Segui pela SIC-Notícias o discurso de candidatura de José Sócrates a secretário-geral do PS. Foi um discurso arguto e abrangente, tão abrangente que eu não teria qualquer dificuldade de subscrever na maioria dos pontos. Especialmente aqueles que se referiam à necessidade imperiosa de renovação do PS, de abertura à sociedade e de regresso ao espírito dos Estados Gerais (pontos onde Ferro, muito por culpa própria, fracassou).
Durante o discurso, essas passagens foram sublinhadas por aplausos muito vivos de uma plateia que a câmara (imóvel) da SIC não mostrava. Só no fim se quebrou o suspense e nos foram revelados rostos entusiastas da renovação prometida. Estava lá a fina flor do aparelho do PS, nomeadamente das federações distritais que tão bem conhecemos e cuja paixão pelas propostas renovadoras se tornou célebre. E pairava no ar aquele clima unanimista e inconfundível da velha corte pressurosa em prestar vassalagem ao novo príncipe.
Espero para ver como Sócrates irá ultrapassar a quadratura do círculo. Sobretudo depois dos meses a fio que ele levou a recrutar apoios para a sua candidatura entre o que o PS tem de mais velho, mais gasto, mais clientelista e menos renovável. Construir o novo com o velho releva do milagre. Mas Sócrates chama-se Sócrates. Quem sabe se esta coincidência auspiciosa não nos reserva um prodigioso milagre?
Vicente Jorge Silva