terça-feira, 27 de novembro de 2007

Durão Barroso e o Iraque (I)


A entrevista que Durão Barroso recentemente deu ao DN e à TSF, publicada no dia 18, merece ser dissecada, sobretudo quanto à tentativa de limpar o seu nome em relação ao fiasco iraquiano.
Primeira tese: 'Fui uma vítima de uma conspiração da CIA, do MI-6, e do SIEDM!'
Durão Barroso diz: "houve informações que me foram dadas ... que não correspondiam à verdade".
Primeiro, apresentar o processo de tomada de decisão que levou à invasão do Iraque como mero reflexo da intelligence disponível na altura, significa reduzir o papel do político a mero autómato, escravo dos serviços de segurança. Se o Presidente Kennedy tivesse seguido esta lógica durante a crise dos mísseis de 62 - em que os seus conselheiros defendiam (com a excepção do irmão Bobby) o bombardeamento de Cuba - a Guerra Fria teria sido no mínimo morna. Mas Kennedy tinha cabeça para pensar. Os serviços de informação servem para informar as decisões dos políticos - não para as substituir.
Segundo, um bocadinho de senso comum ajudou muita gente, na altura, a duvidar da objectividade das informações a que Durão Barroso alude. Até porque só a ânsia belicista podia explicar porque é que um regime sinistro que tinha sido aliado e até ajudado a armar, e depois da invasão do Kuweit 'contido' (“in a box”, segundo Madeleine Albright), de repente se transformara na maior ameaça à paz a nível planetário.
Terceiro, e se o Iraque tivesse mesmo ADM? Porque é que atacar um país supostamente armado até aos dentes de ADM, com a capacidade de atingir Londres "num espaço de 45 minutos", foi o método escolhido? Alguém já pensou em atacar a Coreia do Norte desde que o regime assumiu ter bombas nucleares?
Recordo que, na altura, eu várias vezes admiti que o Iraque ainda pudesse ter algum programa nuclear secreto, tendo presente o que os inspectores da ONU haviam desmantelado no início dos anos 90 e o jogo de gato-e-rato com o Conselho de Segurança em que se comprazia Saddam (podia ou não ser táctica dissuassória de quem tem tabuleta à porta a avisar “cuidado com o cão”, sem ter cão). Mas se realmente existissem instalações nucleares encobertas no Iraque um bombardeamento, cirúrgico ou às cegas, não poderia deixar às costas da "coligação" umas mini-Hiroximas?
Só engoliu a patranha quem quis engolir. Barroso não foi vítima, foi algoz.