O discurso anti-latino, manhosamente alimentado pelos cientistas históricos norte-americanos, é música celestial para os ouvidos dos habitantes das ex-colónias portuguesas e espanholas. Definitivamente, não somos influência de que as nossas ex-colónias se gabem. Longe disso. Os brasileiros têm horror às suas origens lusitanas e davam tudo para poderem exibir antepassados exclusivamente holandeses, italianos, libaneses ou japoneses. Os argentinos e os chilenos só evocam as influências alemã e transalpina, omitindo Castela. Os nossos queridos Palop não escondem a sua animosidade para connosco, ainda que se mantenham adeptos dos clubes portugueses e se movimentem em Lisboa como em nenhuma outra capital do hemisfério norte. Toda a nomenclatura moçambicana detesta a lusofonia, a angolana só se exprime em petrodólares, a guineense suspira em francês, enquanto a cabo-verdeana vai exprimindo o ressentimento colonial através de declarações rudes de alguns dos seus ícones artísticos (como Cesária Évora e outros). Não tenho dúvidas de que o melhor presente de Natal para Cesária seria um pergaminho de ascendência gaulesa. Devemos ficar tristes? Nem um pouco. Os franceses, que têm uma propensão natural para aturar os indigentes, bem podem amanhar-se com as grosserias da diva.
Luís Nazaré