quinta-feira, 29 de março de 2012

Privatização da REN


Deixo aqui a resposta da Comissão Europeia relativa à pergunta que fiz, em Janeiro passado, sobre a privatização da REN.
A Comissão claramente alijou responsabilidades para a entidade reguladora portuguesa, a ERSE, para avaliar a independência entre as duas empresas chinesas, passando por cima de um facto óbvio: o accionista da REN e da EDP é o mesmo: o Estado chinês! Esperemos pelo parecer da ERSE, que estranhamente tarda, enquanto o negocio prossegue...

China: A conquista silenciosa


A China está em polvorosa com a luta de poder em torno da purga de Bo Xilai e a sua clique. Mas sobre isso escreverei proximamente.

Agora cuido de chamar a atenção para um importante livro, recentemente publicado em Espanha, da autoria dos jornalistas Juan Pablo Cardenal e Heriberto Araújo:
"La silenciosa conquista China" documenta o investimento massivo da República Popular da China em 25 países em desenvolvimento, à procura em especial de minerais e matérias primas.
Uma recolha de dados e uma reflexão inédita e importante sobre como a China se prepara, através da aquisição de sectores estratégicos das economias emergentes (e não só...) para se estabelecer como a potência hegemónica do século XXI.

Eurovisão no Azerbaijão: dar voz aos direitos humanos!

O Festival da Eurovisão, a realizar-se este ano em Baku, será uma oportunidade única para os media europeus darem atenção aos direitos humanos no Azerbeijão, onde a liberdade de expressão e de imprensa continuam a ser sistematicamente ameaçadas.
Caso recente é o da corajosa jornalista Khadjia Ismailova, que investiga e denuncia os esquemas de corrupção do poder no seu país e que se viu recentemente alvo de ameaças e chantagens.
Há casos que se arrastam: o do antigo ministro para o desenvolvimento económico da República do Azerbaijão (e activista anti-corrupção) Farhad Aliyev, e o seu irmão, Rafgig Aliyev, encarcerados desde 2005. Ambos continuam detidos, pesem embora dois acórdãos distintos do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem em que se conclui que a sua detenção foi ilegal e o seu julgamento padeceu de anomalias processuais.
Em ambos casos, estamos ia agir no PE.
É primordial pressionar o Governo do Azerbaijão a garantir respeito pelos direitos humanos, tanto mais que se encontra a negociar um Acordo de Associação com a UE. E a cooperação económica com a UE deve ajudar a reforçar o Estado de direito no Azerbaijão.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Petição para uma União Federal

Assinei a petição ao Parlamento Europeu para utilizar os poderes atribuídos pelo Tratado de Lisboa (Artigo 48/2) para iniciar a formação de uma união fiscal em que a dívida nacional é emitida através de eurobonds, suportados por uma governação comum e garantia mútua dos Estados da eurozona. É a posição que tenho vindo a defender desde o início da crise da dívida na UE.

Junte-se aos apoiantes aqui:
[http://www.federalists.eu/index.php?id=15420]

Um PM "poucochinho"

O PM usa e abusa do "poucochinho" - poucochinho desvio recessivo relativamente às previsões poucochinhas do governo, poucochinha recuperação em horizonte de Europa poucochinha.
A "Dra. Judite" faz perguntas poucochinhas, a pedir respostas "de pacotilha", nota o PM...
"Qual é o seu limite máximo para o desemprego?" pergunta ela, arrostando com uma resposta prolixa, a revelar que, em matéria de desemprego, ao menos, não vai pelo poucochinho: "the sky is the limit..." sugere Passos sem pejo, a encolher os ombros ao admitir "que vão pagar muito caro" os que não arranjarem emprego nos próximos meses à conta da recessão engendrada pela obsessão de austeridade do seu governo...
"Não temos bola de cristal.. Mas não tenho nada para prever mais medidas de austeridade", decanta ele em todos os tons.
Discerne-se a estratégia económica do Governo: "quanto se bate no fundo (e ainda não chegamos lá, reconhece), depois começa-se a recuperar!" - assim se resume a tese do mergulho na piscina, de sabedoria gasparo-laparal. Elementar, minha cara Judite, elementar! Não topa?
Em 2013, por virtude do impulso de batermos no fundo entretanto, "já vamos estar a recuperar", poucochinho, assevera o PM, que garante défice de 4,5% para o ano e se atreve a antever viragem já no final 2012.
Passos repassa que nunca jurará que não sejam precisas mais medidas de austeridade... Embora não as preveja. Por ora.
E se a execução orçamental não correr bem? alarma Judite...a "situação de emergência nacional não está ultrapassada", adverte ele, a Europa vai crescer menos.
Riscos de derrapagem na execução orçamental, vendo a receita do Estado cair? ele nega-os mas, apertado, afinal também não os exclui. "Não temos nenhum indicador que aponte para isso", é o mantra a que se agarra.
As previsões mais pessimistas não têm nada a ver connosco- é tudo devido a factores externos, esses malandros....
"Não me rendo facilmente a uma inexorabilidade dessas" - ou seja, não aceita "facilmente" ir buscar mais resgate, nem pedir mais prazo (só dificilmente ou "in extremis", como o outro?)
"Os nossos juros estão a baixar", atira a bóia.
Vai ficar à espera que seja a Troika a fazer ajustamentos ao memorando? pergunta ela: "já houve vários, uma "review" cada três meses" arremessa ele- ou seja, o que a Troika diz, só se escreve quando o governo quer....Embora quando convém, se atirem culpas das maldades feitas aos portugueses prá Troika.
Se se aplicarem no trabalho de casa, mesmo que venham estropiados, a professora Angela dá nota para passar e mesada "pró pitrolio", consola-se ele.
"Se pedíssemos mais tempo, seria sinal de que estaríamos a baixar os braços", compunge-se Coelho.
Judite retorque "mas estão pobres e remediados a pagar mais, e ricos a serem poupados! a percepção de injustiça não põe em risco a coesão social?" inquieta-se ela. E ele assepticamente distante "mas qual injustiça?" Sim, mas qual elefante?
Ele afiança, sem rir, que corte salarial foi para todos. Ela lembra-lhe os regime de excepção, por exemplo na Caixa e a percepção publica de iniquidade. Mas qual elefante, qual carapuça, desvaloriza ele, olímpico.
"Este governo não cortou 5%, cortou 14%, à função publica" - gaba-se, para se desculpar depois com Sócrates....
E que vai o governo fazer para corrigir as rendas excessivas, no sector da energia, por exemplo? E não só, diz ele: uma taxa adicional está ser aplicada, sacrifícios são pedidos a todos. Quando atacam as rendas excessivas? - nas próximas semanas, diz ele. Para penalizar menos os consumidores, empresas e famílias, promete.
Coelho calimero- a Judite mázinha "nao deixa responder"...
Como acertar com PS a regra de ouro? PS precisa de "amadurecer melhor", opina Passos, concedendo que está pronto a conceder ao PS, desde que este conceda.
Crispação do PSD contra PS no congresso - não viu, não viu. Desabafo sim, pela herança socratica que revolta as bases. "Não foi essa a minha abordagem, mas não ponho rolhas na boca dos militantes" desculpa-se.
"Não está em causa o consenso com o PS"- espera que não. Mas esse é recurso que só rende lá fora...cá dentro é malhar neles.
300.000 desempregados sem subsidio de desemprego, casos de policia BPN, "rebundling" sob batuta chinesa, reforma autárquica, nomeações do centrão, reavaliações PPP que tardam, a seca, protecção civil, educação, justiça e combate a criminalidade, a Espanha a ser empurrada para o resgate, o euro ainda em risco, a falta de Europa e de politica europeia - tudo irrelevâncias, imerecedoras do interesse de Judite e Pedro.
Sem novidade, sem convicção, contraditório, obfuscante. Um PM agarrado à ideologia ultra-liberal, invisível na Europa, masoquista deslumbrado pelos diktats Merkozy, aprendiz de feiticeiro incapaz de controlar o génio que libertou da garrafa.
Porque é que se dão entrevistas quando se pensa poucochinho, se diz poucochinho e poucochinho se quer esclarecer?

segunda-feira, 26 de março de 2012

Fazendo pelas nossas exportações 3


O grupo de empresários e empresárias da indústria da pedra de Montelavar, Sintra, associados no GMP.
Com o delegado do AICEP, João Rodrigues, que apoiou.
E com a Presidente da Junta de Freguesia de Montelavar, Sintra, Lina Andrez, que incentivou a missão à Líbia e a constituição do consórcio de empresas.
E eu, que asseverei que podiam e deviam ir, porque trabalho não faltará e é já que se marcam posições.
Depois de dois dias de contactos em Misurata e Tripoli.
Junto ao Arco de Marco Aurélio, na Medina de Tripoli.
Quem tem medo de trabalhar na Líbia?


Fazendo pelas nossas exportações 2

Empresários e empresárias do GMP ao trabalho, a partir da Embaixada de Portugal na Líbia.
Que incluiu uma visita a Misurata, dia 24, com a companhia do embaixador de Portugal, Rui Aleixo, para contactos com importadores.
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Fazendo pelas nossas exportações

Este é a capa do catálogo que o GMP - Grupo de Mármores Portugueses - um consórcio de empresas de Montelavar, Sintra - preparou para ir à procura de trabalho no mercado da construção (e da reconstrução...) da Libia.
Provando que os portugueses não se deixam vencer, não baixam os braços e vão onde for preciso, confiantes na qualidade do que sabem fazer.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Caso Iberdrola?

Êh pá! Sinto-me finalmente muito bem acompanhada no PS.!!!
Acabo de ouvir o meu querido camarada António Costa revelar que também o incomodou muito a promiscuidade no... "caso Iberdrola".
Tempos houve em que me achei muito sozinha a vociferar contra o escândalo de Pina Moura acumular conselhos de administração empresariais com a cadeira parlamentar socialista.
Afinal não era só "anti-iberdrolice/pinamourice" aguda minha...


Borges, Bórgias ou borgas?

Ou tudo junto?
Como se retira dos comentários curiosamente coincidentes que António Costa e Pacheco Pereira estão, certeiramente, a emitir na "Quadratura do Circulo".
Sobre a alarmante, despudorada e obscena promiscuidade das elites oligárquicas a quem o Governo PSD/PP está a entregar o desmantelamento e os proventos do que nos resta do Estado.

Quem em caminho leva pressa, em caminho chão tropeça


No Conselho Superior da Antena 1, no passado dia 13, sustentei que Governo e PS não devem ter pressa em ratificar o Pacto do Desemprego - dito "orçamental" - assinado na última cimeira europeia.
Expliquei que tem regras de difícil exequibilidade e duvidosa constitucionalidade europeia, para além de não fazer realmente avançar a governação económica na União, pelo contrário agrava as receitas de austeridade punitiva e recessiva. Sustentei tratar-se sobretudo de pacto “para alemão ver”. E sublinhei que François Hollande já se comprometeu, se ganhar as eleições presidenciais francesas, a pedir a renegociação deste Tratado. Tudo razões para não haver pressa nenhuma em Portugal em o levar a ratificação pela AR.
Mas esse não é, pois claro, o entendimento do Governo amestrado que nos empobrece e nos destrói a economia nacional.
Ora leia-se o que escreve o "Diário Económico" há algumas horas:
"Ser o primeiro a aprovar o novo pacto orçamental faz parte de uma estratégia de comunicação do Governo para se demarcar da Grécia e sobretudo da Irlanda, que vai referendar o Tratado.
Portugal vai conseguir ser o primeiro país europeu a ratificar o novo Tratado (...) Trata-se de um sinal político de determinação e apego à estratégia de consolidação orçamental
(...) A ratificação parlamentar está agora prevista para o dia 13 de Abril, e a partir de então os elementos do Tratado - como o travão da dívida ou um mecanismo automático de correcção de défice excessivo - vão passar a assumir um valor para-constitucional na legislação portuguesa.
Segundo apurámos, não há sequer registo no Conselho Europeu de outro país com data fixa para o efeito porque os procedimentos legais são morosos.
(...) As previsões de ratificação noutros países são todas posteriores: a Alemanha tem previsto ratificar em Maio, a França só o fará depois das eleições presidenciais (Maio), a Irlanda tem o referendo que se aponta para Junho e a Bélgica será dos últimos porque precisa de passar pelos parlamentos regionais e federal. (...) os países têm até final do ano para ratificar porque o Tratado está previsto entrar em vigor a 1 de Janeiro de 2013, logo que 12 estados do euro ratifiquem."
Cá estaremos para ver se ao afã marrão e graxista da lusa dupla láparo-gasparina se não aplicará o provérbio:
"Quem em caminho leva pressa, em caminho chão tropeça"!

Para uma Alternativa Socialista Europeia

Aqui neste link http://www.anagomes.eu/pt-PT/noticias.aspx?newsid=ddd498bb-fb96-445c-94a4-2d7190457da0
poderá ler-se o Manifesto "Para uma Alternativa Socialista Europeia" que subscrevi, com um conjunto de militantes socialistas europeus, apresentando propostas concretas para a Europa sair da crise.
No mesmo link acha-se o convite para uma conferência em Bruxelas, aberta ao publico e que poderá ser seguida em directo por "webstream", de lançamento e debate deste Manifesto. No dia 28 de Março. Com participação especial de Jacques Delors.

O Pacto do Desemprego

No dia 13 de Março ultimo, intervim no debate em plenário do PE sobre o último Conselho Europeu, no qual 25 países da UE assinaram o chamado Pacto Orçamental.
Disse o seguinte:
"O Pacto Orçamental assinado há dias é a demonstração de que o crescimento e o emprego continuam a ser clamorosamente ignorados pelos líderes europeus.
Como explicar também a passividade dos nossos governos e da Comissão perante a evasão fiscal, apesar de o Sr. Barroso hoje aqui ter reconhecido que ela desvia mais de um trilião de euros do investimento na economia europeia?
Este "fiscal compact" nem uma linha contém sobre harmonização fiscal, controlo de off-shores, combate ao "dumping" fiscal entre Estados-Membros, nem sequer sobre a taxa sobre as transacções financeiras que, além de recursos adicionais para investir na economia, seria um princípio para controlar as transacções financeiras na UE.
Admiram-se assim que os jovens europeus se vejam obrigados a sair da UE? Em Portugal, onde a taxa de desemprego está já acima dos 35%, o Governo assume a incapacidade e a incompetência colectiva: encoraja-os a emigrar.
Admiram-se apenas? Não morrem de vergonha?".

terça-feira, 20 de março de 2012

Estado de necessidade

Quando uma empresa pública, como os Estaleiros de Viana, incorre em défices sistemáticos e acumula dívidas sobre dívidas, onerando desmesuramente as responsabilidades financeiras do Estado, a única solução é a privatização, para recapitalizar a empresa, alcançar uma gestão mais eficiente e preservar os postos de trabalho. Neste quadro, as objecções partidárias e sindicais não fazem sentido, tanto mais que não se trata de um sector estratégico para o Estado.
O mesmo vale obviamente para a TAP.

Um susto

«Divida das autarquias pode atingir os 12 000 milhões».
Pelos vistos a vertigem do endividamento público não era exclusivo do Estado central e da Madeira...

quinta-feira, 15 de março de 2012

Em defesa do ACTA

«Não se vê nenhuma razão para distinguir entre uma loja aberta ao público numa rua de Lisboa que venda material pirateado ou contrafeito (que obviamente é ilegal e pode ser punida) e uma loja virtual que ofereça os mesmos produtos na Internet.»
Excerto do artigo com o título em epígrafe publicado ontem no Diário de Notícias, que arquivei, como habitualmente, no Aba da Causa .

quarta-feira, 14 de março de 2012

Ódios de estimação

Ao contrário do que os jornais me imputaram, não acusei Cavaco Silva de nenhuma "leitura errada da Constituição". Diferentemente de outros, nunca pus em causa a obrigação geral de informação do primeiro-ministro ao Presidente da República, a qual, mesmo que não resultasse expressamente da Constituição (que fala de uma "competência" do Primeiro-Ministro e não de uma obrigação), decorre porém da lógica do sistema de governo e do papel do PR. Pelo contrário, fui dos poucos, se não o único, a assinalar publicamente na altura própria, que Sócrates deveria ter cumprido esse dever no caso do PEC IV. O que contesto é a errada leitura política do caso por Cavaco Silva. O problema é que a falta de Sócrates não justifica nem legitima a insólita reacção do Presidente, ainda por cima à distância de uma ano.
O que contesto é o póstumo julgamento político que o Presidente da República faz do episódio e que ele tenha vindo, passado um ano, a denunciar como gravíssima "desleadade institucional" uma falta que na altura nem sequer fez questão de denunciar. Não está em causa somente o manifesto exagero e desproporção da qualificação feita mas também e sobretudo o facto de Cavaco, passado este tempo todo, não se ter poupado a estalamentável exbição de ressabiamento político e de recriminaçao institucional, num perfeito exemplo do velho dito popular de que «a vingança serve-se  fria».
Mesmo que possa tê-los, o Presidente da República não tem direito a compartilhar com os cidadãos os seus recônditos ódios de estimação. Ao Chefe do Estado exige-se pelo menos mais elevação e mais "gravitas"...
[revisto]

segunda-feira, 12 de março de 2012

O "assalto"

Os movimentos revolucionários já não são como soíam. Antigamente assaltavam-se os "palácios de inverno" à mão armada para tomar o poder. Agora fazem-se "academias de cidadania" para ensinar o povo ignaro "o que a democracia" e a única coisa que se pretende "assaltar" [sic] são as autarquias locais com a arma dos votos.
Feliz democracia a nossa, que tão prestimosos activistas tem !...

Caso perdido

Cavaco Silva procura virar em seu proveito o facto de alguns terem negado erradamente a existência de um dever geral de informação do Primeiro-ministro face ao Presidente da República, a fim de tentar sair airosamente do buraco em que se meteu ao acusar Sócrates de deslealdade institucional qualificada. Mas a emenda não é melhor do que o soneto.
Primeiro, o incumprimento de um dever de informação não equivale necessariamente a uma deslealdade institucional, que pressupõe má fé e vontade de desconsiderar o Presidente; como em tudo, é preciso proporcionalidade nas acusações. Segundo, Cavaco Silva não tem o direito de passados tantos meses vir qualificar como deslealdade agravada o que na altura própria nem sequer assinalou como falta institucional, muito menos como agravo qualificado. Terceiro, se Cavaco Silva considera tão grave a conduta de Sócrates, em termos de lhe atribuir dimensão histórica, não se compreende que na altura própria não tenha exigido uma explicação pública ao primeiro-ministro, para não falar na possibilidade de o demitir por delito de lesa-majestade. Por último, Cavaco Silva continua por explicar por que é que considera legítimos todos os agravos públicos com que ele próprio "mimoseou" Sócrates, numa atitude de "deslealdade institucional continuada" (para não falar na frequente ingerência na esfera governativa em deliberado desafio ao Governo) e acha intolerável e merecedora de pelourinho a única falta que aponta ao antigo primeiro-ministro. "Est modus in rebus", diziam os antigos.
Não fica bem a um Presidente da República em funções fazer justiça em causa própria, para mais numa publicação oficial, em matéria de conflitos com um ex-primeiro-ministro, de que só a história pode ser bom juiz. O "poder moderador" que incumbe ao Presidente não pode dar mostras de imoderação incontida. Em vez do distanciamento e da "majestade" que engrandecem o cargo de Presidente da República, Cavaco Silva revela ressentimento, mesquinhez e espírito vingativo. Infelizmente não é caso isolado na actuação presidencial.

domingo, 11 de março de 2012

Um ano depois de Fukushima

"É a segunda desgraça nuclear da história japonesa, mas desta vez é diferente: fizemo-la nós próprios", disse Haruki Murakami, o escritor japonês.
Em Portugal não temos centrais nucleares, mas temos uma a 100 km da fronteira, debruçada sobre o Tejo - a central espanhola de Almaraz. Que em 2010 atingiu o limite de idade de 25 anos. Mas cuja laboração as autoridades espanholas decidiram prolongar. Apesar de diversos problemas de funcionamento dos reactores, o ultimo - dos conhecidos - em Outubro de 2011.
Não será altura de a Ministra Cristas e o Ministro Portas pedirem a Espanha e à Comissão Europeia uma revisão conjunta do estado de segurança das centrais espanholas e dos procedimentos a accionar em caso de acidente?

"Dois Tratados"

Recolhi no Aba da Causa o meu artigo com o título em epígrafe, publicado no Jornal de Negócios (a que se refere Ana Gomes no seu penúltimo post).

Aditamento
Mesmo que Hollande, se eleito, venha a conseguir reabrir o Tratado, não conseguirá seguramente nenhuma alteração de fundo. Ele próprio já deixou entender que não se propõe mexer na parte da disciplina orçamental, de longe a mais importante e a mais controversa, sendo o resto relativamente pacífico. O mais provável é o aditamento de alguma disposição retórica sobre o crescimento, para dar a Hollande um bom pretexto para ratificar o Tratado em França...

sábado, 10 de março de 2012

Ressentimento e não só...

Concordo com o Vital.
No que escreve no post "Ressentimento" sobre o despropósito maligno e incendiário dos juízos sobre José Sócrates agora publicitados pelo Presidente da Republica.
Mais do que atingir o alvo, fica exposta a incapacidade de grandeza e distanciamento presidenciais do Prof. Cavaco Silva, revelando os tortuosos escaninhos da sua personalidade e a mediania do seu arcaboiço político e institucional.
Digo-o com o à vontade de quem nele não votou, mas também não alinhou no "tiro ao Cavaco" a pretexto dos sucessivos tristes episódios que vem protagonizando, antes preferindo sublinhar o respeito devido à função de Chefe de Estado e a importância dos poderes que comporta no regular funcionamento da democracia. E que bem decisivos poderão ter de ser nesta conjuntura de crise.
Digo-o, igualmente, pese o público desacordo que várias vezes me mereceram decisões e comportamentos de José Sócrates e dos seus governos, ora canhestramente atacados por quem não tem dimensão, nem fôlego, para o fazer.
Resta continuarmos a respeitar institucionalmente o Presidente da República, socorrendo-nos de caridosa circunspecção relativamente à sua pessoa.

O Pacto Orçamental

Discordo do Vital.
Do que defende no artigo "Dois Tratados", publicado no "Jornal de Negócios" no passado dia 6.
O PS não tem que votar favoravelmente este "Pacto Orçamental", que é de duvidosa constitucionalidade e de difícil exequibilidade, além de conter os problemas substantivos que Vital identifica e alguns mais.
O PS não só não deve votar este Tratado, como deve impedir que PSD e CDS o levem apressadamente à AR. Basta ter em consideração que:
- Hollande vai ganhar as eleições em França e já disse e redisse que exigirá a renegociação deste Pacto.
- Rajoy, no próprio dia em que o assinou, invocou a soberania espanhola para incumprir, mostrando que este Pacto não é para valer ... quando muito é para alemão ver (e a Sra. Merkel viu Rajoy e não gostou).
Não se trata de alinhar com a esquerda antieuropeísta ou com a direita troikista. Se conseguir impedir PSD e CDS de se precipitarem com este Pacto na AR, o PS estará a prestar-lhes um grande favor e, sobretudo, um grande serviço ao país: no mínimo, estará a evitar-nos a todos a humilhação de ter de voltar a ratificar ...uma nova versão.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Sindicalismo venturoso

A benção dada pela Ministra da Justiça ao caso do patrocínio bancário ao congresso sindical do Ministério Público revela que há sindicatos que têm a ventura de juntar o apoio do capital e do poder.
Os fundadores do sindicalismo não se reconnheceriam seguramente nestes avatares do moderno "sindicalismo judiciário"...

Ressentimento

O que Cavaco Silva escreve sobre Sócrates, tantos meses passados sobre a saída do segundo, é mesquinho e vingativo, confirmando uma personalidade ressentida e um estadista sem estatura política para o cargo presidencial.
É evidente que, como declarei na altura, Sócrates deveria ter informado previamente o Presidente sobre o PEC 4, apesar da urgência com que este teve de ser apresentado. Mas considerar o incumprimento de um dever de informação como uma deslealdade institucional "digna de figurar na história", como se fora um crime de lesa-majestade, é pelo menos uma hipérbole. E ainda que se tratasse de falta de lealdade institucional, Cavaco Silva seria a última pessoa a poder denunciá-la, depois de ter praticado contra Sócrates actos, esses sim que ficaram na história, pela sua gravidade e pelo seu insólito, como foi o de lhe ter feito a gravíssima acusação de fazer "escutas" a Belém, a poucas semanas das eleições parlamentares de 2009. Será que Cavaco Silva considera essa tropelia como exemplo de lealdade institucional? Será que também informou previamente o primeiro-ministro antes de o atacar dessa forma assassina?
A lealdade institucional não tem somente um sentido! E o ressentimento vingativo não qualifica um Presidente da República!

Síria: UE deve agir já!

O Grupo Socialista no PE difundiu ontem o seguinte comunicado de imprensa:
"A UE deve urgentemente encaminhar assistência humanitária para o povo sírio, que corajosamente resiste ao bombardeamento indiscriminado de aldeias, cidades e hospitais e à barbaridade da tortura de feridos e crianças pelo regime assassino de Bashar Al-Assad. Os europeus não podem limitar-se a declarar a sua indignação e depois ficar a observar. Gestos políticos de condenação, como a retirada de embaixadas, não chegam: a UE deve agir decisivamente em apoio de parceiros com acesso às comunidades sírias necessitadas e para ajudar a congregar grupos oposicionistas com vista a prepararem um futuro democrático para a Síria", disse a deputada Véronique de Keyser, Vice-presidente dos Socialistas e Democratas.
Ana Gomes, coordenadora S&D para as relações externas, disse: "A União Europeia deve intensificar a pressão politica sobre Moscovo e Pequim, para pararem de obstruir a acção do Conselho de Segurança das Nações Unidas na crise síria e permitir à comunidade internacional exercer a responsabilidade de proteger o povo da Síria das continuadas atrocidades perpetradas pelo regime de Bashar al-Assad".
O comunicado anuncia ainda que Véronique de Keyser e eu própria visitaremos em breve a região para estabelecer contacto com refugiados sírios e representantes da oposição.

Mulheres: discriminação agrava crise

No Conselho Superior na ANTENA 1, na passada terça-feira, falei das disparidades salariais e outras discriminações contra as mulheres que a crise económica está a agravar - e que simultaneamente agravam a crise.
E sublinhei que estamos a pagar caro a falta de mulheres em cargos de topo nos órgãos de poder económico, como os conselhos de administração de bancos, companhias de seguros, fundos de pensões e principais empresas, recordando declarações de Christine Lagarde, actual directora do FMI, para quem o excesso de testosterona nas administrações dos bancos e outras instituições financeiras esteve na origem desta crise económica mundial.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Liliany Obando libertada!

Visitei-a em Julho de 2010, na cadeia Buen Pastor em Bogotá.
Uma líder sindical, obviamente uma mulher de fibra, forte, determinada, positiva, carismática, animando e organizando as outras presas políticas.
Reunimos com umas vinte, naquela prisão. Lembro-me que para as encorajar lhes falei da Zé Morgado e da Aurora Rodrigues, presas pela ditadura e hoje Procuradoras da República.
Não parei de escrever cartas e me associar a todo o tipo de iniciativas que pressionassem a libertação de Liliany e todas as outras e outros presos políticos colombianos.
Há dias Liliany foi finalmente libertada, por decisão judicial. E recebida entusiasticamente por familiares e amigos, que esperavam à porta da prisão.
Mas já assinei hoje outra carta para o Presidente Juan Manuel Santos: é que Liliany e a sua família correm agora perigo de vida, sob ameaça dos esquadrões da morte para-militares.
O governo e as autoridades colombianas têm a obrigação de a proteger. E de acabar com a impunidade de quem ameaça.

V - Day

Celebrei o 8 de Março este ano participando na representação no Parlamento Europeu da peça de teatro "Monólogos da Vagina", da escritora nortamericana Eve Ensler.
Com mais oito parlamentares dos principais grupos políticos.
Uma iniciativa integrada na campanha mundial para transformar o dia 14 de Fevereiro de 2013 no V-Day - um dia de mobilização global para acabar com todas as formas de violência contra as mulheres.
Foi um prazer. Ficou um laço fortíssimo entre todas nós, por cima do campo político. Para redobrarmos esforços na acção e na mobilização.
Junte-se a nós, no V-Day!

Líbia - estado federal?

Texto de declaração que ontem emiti, como relatora do PE para a Líbia, face a pulsões autonómicas e federalizantes assumidas pelas "forças vivas" de Benghazi:

"I understand the pride and the aspirations for autonomy of the people of Benghazi, who bravely rose and started the liberation of the Libyan people from the tyranny of Gaddafi. Therefore, one should listen to their call for an autonomous Cyrenaica region within a federal state. However, the nature of the Libyan state is a matter to be determined by the constituent assembly to be elected later in the year. This is the only way to have this matter settled democratically and peacefully, without jeopardising the unity of the state and the people of Libya. Libyans have already suffered enough from dictatorship and war."

Branco, bronco ou bronca?

O General Ramalho Eanes disse cristalinamente à Antena 1 o que até um bronco consegue perceber: que Portugal tem de definir "se quer" Forças Armadas e "para quê" e em função disso atribuir-lhes "recursos financeiros" adequados.
Com idêntica linearidade, o CEMGFA notou à saída de encontro com o Comandante Supremo das FA, o Presidente Cavaco Silva, que "o poder político" deve "dizer de uma vez por todas" que Forças Armadas deve o país ter e quais os recursos necessários para as missões que lhes atribuir.
Em cuidadoso equilibrismo, o General Luis Araújo referiu-se ainda às declarações do Ministro da Defesa, Aguiar Branco, que urgiu reformas estruturais, pois "tal como existem, as Forças Armadas não são sustentáveis". O CEMGFA interpretou: "Creio que na mente do ministro, quando referiu isso, queria referir que temos de ter mais dinheiro, temos de ter mais recursos financeiros sem aumentar a despesa para operação e manutenção. Esta é a minha interpretação. É nesse sentido de sustentabilidade que o ministro falou, julgo eu (...) Não numa visão economicista", acrescentou, explicando que as Forças Armadas não são empresa, não são para "ter lucros e ter prejuízos, não é nesse sentido".
Eu, por mim, que não me dou por bronca, percebo o que dizem os dois generais.
E não tenho a menor dúvida de que devemos ter Forças Armadas - e, logo, financiá-las adequadamente.
Por todas as ancestrais e modernas razões de segurança nacional, mas também e sobretudo pelo extraordinário trabalho que realizam como prestadoras de segurança global, nos quadros europeu, transatlântico, onusiano ou cepêelpista, logo como valioso instrumento de política externa.
E, na verdade, muito mais poderiam as nossas FA fazer, se fossem adequadamente equipadas, exercitadas e utilizadas. Logo, e para isso, devidamente financiadas.
O que exige, de facto, reformas estruturais para o Estado deixar de gastar no que é supérfluo, sumptuoso, duplicação, desperdício, despesismo ou pretexto para roubalheira nas FA.
Reformas estruturais são realmente urgentes nas FA, no ministério com a respectiva tutela política e técnica (incluindo a assessoria jurídica "outsourced") e no eficaz controlo parlamentar - e este, por ser há muito mentira, também explica que os contratos de aquisição de equipamentos militares, e respectivas contrapartidas, estejam formatados para assegurar ... a corrupção.
O ministro não é bronco, é Branco. Mas o registo em que tem actuado relativamente às FA, qual elefante em loja de porcelana, não auspicia a necessária barrela no sector que tutela. Antes semeia bronca.




quarta-feira, 7 de março de 2012

Um pouco mais de rigor, sff

O Diário de Notícias dá hoje guarida a uma nota segundo a qual eu teria "censurado" aplausos da audiência num colóquio do Parlamento Europeu sobre o ACTA (Acordo Comercial Antipirataria).
O DN não me pediu nenhum esclarecimento sobre o assunto. Se o tivesse feito (como devia), teria ficado a saber que, como responsável desse colóquio:
-- convidei especialistas independentes (nomeadamente académicos) para confrontar representantes da Comissão Europeia;
-- incluí entre eles vários conhecidos críticos do ACTA;
-- decidi abrir o colóquio ao público para permitir a participação de todos os interessados, sem excluir os "piratas" e seus apoiantes;
-- e dei a toda a gente a liberdade de colocar questões aos oradores (todas, aliás, foram respondidas).
Quanto aos aplausos (e também houve protestos), limitei-me a fazer observar a regra de que não havia lugar para manifestações -- e não houve nenhuma "polémica" sobre isso. Num colóquio desta natureza deve prevalecer a serenidade dos argumentos e das razões e não o ruído das mãos ou dos pés.
Duvido que em algum outro parlamento possa haver um debate mais livre, mais aberto ao contraditório e menos "descensurado" do que este, que aliás foi "webstreamed" ao vivo e se encontra disponível na internet (http://www.europarl.europa.eu/ep-live/PT/committees/video?event=20120301-1500-COMMITTEE-INTA&category=COMMITTEE&format=wmv).
Orgulho-me desta iniciativa do Parlamento Europeu e do modo como a conduzi. De resto, não recebi nenhuma queixa nem crítica, antes só aplausos e felicitações por uma e por outro.

Adenda
E já agora disponibilizo-me para esclarecer os leitores do DN sobre o sentido e o alcance do ACTA...

Manuela na maior, olimpicamente

Uma Dra. Manuela Ferreira Leite olímpica e surpreendentemente cordata e distendida, a que esteve esta noite na SIC-Notícias com Ana Lourenço.
Pela suavidade e destreza com que enterrou a faca afiada no peito de Passos Coelho e su Gaspar, remexendo-a num doce retalhar da política financista, seguidista e imprevidente.
Pelo relaxe "zen" com que constatou como o Governo se alarma agora diante dos números avassaladores e descontrolados da recessão e do desemprego que, inevitável e consabidamente, desencadeou, ingerindo sôfrega e acriticamente a mistela servida por Berlim.
Uma Manuela Ferreira Leite tranquila e benevolente, a lembrar que ninguém paga dívidas sem investir no crescimento, só com base em receitas recessivas punitivas.
E a sorrir, indulgente, da rapaziada armada em cosmopolita que corre a comprar qualquer amargosa compota germânica que lhe ponham à frente, como o "compacto" assinado em Bruxelas, na semana passada. O tal que nem para alemão ver vai servir - e Manuela, sereníssima, a notar que, no mesmo dia em que também assinou, "nuestro hermano" Rajoy tratou logo de o mandar às urtigas...
Uma Manuela Ferreira Leite hoje clarividente, a sublinhar como está tudo errado na sustentação do euro, se continuam a ignorar-se as divergências macro-económicas e a fazer-se vista grossa à selva fiscal. E a comprazer-se, sussurrante e gentilíssima, ao recordar como as sanções do PEC foram à vida, em 2004, mal a Alemanha passou a acompanhar Portugal a violar os 3% do défice...
Que é como quem diz, elegante e olimpicamente: "a meninos destes mudei eu muita fraldinha... "

segunda-feira, 5 de março de 2012

Independência

«Congresso dos magistrados do Ministério Público patrocinado por várias empresas [incluindo vários bancos]».
A ser verdade, é de pasmar! Que conceito é que o sindicato do MP tem da independência da função do MP? Não restará nestes sindicalistas judiciais um mínimo de sentido deontológico sobre a incompatibilidade entre a sua função e o financiamento alheio dos seus eventos sindicais? Não se deram conta de que se amanhã um dos seus generosos financiadores deixar de ser investigado ou acusado de alguma infracção penal que lhe seja assacada, tal pode lançar a dúvida sobre a sua isenção?
E o PGR e a Ministra da Justiça, não têm nada a dizer sobre o assunto!?

Cargos públicos e interesses privados

«Director do CEJ defende que magistrados devem declarar participação em associações secretas [e outras]».
Concordo, desde que essa obrigação abranja todos os titulares de cargos públicos (políticos, judiciais, militares, gestão pública), sob pena de discriminação. Ao contrário do que já vi defendido, uma tal obrigação não lesa a liberdade individual de associação, visto que cada um pode continuar a, ou vir a, pertencer à associação que quiser. O que já não me parece é que os titulares de cargos públicos tenham um direito ao segredo sobre as organizações colectivas a que pertençam, tanto mais que, por definição, todas as associações visam a defesa de interesses de grupo. Importa que os cidadãos saibam se tais interesses de grupo são susceptíveis de afectar a defesa do interesse geral, que por definição é o interesse público, que aos titulares de cargos públicos incumbe defender.
De resto, ninguém é obrigado a aceitar um cargo público nem a exercê-lo contra vontade. Por isso, a declaração de interesses é um ónus, uma contrapartida de um direito ou poder, e não uma obrigação em sentido estrito.

domingo, 4 de março de 2012

Ajuntamentos

«Louçã apela a "juntar de forças" na esquerda».
Eu espero bem que o PS não se deixe "juntar" às hostes de Louçã, que aliás ao longo de seis anos de governo do PS fizeram questão de se juntar sistematicamente ao PSD e ao CDS para fazer a vida negra ao Governo e no fim mesmo para o derrubar, abrindo o caminho do poder à direita.
Mais vale só do que mal ajuntado...

sábado, 3 de março de 2012

Não havia necessidade

Penso que o PS não faz bem em votar contra a lei da agregação das autarquias locais (na verdade, aliás, limitada às freguesias, o que reduz o seu impacto na racionalização da administração territorial e na poupança de recursos financeiros).
Independentemente das vantagens da redução de autarquias territoriais -- que há muito defendo (ver por exemplo aqui) --, trata-se  de um compromisso com a troika, que o PS subscreveu. Mesmo discordando da formulação concreta proposta pelo Governo, o PS não podia discordar do objectivo. A abstenção seria por isso a solução mais razoável, até por deixar margem para negociar a lei na especialidade. Optando pelo voto contra, deixou claro que não se quer associar à reforma.
Como disse um dia António Costa, o PS não é um partido de oposição, de protesto e "do contra", como o PCP e o BE. Mesmo quando temporarimente na oposição permanece um partido de governo. Por isso, deve definir as suas posições na oposição como se estivesse no Governo. Ora, se fosse governo, o PS poderia certamente fazer diferente nesta matéria, mas não poderia deixar de proceder a esta reforma.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Imperativo

Consistentemente com todas as suas anteriores decisões, o Conselho Europeu deste fim de semana veio reiterar que a consolidação orçamental, apesar dos seus temporários efeitos recessivos, é uma condição necessária de futura retoma do crescimento económico de uma forma sustentável. Não consta que tenha havido alguma discrepância nesta orientação.
Aliás, nos países sob programa de ajustamento orçamental, como Portugal, nem sequer existe alternativa, sob pena de perderem a acesso aos fundos disponibilizados pela União Europeia e pelo FMI. E noutros países com défice excessivo, como a Itália e a Espanha, também pouca margem de opção lhes resta, sob pena de deixarem de ter quem lhes empreste dinheiro em condições suportáveis.
Mesmo que não fosse uma virtude, a disciplina orçamental tornou-se um imperativo...

Equívoco presidencial

Em mensagem dirigida ao congresso do Ministério Público, Cavaco Silva pediu ao Governo para contribuir para o prestígio da magistratura.
Mas o Presidente equivoca-se. Cabe seguramente ao Governo assegurar a independência e os meios de acção de que Ministério Público carece para desempenhar a sua função. Mas o prestígio do Ministério Público depende muito pouco do Governo e muito mais do próprio MP, através da eficácia da sua acção e do conceito público que souber construir. A tentação mediática, a politização e o sindicalismo sectário não contribuem propriamente para isso...

Quem tem medo do BPN?

Em boa hora (finalmente...) o PS entendeu determinar um inquérito parlamentar ao descalabro BPN.
O PSD estrebucha: lá sabe do que tem medo que se descubra sobre o opacíssimo processo de privatização.
Mas porque carga de água é que o PS, pelo seu lado, procuraria confinar o inquérito ao processo de privatização e isentaria de investigação o duvidoso processo da nacionalização?
Quem tal defende, de que tem medo?

Uma Cimeira sem stress

Uma Cimeira Europeia "sem stress", anunciaram.
O ministro das finanças alemão leva o "sudoku" na pasta, para se entreter durante as longas horas fechado no Justus Lipsius. Dona Merkel poderá rapar das agulhas de crochet e acabar o naperon para ajudar à campanha do "son ami" Sarkozy. Este, chupadinho pelo frenezim eleitoral, pensa até tirar uma soneca para voltar à estrada de peito feito contras as vaias populares que os malandros dos socialistas encomendaram. Finlandeses, holandeses e suecos e outros do norte matarão o tempo a escrutinar balancetes gregos. Os de leste deliciar-se-ão a ouvir o Cameron desfiar anedotas da City. Os do sul fazem capelinha à parte, em redor de Monti, que dá as tácticas de como driblar teutónicos quadrados na arena do mercado interno. Os irlandeses não perdem pitada, ostensivamente. Passos Coelho e Gaspar, obsequiosos, interessam-se pelos lavores de Dona Merkel, mas esticam as orelhas para apanhar alguma coisinha do que perora Monti: o descalabro estatístico dos últimos dias até aquelas fleumáticas almas começa a alarmar.... Barroso e Van Rompuy, anfitriões solícitos, servem capilés e chavetas de opções de como fazer omeletes de crescimento e emprego sem desbundar ovos ao Bundesbank.
Uma cimeira "sem stress", claro.
Como se a economia europeia não estivesse a arder em recessão e desemprego... como se os europeus não estivessem furibundos com os líderes da treta que elegeram... como se a austeridade cega, estúpida e neoliberal não estivesse a destroçar a UE!