segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Duopólio


1. Esta notícia sobre o atraso da realização do plano ferroviário confirma inteiramente as minhas observações anteriores (aqui e aqui) sobre a baixa prioridade do investimento público no transporte ferroviário e sobre o "país a duas velocidades" quanto a transportes (e a outras coisas).
Quando se trata de carris, o dinheiro abunda para os metros de Lisboa e do Porto - que nem sequer deveriam ser uma responsabilidade do Estado, como serviços públicos locais que são - mas falta na implementação da rede ferroviária nacional, apesar do maciço cofinanciamento da UE de que este investimento goza. Como o referido "plano ferroviário" tem a ver com a "província", bem pode esperar, mesmo que estejam em causa especialmente as cruciais ligações com a Espanha.
Em matéria de iniquidade territorial, já nem vale a pena falar no escandaloso caso da "estação" ferroviária de Coimbra, nem muito menos do imaginário metro de Coimbra.

2. Como já disse algumas vezes, os investimentos públicos vão prioritariamente para onde há mais eleitores e mais influência política (desde logo porque quase toda a elite política lá mora), mesmo que já gozem das melhores infraestruturas públicas e das melhores condições de vida do país. É um círculo vicioso contra a equidade e a coesão territorial nacional.
Contra isto pouco valem os grandiosos planos de descentralização territorial ou de apoio ao desenvolvimento do interior. O crescente duopólio metropolitano de Lisboa e do Porto asfixia inexoravelmente o resto do País.