quinta-feira, 10 de fevereiro de 2005

"O interesse nacional ainda existe"

Bom artigo o de Nuno Severiano Teixeira ontem no DN, apontando as linhas que deverão nortear a acção externa do Estado português na agenda global e europeia. Linhas que, espero, sejam seguidas pela governação socialista que emergirá das eleições de 20 de Fevereiro. Porque não só é possível, mas necessário, que Portugal re-encontre o seu lugar no Mundo e clarifique o seu papel nas relações internacionais.
Uma observação, apenas, quanto ao elenco de prioridades assinaladas por NST:
Importa que Portugal mostre que volta a apostar na ordem multilateral e que rejeita o aventureirismo de guerras ditas preventivas. Como o que o Dr. Durão Barroso abraçou por nós, indevidamente, ao tornar Portugal no anfitrião da cimeira das Lajes, de ominosa memória. Por isso, entre as prioridades apontadas por NST, esta deveria vir logo à cabeça - porque só ela corresponde ao posicionamento internacional consagrado na Constituição da República; porque só ela é consentânea com a intervenção internacional de um Estado realmente de Direito e realmente democrático; e porque só ela acautela verdadeiramente o interesse nacional.
É urgente desfazer a imagem de "seguidismo" e mostrar que Portugal quer estar na linha da frente dos defensores do multilateralismo e, consequentemente, do reforço do poder político da ONU. E que não embarcará mais em aventuras unilaterais, mas antes se baterá pelos princípios de Direito Internacional e dos direitos humanos, em especial nas organizações internacionais e na União Europeia.
Importa mostrar um Portugal plenamente integrado na Europa, numa Europa com um relacionamento forte, mas leal, com os Estados Unidos - o que por vezes pode implicar crítica frontal (e com americanos, sobretudo, a frontalidade compensa, acaba sempre por compensar.... exactamente ao contrário das reservas encapotadas como eram, afinal, as do Dr. Barroso, que as assumiu pelas costas e porque um dia lhe conveio para passar no Parlamento Europeu... daí, decerto, a necessidade que hoje mesmo sentiu, diante da Sra. Condoleeza Rice em Bruxelas, de compensar com excesso de zelo e sorriso orgásmico, ao defender que, sem os EUA, a Europa pouco pesa e pouco pode, e vice-versa...).
Portugal precisa de voltar a ser - e de ser visto - como um parceiro que não divide a União e não se afasta dela, antes fortalece o projecto europeu. Para melhor poder defender o interesse nacional. Que ainda existe, como bem lembra NST.

PS. nem chega a ser observação: mas na quarta prioridade enunciada por NST, referente ao reforço das relações com os países de expressão portuguesa e o instrumento que é - ou poderia ser - a CPLP, não caberia individualizar o Brasil? Para além de tudo o mais (e é imenso...), não é lá que investiram e têm interesses grupos económicos portugueses representando 54% do PIB nacional?