Num jantar em casa de amigos brasileiros, a residir temporariamente em Portugal, fiquei estupefacta com esta revelação: a maior surpresa que tinham tido quando há dois anos aqui desembarcaram foi o excesso de futebol no nosso quotidiano. Tendo em mente o relevo do futebol no Brasil, até pensei que não tinha ouvido bem. Pedi que repetissem. Era isso mesmo. Confirmado. Adivinhando a razão do meu espanto, explicaram-me:
“Os brasileiros entusiasmam-se até mais do que vocês, mas com um jogo, um campeonato. No final, desligam, vão à vida. Aqui é o que conta no dia do jogo, no dia seguinte, todos os dias. São os jornais que se vendem. É a obsessiva presença na televisão. É o peso que tem na vida política. É o que se discute no café, em casa, no autocarro, na escola, onde quer que seja. É o tema sobre o qual mais pessoas têm mais informação. É aquilo que mais vos mobiliza, vos apaixona, a toda a hora, sempre. Dir-se-ia que o futebol é a única causa verdadeiramente nacional em Portugal”.
Ontem, ao ouvir o relevo dado a umas declarações de Pinto da Costa ao vivo (sem Bobby e sem Tareco), repetidamente pré-anunciadas com um chamativo «Ao Ataque» no noticiário principal da RTP 1, “a televisão de serviço público”, lembrei-me desta história. Sabe-se lá porquê!
Maria Manuel Leitão Marques