1. E se este fosse o seu primeiro mandato, teria o Presidente da República decidido do mesmo modo?
Lá no fundo, bem no fundo, quero crer que sim. Um aval à coerência do Presidente, esta minha convicção. Gostaria de não me enganar.
2. E se assim fosse, ter-lhe-ia essa decisão custado um segundo mandato?
Se as eleições fossem disputadas como em 1996, admito bem que sim. Estes dias em que se arrastou a decisão criaram em muitos dos eleitores do Presidente a ideia que havia tão bons argumentos para um lado como para o outro; que era uma mera questão de escolha a favor de A ou favor de B; que a estabilidade tanto seria conseguida com esta, como com a outra decisão; que para a economia era irrelevante (como disseram diversas autoridades na matéria). Talvez as coisas nunca tenham sido bem assim, mas foi o que deixaram que parecessem. Agora, mesmo quando a razão tenta compreender a decisão, a ferida abre-se no coração de muitos, indelével, provavelmente.
3. E se invertêssemos o cenário? Teria um Presidente à direita decidido de outro modo, supondo a existência de uma coligação de esquerda maioritária na Assembleia e a direita em minoria, mas pronta para ganhar as eleições?
Creio que sim. A prova é outra vez impossível de fazer. Mas ao longo da vida já vi este filme várias vezes. Desde os professores de esquerda, na Faculdade, que eram mais exigentes para os alunos de esquerda com temor de serem acusados de os favorecer (sendo que o oposto nunca se passava), até aos Governos de esquerda que enchem de encomendas os consultores à direita, mesmo quando existem melhores ou iguais à esquerda, só para mostrar como são abertos e pluralistas. Chama-se a isto o "complexo de esquerda". A direita não tem complexos desses!