sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Eleições no horizonte (2): Derrota dos contribuintes

A federação sindical dos professores veio qualificar como "derrota" do Governo a contratação desnecessária de milhares de professores com horário incompleto, por imposição de uma lei aprovada na AR por uma "coligação negativa" da extrema-esquerda e da direita contra o Governo.
Na verdade, porém, trata-se de uma derrota dos contribuintes, pois a medida implica o aumento da despesa pública em dezenas de milhões de euros neste e nos próximos anos. O problema é que, ao contrário dos professores e outras classe profissionais que abancam à mesa do orçamento, os contribuintes não têm sindicato nem gozam da proteção dos partidos, especialmente com eleições à vista.

Fim da hora de verão!

Depois de uma expressiva consulta da União Europeia sobre o caso, a Comissão Europeia deve avançar com a proposta de pôr fim à hora de verão e à mudança de hora duas vezes por ano, que, aliás, existe em muito poucos países fora da UE.
Compartilho dessa posição, pois há muito que defendo essa alteração, por razões que expus AQUI . Por maioria de razão, sou contra a adoção em Portugal do fuso horário da Europa central (mais uma hora), como sucede em Espanha, solução artificialíssima que alguns voltaram a defender e que vigorou entre nós há uns trinta anos, durante pouco tempo, até se tornarem evidentes os seus malefícios.

Adenda
Corrigindo o que fica dito, a Comissão propõe apenas o fim da mudança semestral de hora, deixando em aberto para cada Estado-membro a escolha da hora permanente.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

O caso da aposentação obrigatória aos 70 anos

Volto a dar aqui notícia regular da minha coluna semanal no Dinheiro Vivo, o suplemento de fim-de-semana do Diário de Notícias e do Jornal de Notícias. Aqui fica o artigo da semana passada, sobre o caso da reforma obrigatória aos 70 anos.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Eleições no horizonte (1)

1. É evidente que, como diz esta manchete do Jornal de Negócios, uma eventual descida da contribuição para a ADSE, como defendem o BE e o PCP, importaria uma subida correspondente das remuneração liquida dos funcionários públicos. E nem só destes, mas também dos pensionistas do Estado, que podem igualmente ser beneficiários da ADSE, querendo e descontando a respetiva contribuição.
Há, porém, dois "pequenos" vícios neste raciocínio. Primeiro, nem toda a gente sairia a ganhar, pois a adesão à ADSE é voluntária, pelo que quem não desconta não ganharia nada com a baixa da contribuição.
Em segundo lugar, e mais decisivamente, a descida da contribuição para o subsistema privativo de saúde do setor público seria de uma enorme insensatez, dado que a folga orçamental conseguida pela aumento substancial da contribuição há poucos anos se tem vindo rapidamente a reduzir, em consequência do acentuado crescimento da despesa e de uma redução de contribuintes, pelo que no atual enquadramento o sistema não tardará a entrar de novo em défice.

2. Trata-se evidentemente de uma proposta demagógica e pedestremente eleitoralista, visando cativar os dois principais grupos eleitorais do país, os funcionários públicos e os pensionistas, sem cuidar dos efeitos nefastos, que acabariam por lesar os que supostamente seriam beneficiados.
De resto, não deixa de ser contraditório ver os mais estrénuos defensores verbais do SNS, como sistema de saúde universal e gratuito, instituído  pela CRP de 1976, enamorados por um subsistema de saúde que vem do "Estado Novo" e que não compartilha de nenhuma característica do SNS, sendo privativo de uma categoria profissional e sendo financiado por contribuições dos beneficiários.
Contradições que o oportunismo político tece!

Adenda
Nem de propósito, o Conselho da ADSE vem manifestar a sua preocupação com a estimativa da drástica redução do saldo financeiro da instituição, de 2018 para 2019. Neste quadro a proposta de redução das contribuições dos beneficiários releva da mais patente irresponsabilidade política. Como é próprio dos partidos em causa...

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Portucaliptal (30): "O eucalipto mata demais"

"O eucalipto mata de mais. E quando não mata é porque se gasta gente de mais, dinheiro de mais e tempo de mais, que não é descontado no que a indústria do eucalipto gosta de apregoar como vantagem nacional (ocultando aquele senão de despesas públicas). O eucalipto como causa de incêndio é um facto. Daqueles factos cuja repetição desobriga de mais explicações, tal como não é preciso ser um doutorado geógrafo para saber que o Sol nasce a leste. O incêndio nasce e nascerá cada verão onde há eucalipto. Muitos dirão que não, mas serão desmentidos pelos factos em cada próximo verão. Porque o aquecimento global - que ainda há pouco também era negado pelos mesmos muitos - nos lembrará essa inevitabilidade." 
[Ferreira Fernandes, "O desmesurado eucalipto", Diário de Notícias.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Sem fundamento

Uma organização de taxistas manifestou-se contra a promulgação da chamada "lei da Uber", argumentado que ela "coloca os táxis em desvantagem perante as plataformas".
Mas a acusação não faz sentido, pelo contrário. Diferentemente dos táxis, os automóveis ao serviço da Uber e empresas semelhantes não gozam de benefícios fiscais nem na aquisição de viaturas nem de combustível; não podem usar as faixas bus nas cidades nem os locais reservados de estacionamento em estações ferroviárias e aeroportos e noutros locais; e, por último, têm de pagar a "contribuição regulatória" de 5% que a nova lei lhes impõe, mas que os táxis não pagam. Apesar disso, estas empresas ficam sujeitas às mesmas "obrigações de serviço publico" dos táxis, incluindo o transporte de pessoas de mobilidade reduzida e de animais de estimação, e ficam também submetidas a limitações de idade dos automóveis e do tempo de serviços dos condutores, que se não se aplicam aos táxis.
Verdadeiramente, para além da concorrência no preço e na qualidade do serviço, a única vantagem de que a Uber e outras plataformas dispõem face aos táxis consiste em não terem limitações ao âmbito geográfico dos seus serviços, ao passo que os táxis não podem tomar passageiros fora do município em que estão registados. É fácil ver, portanto, que a referida acusação da organização de taxistas é destituída de fundamento.