O anúncio da proposta de lei do Governo para tornar obrigatória a instalação da app StayawayCovid fez disparar tanto o número de instalações (o que é bom) como as manifestações públicas contra a obrigatoriedade (o que é mau).
Mas isto permite duas conclusões, nenhuma delas positiva: (i) por um lado, os portugueses ligam pouco às obrigações cívicas, mesmo quando estas são flagrantes, só as cumprindo quando elas se tornam legalmente obrigatórias - o que quer dizer que só o arrocho legal substitui o défice de civismo; (ii) por outro lado, há sempre, mesmo entre intelectuais de esquerda, aqueles que invocam a liberdade em abstrato para se furtarem ao dever de não contribuir para a morte de outros, com argumentos que vão desde a iliteracia tecnológica, passando pela (inexistente) ameaça à privacidade da aplicação em causa, até ao pedestre cabotinismo dos negacionistas da COVID.
Lamentável!
Lamentável é também que a Ministra da Reforma do Estado se tenha recusado, numa entrevista ao Jornal de Negócios, a responder à pergunta sobre se tem app instalada, invocando a natureza "privada" da questão. Como?! Então, sendo um óbvio dever cívico, os membros do Governo não deviam dar o exemplo público? E tendo o Govemo proposto a sua obrigatoriedade, não deviam os membros do Governo mostrar que a medida é justa?