quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Portugal e a Libia

Uma delegação de empresários líbios foi recebida pelo MNE Paulo Portas e as declarações reproduzidas na imprensa foram, de parte a parte, de amanhãs cantantes.
Interessante, sem dúvida.
Eu venho dizendo (e escrevendo) que a nova Libia, liberta de Khadaffy, poderá oferecer boas oportunidades económicas a empresas portuguesas. E também por isso (obviamente, além do palmares de terrorismo e violações de direitos humanos do regime) urgi o anterior governo a largar o seu "amigo" Khadaffy e a iniciar contactos com o Conselho Nacional de Transição. E até sugeri que se aproveitasse nesse sentido o nosso embaixador (entretanto retirado de Tripoli por razões de segurança). O embaixador não foi, mas ao menos Luis Amado mandou entretanto a Benghazi um outro alto funcionário diplomático.
Estranho é que até hoje não haja informação transparente sobre os bens libios que Portugal devia ter congelado para oportunamente entregar aos novos representantes do Estado libio, em conformidade com decisões do Conselho de Segurança da ONU - e Portugal, recorde-se, até preside ao respectivo Comité de Sanções instituido pelo CSNU.
A "amizade" que levou Luis Amado e José Sócrates a visitar Khadaffy e a recebê-lo em Lisboa varias vezes é suposta ter-se traduzido em investimentos no nosso país, designadamente da Libyan Investment Authority e outras fachadas utilizadas pela ladroagem de Khadaffy, para além de portas que possa ter aberto ao BES e empresas portuguesas.
Quando visitei Benghazi, em Maio passado, interlocutores do CNT pediram a minha intervenção para lhes serem rapidamente entregues por Lisboa dois aviões C-130 libios que estavam já prontos, depois de reparações nas OGMA. Com garantias de pagamento de todas as responsabilidades, com a devida autorização do CSNU e com conhecimento da NATO, evidentemente. Fiz logo as diligências que me pareceram adequadas, junto das instâncias competentes. Pouco depois, um emissário do TNC veio a Lisboa formalizar o pedido.
Ignoro se ainda o anterior governo, ou já o actual, trataram de corresponder ao pedido dos representantes dos "rebeldes" libios.
Era bom que sim.
Porque, por muito complicada que seja ainda a segurança em Tripoli e noutras cidades e por muito tempo que seja necessário para dar a Khadaffy e seus filhos a "zanga zanga" (caça aos ratos) com que ele em Fevereiro passado ameaçou o povo, a verdade é que os "rebeldes" já são o poder na Líbia.
E, afinal, onde está realmente Portugal, para além de declarações cantantes?