José Manuel Durão Barroso será certamente re-eleito como Presidente da Comissão Europeia, hoje, no Parlamento Europeu, mas não com o meu voto a favor.
Em 2004 votei contra a eleição do Dr. Barroso para Presidente da Comissão Europeia por entender que ele não poderia ser um líder bom e forte para a governação da Europa, não tendo sido bom na governação de Portugal e acabando de perder estrondosamente eleições.
Cinco anos depois, este meu entendimento só se reforçou - a direcção do Dr. Barroso à frente da Comissão Europeia não promoveu a Europa da igualdade, justiça, direitos humanos e progresso social e económico, só a tornou mais refém dos interesses de alguns e da ideologia neo-liberal que desencadeou a crise financeira e económica global.
Esclareço que determinei o meu sentido de voto hoje tendo em atenção a posição de abstenção, democraticamente decidida no Grupo dos Socialistas e Democratas Europeus, em que se integram os socialistas portugueses. E, ainda, tendo consciência de que, independentemente da avaliação negativa que faço sobre o Dr. Barroso, o facto de haver um português à frente da Comissão tem repercussões positivas na cotação e empregabilidade dos portugueses nas instituições europeias.
Recuso totalmente acusações de falta de patriotismo por não apoiar o português Barroso - o melhor presidente da Comissão Europeia, e o que mais beneficiou Portugal, foi até hoje o francês Jacques Delors.
Há 30 anos que sirvo com lealdade o Estado português e em funções diplomáticas fui repetidamente chamada a interpretar o interesse nacional, sem hesitar em arriscar a vida por sentido do dever patriótico. Não aceito, por isso, lições de patriotismo de ninguém e muito menos de representantes da direita portuguesa. Recordo, aliás, que os representantes da direita portuguesa votaram contra a eleição do Dr. Mário Soares como Presidente do Parlamento Europeu em 1999.
Assumo a diferença relativamente ao sentido de voto de outros socialistas portugueses, com o orgulho de pertencer a um partido pluralista, o partido da liberdade em Portugal - o PS - que respeita a liberdade de consciência dos seus membros, como reafirmou o Secretário Geral José Sócrates há meses, justamente a propósito da reeleição do Dr. Barroso. Um partido felizmente contrastante com o PSD, onde a incapacidade de conviver com a diferença e a asfixia democrática levam até ao afastamento das listas para deputados dos rivais da sua líder.