segunda-feira, 28 de junho de 2004

"Alicamentos"

1. Um casamento de sucesso
O mercado dos "alicamentos" -- alimentos que pretendem conservar o seu gosto próprio e ser, ao mesmo tempo, medicamentos -- tem crescido de uma forma vertiginosa, a uma taxa de cerca de 10% ao ano (contra 1 a 2% dos alimentos tradicionais). Se nos passearmos em qualquer supermercado, não será difícil reconhecer esta tendência: dos iogurtes probióticos aos leites enriquecidos (cálcio, magnésio, ómega 3, etc), passando pelas bolachas, pelo pão e outros produtos de grande consumo, tudo lá se encontra à nossa disposição. As razões para tal crescimento são diversas: desde o envelhecimento da população até à insegurança alimentar. Como afirmava B. Kitous, investigador do CNRS em França, o consumidor desconfia dos alimentos clássicos e procura nesta junção a garantia de uma segurança perdida.

2. Muito mais alimentos do que medicamentos
Mas se até ao momento ninguém havia posto em causa os benefícios para a saúde dos ditos alicamentos, o tempo da confiança acrítica parece ter terminado. Um estudo recente da Agência francesa de segurança sanitária dos alimentos, incidindo precisamente sobre uma das marcas mais conhecidas de iogurtes probióticos, veio argumentar que os resultados disponíveis não permitem demonstrar todos os efeitos alegados na sua publicidade; que a quantidade recomendada de ingestão diária é muito inferior àquela que é utilizada nos testes clínicos; e que os efeitos benéficos cessam muito depressa após se ter parado o consumo do produto. Mesmo que ele não seja prejudicial à saúde, está longe de ser muito diferente de um iogurte normal. Mais transparência e veracidade da informação com que são comercializados os supostos alicamentos são assim indispensáveis. E quanto às nossas maleitas, por ora, resta a farmácia.