terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Gostaria de ter escrito isto (28): A elite lisboeta do poder

«Até ao final do século XX, a construção dos poderes centrais, no país e no partido, era resultado de muitas [pessoas] vindas de outras partes, neste século os poderes que contam foram-se transferindo para uma geração de “Lisboa-cêntricos” que, na maioria das situações, conhecem mais capitais europeias (o que se impõe no mundo atual) do que capitais de distrito (o que se lamenta por obrigação histórica).

Há, mesmo no espaço de certas academias, uma repulsa pela vinda dos territórios interiores, porque não comungaram da mesma escola pública elitista, porque não frequentaram o mesmo colégio privado, porque não beberam uns copos no Bairro Alto e aí construíram a cola que os salvará para sempre. Neste processo de segregação, nem o Porto conseguiu salvar-se. Ser de fora de Lisboa só garante, no tempo de hoje e mesmo a um potencial prémio Nobel, o acesso a um lugar subalterno.»

(Ascenso Simões, no Público de ontem)