Como toda a gente, fiquei triste por não termos sido campeões da Europa, até porque confiava que aquele início desastrado contra a Grécia nos levaria a aprender a lição e tirar conclusões para a final. Havia mesmo um elemento de superstição complementar: quem perde no princípio ganha no fim. E não é suposto, apesar das provas em contrário, que a história se repita duas vezes.
Mas o fado (esse fado mediterrânico que deveria funcionar a nosso favor, numa inédita coincidência circular a nível futebolístico) foi linear, repetitivo. Os gregos resgataram-se da sua secular vocação da tragédia e os portugueses morderam, novamente, o velho pó da sua melancolia.
Depois da onda crescente de euforia que nos transportou até ao jogo decisivo, confiantes no engenho de Scolari e no talento dos nossos jogadores, acabámos outra vez traídos por essa mistura fatal de auto-confiança e ansiedade mórbida que o calculismo greco-germânico aproveitou em pleno. Mas, para consolação nossa, sempre poderemos dizer que há males que vêm por bem.
O Euro 2004 tornara-se uma nuvem de fumo que servira para ocultar a fuga de Durão Barroso para a Europa. A partir de ontem, voltámos a cair «na real» e acordámos da ilusão que o futebol tece. Apesar da gravata às riscas verde-rubras do primeiro-ministro cessante, tornou-se claro que ele queria mesmo escapar de um clássico destino trágico à grega (mas, de facto, à portuguesa). Agora, a evidência está à mostra. Fatalidades mediterrânicas...
Vicente Jorge Silva