Há alturas em que vale a pena contrariar o senso comum, quando ele se afasta dos resultados de uma observação mais cuidadosa. É uma tarefa muitas vezes destinada ao fracasso. Mesmo assim, é isso que temos feito sempre nos cruzamos com um discurso de excessiva dramatização do endividamento das famílias, do género: «os portugueses estão todos insolventes; carregados de dívidas que não pagam; enlouquecidos pelo consumo supérfluo».
No outro dia numa reportagem da RTP-N lá fiz mais uma vez o meu papel. Que não é verdade. A maioria até paga. Apesar disso, é preciso educação financeira, etc., etc.
Mas desta vez senti-me compensada. Hoje, ao sair da Faculdade, cruzei-me com a funcionária que aufere o ordenado mais baixo (pouco mais de 500 euros). É mãe solteira e paga um crédito mensal por uma casa que adquiriu há uns tempos. Tinha ouvido a reportagem e veio agradecer-me. Ao princípio nem entendi bem porquê. Mas ela explicou-me. Sempre pagou pontualmente a «a renda ao banco» no dia 21 de cada mês. Fá-lo com muito esforço e passa por dificuldades. Não suporta, por isso, que andem sempre «a deitar abaixo os portugueses». Nem eu.