Por alguma razão os círculos da extrema-direita religiosa concebem regularmente os seus inimigos como comedores de criancinhas. Antes os alvos eram os comunistas, hoje são os defensores da legalização do aborto. Para quem duvide basta ver o ignóbil panfleto promovido por uma organização antidespenalização dirigida por um padre católico, que foi distribuído às crianças (isso mesmo, às crianças!) de vários escolas, não se sabe com que autorização.
Alguns excertos exemplares: «a criança [sic!] vai sendo torturada, desmembrada, desarticulada, esmagada e destruída pelos insensíveis instrumentos de aço do abortista»; «(...) no hospital de Taiwan até se compram bebés mortos a 50/70 dólares para churrasco!!!» (passagem esta ilustrada com a imagem de um pretenso feto num prato e de uma personagem oriental, com talheres na mão, preparando-se para a refeição!...). Tal como em todas as cruzadas mais odientas também esta não hesita no recurso à mais abjecta falsificação obscurantista.
Vai esta aleivosia terrorista contra a integridade psicológica das crianças ficar impune pelo Ministério da Educação? E vai a Igreja Católica coonestar estas barbaridades criminosas, limitando-se, quando muito, a manifestar a sua discordância quanto ao teor do panfleto? Será isto uma amostra da campanha de "esclarecimento" dos grupos “pró-vida” no futuro referendo sobre a despenalização? Estamos mesmo na Europa no sec. XXI? Vale tudo?
Vital Moreira