Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
sábado, 14 de janeiro de 2012
AAA minha machadinha...
AAA, meu triplo A, quem te pôs a mão, afundando-nos cá...
Em aziaga sexta-feira 13, as agências de "rating" decidiram dar golpe de misericórdia à zona euro, rebaixando notações a nada menos que 9 membros.
O lixo atribuído a Portugal é isso mesmo: lixo.
Nada foi realmente mais arrasador do que arrasar o triplo A à França: para Sarko é subtrair-lhe os tacões e ver fugir a reeleição. Para os franceses, é a "dégringolade" (bienvenus au Club PIG!).
Mas, independentemente dos desígnios das ratazanas do "rating", a verdade é que o golpe pode revelar-se misericordioso mesmo: isto é, pode finalmente sobressaltar a Europa. E, inadvertidamente, ironicamente, empurrar o euro e a UE para a salvação.
Se na cabecinha redonda de Angela Merkel finalmente se acenderem os fusíveis de alarme, iluminando também as cabeçonas quadradas de muita gente à sua volta, designadamente no Bundesbank.
Este é o desastroso resultado das suas embotadas obsessões com austeridades punitivas: não são apenas os cidadãos europeus que protestam. Os seus sacrossantos mercados também se revoltam: e sobretudo não acreditam na fuga para a frente com um novo tratado, regras de ouro gravadas na pedra e outras tretas tão incumpríveis como o nado-morto PEC.
Desde que nos lixaram a nós, depois da Grécia, em meados de 2011, que eu me resignei a apostar no "quanto pior, melhor", rezando por um dia destes: com lideranças tão toscas e pitosgas como as de hoje na UE, só uma súbita precipitação no abismo as poderia fazer pensar em bater asas...
Talvez assim a próxima cimeira europeia accione realmente o "firepower" de vários canhões e comece a resultar em solidariedade e governação económica:BCE a funcionar como verdadeiro banco central deitando mão a Estados como hoje deita a bancos, euro-obrigações para mutualizar a divida soberana e arranjar recursos para investir numa estratégia de crescimento e emprego, imposto sobre transações financeiras, políticas industriais e comerciais para reduzir os desiquilibrios macro-económicas, harmonização fiscal, etc...
Talvez assim a próxima cimeira europeia seja mesmo decisiva. AAA, minha machadinha ...