Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
domingo, 19 de fevereiro de 2017
Diferenças
1. Em relação ao post anterior, sobre a oposição do BE e do PCP à proposta governamental de municipalização de mais algumas tarefas do Estado, um leitor observa que não se trata de nenhuma surpresa nem de nenhuma mudança estratégica, pois os partidos comunistas e neocomunistas nunca podem ser genuinamente descentralistas, sendo como são ideologicamente partidários da "unidade do poder" e da tendencial omnipotência estatal.
Por isso, não podem aceitar que a repartição de competências entre Estado central e as coletividades territoriais infraestatais seja regulada pelo princípio da subsidiaridade (como estabelece a Constituição).
2. Nessa ordem de ideias, as posições de ambos os partidos até agora em favor de descentralização seriam puramente oportunistas, próprias de partidos excluídos do poder no plano nacional e que, portanto, viam na descentralização um meio de enfraquecer o poder central. Por conseguinte, agora que fazem parte da solução governamental ao nivel nacional, esses partidos podem assumir as suas posições intrinsecamente centralistas que por conveniência esconderam até agora.
A ser assim, então temos de somar a descentralização territorial às demais diferenças político-ideológicas mais importantes que separam o PS dos dois partidos à sua esquerda, a juntar à lista onde se encontram a democracia liberal, a economia de mercado, o papel do Estado na economia, a disciplina orçamental e a redução da dívida pública, a União Europeia e o euro, as alianças internacionais, a globalização regulada.
Apesar da coabitação política trazida pela atual parceria governamental, a linha divisória entre as "duas esquerdas" (como mostrei aqui e aqui, por exemplo) não deixou de existir nem perdeu relevância.