Assisto a uma entrevista de um jornalista de vinte e tal anos que acaba de publicar o seu primeiro romance depois de passar uns meses em Nova Iorque. Notável: em apenas 25 minutos conseguiu deixar pérolas como: "Não devo nada a Portugal e Portugal não me deve nada"; "Respondo sempre a quem me escreve mails porque o Lobo Antunes escreveu uma carta ao Céline quando tinha 15 anos e o Céline respondeu" ou - e esta tocou-me fundo - "Não fui para os Estados Unidos escrever um livro. Fui porque tinham-se-me esgotado os desafios no jornalismo em Portugal".
Ora já estava na altura de alguém dizer isto. Estou totalmente solidário com o rapaz. Em primeiro lugar porque consigo perceber que seja mais aliciante servir à mesa em Nova Iorque do que reunir à mesa com o João Gobern; e, em segundo lugar, porque o nosso neo-romancista tocou numa ferida profunda. Portugal tende, de facto, a esgotar os desafios que tem para as suas mentes criativas. Sobretudo no caso daquelas que ninguém faz ideia quem são.