A propósito do Afeganistão no Conselho de Segurança da ONU durante o mandato de Portugal em 1997/98, dois apontamentos retrospectivos:
1) - um dia a Comissária da UE Ema Bonino foi presa por umas horas em Kabul; a delegação portuguesa protestou no CS, chamando a atenção para as tremendas violações dos direitos humanos, das mulheres em particular, que estavam a ser cometidas pelo regime taliban; o representante americano de serviço, Karl Indefurth (antigo jornalista, ligado a Clinton, ainda há dias me assustei ao vê-lo, proeminente, na campanha anti-Bush), tratou de silenciar o debate, enfadado com questões menores e inconvenientes….
2) -o regime taliban tinha um representante 'oficial' em Nova Iorque, com escritório com tabuleta em Queens, que vinha amiúde à ONU, pela mão do embaixador paquistanês, fazer lobby junto das delegações no CS para as convencer a entregar-lhe o lugar do Afeganistão na ONU, ainda nas mãos de um pobre diabo que representava o governo de Rabanni…
Dois episódios que seriam anedóticos, se o 11 de Setembro entretanto não tivesse vindo exibir a tragédia que encerravam. E que ilustram como governantes e agentes políticos americanos, republicanos ou democratas tanto dá, podem ser fatalmente 'apolíticos' e ingénuos. Depois queixam-se dos serviços secretos…
Ana Gomes