobre a localização do aeroporto em Alcochete, mas somente sobre o melhor modo de ligar a rede de alta velocidade ao aeroporto nessa localização (caso ela venha a ser escolhida), contestando a proposta da CIP nesse aspecto (e só nesse). Segundo, para quem anda há meses numa sistemática campanha mediática para promover os seu estudo, é pelo menos ridículo que a CIP se queixe de uma alegada campanha alheia. É caso para dizer que a CIP vê o argueiro no olho alheio mas não vê a tranca nos próprios olhos...

PSD (2)

No topo da lista dos municípios com excesso de endividamento está o município de Gaia, o município presidido pelo novo líder do PSD, com quase 12 milhões a mais do que o permitido pela Lei de Finanças Locais (logo seguido de Lisboa, com montante pouco menor).
Depois de ter deixado o Governo do país, em 2005, com um défice as contas públicas superior de 6%, o PSD destaca-se no laxismo e na indisciplina financeira no governo local. E depois querem voltar a governar o País!...

PSD (1)

Todos os domingos à noite torna-se evidente que o PSD não sofre de bicefalia na liderança, mas sim de tricefalia: L. F. Menezes, Santana Lopes... e M. Rebelo de Sousa.

domingo, 11 de novembro de 2007

Aeroporto (7)

Segundo o Público de hoje, a Rave -- a instituição pública para alta velocidade --, arrasa o "estudo da CIP" para o aeroporto em Alcochete na parte relativa à rede de de AV e às travessias do Tejo, evidenciando a sua "ligeireza" e os seus "erros crassos", quer na ideia de fazer passar a linha de AV por Alcochete (desviando a linha Lisboa-Porto para lá!), quer optando por um túnel sob o Tejo no eixo Beato-Montijo.
Como se tinha antecipado aqui, o celebrado "estudo da CIP" começa a afundar-se no ridículo. No entender da RAVE, «a solução da CIP [para a a AV] é péssima, é impossível e é mais cara». O que é estranho é que toda a imprensa tenha acolhido acriticamente as suas propostas, mesmo nas suas componentes mais bizarras (traçado da rede de AV, travessias do Tejo, estimativa de custos), como se fossem ouro de lei...
Aditamento - Se o pseudo-estudo da CIP é o que é quanto à rede ferroviária, poderá ele ser menos mau quanto ao aeroporto?!

É p'ra já!

«Deputado do PSD-M defende independência da Madeira».
É altura de acabar de vez com a chantagem "flamista", que Jardim utiliza sistematicamente contra as instituições da República. Declarem, pois, a independência. E quanto mais cedo melhor!

Norman Mailer

Com a morte de Norman Mailer desapareceu um grande "anti-americano".

História mal contada

«Portas mandou copiar 62 mil papéis do Ministério da Defesa».
É evidente que a explicação de Portas -- de que se tratava de "papéis pessoais" -- não é credível. Primeiro, porque ninguém acumula tal quantidade de documentos pessoais; segundo, porque não se vê razão nenhuma para Portas ter tantos documentos pessoais no Ministério; terceiro, porque não se percebe por que é que ele os mandou digitalizar justamente na véspera de abandonar o Governo; quarto, porque não não "cola" a explicação sobre as legendas dos dossiers ("Iraque", "submarinos", "confidencial", etc.).
Portas vai ter de encontrar explicação menos "coxa".

Aeroporto (7)

«Novo Aeroporto: Estudo da CIP esquece 1.700 M€ de custos»
Como aqui se tinha antecipado, as contas do estudo da CIP não batiam certo. Com omissões grosseiras como as apontadas, que credibilidade merece o dito estudo?

sábado, 10 de novembro de 2007

Sensacionalismo solar

Quase todas as semanas o semanário Sol brilha com uma manchete sensacionalista, como a última: «Há 415 pontes em estado grave».
Muitas vezes, têm um pequeno defeito: não correspondem à realidade. Mas o tabloidismo sensacionalista vende bem, como já se sabe há muito.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Oportunismo

Só por deslavado oportunismo -- alinhar com todos os protestos, tenham ou não razão -- é que se pode apoiar a reivindicação de restabelecimento do iníquo regime de benefícios fiscais para deficientes, em sede de IRS, que vigorou até ao ano passado e cuja vantagem era tanto maior quanto maior fosse o rendimento.
O regime agora em vigor é muito mais justo -- como mostrei aqui --, beneficiando a todos por igual, incluindo os que, não tendo rendimento para pagar IRS, não eram sequer contemplados no anterior regime.

Recrutamento de professores

Os sindicatos contestam o novo regime de recrutamento de professores do ensino pré-escolar e do ensino básico e secundário -- o qual prevê uma "prova de avaliação de conhecimentos e de competências" --, argumentando que isso põe em causa os seus títulos académicos e profissionais.
Mas não têm razão. Como empregador, o Estado tem todo o direito de definir as regras de selecção dos candidatos ao ensino público, sendo natural que utilize critérios exigentes, para escolher os melhores candidatos. E bem necessário eles são.
Evidentemente, isto nada tem que ver com os exames que certas ordens profissionais exigem à entrada nas correspondentes profissões liberais, pois aí o que está em causa é uma limitação da liberdade de profissão. Mas nenhum empregador, a começar pelo Estado, está impedido de estabelecer procedimentos de selecção dos profissionais que deseje contratar.

Fundamentalismo

«Cidadãos por Lisboa defendem zonas com limite máximo de 30 quilómetros/hora».
Com efeito, se já há em Lisboa limites de 50Km em troços sem peões, 30Km em zonas de peões até é demais!...

Um pouco mais de rigor sff.

Em entrevista na RTP2 Octávio Teixeira sustentou que a Estradas de Portugal tinha sido transformada em sociedade anónima "SA", sem exclusivo de capitais públicos, a fim de abrir o seu capital aos operadores privados. Ora, o diploma ontem publicado diz expressamente:
«1 — A EP - Estradas de Portugal, E. P. E., criada pelo Decreto -Lei n.º 239/2004, de 21 de Dezembro, é transformada em sociedade anónima de capitais públicos, com a denominação de EP — Estradas de Portugal, S. A.».
Assim se faz comentário político entre nós...

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

De onde menos se espera

«Alegre condena "pressão fiscal" do Orçamento».
Como mostrei aqui, porém, a carga fiscal em Portugal fica bem abaixo da média da OCDE; além disso, a crítica a um alegado excesso da carga fiscal é um dos principais argumentos da direita contra o Estado social. Como quer Alegre que se consiga simultaneamente o equilíbrio das finanças públicas e o aumento das despesas sociais sem algum aumento da receita fiscal (aliás obtida em grande parte em vitude do sucesso da luta contra a fraude e a evasão fiscal)?!

"A ofensiva falhada contra o ensino público"

Tal é o título do meu artigo desta semana no Público, entretanto reproduzido na Aba da Causa.
Aditamento - Também coligi na Aba da Causa o meu artigo desta semana no Diário Económico, sobre a iniquidade do sistema fiscal.

Madrid silencia o Sahara Ocidental



"El pueblo saharaui reclama el respeto y la aplicación de la legalidad internacional, al igual que la inmensa mayoría del pueblo español (Encuesta-Barómetro del Real Instituto Elcano) y millones de ciudadanos informados de todo el mundo.
La consigna de nuestro Gobierno y de los intereses subyacentes es el silencio, como si el asunto fuera competencia de otros, de "terceros. "El silencio es oro" para muchos grandes negociantes, mientras se mantiene el statu quo a costa de los legítimos derechos del pueblo saharaui.
El Pueblo saharaui ha sido el gran olvidado y el gran traicionado en la "modélica" Transición española a esta democracia olvidadiza y cobarde con nuestros propios compromisos, obligaciones y promesas (...), a expensas de los más débiles
".
O texto acima é de uma carta assinada por milhares de cidadãos espanhóis e enviada aos eurodeputados espanhóis em finais de Setembro e, entretanto, circulada a outros deputados ao PE.
Não são só sucessivos governos em Madrid que fazem orelhas moucas aos apelos dos seus cidadãos que sentem que Espanha tem o dever de intervir, como Portugal interveio por Timor Leste, em defesa dos direitos do povo do Sahara Ocidental : o respeitável jornal "EL PAIS" negou-se a publicar um artigo denunciando a inacção de Espanha face às suas responsabilidades internacionais quanto ao Sahara Ocidental; a pretexto de "falta de espaço". O mesmo fizeram outros jornais e websites em Espanha.
O artigo "La legalidad internacional no es una utopía" pode ser lido em http://www.tlaxcala.es/, nas versões inglesa, francesa e italiana.
Leia e jude a difundir. Nós já derrubamos outros muros de silêncio.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Espanha ofende Marrocos, mas esquece o Sahara...


Os Reis de Espanha visitaram ontem e hoje Ceuta e Melilla, para grande ofensa e protesto do Governo e de muitos cidadãos marroquinos.
Suspeito que com ofensa e protestos semelhantes aos que uma visita da britânica Rainha Isabel II a Gibraltar provocaria nos "nuestros hermanos"!...
Nas vinte e quatro horas que passei em Madrid, entre ontem e hoje, embatuquei alguns colegas socialistas espanhois ao perguntar se afinal já não se aplicava a "grande" justificação que costumam invocar para não exigirem que o Estado espanhol assuma as responsabilidades que lhe cabe em relação ao Sahara Ocidental, tal como Portugal assumiu em relação a Timor Leste. A justificação habitualmente utilizada é que "Espanha não se pode dar ao luxo de ter uma disputa com Marrocos": está demasiado perto, tem muitos emigrados em Espanha e Espanha tem lá demasiados e poderosos interesses...
Pelos vistos, Ceuta e Melilla já valem bem a disputazinha!

Enfim, perdido por cem, perdido por mil: vamos esperar que agora que as coisas se toldaram, Madrid se afoite a cumprir as suas obrigações em relação ao povo oprimido da antiga colónia do Sahara Ocidental.

Notas a Vasco Graça Moura

Vasco Graça Moura respondeu hoje no Diário de Noticias ao meu post de há dias sobre um anterior artigo seu, tudo sobre o referendo do Tratado de Lisboa.
Importa esclarecer alguns pontos:
1. Numa democracia representativa, as decisões políticas devem ser tomadas, por defeito, pelo Parlamento, sendo o referendo um procedimento excepcional de decisão, que carece de forte justificação. Quem tem de se justificar é quem deseja referendos e não quem os não quer. Por isso, a pergunta "Quem tem medo do referendo?" só merece como resposta uma contrapergunta: "Quem não confia na democracia representativa?"
2. Penso que constitui uma instrumentalização do referendo o facto de ele ser exigido só porque se discorda de alguma decisão e se quer "chumbá-la" por via popular contra a maioria parlamentar que a apoia.
3. O compromisso político (do PS e do PSD) de realizar o referendo referia-se ao Tratado Constitucional, não podendo ser esgrimido em relação ao Tratado de Lisboa, que tem uma diferente natureza jurídica e distinto alcance político.
4. Evidentemente, sob o ponto de vista constitucional, o Tratado de Lisboa é referendável. Mas nem tudo o que pode ser referendado deve sê-lo, sobretudo quando tal se afigure politicamene impertinente ou descabido, como é, a meu ver, o caso.
5. Não concordo nada com a afirmação de que a integração de Portugal na UE é hoje uma questão incontroversa, parecendo-me evidente que há "soberanistas" à direita e à esquerda que nunca se conformaram com a integração e que aproveitam cada novo Tratado para reactivar essa hostilidade. Muito gostaria de saber como é que o PCP (e não só...) votaria num referendo sobre essa questão...