Não creio que haja alguma vantagem, ou sequer legitimidade, em estender a noção de fascismo de tal modo que certos fenómenos sociais correntes, como as telenovelas, possam ser vistas como expressão dele, como faz Jorge Leitão Ramos no seu artigo no Expresso On-line.
Como categoria histórica, política e cultural, o fascismo representa um modo de domínio político e de enquadramento autoritário da sociedade, fundado na aniquilação da liberdade e da autonomia individual, na subjugação da colectividade a entidades transcendentes (Nação, Raça, Império, etc.), na exaltação e mobilização demagógica das massas com base em emoções e sentimentos elementares, no controlo estatal do espaço público, na negação da autonomia e diversidade da sociedade civil, na glorificação e fidelidade a chefes providenciais, no cancelamento da liberdade e da pluralidade artística e cultural, na execração da razão e dos intelectuais, no culto da força e da autoridade, enfim, numa cultura anti-individualista, antiliberal e antidemocrática, nacionalista, xenófoba e tendencialmente racista.
Por mais que as telenovelas representem um fenómeno de alienação e de "normalização" de massas, não me parece que elas preencham os traços definidores da síndrome fascista. A banalização esvazia e degrada o sentido dos conceitos.