quarta-feira, 7 de julho de 2004

Sofia e Marlon, o sol e a lua

Há tempos a esta parte (não sei exactamente dizer quando) evito escrever sobre mortes, sobre mortos, especialmente os que me são mais queridos. Por isso não escrevi sobre Marlon Brando e Sophia de Mello Breyner, mortos no mesmo dia, ele aos oitenta anos, ela aos oitenta e quatro. Mas li no Causa Nossa belos posts sobre eles, sobretudo o que o Jorge Wemans escreveu sobre Sophia. Bastaria isso para resgatar o meu silêncio que, todavia, me ficou atravessado como um remorso. Que espantoso casal, esse, desaparecido num mesmo dia. Ela que aspirava à luz, ao mar, ao sol, à manhã, trespassada pela sua vertigem helénica, mediterrânica. Ele mergulhado na sombra, na noite, na ambiguidade crepuscular das suas personagens sobre as quais pairava uma lua negra e densa de presságios. Talvez um fantasma os unisse a ambos, não saberei dizer porquê: o de Camus.
V.J.S.