Em Addis Ababa, o Governo desencadeou uma feroz campanha contra mim, a Missão de Observação Eleitoral Europeia e a UE, por causa do relatório que ali apresentei em 25 de Agosto explicando porque é que, apesar do povo mostrar querer e estar preparado para a democracia, as eleições não podiam considerar-se à altura dos padrões internacionais, designadamente devido à opacidade da contagem e ao contexto de repressão violenta e outras violações de direitos humanos.
O PM Meles Zenawi, himself, deu-se ao trabalho de escrever em inglês uma carta de 14 páginas (!...), publicadas em três edições sucessivas do jornal oficioso, o «Ethiopian Herald», a desancar-nos. A carta em si é um mimo - diz tudo sobre o PM e o regime!
«Obliging», os escribas do partido no poder esmifram-se agora a denegrir-me pessoalmente. A última que inventaram é que eu sou racista, com raízes no...salazarismo. Não sabem o que me divertem. E como me sensibilizam as manifestações de repúdio desses ataques que estou a receber em catadupa de etíopes desconhecidos, via e-mail e via os diversos sites etíopes que fogem ao controlo governamental.
E hoje senti-me especialmente compensada por ter de suportar a má-criação de um autocrata de cabeça perdida: num táxi entre o aeroporto de Washington e a cidade, o motorista etíope (há cerca de 100.000 em Washington, diz-se que amahric é a segunda língua in town) pergunta-me de onde venho, onde trabalho. Quando ouve mencionar o Parlamento Europeu, pergunta-me se eu conheço uma Ana Gomes. O resto da viagem passa-se com ele a telefonar a amigos e os amigos a quererem falar-me, todos a agradecer o papel da UE nas eleições e a sublinhar a ânsia do povo por democracia. No final, tive um trabalhão para fazer o motorista aceitar o pagamento da corrida.