sábado, 12 de agosto de 2006

Bemba ou Kabila:venha o diabo e escolha...



O espaço de paredes esburacadas era uma sala de aula, em Dima, Kinshasa I.
O cansaço era imenso e dificultava a concentração. A luz do único candeeiro a petróleo mal dava para ver. Os boletins de voto eram desmesurados, difíceis de manusear. A fome e sede apertavam. Um rato escapuliu-se, à tangente pelos meus pés. Mas por volta da meia-noite, eles conseguiram afixar à porta os resultados apurados. O número de votos nulos ou inválidos foi extraordinariamente reduzido - 7 em 170 - mostrando que os votantes sabiam votar, como assinalar as suas escolhas. Nas presidenciais, Bemba saca 107, a grande distância de Kabila, só com 21, logo seguido de Kashala com 18.
É só uma mesa de voto. Em Kinshasa, outrora "Kin-la Belle", hoje referida pelos seus habitantes como "Kin-la Poubelle".
Mas uma mesa de voto que, confirmei depois, reflectiria a escolha da capital congolesa. E, tudo indicava, a das provincias do norte, centrais e do oeste.
Uma escolha diferente, antecipava-se, das zonas a leste e sul, incluindo o Katanga - onde a população deste país (do tamanho de toda a Europa Ocidental) é mais numerosa. Onde se previa que Kabila vencesse em proporção semelhante à de Bemba em Kinshasa. E onde as fraudes também seriam mais fáceis...
Kabila e Bemba - coitados dos congoleses! Como disse a espantosa Eve Bazaiza, candidata nº256 por Kinshasa ao parlamento: "Que venha o diabo e escolha: ambos são chefes de guerra, ambos mantêm milícias armadas. Nenhum vai tolerar não ganhar. Nenhum vai tolerar sequer não passar à primeira volta. O risco de qualquer um provocar a violência é real".
O povo votou ordeiramente, com seriedade. Não é aceitável que tudo seja deitado a perder, por quem quer que seja. Está lá a MONUC. Está lá a EUFOR. Que não lhes doa a mão, se for preciso intervir contra quem queira perturbar o processo. Para não falhar aos congoleses que, ao votarem assim, mostraram não apenas precisar, mas realmente querer, paz e governação democrática.