quarta-feira, 29 de dezembro de 2004

Prioridade I: Apoiar os portugueses afectados

Prioridade I: apoio aos nossos compatriotas apanhados no horror do tsunami asiático. Os dramas dos vivos e dos mortos ainda mal se começaram a saber, já nos parte o coração a dor da mãe a quem a onda roubou dos braços a bébé.
A maioria dos portugueses veranevam na Tailândia. Para lá confluem os repórteres dos media nacionais, incluindo uns cujos dotes reporteiros conheço de gingeira... Compensa sempre mediaticamente atirar sobre a embaixada - ninguém se interessa é pelos meios (humanos, materiais e logísticos) que ela terá à partida ao seu dispôr para acorrer a qualquer emergência, sem falar numa catástrofe destas dimensões, e sobretudo quando ocorre num local distante... Meios que não passam, necessariamente, pela presença do embaixador, por muito útil que possa ser até para alimentar informativamente os repórteres. Meios cuja gritante falta é geralmente suprida pela dedicação, carolice, engenho, imaginação e solidariedade extenuada dos funcionários na linha da frente, seja na embaixada, seja nas células de crise montadas no MNE. Desunhando-se para localizar turistas que quando chegam, naturalmente, não avisam as embaixadas dos hoteis onde vão ficar, das praias onde vão passear...
Vêm-me à cabeça as condições que tivemos para intervir na Indonésia, sempre que houve crises em Timor-Leste e em Timor-Ocidental, nos anos de 1999 e 2000. E em 2002, no horror do atentado de Bali. Basta dizer que parti para Jacarta em Janeiro de 1999 com três meses adiantados de ajudas de custo no bolso, sem fundos para funcionamento dos serviços e sem qualquer fundo para uma emergência, que só no auge da crise de Setembro de 1999 foi disponibilizado (depois do embaixador da Holanda me emprestar dinheiro para pagar - adiantado - o avião que evacuou os jornalistas portugueses atacados no famigerado Hotel Makhota). Mas os problemas nunca são apenas financeiros - são sobretudo de falta de meios humanos qualificados (designadamente na comunicação em língua local) e apoio logístico, em especial se a tragédia ocorre em zonas distantes da capital onde temos embaixada ou serviços consulares.
Todas as atenções dos nossos media estão centradas na Tailândia, compreensivelmente. Mas não haverá portugueses noutros países apanhados pela tragédia? Ninguém se questiona sobre o apoio de que necessitam, se lhes estará a ser prestado pelas embaixadas onde as tenhamos, se estas terão meios para actuar? Se lhes estão a valer outras embaixadas da UE?

Ana Gomes