domingo, 30 de setembro de 2018

China versus Portugal


Aqui está o cabeçalho do meu artigo de hoje no Dinheiro Vivo, suplemento económico do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias. É sobre o litígio entre a EDP e o Estado sobre a compensação dos chamados Custos de Manutenção do Equilíbrio Contratual (CMECs), que o Governo decidiu cortar e que os investidores estrangeiros da EDP anunciaram que vão contestar através de arbitragem internacional.
Como o principal acionista da elétrica nacional é, desde 2011, uma empresa estatal chinesa, o conflito passa a ser verdadeiramente entre a China e Portugal. Picante!

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Eleições no horizonte (4): A cambalhota

1. Afinal, não foi perdida a guerra dos táxis, ao contrário do que aqui se deu por certo. Na 25ª hora, o grupo parlamentar do PS, renegando a sua recente aprovação da "lei da Uber" e sua rejeição das propostas de PCP e do BE para estabelecer contingentes, assim como as garantias reiteradas dadas pelo seu Governo de que não haveria contingentes nas plataformas digitais de mobilidade, por se tratar de uma atividade livre, veio dar o dito por não dito e admitir que os municípios sejam autorizados a estabelecer tais quotas, que era a principal reivindicação dos taxistas!
Isto, no próprio dia em que o Primeiro-Ministro, no debate parlamentar com o Governo, sublinhava as virtudes da lei e rejeitava qualquer alteração desta. Ora, é evidente que para os municípios poderem estabelecer contingentes, tem de haver uma derrogação da lei, que os não prevê. De facto, só a lei pode estabelecer ou admitir restrições à liberdade de empresa. Os contingentes municipais de táxis existem porque lei os prevê, aliás imperativamente.
Sendo de excluir que o GP tenha feito a referida cedência aos taxistas sem luz verde do Governo, há aqui um óbvio jogo político duplo. Lastimável!

2. O que fica em aberto é a justificação para uma restrição tão grave à liberdade de iniciativa empresarial, sobretudo quando as plataformas não beneficiam de nenhuma das contrapartidas de que os táxis gozam. E o mesmo se diga para a admissão de regimes diferentes quanto à liberdade empresa, conforme os municípios. Temos aqui óbvios problemas constitucionais.
Além disso, para haver contingentes municipais, o âmbito territorial da atividade das plataformas também teria de ser reduzido ao âmbito municipal, como sucede com os táxis, assim cancelando uma das maiores virtudes das novas soluções de mobilidade. Um absurdo!
E, depois, como seriam repartidas as quotas pelas diferentes companhias existentes? E no caso de surgir um novo operador, como se faria: haveria redistribuição ou alargamento da quota?
É claro que no afã oportunista de dar alguma coisa aos taxistas, com as eleições à vista, os autores do flic-flac socialista não pensaram em nenhuma destas questões. Lamentável!

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Este País não tem emenda (19): A promiscuidade entre o poder político e os negócios

1. Esta tabela, retirada de um inquérito da UE e analisada por Luís Aguiar-Conraria AQUI, não podia ser mais dececionante sobre a perceção dos empresários acerca da ligação entre negócios e poder político entre nós.
Perguntados sobre se concordam ou discordam da afirmação de que "Neste  país o único modo de ser bem-sucedido nos negócios é ter ligações políticas", nada menos de 70% dos empresários consultados responderam que concordam! Pior, só mesmo a Roménia, o que não é propriamente boa companhia. Mesmo no "clube do Mediterrâneo" Portugal aparece bem pior do que a Espanha e a Grécia, parceiros habituais nestes rankings comprometedores. Comparado com os países escandinavos, é um verdadeiro fosso.

2. Mais importante do que a diferença de riqueza e de desenvolvimento económico é a divergência cultural e a separação entre o Estado e a economia, que vão demorar bem mais tempo a recuperar.
Enquanto as empresas continuarem a depender decisivamente de ajudas públicas (subvenções, isenções fiscais, etc.) e todos viverem um pouco à custa do Estado, favorecendo quem tem melhor acesso aos decisores políticos, pouco vai poder mudar. A falta de regulação da atividade de lóbi vai no mesmo sentido, privilegiando a arcana praxis e dando vantagem para os correlegionários políticos.
Decididamente, não temos conserto.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Até quando, na Venezuela?

1. Culminando a reação internacional contra o caos económico e social na Venezuela, que resulta na fuga de muitos milhares de refugiados venezuelanos para os países vizinhos, que está a assumir a dimensão de uma crise humanitária, vários países latino-americanos acabam de pedir ao Procurador-Geral do Tribunal Penal Internacional (TPI) uma "investigação preliminar" sobre a possível prática de crimes contra humanidade, invocando as maciças violações de direitos humanos, incluindo incontáveis execuções extrajudiciais.
Trata-se da primeira vez que um pais é objeto de tal pedido por outros países, no âmbito do TPI, o que mostra a excecionalidade e a gravidade da situação venezuelana. Anteriormente já tinha havido uma queixa semelhante contra a Venezuela, por iniciativa de organizações de direitos humanos.
Entretanto, invocando o perigo de ser assassinado, Maduro desistiu de se deslocar a Nova York para participar na reunião da AG das Nações Unidas, agravando assim o isolamento internacional do País.

2. Cada vez se torna mais evidente que, salvo alguma inesperada mudança política interna, a situação na Venezuela não vai acabar nada bem. Para além da louvável destituição do "socialismo bolivariano" (mais uma tragédia em nome do socialismo!), está em causa o futuro do País e a vida e a liberdade dos venezuelanos, assim como dos imigrantes na Venezuela, entre os quais muitos portugueses, igualmente vítimas da arbitrariedade e dos abusos do poder do regime, como agora se revelou com a detenção de alguns comerciantes portugueses, por alegados crimes económicos.
Até quando vão Maduro e a clique no poder em Caracas abusar da paciência dos venezuelanos e da comunidade internacional, sem que aqueles se revoltem e esta assuma a sua responsabilidade de proteger as vítimas do incontido autoritarismo instalado no País de Bolívar?

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Lisbon first (11): "O Estado sou eu"

O lamentável episódio da "suspensão" (eufemismo para "cancelamento") da transferência do Infarmed para o Porto não revela somente um processo iniciado e conduzido de forma pouco responsável. Mostra sobretudo que nenhum serviço público central, uma vez instalado em Lisboa - e quase todos estão lá! - pode depois ser mudado para outras paragens, por mais sentido que faça a deslocalização. Há uma espécie de direito de propriedade absoluta, insusceptível de expropriação por justa causa. Pelos vistos, os funcionários de cada serviço têm um poder de veto incontornável e os ministros não desejam comprar a ira dos seus funcionários.
O caso do Infarmed vem pôr a ridículo o anunciado processo de desconcentração da sede de serviços públicos do Estado. RIP! Parafraseando um célebre dito de Luís XIV, também Lisboa pode dizer: "O Estado sou eu"!

Incongruências tributárias.

Segundo esta notícia, a proposta de descida do IVA na energia (eletricidade e gás natural) custaria 500 milhões em perda de receita fiscal, o que a torna orçamentalmente incomportável.
Resta saber, aliás, se é razoável baixar o custo fiscal da energia, proporcionando o aumento do seu consumo, sabendo-se que importamos a maior parte dela - o que pesa muito na nossa balança comercial externa - e que os combustíveis fosseis geram elevadas quantidades de CO2.
No outro prato da equação, continua a impressionar que, enquanto a energia - que é um bem essencial - paga a taxa normal de IVA (23%), os restaurantes pagam 13% e a hotelaria paga a taxa mínima de 6%, incluindo os hotéis de luxo. Vá-se la saber a congruência do regime do IVA, ao sabor da força de cada lóbi!

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Como era de esperar



1. Como era de esperar, mas pouca gente esperava, o Governo e o PR acordaram na nomeação de uma nova PGR, em vez de renovarem o mandato da PGR cessante - pese embora uma apreciação globalmente positiva desta -, frustrando assim a intensa e oportunista campanha política e mediática da direita política pela manutenção da atual titular.
De facto, como sublinha a nota da Presidência da Repúblicaos cargos públicos independentes não devem ser renováveis, por a renovabilidade poder afetar a independência dos seus titulares, pressionando um desempenho tendente a obter a renovação. É bom respeitar os bons princípios, sobretudo quando seria politicamente mais cómodo contorná-los...

2. Penso, no entanto, que é chegada a altura de revisitar o procedimento de nomeação do PGR, no sentido de lhe conferir maior transparência. Assim, antes da nomeação presidencial, o candidato indicado pelo Governo deveria ser submetido a audição parlamentar, para expor perante a AR o seu entendimento do cargo e o seu programa de ação.
Também defendo que o PGR deveria apresentar à AR um relatório anual sobre a sua atividade, que deveria dar lugar a um debate parlamentar sobre a execução da política criminal, a qual, nos termos da Constituição, é "definida pelos órgãos de soberania", ou seja, pela AR e pelo Governo.
O PGR é independente, não recebendo ordens nem instruções sobre o exercício do mandato, mas num Estado de direito constitucional nenhum titular de cargo público pode ser dispensado de dar conta da sua ação ao parlamento.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Uma guerra perdida (II)

1. Ironicamente, ao optarem pela paralisação da sua atividade como forma de protesto, os taxistas só vieram beneficiar as plataformas digitais de mobilidade, a que mais utentes tiveram de recorrer na falta de táxis, sendo provável que uma grande parte dos que descobriram a nova alternativa não voltem ao táxis.
Um enorme tiro no pé!

2. A Presidência da República anunciou que vai receber os taxistas em protesto na próxima segunda-feira. Mesmo não sendo o próprio PR a recebê-los, discordo.
Apesar de Belém se ter transformado numa espécie de provedoria benévola de todos os queixosos do Pais, sempre defendi que o Presidente não deve receber nenhum grupo na pendência de acções de protesto coletivo contra os demais órgãos de soberania, sobretudo quando impliquem a suspensão de serviços públicos ou a perturbação da vida coletiva, como é o caso da paralisação dos táxis, sob pena de esse gesto ser lido como apoio ou simpatia presidencial em relação aos protestos.
Mesmo na ausência do PR em pessoa, deve haver limites à benevolência presidencial.

Uma guerra perdida (I)

1. A guerra dos táxis contra a entrada em vigor "lei da Uber" está obviamente perdida à partida, e bem.
Primeiro, nada pode justificar a suspensão da lei antes da sua entrada em vigor, depois de aprovada por larga maioria parlamentar, incluindo a oposição, após uma primeira tentativa vetada pelo Presidente da República. A lei só perde pela demora. Segundo, a alternativa de mobilidade urbana proporcionada pelas plataformas digitais goza de ampla utilização e aceitação social, pela comodidade e menor preço oferecidos, havendo já quatro operadores instalados em Lisboa. O passado não pode travar o futuro.

2. Os taxistas invocam o argumento da desigualdade, mencionando em especial o facto de as novas plataformas digitais não estarem sujeitas a contingentação dos automóveis em operação, como os táxis. Mas não têm razão.
Por um lado, numa economia de mercado a regra é a ausência de restrições quantitativas à oferta, sendo livre a entrada no mercado e a concorrência. Por isso, a maneira mais lógica de superar a referida diferenciação é... acabar com a atual contingentação nos táxis (como, aliás, já defendeu a Autoridade da Concorrência). É isso que os taxistas desejam?
Para além disso, as demais diferenças de regime só favorecem os táxis, como mostrei AQUI. Entre outras vantagens, beneficiam de isenções fiscais, dos corredores bus e de praças de estacionamento próprias para colheita de utentes; e não pagam a "contribuição regulatória" a que as plataformas ficaram sujeitas. Ao fazerem assentar a sua luta numa alegada discriminação, os taxistas atuam contra si mesmos.


Adenda (24/9)
Este quadro comparativo dos dois regimes mostra, sem margem para dúvida, as vantagens dos táxis.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Homenagens gratificantes

Acaba de ser publicada no Brasil esta coletânea de estudos sobre Direitos Humanos e Democracia, que me é dedicada pelos auditores brasileiros do programa de pós-doutoramento organizado pelo Ius Gentium Conimbrigae / Centro de Direitos Humanos (a que presido), da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC).
Se há homenagens no mundo académico que gratificam, essas são as dos discípulos. Testemunham que cumprimos bem a nossa missão. Por maioria de razão, num program pós-doutoral.

Praça da República (5): Alternativa do PSD para a reforma do SNS

1. Foi agora divulgada a proposta do PSD para o SNS, primeiro desenho de uma política setorial da era Rui Rio e primeiro elemento de um programa político alternativo.
Sem grandes surpresa, tendo em conta o histórico do PSD nesta matéria, a proposta assenta em duas grandes ideias:
- generalizar as PPP na montagem e gestão privada de hospitais do SNS;
- contratualizar com entidades do setor privado e social a prestação de cuidados de saúde em competição com o setor público, com liberdade de escolha por parte dos utentes.
No fundo, o Estado deixaria tendencialmente de ser prestador, passando a ser essencialmente um contratualizador (das PPPs e da prestação externa de cuidados de saúde) e um financiador dos cuidados de saúde, em conformidade com os cânones do chamado "Estado de garantia". A filosofia que subjaz à proposta é a da maior eficiência da gestão privada, que por isso poderá, como defendem os proponentes, permitir cuidados de saúde a menor preço, apesar da remuneração do capital investido.

2. Sem mencionar a sua problematicidade constitucional  - pois o modelo constitucional aponta para o SNS como um serviço do próprio Estado -, o aspeto mais ousado desta proposta reside justamente na referida contratualização com prestadores privados e do setor social, que hoje é limitado aos casos de insuficiência da oferta do SNS (supletividade).
Apresentada aparentemente como uma solução aberta a todos os prestadores que preencham os requisitos estabelecidos para a contratualização, essa proposta permitiria ampliar substancialmente a oferta à disposição dos utentes, nas mesmas condições que os estabelecimentos públicos do SNS.

3. A proposta omite qualquer referência a um eventual cofinanciamento dos cuidados de saúde pelos beneficiários, pelo que o SNS se manteria "tendencialmente gratuito" para todos, e não somente para quem não tem meios, como chegou a ser defendido pelo PSD no passado. O financiamento do SNS continuaria a depender essencialmente do orçamento do Estado.
O documento também é omisso sobre numa eventual descentralização dos cuidados de saúde primários (centros de saúde) para os municípios, que por vezes é defendida de vários quadrantes (incluindo o autor desta linhas).

4. A extrema-esquerda comunista e bloquista não perdeu tempo para anatemizar a proposta do PSD, em nome da integridade pública do SNS, faltando até agora a reação do PS, o qual, apesar de defender a experiência das PPPs, não deve deixar de alinhar na denúncia genérica da "privatização" do SNS.
Seja como for, a proposta do PSD tem pelo menos o mérito de trazer para o próximo debate da anunciada nova lei de bases do SNS uma proposta claramente diferenciada, que coloca na mesa os problemas da atávica ineficiência do SNS e da crescente desigualdade social no acesso aos cuidados de saúde.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Reforma do sistema eleitoral


Amanhã também vou participar nesta conferência sobre a reforma do sistema eleitoral, organizada pela SEDES e pela Associação por uma Democracia de Qualidade (APDQ), dinamizada por J. Ribeiro e Castro, que propõe a adoção em Portugal do sistema eleitoral alemão, no qual os eleitores podem votar cumulativamente em listas partidárias em círculos plurinominais, como hoje sucede, e num candidato em círculos uninominais, à maneira britânica.

"Direito e Cidadania para além do Estado"


Amanhã vou estar nesta conferência internacional, no ISCTE/IUL, em Lisboa, para falar sobre a proteção transnacional dos direitos humanos, quer ao nível da UE, quer ao nível global.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

"Inimigo" do PR!

1. É inteiramente infundado, para não dizer despropositado, ver-me incluindo entre os "inimigos" de Marcelo Rebelo de Sousa, na apreciação do Jornal de Negócios de hoje, por ter acusado várias vezes o  PR de "extravasar as suas funções".
Ora, se tenho criticado o Presidente ocasionalmente por ingerências na esfera governativa (por último aqui), e se sou adepto de um estilo presidencial menos "exposto" e mais sereno e distanciado, a verdade é que essas críticas - que continuarei a expressar quando o julgue justificado - não têm envolvido nenhuma avaliação negativa geral sobre o exercício do mandato de MRS em Belém enquanto titular de um poder moderador e supervisor do sistema político que a Constituição confere ao PR, que nem sequer exclui a dimensão de "provedor do povo" (na feliz expressão do politólogo Costa Pinto), que Marcelo inovadoramente lhe emprestou.

2. Recordo, aliás que sufraguei explicitamente a legitimidade constitucional e política daquela a que foi porventura a mais dramática mensagem do PR ao longo do seu mandato, por ocasião dos devastadores e mortíferos incêndios florestais de outubro do ano passado, que outros consideraram um inaceitável ataque ao Governo.
Neste termos, mesmo desconsiderando uma sólida relação pessoal que tem mais de 40 anos - que não vem aqui ao caso, mas que sempre exclui críticas imponderadas -, converter-me em inimigo político do Presidente é pelo menos deslocado, para não dizer leviano. Discordância não é inimizade.
De resto, pelo próprio desenho constitucional do cargo entre nós (Presidente não governante) e pelo perfil pessoal do seu atual titular, é mesmo muito difícil que o PR tenha inimigos...

"Livres e Iguais" (4): Um programa ambicioso


Eis, no portal do Governo, o programa das comemorações dos 70 anos da DUDH e dos 40 anos da adesão de Portugal à CEDH. A sua realização decorre desde hoje até 12 de dezembro.
Trata-se, assim o creio, de um programa à altura da magna importância das comemorações. O programa irá sendo atualizado à medida que outras iniciativas, cuja preparação se encontra em curso, forem sendo ultimadas, como é o caso de algumas conferências universitárias.

"Livres e iguais" (3): "Um feito histórico"

Eis o cabeçalho do meu artigo de hoje no Público, sobre a importância da vinculação de Portugal à proteção internacional dos direitos humanos ao longo destes 40 anos, desde 1978, no dia em que me foi dado apresentar publicamente o programa das Comemorações dos 70 anos da DUDH e dos 40 anos da adesão de Portugal à CEDH, cuja preparação coordenei.

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Gostaria de ter escrito isto (23): "O Governo dos grandes centros urbanos"

«Portugal é um paí­s enviesado em favor dos grandes centros urbanos, com um sistema político e mediático praticamente imune à influência do paí­s distante de Lisboa e Porto.»
(F. Mendes da Silva, Jornal de Negócios

Este País não tem emenda (19): "Baixas" por pseudodoença

Segundo revela a Comissão Europeia, com base em dados oficiais nacionais de 2017, relativos aos exames de 6000 juntas médicas, "mais de metade das baixas na Educação foram fraudulentas".
Trata-se de uma percentagem escandalosa, que é assaz superior à média da função pública, por sua vez consideravelmente mais elevada do que a média do setor privado, e que revela uma grau preocupante de irresponsabilidade do pessoal que recorre a esse estratagema para faltar ao trabalho e dos médicos que abusam dos atestados de doença de favor.
Segundo estimativas oficiais, as "baixas" por doença infundadas no setor público custam cerca de 60 milhões de euro por ano, o que é um inadmissível esforço exigido em vão aos contribuintes para alimentar a fraude laboral.

Adenda
Como é habitual nestas ocasiões, a Ordem dos Médicos, que sempre fechou os olhos a esta prática lesiva da deontologia médica e do bom nome da profissão, renunciando a usar o seu poder disciplinar, veio negar a existência de fraude! Mas o crédito público da profissão médica em geral não ganha nada com esta defesa dos prevaricadores, que só o degrada...

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

"Livres & Iguais" (2): Início das comemorações

1. Vão iniciar-se esta semana as comemorações oficiais dos 70 anos da Declaração Universal de Direitos Humanos e dos 40 anos da adesão de Portugal à Convenção Europeia de Direitos Humanos, decididas pelo Governo para assinalar as quatro décadas de vinculação de Portugal - no seguimento da revolução de 1974 e da Constituição de 1976 -  aos instrumentos e mecanismos de proteção internacional de direitos humanos das Nações Unidas e do Conselho da Europa.

2. Na próxima sexta-feira, dia 7, em sessão no Palácio das Necessidades  (Ministério dos Negócios Estrangeiros) vai ser anunciado publicamente o programa - cujas linhas orientadoras já foram divulgadas antes do verão -, sendo também dado a conhecer o website do grupo de trabalho encarregado de organizar as comemorações.

3. Nesse mesmo dia, ao fim da tarde, tem lugar o primeiro ato público das comemorações, com a inauguração de uma exposição de fotografia sobre a DUDH, simbolicamente no antigo Tribunal Plenário de Lisboa (na ilustração). A cerimónia será acompanhada com um atuação instrumental e coral da Academia de Amadores de Música.

domingo, 2 de setembro de 2018

Eleições no horizonte (3): Generosidade à custa alheia é fácil

1. É de aplaudir a proposta do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, numa entrevista ao Expresso, de redução substancial dos preços dos passes nos transportes coletivos em Lisboa e em toda a área metropolitana. O que não é de aplaudir, pelo contrário, é que seja o orçamento do Estado, alimentado pelos contribuintes de todo o país, a financiar as dezenas de milhões de euros que o programa custaria.
Não faz sentido financiar benesses locais com impostos nacionais. Os contribuintes do resto do País já financiam os respetivos transportes locais. É um despautério exigir-lhes que contribuam também,
indevidamente, para financiar os investimentos e a gestão dos transportes urbanos de Lisboa e do Porto, bem como os custos do seu endividamento.

2. Há décadas que defendo a transferência dos transportes locais de Lisboa e do Porto
para responsabilidade municipal ou intermunicipal, como é regra no País, aliás em obediência ao princípios constitucionais da subsidiariedade e da descentralização territorial. Mas essa transferência
só foi feita recentemente em relação aos transportes de superfície, Carris e STCP - mesmo assim deixando nas mãos do Estado as suas dívidas -,  continuando os metropolitanos a consumir dezenas de milhões de euros anuais ao orçamento do Estado.
Acrescentar a esse financiamento indevido o subsídio adicional da baixa do preços dos passes sociais dos transportes de Lisboa (ou do Porto) seria agravar a iniquidade financeira já existente.

3. É provável que, para salvar a face da proposta, haja quem sugira que o Estado financie uma redução correspondente do preço dos passes de todos os transportes urbanos do país.
Mas seria "rabo escondido com o gato de fora". Por um lado, há muitas localidades onde não existem transportes urbanos, pelo que os contribuintes dessas localidade financiariam o que eles próprios
nem sequer podem usufruir. Em segundo lugar, existe uma enorme desproporção entre o custo dos passes sociais nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto e o custo correspondente nos transporte urbanos de Braga, Aveiro ou Coimbra e outras cidades  do País.
Decididamente, é tempo de cessar esta filosofia de Robin Hood ao contrário, ou seja, as regiões mais pobres do País a subsidiarem as mais ricas. Quanto tanto se fala em valorizar o interior e na  descentralização territorial, esta inversão da lógica orçamental é inadmissível.

Adenda
Como acima se antecipou, não tardou a surgir o estratagema de estender a medida supostamente a todo o país para tentar esconder o nutrido subsídio do Estado a Lisboa e ao Porto. Vale tudo!...

sábado, 1 de setembro de 2018

Privilégios

Eis o meu artigo no Dinheiro Vivo do fim de semana passado, sobre as regalias do pessoal da Caixa Geral de Depósitos. (Aproveito para corrigir um lapso de informação, relativo à aposentação aos 60 anos aposentação "com pensão a 100%": o que se queria dizer era: "com pensão completa".)