Na guerra que lançou contra o Líbano, Israel aplicou a mesma política que desde há anos prossegue contra os palestinianos: flagelar as populações e destruir infra-estruturas para forçar as autoridades políticas (num caso a Autoridade Palestiniana, noutro caso o governo Libanês) a isolar e lutar contra os movimentos radicais.
Como mostrou ontem um jornalista israelita, Charles Enderlin, num artigo do Le Monde, o resultado não foi propriamente brilhante, antes contraproducente. Na Palestina, levou à radicalização popular e à vitória eleitoral do Hamas; no Líbano, a inesperada resistência do movimento radical chiita durante mais de um mês de ofensiva israelita só fez aumentar a sua popularidade e a solidariedade com ele, tanto no País como no mundo árabe. Em vez de isolar e aniquilar o adversário, como pretendia (calcula-se que a força militar do Hezbollah se mantém muito forte), o ataque israelita só lhe conferiu maior legimidade e autoridade política.
Para tornar as coisas ainda mais comprometedoras para Israel, o acordo de cessar fogo nem sequer passa pela libertação dos soldados israelitas capturados pelo Hezbollah -- que foram o pretexto da guerra--, que Israel terá de negociar com o inimigo, seguramente a troco da libertação de membros do movimento chiita detidos por Israel.