sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Com fair play, PP

Pacheco Pereira está a recolher assinaturas, na forma de comentários de leitores, para me fazer um ataquezito político. Facilito-lhe a vida – obtenha os depoimentos dos 210 mil portugueses que diariamente não recebem a sua correspondência a horas. Correspondem aos 3% de falhas dos CTT na distribuição, um dos dez melhores desempenhos mundiais.

O correio de Pacheco Pereira

Fico feliz por ter despertado em Pacheco Pereira (PP) o animal furioso por que todos ansiávamos. É bom saber que o semi-deus da sobranceria intelectual tem sentimentos de gente comum. Exigir-se-lhe sentido da realidade é que já seria de mais. Admito que lá no Olimpo onde PP se encontra os correios funcionem sem falhas, mas cá em baixo as coisas não são bem assim. Não adianta referir-lhe indicadores sérios de qualidade de serviço nem benchmarkings internacionais, porque PP, como todos os seres superiores, dá-se mal com os números. Mas posso assegurar-lhe que a sua reputação entre os mortais subiria em flecha no dia em que se dispusesse a explicar aos operadores postais de todo o mundo como é que eles devem fazer para que nem uma só carta deixe de chegar ao destino no tempo previsto. Comprometo-me a organizar, sem custos, uma conferência internacional para o ouvir (pode fazer-se acompanhar de especialistas da DECO, se julgar necessário). Convidarei, por correio normal, os meus colegas de todos os países do globo. Não faltará um. Se não estiver para aí virado, que os seus afazeres etéreos são muitos, bastar-lhe-á aguardar por 2011, quando chegar a concorrência plena. Vai ver como a distribuição de correio na Marmeleira melhora.

Há regiões mais iguais do que outras

«Via do Infante vai manter-se sem portagem, diz Sócrates». Mas porquê, se com a requalificação da EN 125 o Algarve deixa de preencher qualquer das condições definidas pelo próprio Governo para ter auto-estradas gratuitas (ou seja, nível de rendimento e alternativa rodoviária à auto-estrada)? Por que é que o resto do País, mais pobre e sem auto-estradas gratuitas, há-de continuar a pagar esse privilégio do Algarve?
Aditamento
Observam-me que o que o PM disse foi que não vai haver portagens "já". Ficou por acrescentar, porém, que a SCUT terminará logo que a requalificação da EN 125 esteja concluída...

Mais uma prova da "destruição do SNS"

Aqui está neste plano da rede de urgências, ainda assinado por Correia de Campos, a prova cabal do caviloso projecto do ex-ministro da Saúde para destruir o SNS. Felizmente, a "justa luta" das populações e das forças da oposição esconjuraram o perigo e derrotaram a ameaça...

Democracia, diz ele

«Bush rechaza dialogar con Raúl Castro mientras no haya democracia en Cuba». Mas que diferença tem Cuba em relação a tantas ditaduras com as quais Bush "dialoga" intensamente, a começar com a China, a não ser o facto de ainda não se ter aberto ao capitalismo? Afinal, não é a "democracia"...

Financiamento dos partidos

Na sua nova encarnação (neo)liberal, e depois de ter sido condenado pelo Tribunal Constitucional por ter beneficiado de um pagamento ilícito da Somague, o PSD defende agora o financiamento dos partidos políticos por empresas privadas, depois de em 2002 ter acordado com o PS proibi-lo. Mais uma cambalhota do PSD...
É evidente que, de um ponto de vista democrático, a solução vigente é a melhor, não somente por assegurar a igualdade entre os partidos, sem favorecer os partidos mais ligados ao mundo dos negócios, mas também para evitar que os partidos fiquem reféns das empresas que os financiam.
Não há financiamentos grátis...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Autonomia

Há quem confunda autonomia das escolas (do ensino básico e secundário) com autogestão pelos professores (ver por exemplo Miguel Gaspar hoje no Público). Mas sem razão.
A autonomia tem duas vertentes, uma funcional e outra organizacional. A primeira é a liberdade de decisão face ao Governo--, e essa vai mesmo aumentar. A segunda é o autogoverno, ou seja, a gestão pela "comunidade escolar". Ora, além dos professores cabem aí os pais e os representantes da comunidade local, como aliás é proposto no projecto de gestão escolar.
As escolas não são uma coutada dos professores.

Redundante

«Menezes não quer médicos a acumular actividade nos sectores público e privado».
Embora seja velha, a ideia até é boa, como tese geral. Mas não é sincera, dita por Menezes. Como o seu projecto de "desmantelamento" do Estado social inclui obviamente a privatização do SNS, no fim só haverá médicos no sector privado, pelo que esta proposta de proibição de acumulação deixa de ter objecto...

Protestos

Um amigo critica-me o que julga ser o meu "desprezo" pelo protesto dos professores. Mas não tem razão. Respeito o direito de protesto de toda a gente, sobretudo quando se julga agravada. O que eu penso é que não basta ter motivos de protesto para ter razão...

Atraso

«SCUT: portagens "bem encaminhadas"».
Bom, estavam prometidas para o ano passado, não era?!
Aditamento
Reparo que o L. F. Menezes ainda não veio condenar o fim das SCUT (que o PSD sempre defendeu, e bem)...

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Zapatero

Apesar da violenta campanha da direita e da hostilidade da Igreja católica, o PSOE e Zapatero mantêm o avanço nas previsões das próximas eleições espanholas. O desfecho favorável do debate televisivo de há dias pode ter consolidado esse avanço.
Boas notícias!
Aditamento
José Saramago apoia Zapatero.

Experiência

Como prova a experiência politica, raramente os próprios profissionais de um sector podem ser agentes de reforma desse sector. Normalmente, são agentes de conservação, e de reacção.

Oportunismo

Que o PCP e o BE apoiem todos os protestos profissionais, independentemente da sua razão ou pertinência, isso está na sua tradição de porta-vozes de todos os descontentamentos sociais avulsos. Agora que o PSD resolva também alinhar no protesto dos professores, que nunca apoiaria se fosse governo, contra reformas que não ousa contestar, isso revela uma grande dose de oportunismo político.

Sociologia dos media

O que é que justifica que um jornal como o Público faça manchete de uma notícia destas -- «Preço do pão tem que aumentar 50 por cento, avisam os industriais» --, que não passa de uma escandalosa tentativa de aproveitamento especulativo da subida da cotação do trigo, a qual no entanto nunca poderia justificar uma tal subida do pão, dado que o custo do trigo conta menos de um terço do custo final do pão?
Aditamento
Para mais contas ver aqui.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

O bom nome de Paulo Portas

Olha, olha! Uma espécie rara: um ministro de um Governo PS sem medo de denunciar de forma contundente a impunidade - política e criminal - de que há muito tempo, escandalosamente, vem beneficiando o Dr. Paulo Portas! Um Paulo Portas que se refina na rábula e agora ameaça o ministro com a justiça, por ofensa ao bom nome. Isto do bom nome é relativo, como com toda a gente - e este Portas chama-se Paulo.
O ministro Jaime Silva tem o meu apoio e aplauso. Mas vai precisar de muito mais do que isso. É que no PS há gente com velhas e enraízadas cumplicidades com o Dr. Paulo Portas, como se percebeu no derrube da direcção Ferro Rodrigues/Paulo Pedroso. Como se percebe nas escutas do processo Portucale - que agora o novo Código de Processo Penal, muito oportunamente, impede a imprensa de transcrever. Gente que quando vê Paulo Portas em apuros, seja nos tribunal da Moderna, nas investigações do Portucale, ou de fortuita passagem por alguma esquadra de bairro, sempre dá um jeito, discreto, de lhe estender a mão.
Para não falar de quem assistiu, impávido, sem mexer um dedo, à gestão ruinosa de Paulo Portas no Ministério da Defesa, deitando-nos abaixo os aviões A400-M, levando-nos ao fundo nos submarinos e arranjando-nos um inferno às ordens de Rumsfeld - que hoje persiste no esforço de encobrimento dos "voos da tortura". E de quem, com altas responsabilidades estatais, hoje guarda silêncio e nada faz diante das notícias do frenético fotocopianço das horas da despedida de Paulo Portas pelo Restelo, em despudorada violação das mais elementares normas de segurança do Estado.
Ministro Jaime Silva, olhe que quem se mete com o Dr. Paulo Portas, tal como com um certo PS, leva. Costuma levar. Mais tarde ou mais cedo. Eu, se fosse a si, começava a cuidar da retaguarda.

Manobra de diversão

Por menos politicamente correctas que tenham sido as declarações do Ministro da Agricultura contra Paulo Portas, aliás em reacção a acusações deste, fazer uma queixa judicial por causa delas não passa de uma vulgar manobra de diversão... política.
Não faz nenhum sentido submeter a luta política a escrutínio judicial, que só contribui para a confusão entre a esfera política e a esfera judicial. A judicialização da política não aproveita a ninguém.

"Vodka com laranja"

Gostaria de ter escrito isto: «Ó Pedro vais à manif?».

Inquérito

«Procuradoria-Geral da República abre inquérito ao processo do Casino Lisboa».
Em vez de um inquérito parlamentar - que ninguém pediu, nem os próprios --, vamos ter um inquérito penal. Todavia, a eventual (ir)responsabilidade penal não preclude nem consome a questão da eventual responsabilidade política.

"Belarmino", e outros

Quem viveu os nossos anos 60 do século passado, como pode deixar de se emocionar com a entrevista de Fernando Lopes a Carlos Vaz Marques, na TSF de ontem, e junto com Belarmino, recordar outros filmes como Uma Abelha Na Chuva e muito mais tarde O Delfim ?

Oportunismo

O líder do PSD está a contar com a manifestação sindical da função pública mais professores para fazer o trabalho que ele não consegue. Ainda o veremos a capitanear o desfile sindical, de braço dado com os dirigentes da Frente Comum e da Fenprof?

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Espontâneo

Dizem que as recentes manifestações contra a ministra da Educação foram espontâneas, por terem sido convocadas por SMS.
Assim terá sido, evidentemente. Há informações fidedignas de que os dirigentes da Fenprof e respectivos sindicatos nem têm telemóvel nem "phone lists"...

sábado, 23 de fevereiro de 2008

É preciso renegociar o Acordo das Lajes


"A realidade é que nos EUA Lisboa pesa abaixo do que o Acordo das Lajes deveria supor (como sugere até a tese governamental de que nada soube, viu ou ouviu sobre transferências ilegais de presos por aviões civis e militares americanos através de território nacional). Subserviência política, incapacidade de identificar e defender os interesses portugueses, falta de sentido de oportunidade e timidez parola explicam por que Portugal tem ganho tão pouco com as Lajes e pouco pesa em Washington".

Escrevi isto num artigo que publiquei no EXPRESSO, em 9.2.08, e que pode já também ser lido na ABA DA CAUSA http://aba-da-causa.blogspot.com/2008/02/preciso-renegociar-o-acordo-das-lajes.html

Mais palavras para quê?


Transcrevo, da edição do EXPRESSO de hoje, passagens de declarações prestadas à jornalista Luisa Meireles por Kurt Volker, representante americano na Comissão Bilateral com Portugal sobre a Base das Lajes e Director para os Assuntos Europeus e Euroasiáticos do Departamento de Estado norte-americano:
“Portugal, os EUA, e muitos outros aliados enfrentam desafios no mundo, entre eles o terrorismo, e fazem-no juntos”(...)
“Como parte desse esforço comum usamos instalações como a Base das Lajes para o trânsito militar. Temos regras como trabalhar em conjunto, cumprimo-las e o Governo português sublinhou que estamos a cumpri-las”.
(bold meu).
Segundo a jornalista, “o negociador americano recusou-se a responder à questão se o seu país utilizou as Lajes para o transporte de prisioneiros referindo salientar que os EUA “ respeitam a soberania portuguesa” e que existem “procedimentos muito bem estabelecidos”.
Para o Sr. Volker, “o uso da Base tem sido feito segundo os termos acordados, que ambos os governos apoiam e respeitam”, pelo que não seria “possível comentar alegações individuais”.
Registo:
- a evidenciação de que Portugal trabalha com os seus aliados na luta contra o terrorismo (e é bom que trabalhe, como trabalha é que é a questão ...);
- a enfatização do reconhecimento pelo Governo português do cumprimento pelos EUA das regras de “trabalho conjunto” no âmbito do “trânsito militar americano” por território nacional;
- a recusa em comentar a eventualidade do transporte de prisioneiros pelas Lajes em reacção a meras “alegações individuais”.
Habituada há quase trinta anos a interpretar o “diplomatês”, concluo: este alto funcionário norte-americano, incisivo e profissional, avisa – se permitirem que sejam levadas por diante investigações sobre o trânsito de prisioneiros, preparem-se para que a lama vos salpique....

Evocação

Em homenagem a Francisco Lucas Pires e em memória de uma amizade pessoal que resistiu a todas as nossas circunstâncias políticas.

A favor da descida do IVA

A objecção à descida do IVA, com o argumento de que a sua redução não é habitualmente toda repercutida na descida dos preços, é precipitada, pois havendo concorrência não se vê nenhuma razão para que a prazo isso não suceda.
E a preferência pela descida do IRS, em vez do IVA, com o argumento de que aquela beneficiaria transversalmente toda a gente, choca com um dado incontornável: é que uma descida do IRS não beneficiaria em nada a parte da população, e logo mais pobre, que nem sequer ganha o suficiente para pagar imposto de rendimento, a qual beneficia relativamente mais com a descida do IVA, justamente porque consome todo o seu rendimento (sendo por isso que o IVA é um imposto socialmente regressivo).

Precipitação

Mesmo que a declaração do Presidente da Associação Nacional de Municípios sobre a Lei das Finanças Locais (que provou ser uma boa lei) possa ser considerada descabida, ou mesmo sectária, a ameaça de alguns autarcas do PS de abandonar a ANMP não faz sentido.
A uma declaração precipitada não se pode responder com uma reacção ainda mais precipitada...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O "efeito Kosovo"

Como habitualmente, encontra-se disponível na Aba da Causa o meu artigo desta semana no Público, com o título em epígrafe (aproveitando para corrigir um lapso da versão publicada, que referia a conferência de Viena em vez da Conferência de Berlim).

Aditamento
Enquanto o Primeiro-Ministro anunciou uma tomada de posição "para breve" de Portugal sobre a independência do Kosovo (certamente a anunciar o reconhecimento), o Presidente da República veio defender cautela, a desaconselhar qualquer "precipitação". Penso que o Presidente tem razão. Embora a decisão caiba ao Governo, nestas matérias (em que o "poder moderador" de Belém mais avulta) convém considerar seriamente a posição presidencial.

Instrumentalização

A anúncio de página inteira da Ordem dos Notários no Público de hoje (não sei se em mais algum jornal) constitui uma peça da luta dessa organização contra a política de desformalização e de simplificação administrativa e revela bem como as ordens profissionais usam os seus recursos à margem das suas missões públicas, convertendo-se em puras organizações de defesa de interesses corporativos.
O mais estranho é ver três faculdades de direito públicas serem publicamente instrumentalizadas em apoio dos interesses privados de uma classe profissional. Será que alguma decidiu oficialmente tomar partido nesta questão de política administrativa?

BCP

Insistindo no inquérito a presumíveis "falhas de supervisão" no caso do BCP -- tentando transferir para os polícias a responsabilidade que cabe aos malfeitores --, o PSD não pode ignorar que ele se vai transformar necessarimente num inquérito às "falhas" do próprio Banco e às responsabilidades dos seus gestores, incluindo as violações das regras do mercado de capitais e da prudência bancária. Na verdade, vai ser o processo ao principal ícone do capitalismo financeiro na era pós-liberalização do sector em Portugal.
Por isso, sem desvalorizar o impacto negativo sobre o Banco (que o PSD não pode ignorar), o inquérito pode ser virtuoso. Depois dele, dificilmente restará alguma credibilidade -- se é que ainda a têm -- às teorias neoliberais sobre os "malefícios da regulação". O que é pode ser fatal é a falta de regulação ou a fraude à regulação.

Credibilidade

Quebrando deliberadmente os acordos formais que tinha feito com o PS sobre a justiça e a lei eleitoral para as autarquias locais, o PSD põe em causa a sua própria honorabilidade política. Se, por puro oportunismo político, se recusa a cumprir um contrato interpartidário, como esperar dele o cumprimento de qualquer outro compromisso institucional?!
O pior que pode suceder à credibilidade de um partido de vocação governamental é criar a sensação de infidelidade à palavra dada, não sendo "tábua de sustentar prego"...