terça-feira, 2 de setembro de 2008

A lasca do Alasca

Para abafar o triunfo de Obama e dos democratas no Estádio de Denver, a campanha republicana planeou para a manhã seguinte o anúncio ribombante da escolha de John McCain para a candidatura à Vice-Presidência (mas enquanto a organização democrata fora impecável até nos horários, os republicanos obrigaram os repórteres a “encher chouriço” durante duas horas, até que a sessão começasse...).
Sarah Palin, a lasca do Alasca, estonteou, de facto, toda a gente!
Não necessariamente pelas mais auspiciosas razões.
Claro que é gira e, à primeira vista, desinvolta frente a câmaras e microfones.
Claro que diz estar ali para quebrar os tectos de vidro que Hillary fez estalar (ou, como se gabava um comentador reaças da FOX News, “hey! we are the ones who come up with the babe afterall!”).
Claro que invoca pergaminhos na luta contra a corrupção e contra tubarões do seu próprio partido.
Mas o grnde «handicap» de Sarah Palin é que, mais do que ninguém a conhecer nos EUA, ninguém lhe reconhece competência e experiência para ser Vice-Presidente (“será capaz de apontar o Irão no mapa?” perguntava um reporter na TV). Ainda por cima tratando-se da possível substituta na Casa Branca do mais velho candidato presidencial de sempre - 72 anos, cumpriu McCain nesse dia - e com longo historial de fintas ao cancro.
Todos os motoristas de táxi, empregados de restaurante, lojistas e outros americanos com que troquei palavras nessa sexta-feira, simpatizantes de democratas ou republicanos, se afirmaram perplexos e inquietos com a escolha de Mc Cain.
Devo dizer que eu não fiquei especialmente preocupada.
Antes de mais Sarah Palin destruia duas das mais viciosas linhas de ataque de McCain a Obama: a acusação de que não tinha experiência para o cargo (e a da piquena?) e de que só tinha a substância das "celebrities" (e qual é a "gravitas" da Governadora do Alasca capa da Vogue?).
Cheirou-me logo que a "babe" do Alasca ia sair pela culatra aos republicanos:
- o mulherio que votou Hillary Clinton jamais se deixará seduzir por uma dama que está nos seus antípodas ideológicos, sendo obscenamente pró-armas e anti-aborto (a exibição da criancinha com sindroma Down “sucks”); quando muito McCain sacaria mais votos no “bible belt” que lhe resistia por o achar “too liberal”....
- o potencial para esturro adivinhava-se no facto de McCain não conhecer realmente a “babe”, só a tendo encontrado uma única vez antes de a meter no “ticket”; no esfusiamento mediático de Sarah Palin (devo confessar que até achei piada à energia, lata e “guts” que exibiu na sessão de apresentação); para além da história da investigação que já tinha às costas, por suspeitas de pressões para despedir de um emprego estatal um ex-cunhado.
Hoje rebentou a cena da filha adolescente grávida que a futura vóvó Sarah e o marido querem casar apressadamente – cena que deve arrepiar o pelo aos mais reaccionários dos apoiantes de McCain e está já a render um “field day” aos insaciáveis media (apesar de Obama ter condenado quaisquer aproveitamentos).
Cheira-me que ainda não assistimos a nada na avalanche soterradora que o derretimento de John McCain pela lasca do Alasca promete ao Partido Republicano.