sábado, 29 de maio de 2004

"Spa" com chocolate


Podemos ser muito, pouco ou nada críticos da economia de mercado e da sociedade de consumo que a ela se associa, mas não podemos negar o seu carácter permanentemente inventivo. Um dos efeitos perversos da vida urbana contemporânea e da vida profissional competitiva é o stress. É cada vez mais frequente serem-lhe atribuídas consequências nefastas, incluindo as mais mortíferas doenças disponíveis no cardápio. Isso deveria chegar para modificar organizações, ritmos e tempos de trabalho, enfim, estilos de vida. Mas tal mudança é simplesmente impossível. O estilo "stressante" faz parte da estrutura do modelo e, por isso, não pode ser significativamente alterado. Há que portanto procurar outras soluções e de preferência transformá-las numa nova área de negócio. Assim, nade se perde e o stress, de desperdício, transforma-se em resultados.
Foi assim que o mercado dos "spas" se tornou mais competitivo e viu crescer enormemente o seu volume de negócios, como relatava o Financial Times esta semana. O elemento exótico e desconhecido faz sempre parte da receita: o gan-coa rejuvenesce e retira os metais pesados do rosto, o huang qi significa energia dourada, etc., etc. E os produtos e os métodos são os mais surpreendentes: desde as massagens com ervas chinesas ao banho em chocolate brasileiro, a mais recente atracção de alguns "spas" americanos.
Por mim preferia uma solução mais radical, mas, não podendo ser, já me estou a interrogar sobre o que farei com a caixa de chocolates que comprei no supermercado! Guardo-a na despensa ou levo-a para a casa de banho?

Maria Manuel Leitão Marques