«SCUT: Passos Coelho defende portagens quando haja alternativa».
Há os pseudoliberais assim, adeptos em teoria do princípio do utente-pagador, que ao primeiro protesto recuam logo, com uma desculpa esfarrapada.
Já se deram conta os teóricos das portagens-só-quando-houver-alternativa-qualificada que por essa ordem de ideias, uma boa parte da A1 também não teria portagens (por exemplo, entre Coimbra e Aveiro)?
Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Inconsistência
Publicado por
Vital Moreira
Não me parece curial que o Governo pareça censurar o PSD por ter liberalizado os preços dos combustíveis. Ainda bem que o fez (e o PS teria feito o mesmo), pois se ainda houvesse regime de preços máximos administrativamente fixados, como outrora, o Governo estaria agora em muito maus lençóis, como responsável directo pelo contínuo aumento dos preços. Assim, a responsabilidade recai sobre os operadores no mercado.
Também não me parece que a proposta de redução dos impostos sobre os combustíveis, proposta por alguns dirigentes do PSD (e por Portas...) seja incompatível com a liberalização dos preços. Tais propostas são evidentemente demagógicas (pois não dizem como é que o Estado compensaria as avultadas receitas perdidas), mas não se trata de mexer directamente nos preços.
O oportunismo político não se combate propriamente com sofismas.
Também não me parece que a proposta de redução dos impostos sobre os combustíveis, proposta por alguns dirigentes do PSD (e por Portas...) seja incompatível com a liberalização dos preços. Tais propostas são evidentemente demagógicas (pois não dizem como é que o Estado compensaria as avultadas receitas perdidas), mas não se trata de mexer directamente nos preços.
O oportunismo político não se combate propriamente com sofismas.
domingo, 25 de maio de 2008
Um país inteiro a um mês de ser inaugurado
Publicado por
LFB
É a sensação que temos ao viajar pelos emirados, com particular destaque para Dubai e Abu Dhabi. Comenta-se que é quase impossível tirar uma fotografia sem apanhar uma grua ou um camião no enquadramento. São loucos, estes árabes. E friso, “estes”.
Segundo consta, a família Al Maktoum - os donos e senhores cujas carantonhas estão por todo o lado – proibiu todo e qualquer operador ou agente turístico de dizer ao estrangeiro curioso e destilado quando estão mais de 50 graus. No máximo estão 49 e, se o viajante aponta para um termómetro indicando 53, “está avariado”.
Entretanto, enquanto os turistas se mantém por afugentar, as cidades crescem a um ritmo avassalador, como se todos os empreiteiros estivessem num permanente rush de anfetaminas. Ver para crer. Arranha-céus com um mínimo de 60 andares abundam, mesmo que a sua taxa de ocupação ronde uns meros 15%. Há uma tal confiança no futuro que faria o próprio Santana Lopes corar de vergonha. Há o célebre planisfério em que zilionários com muito tempo livre reservam tudo, da “França” ao “Uzbequistão”, haverá um hotel submarino, cidades inteiras planeadas de raiz (da Sport City à Academic City), jogos de ténis num heliporto suspenso a 250 metros do chão, e certamente muitas mais coisas que farão a pista de gelo com 400 metros de comprimento no interior do Mall of Emirates parecer tão interessante e ousada como o playground no terraço do Colombo. Para esta família que criou um país inteiro em menos de 50 anos, o céu não é de certeza o limite. Se for preciso, basta que lhes dê na mona, construirão hotéis de 6 estrelas sobre as nuvens, mantidos a planar através de foguetes nucleares encomendados à NASA e debruados a ouro.
Servidão de vistas é algo de que os sheiks nunca ouviram falar. A construção é tão rápida e a megalomania tão arrepiante que temos medo de sair do hotel sem as nossas coisas. Pode dar-se o caso de, no regresso, este já ser talvez um aeroporto para naves espaciais com 100 Jumeirah’s 5 estrelas novinhos em folha construídos defronte.
É uma Disneylândia para adultos, mesmo que a noite acabe às 3 da manhã e o álcool seja supostamente complicado de arranjar. Simultaneamente, no hall astronómico de um hotel de luxo, várias senhoras cuja hora de trabalho custará mais do que a diária do local, lançam o isco a executivos suecos que tentam negar a 3ª idade.
Escrever sobre esta viagem é o trabalho mais fácil que já tive. Basta ter os olhos abertos e uma caneta à mão. Hoje emprestaram-me uma com um rubi na ponta. Não ma ofereceram, estou certo, por ser uma coisinha modesta.
Segundo consta, a família Al Maktoum - os donos e senhores cujas carantonhas estão por todo o lado – proibiu todo e qualquer operador ou agente turístico de dizer ao estrangeiro curioso e destilado quando estão mais de 50 graus. No máximo estão 49 e, se o viajante aponta para um termómetro indicando 53, “está avariado”.
Entretanto, enquanto os turistas se mantém por afugentar, as cidades crescem a um ritmo avassalador, como se todos os empreiteiros estivessem num permanente rush de anfetaminas. Ver para crer. Arranha-céus com um mínimo de 60 andares abundam, mesmo que a sua taxa de ocupação ronde uns meros 15%. Há uma tal confiança no futuro que faria o próprio Santana Lopes corar de vergonha. Há o célebre planisfério em que zilionários com muito tempo livre reservam tudo, da “França” ao “Uzbequistão”, haverá um hotel submarino, cidades inteiras planeadas de raiz (da Sport City à Academic City), jogos de ténis num heliporto suspenso a 250 metros do chão, e certamente muitas mais coisas que farão a pista de gelo com 400 metros de comprimento no interior do Mall of Emirates parecer tão interessante e ousada como o playground no terraço do Colombo. Para esta família que criou um país inteiro em menos de 50 anos, o céu não é de certeza o limite. Se for preciso, basta que lhes dê na mona, construirão hotéis de 6 estrelas sobre as nuvens, mantidos a planar através de foguetes nucleares encomendados à NASA e debruados a ouro.
Servidão de vistas é algo de que os sheiks nunca ouviram falar. A construção é tão rápida e a megalomania tão arrepiante que temos medo de sair do hotel sem as nossas coisas. Pode dar-se o caso de, no regresso, este já ser talvez um aeroporto para naves espaciais com 100 Jumeirah’s 5 estrelas novinhos em folha construídos defronte.
É uma Disneylândia para adultos, mesmo que a noite acabe às 3 da manhã e o álcool seja supostamente complicado de arranjar. Simultaneamente, no hall astronómico de um hotel de luxo, várias senhoras cuja hora de trabalho custará mais do que a diária do local, lançam o isco a executivos suecos que tentam negar a 3ª idade.
Escrever sobre esta viagem é o trabalho mais fácil que já tive. Basta ter os olhos abertos e uma caneta à mão. Hoje emprestaram-me uma com um rubi na ponta. Não ma ofereceram, estou certo, por ser uma coisinha modesta.
PS: Não sou de todo capaz de vos atormentar mais com a cicatriz infectada do escriba. Resumo: dói. Balanço: torna toda a aventura ainda mais estimulante.
Aguentar a tempestade (2)
Publicado por
Vital Moreira
Agravou-se muito além do previsto a situação económica em Espanha, com revisão em baixa do crescimento, do investimento e do emprego (prevendo-se que o desemprego possa chegar aos 11% este ano!).
Dada a profunda ligação da nossa economia com a Espanha, nossa importante cliente e investidora, bem como empregadora de mão de obra portuguesa, o impacto da situação espanhola em Portugal pode ser ainda mais negativo do que o esperado.
Dada a profunda ligação da nossa economia com a Espanha, nossa importante cliente e investidora, bem como empregadora de mão de obra portuguesa, o impacto da situação espanhola em Portugal pode ser ainda mais negativo do que o esperado.
Aguentar a tempestade
Publicado por
Vital Moreira
Um dos traços preocupantes da actual conjuntura económica é a combinação anómala do arrefecimento económico (aperto no crédito, diminuição do investimento e da criação de emprego, redução do crescimento económico, etc.) com o aumento dos preços causado sobretudo pela contínua elevação do preço dos combustíveis (que se repercute sobre toda a economia) e de algumas matérias-primas e alimentos.
Ou seja, o pior de dois mundos: travagem nos rendimentos e aceleração dos preços. Pior do que isso, a inflação importada dos factores de produção e dos alimentos contribui para agravar o abrandamento económico, pela subida dos custos de produção e pela diminuição do consumo.
Se o Estado não tem meios de impedir a alta dos preços, resta actuar dentro do possível para estimular da economia (mesmo sabendo os limites de tais exercícios) e para atenuar o impacto social sobre os mais vulneráveis. E esperar que a tempestade passe...
Ou seja, o pior de dois mundos: travagem nos rendimentos e aceleração dos preços. Pior do que isso, a inflação importada dos factores de produção e dos alimentos contribui para agravar o abrandamento económico, pela subida dos custos de produção e pela diminuição do consumo.
Se o Estado não tem meios de impedir a alta dos preços, resta actuar dentro do possível para estimular da economia (mesmo sabendo os limites de tais exercícios) e para atenuar o impacto social sobre os mais vulneráveis. E esperar que a tempestade passe...
Socialismo versus liberalismo
Publicado por
Vital Moreira
Replicando ao seu adversário na corrida à liderança do PS francês, Bertrand Delanoë, a antiga candidata à presidência da República, Ségolène Royale, declarou que "ser liberal e socialista é totalmente incompatível».
Provavelmente Royale vai vencer. A modernização doutrinária e política do PS francês vai continuar adiada.
Provavelmente Royale vai vencer. A modernização doutrinária e política do PS francês vai continuar adiada.
Quem quer destruir o quê?
Publicado por
Vital Moreira
«Louçã: Candidatos à liderança do PSD querem destruir o SNS».
Mas não foi o BE que passou estes três anos a dizer que era o Governo do PS que estava a "destruir o SNS" e a realizar "as políticas do PSD"?
A demagogia política trama-se a si mesma!
Mas não foi o BE que passou estes três anos a dizer que era o Governo do PS que estava a "destruir o SNS" e a realizar "as políticas do PSD"?
A demagogia política trama-se a si mesma!
sábado, 24 de maio de 2008
Liberdades jornalísticas
Publicado por
Vital Moreira
«Crédito malparado aumentou 14,7 por cento até Março», noticiava o Público. Mas será que cresceu em termos relativos, ou seja, em relação ao crédito concedido? Provavelmente não, pois este também cresceu dois dígitos. A ser assim, o título da notícia poderia ser "crédito malparado não aumenta"!
"Discutir o nuclear"
Publicado por
Vital Moreira
Desde antes do actual choque petrolífero que também defendo que é preciso «discutir o nuclear», com racionalidade e sem tabus deslocados.
O facto de a questão ser muito polémica -- mesmo neste blogue -- não chega para cancelar o necessário debate. Pelo contrário! O preço da energia e o aquecimento climático assim o vão exigir.
O facto de a questão ser muito polémica -- mesmo neste blogue -- não chega para cancelar o necessário debate. Pelo contrário! O preço da energia e o aquecimento climático assim o vão exigir.
Provedor de Justiça
Publicado por
Vital Moreira
O Provedor de Justiça está a ser "colonizado" pelos funcionários públicos, autores de 60% das queixas.
Todavia, a lógica originária da figura do Ombudsman consiste em defender os direitos e interesses legítimos dos cidadãos contra a Administração e não em tratar de questões de trabalho dentro da Administração (o que, aliás, constitui mais um privilégio dos funcionários públicos face aos demais trabalhadores, que não têm um provedor oficial de tratamento das suas queixas contra os seus empregadores).
Todavia, a lógica originária da figura do Ombudsman consiste em defender os direitos e interesses legítimos dos cidadãos contra a Administração e não em tratar de questões de trabalho dentro da Administração (o que, aliás, constitui mais um privilégio dos funcionários públicos face aos demais trabalhadores, que não têm um provedor oficial de tratamento das suas queixas contra os seus empregadores).
Liberdades jornalísticas
Publicado por
Vital Moreira
O Expresso destaca hoje que «o Governo veta Adriano Moreira» no nomeação do conselho de curadores da Agência para a Avaliação e Acreditação do Ensino Superior. Só que, lida a notícia, verifica-se que AM é somente um dos vários professores do ensino superior, de entre as sugestões das instituições, que não foram seleccionados, juntamente com outros "excluídos", entre os quais Rui de Alarcão, antigo reitor da Universidade de Coimbra, e Machado dos Santos, antigo reitor da Universidade do Minho.
Por que estranha razão é que o Expresso resolveu seleccionar Adriano Moreira como "vetado"?!
Por que estranha razão é que o Expresso resolveu seleccionar Adriano Moreira como "vetado"?!
A alternativa PSD
Publicado por
Vital Moreira
Como revela esta notícia -- «Ferreira Leite e Passos Coelho querem fim do SNS gratuito» --, começam a revelar-se os traços da alternativa política do "novo PSD". De facto, a proposta não consiste propriamente só em acabar com a gratuitidade do SNS mas sim com a sua universalidade, reservando-o para quem não tem recursos para pagar cuidados de saúde privados. Uma espécie de sopa dos pobres...
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Portugal é o maior da Europa... nas desigualdades de rendimentos
Publicado por
AG
Estes são os números da nossa vergonha, como portugueses. E ainda mais daqueles, como eu, que se afirmam socialistas.
Desmistificação
Publicado por
Vital Moreira
Ao contrário do que argumentam as empresas petrolíferas que operam entre nós, não é verdade que os preços mais elevados dos combustíveis em Portugal do que noutros países se devam aos impostos. Eles já estão bem acima da média europeia antes dos impostos, como se mostra no gráfico junto, colhido aqui. Porquê ?
Privilégios
Publicado por
Vital Moreira
De entre as muitos privilégios dos funcionários públicos face aos trabalhadores privados -- tempo de trabalho, férias, etc. -- porventura o mais iníquo é o que respeita ao montante da remuneração nas baixas por doença. Pois, em vez de ser extinto com o novo regime do emprego público vai continuar por tempo indefinido!
A aproximação dos períodos eleitorais tem destas benesses...
A aproximação dos períodos eleitorais tem destas benesses...
Regalias
Publicado por
Vital Moreira
Vai para dois anos, defendi com bons argumentos a extinção da ADSE, o subsistema de saúde dos funcionários públicos. O Governo manteve-o, embora aumentando a contribuição dos beneficiários. Agora anuncia-se a transformação da ADSE num sistema voluntário, e não obrigatório, e aberto a todos os empregados, e não apenas aos funcionários propriamente ditos, como até agora.
Optando-se pela manutenção da ADSE (continuo a ser contra), são duas alterações correctas. Só que, como regalia adicional que é, o serviço tem de ser transformado num fundo autónomo financeiramente auto-sustentado, à margem do orçamento. Não há nenhuma razão para que os demais trabalhadores financiem com os seus impostos um seguro de saúde privativo dos funcionários públicos.
Como é evidente, as actuais contribuições não chegam para sustentar o sistema, tanto mais que a despesa per capita terá tendência para aumentar, se os contribuintes mais jovens e menos utilizadores de cuidados de saúde deixarem o sistema, como é provável.
Optando-se pela manutenção da ADSE (continuo a ser contra), são duas alterações correctas. Só que, como regalia adicional que é, o serviço tem de ser transformado num fundo autónomo financeiramente auto-sustentado, à margem do orçamento. Não há nenhuma razão para que os demais trabalhadores financiem com os seus impostos um seguro de saúde privativo dos funcionários públicos.
Como é evidente, as actuais contribuições não chegam para sustentar o sistema, tanto mais que a despesa per capita terá tendência para aumentar, se os contribuintes mais jovens e menos utilizadores de cuidados de saúde deixarem o sistema, como é provável.
Sete breves notas sobre os EAU
Publicado por
LFB
1) o porto de Jebel Ali é de uma grandeza esmagadora. Literalmente inventado do nada pelo homem é de tal forma impressionante que, dir-se-ia, se o planeta fosse um restaurante, Jebel Ali seria a porta dos fornecedores;
2) Numa última ronda pelas áridas montanhas de pedra, 48 graus lá fora, sintonizados na Radio One, estação anglo-saxónica, sorrimos com a comédia involuntária da globalização. Afinal, enquanto caminhamos por gigantescas áreas inóspitas onde não sobreviveria vivalma, escutamos Mariah Carey na rádio;
3) Passamos por uma gruta com um bizarro aspecto de conforto. A piadola sobre Bin Laden era inevitável. Alguém acrescenta: Ah, sim… mas isto é só a gruta de férias dele. Um time-share que ele tem com o Kim Jong-Il;
4) Os Isaltinos das Arábias – esteve para ser o título de hoje. Os emirados parecem partilhar com o eterno autarca de Oeiras o mesmo gosto por rotundas. E, já agora, o mesmo apreço por "monumentos" que não lembrariam ao diabo;
5) Tema do dia no descanso do ar condicionado dos jipes: a vida fácil que os travestis têm aqui. Olha, apetece-me vestir-me de mulher. É simples, eficaz e económico. Só gastariam dinheiro no rímel;
6) Os hotéis são de uma opulência ridícula. Parece que os nativos não têm a mínima noção de que no meio poderiam encontrar a virtude. Atravessando os emirados só encontramos o 8 ou o 80. Numa viagem de catamarã ao largo do Dubai, roçando as patéticas Palm Islands em construção, um de nós perguntou-se, filosófico: será que aquele tipo dos camelos, que encontrámos ontem no meio de nenhures ao largo da Duna Grande, sabe sequer que “isto” existe?
7) No carro onde circulo – que todos os dias nos presenteia com uma nova ameaça de avaria, contribuindo para o aumento da adrenalina – está um senhor que dorme. Seja montanha, pedra, pó, areia ou asfalto, ele dorme. Vemo-lo apenas entrar e sair de hotéis, comer pelo meio, meter os óculos escuros à José Cid e entregar-se de imediato ao sono dos justos. Graças a Maomé não ressona. Mas desconfio que, no regresso a casa, quando a família lhe perguntar como são os Emirados, dirá: "Epá, é igualzinho à Caparica, mas com mais hotéis".
2) Numa última ronda pelas áridas montanhas de pedra, 48 graus lá fora, sintonizados na Radio One, estação anglo-saxónica, sorrimos com a comédia involuntária da globalização. Afinal, enquanto caminhamos por gigantescas áreas inóspitas onde não sobreviveria vivalma, escutamos Mariah Carey na rádio;
3) Passamos por uma gruta com um bizarro aspecto de conforto. A piadola sobre Bin Laden era inevitável. Alguém acrescenta: Ah, sim… mas isto é só a gruta de férias dele. Um time-share que ele tem com o Kim Jong-Il;
4) Os Isaltinos das Arábias – esteve para ser o título de hoje. Os emirados parecem partilhar com o eterno autarca de Oeiras o mesmo gosto por rotundas. E, já agora, o mesmo apreço por "monumentos" que não lembrariam ao diabo;
5) Tema do dia no descanso do ar condicionado dos jipes: a vida fácil que os travestis têm aqui. Olha, apetece-me vestir-me de mulher. É simples, eficaz e económico. Só gastariam dinheiro no rímel;
6) Os hotéis são de uma opulência ridícula. Parece que os nativos não têm a mínima noção de que no meio poderiam encontrar a virtude. Atravessando os emirados só encontramos o 8 ou o 80. Numa viagem de catamarã ao largo do Dubai, roçando as patéticas Palm Islands em construção, um de nós perguntou-se, filosófico: será que aquele tipo dos camelos, que encontrámos ontem no meio de nenhures ao largo da Duna Grande, sabe sequer que “isto” existe?
7) No carro onde circulo – que todos os dias nos presenteia com uma nova ameaça de avaria, contribuindo para o aumento da adrenalina – está um senhor que dorme. Seja montanha, pedra, pó, areia ou asfalto, ele dorme. Vemo-lo apenas entrar e sair de hotéis, comer pelo meio, meter os óculos escuros à José Cid e entregar-se de imediato ao sono dos justos. Graças a Maomé não ressona. Mas desconfio que, no regresso a casa, quando a família lhe perguntar como são os Emirados, dirá: "Epá, é igualzinho à Caparica, mas com mais hotéis".
quinta-feira, 22 de maio de 2008
A Birmânia e o Iraque
Publicado por
AG
Já está disponível na Aba da Causa um artigo meu publicado no Diário de Notícias de hoje, em que respondo a um texto do sociólogo Alberto Gonçalves, publicado no mesmo jornal no dia 11 de Maio.
Defendo-me de equivocadas analogias entre a situação na Birmânia de 2008 e no Iraque de 2003 e da acusação de incoerência nas minhas tomadas de posição.
Aliás, como explico no artigo, sou "defensora [...], como sempre fui, de que a ajuda externa só deve ser isso mesmo – ajuda - cabendo aos próprios povos tratar do “regime change” e livrar-se dos tiranos (na Birmânia, no Sudão, no Iraque ou no Portugal do 24 de Abril)."
E para o caso de ainda restarem dúvidas: "Não advogo uma invasão armada para a Birmânia, tal como não a advoguei para o Iraque."
Defendo-me de equivocadas analogias entre a situação na Birmânia de 2008 e no Iraque de 2003 e da acusação de incoerência nas minhas tomadas de posição.
Aliás, como explico no artigo, sou "defensora [...], como sempre fui, de que a ajuda externa só deve ser isso mesmo – ajuda - cabendo aos próprios povos tratar do “regime change” e livrar-se dos tiranos (na Birmânia, no Sudão, no Iraque ou no Portugal do 24 de Abril)."
E para o caso de ainda restarem dúvidas: "Não advogo uma invasão armada para a Birmânia, tal como não a advoguei para o Iraque."
Parlamento Europeu: contra as munições de urânio emprobrecido
Publicado por
AG
O Parlamento Europeu votou hoje, por esmagadora maioria, uma resolução que advoga a proibição das munições de urânio empobrecido. Fica aqui a minha intervenção no debate ontem havido sobre o tema, em Estrasburgo. Em nome do PSE, fui co-autora e negociadora do texto da resolução aprovada.
Birmânia: a responsabilidade de proteger
Publicado por
AG
Hoje no PE aprovámos por esmagadora maioria (524 votos a favor, 3 contra e 13 abstenções) uma resolução sobre a trágica situação na Birmânia.
Fui co-autora e negociadora da resolução em nome do PSE (a minha intervenção pode ser lida aqui).
E orgulho-me de ter introduzido no texto duas exigências essenciais ao Conselho de Segurança da ONU e aos governos europeus, para que não se demitam de:
1) - aplicar à Birmânia a "responsabilidade de proteger" e
2) - de referir ao Tribunal Internacional Criminal a Junta militar birmanesa para procedimento por "crimes contra a humanidade".
De que estão os governos europeus à espera para accionar o Conselho de Segurança da ONU ?
Fui co-autora e negociadora da resolução em nome do PSE (a minha intervenção pode ser lida aqui).
E orgulho-me de ter introduzido no texto duas exigências essenciais ao Conselho de Segurança da ONU e aos governos europeus, para que não se demitam de:
1) - aplicar à Birmânia a "responsabilidade de proteger" e
2) - de referir ao Tribunal Internacional Criminal a Junta militar birmanesa para procedimento por "crimes contra a humanidade".
De que estão os governos europeus à espera para accionar o Conselho de Segurança da ONU ?
Portugal - Ajuda ao Desenvolvimento em queda
Publicado por
AG
Portugal é um dos países que está a contribuir ... para a diminuição da Ajuda Pública ao Desenvolvimento (APD) da UE, em contradição flagrante com as promessas de carpete vermelha e 'megafonizadas' pelos líderes europeus (portugueses incluidos).
A APD portuguesa diminuiu, pelo segundo ano consecutivo, de 0.21% do PNB em 2006 para 0.19% em 2007.
Se em 2006 ficámos no segundo pior lugar da UE15, em 2007 conseguimos o nosso pior resultado desde que somos membros do CAD da OCDE: não só falhámos a meta de 0.33% em 2006, como parece não termos planos para voltar ao trilho, alcançando a meta de 0.51% em 2010.
O montante total da APD portuguesa em 2007 foi 403 milhões de dólares (cerca de 255 milhões de euros). Isto num ano em que a Presidência Portuguesa da UE desembolsou pelo menos 10 milhões de euros nos dois dias da Cimeira UE-África... cujos resultados práticos estamos longe de vislumbrar.
O Parlamento Europeu aprovou hoje um relatório a eficácia da APD europeia. Pode ler-se aqui a intervenção que fiz na sessão plenária sobre este tema.
A APD portuguesa diminuiu, pelo segundo ano consecutivo, de 0.21% do PNB em 2006 para 0.19% em 2007.
Se em 2006 ficámos no segundo pior lugar da UE15, em 2007 conseguimos o nosso pior resultado desde que somos membros do CAD da OCDE: não só falhámos a meta de 0.33% em 2006, como parece não termos planos para voltar ao trilho, alcançando a meta de 0.51% em 2010.
O montante total da APD portuguesa em 2007 foi 403 milhões de dólares (cerca de 255 milhões de euros). Isto num ano em que a Presidência Portuguesa da UE desembolsou pelo menos 10 milhões de euros nos dois dias da Cimeira UE-África... cujos resultados práticos estamos longe de vislumbrar.
O Parlamento Europeu aprovou hoje um relatório a eficácia da APD europeia. Pode ler-se aqui a intervenção que fiz na sessão plenária sobre este tema.
"Ser bom atlanticista não chega..."
Publicado por
AG
Este artigo demonstra bem que ser aliado de Washington não significa necessariamente ser subserviente e, muito menos, adoptar uma atitude negocial determinada pela falta de ambição.
A Polónia tem feito os fretes todos a Washington, inclusive enterrar-se no lodo iraquiano. Em troca sente que recebeu pouco e faz agora a vida negra a uma Administração Bush que, nos derradeiros meses da sua existência, quer deixar trabalho feito no sistema de defesa anti-míssil. E que para isso precisa da anuência de Varsóvia...
Independentemente do mérito das respectivas posições negociais americana e polaca, das virtudes ou defeitos do projecto de defesa anti-míssil, e do debate sobre a urgência da ameaça iraniana, é refrescante assistir a um diálogo negocial transatlântico entre dois aliados, em que ambos defendem os seus interesses: ao contrário de outros casos, em que os EUA defendem os seus interesses, e o parceiro, paralisado pelo sentimento de "privilégio" de estar á mesa com Washington, vê no baixar da própria fasquia negocial a melhor maneira de agradar aos EUA e ganhar assim "acesso privilegiado aos corredores do poder em Washington".
Se os polacos conseguirem sacar o que querem sacar aos EUA por causa de dez mísseis interceptores, imaginem o que uma equipa negocial portuguesa à séria sacava em troca da Base das Lajes...
Caça aos migrantes
Publicado por
AG
Vagas de violência contra estrangeiros nas ruas de Joanesburgo já forçaram cerca de 13 mil pessoas a fugir, criando um cenário, descrito por jornalistas internacionais no último fim-de-semana, como semelhante a uma zona de guerra. Dezenas de imigrantes foram baleados ou esfaqueados e há pelo menos 42 mortos, incluindo três que terão sido espancados até à morte e outros dois queimados vivos (fotografias de um corpo em chamas, divulgadas pelos media internacionais, evidenciam a brutalidade dos ataques). Muitas das vítimas são refugiados do Zimbabwe, que fugiram para escapar à perseguição política ou à fome impostas pelo defunto-vivo regime de Mugabe. Agora, vêem-se obrigados a (re)fugir de novo... mas para onde?
Esta caça aos migrantes, que servem como bode expiatório de problemas sociais - em particular, o desemprego - também tem provocado distúrbios (de menor dimensão) em Itália, onde nos últimos meses qualquer delito cometido por pessoas da etnia 'roma' (cigana) provoca imediatamente ondas de ataques populares contra os seus acampamentos. Em muitos casos orquestrados pela camorra... com a especulação imobiliária na mira.
Enquanto os Estados não levarem a sério os direitos humanos - e os económicos e sociais em especial - esta nova caça às bruxas ainda vai ganhar adeptos...
Esta caça aos migrantes, que servem como bode expiatório de problemas sociais - em particular, o desemprego - também tem provocado distúrbios (de menor dimensão) em Itália, onde nos últimos meses qualquer delito cometido por pessoas da etnia 'roma' (cigana) provoca imediatamente ondas de ataques populares contra os seus acampamentos. Em muitos casos orquestrados pela camorra... com a especulação imobiliária na mira.
Enquanto os Estados não levarem a sério os direitos humanos - e os económicos e sociais em especial - esta nova caça às bruxas ainda vai ganhar adeptos...
Capitalismo de casino...
Publicado por
AG
Enquanto o aumento dos preços da comida está a afectar os mais pobres um pouco por todo o mundo (um mundo onde continua a morrer uma criança em cada 5 segundos, devido a causas directa ou indirectamente relacionadas com a fome), há quem tire proveito da crise, especulando sobre a alta de preços.
É o caso de um conhecido banco belga, o KBC, que lançou um fundo de investimento, prometendo aos investidores um retorno que pode ir além de 14%, com garantia total do capital investido. E nem pudor lhes falta para anunciar o dito fundo nos jornais.
Como reclamam os socialistas do Parlamento Europeu, há que banir por lei este tipo de fundos de investimento que 'engordam' carteiras à custa de quem não tem para comer.
Há que acabar com este capitalismo de casino...
Teorema de Pitágoras
Publicado por
LFB
12 horas de carro e mais kms num só dia do que aqueles que consigo fazer em dois meses. Senti-me por isso, no dia que passou, simultaneamente desportista radical e muçulmano – duas coisas que jamais imaginei ser. A primeira porque finalmente conduzi e logo no deserto (e não atasquei o carro!); a segunda porque o estado da minha ferida é tal que passo todo o tempo que posso de rabo para o ar, como quem ora a Meca. Como é a posição mais confortável para mim, julgo que tenho rezado a Alá mais vezes por dia do que os próprios indígenas.
Saímos cedinho da enorme e feia Al Ain para um último giro pela montanha Hafeet, um monstro de pedra que vem sendo progressivamente reduzido para alimentar a futura megalomania das Palm Islands. Consta que, há 2000 anos, Hafeet estava coberta de água. Hoje, ajuda alguns a cobrirem-se de ouro. Seguiu-se muito asfalto, como por exemplo uma estrada com uma recta de 120 kms que nos levou a almoçar ao oásis de Liwa. Posto isto, entrámos deserto adentro até à Duna Grande e ficámos um par de horas a brincar na areia. Já trago mais de 200 fotos na Nikon novinha em folha mas sou um mero amador, sem estaleca para a máquina. No fundo, sinto-me um mero Miguel Sousa, tristemente despojado do Tavares.
Mas a verdadeira aventura do dia foi quando o meu carro se atrasou, perdeu a restante comitiva, e falhou um desvio. Durante duas horas – e com o primeiro terço feito na reserva de combustível – 4 tugas estiveram alegremente perdidos nos Emirados. Não uso o advérbio de modo em vão. Cantámos Rui Veloso, violámos limites de velocidade, ligámos de meia em meia hora o GPS quase sem bateria, parámos para beber umas fresquinhas da cooler e, como disse o grande Gonçalo - da Newspeed, na tranquila segurança do seu sentido de orientação, interpretámos o teorema de Pitágoras: enquanto os restantes fizeram os quadrados, nós cumprimos os catetos. Com o bónus de termos chegado a Abu Dhabi uma hora antes do resto do grupo – que teve um probleminha rapidamente solucionado com a rigorosa polícia local.
Finalmente no hotel, duas coisas rebentaram: um dos Chevrolet “berrou” de vez e a minha ferida finalmente explodiu. Mas esta saga fica para amanhã. Já estou cansado de escrever em pé.
Nota: na primeira crónica desta viagem mencionei que o engraçadinho do grupo já tinha sido encontrado antes mesmo de chegarmos ao destino. Devo agora fazer-lhe justiça: o homem não merece o diminutivo – é mesmo engraçado.
Saímos cedinho da enorme e feia Al Ain para um último giro pela montanha Hafeet, um monstro de pedra que vem sendo progressivamente reduzido para alimentar a futura megalomania das Palm Islands. Consta que, há 2000 anos, Hafeet estava coberta de água. Hoje, ajuda alguns a cobrirem-se de ouro. Seguiu-se muito asfalto, como por exemplo uma estrada com uma recta de 120 kms que nos levou a almoçar ao oásis de Liwa. Posto isto, entrámos deserto adentro até à Duna Grande e ficámos um par de horas a brincar na areia. Já trago mais de 200 fotos na Nikon novinha em folha mas sou um mero amador, sem estaleca para a máquina. No fundo, sinto-me um mero Miguel Sousa, tristemente despojado do Tavares.
Mas a verdadeira aventura do dia foi quando o meu carro se atrasou, perdeu a restante comitiva, e falhou um desvio. Durante duas horas – e com o primeiro terço feito na reserva de combustível – 4 tugas estiveram alegremente perdidos nos Emirados. Não uso o advérbio de modo em vão. Cantámos Rui Veloso, violámos limites de velocidade, ligámos de meia em meia hora o GPS quase sem bateria, parámos para beber umas fresquinhas da cooler e, como disse o grande Gonçalo - da Newspeed, na tranquila segurança do seu sentido de orientação, interpretámos o teorema de Pitágoras: enquanto os restantes fizeram os quadrados, nós cumprimos os catetos. Com o bónus de termos chegado a Abu Dhabi uma hora antes do resto do grupo – que teve um probleminha rapidamente solucionado com a rigorosa polícia local.
Finalmente no hotel, duas coisas rebentaram: um dos Chevrolet “berrou” de vez e a minha ferida finalmente explodiu. Mas esta saga fica para amanhã. Já estou cansado de escrever em pé.
Nota: na primeira crónica desta viagem mencionei que o engraçadinho do grupo já tinha sido encontrado antes mesmo de chegarmos ao destino. Devo agora fazer-lhe justiça: o homem não merece o diminutivo – é mesmo engraçado.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Privilégios de Lisboa e do Porto
Publicado por
Vital Moreira
O Governo anunciou o congelamento dos passes sociais até ao fim do ano. Cabe perguntar se esse benefício é para valer em todo o País onde há transportes colectivos urbanos, ou se se aplica apenas a Lisboa e ao Porto, onde os transportes colectivos são do Estado, e onde o orçamento do Estado paga os seus enormes défices.
A ser assim, torna-se mais uma vez evidente que os contribuintes do resto País, muitos dos quais pagam os transportes colectivos dos seus municípios, pagam também como contribuintes os transportes de Lisboa e do Porto. Para quando a descentralização dos transportes urbanos das duas principais cidades do País para os respectivos municípios, como empresas municipais ou intermunicipais?
A ser assim, torna-se mais uma vez evidente que os contribuintes do resto País, muitos dos quais pagam os transportes colectivos dos seus municípios, pagam também como contribuintes os transportes de Lisboa e do Porto. Para quando a descentralização dos transportes urbanos das duas principais cidades do País para os respectivos municípios, como empresas municipais ou intermunicipais?
Má ideia
Publicado por
Vital Moreira
«Galp pede baixa do imposto sobre os combustíveis».
Tal proposta, compreensível do lado da Galp, não deve ser seguida. Primeiro, o imposto sobre os combustíveis é em si mesmo justo, por onerar um produto altamente poluente e por incidir sobre os contribuintes com mais posses. Segundo, não havendo espaço para redução das receitas fiscais, por causa da disciplina orçamental, a baixa desse imposto colocaria sob pressão a meta do défice orçamental para o corrente ano. Terceiro, a via para a redução da factura petrolífera é a redução do consumo, mediante medidas de eficiência, incluindo a substituição do transporte automóvel pelo transporte colectivo.
Com a perspectiva de continuação da escalada dos preços, não se pode manter a ilusão de que é possível continuar a aumentar o gasto de combustíveis. O choque dos preços do petróleo só pode ter uma resposta no choque da redução do consumo.
Tal proposta, compreensível do lado da Galp, não deve ser seguida. Primeiro, o imposto sobre os combustíveis é em si mesmo justo, por onerar um produto altamente poluente e por incidir sobre os contribuintes com mais posses. Segundo, não havendo espaço para redução das receitas fiscais, por causa da disciplina orçamental, a baixa desse imposto colocaria sob pressão a meta do défice orçamental para o corrente ano. Terceiro, a via para a redução da factura petrolífera é a redução do consumo, mediante medidas de eficiência, incluindo a substituição do transporte automóvel pelo transporte colectivo.
Com a perspectiva de continuação da escalada dos preços, não se pode manter a ilusão de que é possível continuar a aumentar o gasto de combustíveis. O choque dos preços do petróleo só pode ter uma resposta no choque da redução do consumo.
Na terra onde até a água é da cor do dinheiro
Publicado por
LFB
Um velho lugar comum sobre as viagens assegura que estas nos despertam vigorosamente os 5 sentidos. Ora, isto deixa de parecer romântico quando o sentido em questão é o olfacto e nos encontramos a dois metros de um camelo. Enfim, ossos do ofício. Na Arábia, sê árabe. Para mais, é very typical.
O dia começou às 4 e meia da manhã, após outra noite de apenas 3 horas nos braços de Morfeu - mas com a atenuante de ter sido passada num acampamento por nossa conta em pleno deserto. Um homem não é um homem enquanto não der um gritinho sufocado ao julgar ter visto um escorpião.
Uma hora depois estávamos com Captain Dee, um inglês com pinta de pirata cool, que há 25 anos faz do voo em balões a sua vida. O pequeno-almoço que se seguiu esteve para consistir neste vosso escriba. Após uma hora a ser cozido pelo ar quente do balão, só faltava servirem bacon para a comitiva ter um verdadeiro breakfast à inglesa. Mas, claro, é uma experiência esmagadora (e mais não digo para vos deixar roídos de inveja).
Hoje fizemos 9 horas de carro envolvendo pelo menos 3 dos emirados. E esta é a boa notícia. A má é que amanhã faremos 12. Má, claro, para todos aqueles que têm uma cicatriz palpitante a poucos centímetros daquele sítio onde o sol não brilha. Acrescento apenas que, neste preciso momento, escrevo-vos sentado sobre uma toalha molhada – e peço desde já desculpa por esta imagem que certamente vos perseguirá até ao fim da vida.
Houve surpresas: um mergulho a meio do dia que me soube a termas e meia hora de Moto 4 nas dunas. Adoro a máquina e, pelos vistos, era o único dos não profissionais com experiência. Mas, no estado em que tenho essa parte das costas, pensei: dubia ir, mas – fónix! - não dubou.
Após largas centenas de quilómetros, posso afirmar que os EAU fazem lembrar um cara-pálida a quem os índios arrancaram o escalpe. Seco, abrasivo, inóspito, cru. Parece que dizimaram as árvores e pelo menos duas camadas de epiderme da terra. Mas os nativos compensam a pobreza rija da região com carradas de luxo e mau gosto. Ainda assim, vale muito a pena estar cá. Explicarei nos próximos capítulos.
O dia começou às 4 e meia da manhã, após outra noite de apenas 3 horas nos braços de Morfeu - mas com a atenuante de ter sido passada num acampamento por nossa conta em pleno deserto. Um homem não é um homem enquanto não der um gritinho sufocado ao julgar ter visto um escorpião.
Uma hora depois estávamos com Captain Dee, um inglês com pinta de pirata cool, que há 25 anos faz do voo em balões a sua vida. O pequeno-almoço que se seguiu esteve para consistir neste vosso escriba. Após uma hora a ser cozido pelo ar quente do balão, só faltava servirem bacon para a comitiva ter um verdadeiro breakfast à inglesa. Mas, claro, é uma experiência esmagadora (e mais não digo para vos deixar roídos de inveja).
Hoje fizemos 9 horas de carro envolvendo pelo menos 3 dos emirados. E esta é a boa notícia. A má é que amanhã faremos 12. Má, claro, para todos aqueles que têm uma cicatriz palpitante a poucos centímetros daquele sítio onde o sol não brilha. Acrescento apenas que, neste preciso momento, escrevo-vos sentado sobre uma toalha molhada – e peço desde já desculpa por esta imagem que certamente vos perseguirá até ao fim da vida.
Houve surpresas: um mergulho a meio do dia que me soube a termas e meia hora de Moto 4 nas dunas. Adoro a máquina e, pelos vistos, era o único dos não profissionais com experiência. Mas, no estado em que tenho essa parte das costas, pensei: dubia ir, mas – fónix! - não dubou.
Após largas centenas de quilómetros, posso afirmar que os EAU fazem lembrar um cara-pálida a quem os índios arrancaram o escalpe. Seco, abrasivo, inóspito, cru. Parece que dizimaram as árvores e pelo menos duas camadas de epiderme da terra. Mas os nativos compensam a pobreza rija da região com carradas de luxo e mau gosto. Ainda assim, vale muito a pena estar cá. Explicarei nos próximos capítulos.
terça-feira, 20 de maio de 2008
Eu, rabo torto, me confesso
Publicado por
LFB
A minha carreira no todo-o-terreno acabou antes mesmo de começar. Mas antes, expliquemos o título.
Sou natural da ilha açoriana da Terceira, que mantém uma rivalidade antiga com a de São Miguel. Aos micaelenses, chamamos “coriscos mal amanhados”; eles tratam-nos por “rabos tortos”. Justificar o porquê, mais as raízes históricas, etimológicas e sociológicas seria um desperdício do vosso dia e, já agora, da minha noite (depois de 12 horas em aeroportos e aviões, para fazer 6500 kms, estou no final de um dia que mereceu 3 horas de sono como estágio). Adiante.
Creio que, em plenos Emirados Árabes Unidos, acabei por fazer jus ao epíteto do título. Sucede que tenho uma cicatriz bem razoável no fundo das costas por ter retirado um quisto há meia dúzia de anos. Ora, essas verdadeiras celas de tortura que são as aeronaves da Turkish Airlines, fizeram-me despertar os pontos da cirurgia qual Etna em erupção. Assim, após este primeiro dia de TT, não só estive incapaz de conduzir como pratiquei no lugar do morto a primeira versão conhecida de kizomba em slow-motion: rabinho para cá, meia hora depois, rabinho para lá. Loop & repeat. Uma angustiante dança para manter o cócsis do escriba o mais afastado possível do contacto com o assento. Não é fácil, mas ao menos já faz de mim uma espécie de estóico herói da expedição (pelo menos é o que tento dizer a mim próprio a ver se me sinto um pouco melhor).
Balanço do primeiro dia: 3 horas de sono, 4 de carro, 5 whiskies – o único analgésico que o orgulho me permite, 6 atascanços e mais de 100 fotos tiradas. Nada mau. Ah, e 3 avarias em 3 dos Chevrolets que compõem 50% da nossa comitiva. Um que deitou fumo devido à bomba de água, outro incapaz de fazer tracção às 4 e outro com a luz do motor acesa e pouco desenvolvimento.Contudo, há sempre um lado positivo na vida. A aventura ainda mal começou e o Dubai e companhia já nos ensinou uma grande lição, algo que nunca será esquecido e nos unirá a todos para sempre… A Chevrolet é uma m****. O que só vem demonstrar que, no tocante ao mundo árabe, com ou sem invasões ou guerras, os Estados Unidos só servem mesmo para atrapalhar.
Sou natural da ilha açoriana da Terceira, que mantém uma rivalidade antiga com a de São Miguel. Aos micaelenses, chamamos “coriscos mal amanhados”; eles tratam-nos por “rabos tortos”. Justificar o porquê, mais as raízes históricas, etimológicas e sociológicas seria um desperdício do vosso dia e, já agora, da minha noite (depois de 12 horas em aeroportos e aviões, para fazer 6500 kms, estou no final de um dia que mereceu 3 horas de sono como estágio). Adiante.
Creio que, em plenos Emirados Árabes Unidos, acabei por fazer jus ao epíteto do título. Sucede que tenho uma cicatriz bem razoável no fundo das costas por ter retirado um quisto há meia dúzia de anos. Ora, essas verdadeiras celas de tortura que são as aeronaves da Turkish Airlines, fizeram-me despertar os pontos da cirurgia qual Etna em erupção. Assim, após este primeiro dia de TT, não só estive incapaz de conduzir como pratiquei no lugar do morto a primeira versão conhecida de kizomba em slow-motion: rabinho para cá, meia hora depois, rabinho para lá. Loop & repeat. Uma angustiante dança para manter o cócsis do escriba o mais afastado possível do contacto com o assento. Não é fácil, mas ao menos já faz de mim uma espécie de estóico herói da expedição (pelo menos é o que tento dizer a mim próprio a ver se me sinto um pouco melhor).
Balanço do primeiro dia: 3 horas de sono, 4 de carro, 5 whiskies – o único analgésico que o orgulho me permite, 6 atascanços e mais de 100 fotos tiradas. Nada mau. Ah, e 3 avarias em 3 dos Chevrolets que compõem 50% da nossa comitiva. Um que deitou fumo devido à bomba de água, outro incapaz de fazer tracção às 4 e outro com a luz do motor acesa e pouco desenvolvimento.Contudo, há sempre um lado positivo na vida. A aventura ainda mal começou e o Dubai e companhia já nos ensinou uma grande lição, algo que nunca será esquecido e nos unirá a todos para sempre… A Chevrolet é uma m****. O que só vem demonstrar que, no tocante ao mundo árabe, com ou sem invasões ou guerras, os Estados Unidos só servem mesmo para atrapalhar.
Maiorias
Publicado por
Vital Moreira
Penso que J. Pacheco Pereira não tem razão nesta defesa da maioria relativa em eleições partidárias directas. Primeiro, parece incontestável que em termos de força e legitimidade política não é o mesmo ter menos ou mais de metade dos votos; segundo, a regra geral, embora não obrigatória, nas eleições directas em regimes presidencialistas e semipresidencialistas é a maioria absoluta.
Não sou um apoiante do presidencialismo partidário nem de eleições directas. Mas sendo esse o sistema de governo vigente nos nossos principais partidos, penso que deveriam adoptar a regra da maioria absoluta na eleição dos seus líderes (com uma segunda volta, caso nenhum candidato seja eleito na primeira), em prol de uma maior legitimidade e estabilidade das direcções partidárias.
Não sou um apoiante do presidencialismo partidário nem de eleições directas. Mas sendo esse o sistema de governo vigente nos nossos principais partidos, penso que deveriam adoptar a regra da maioria absoluta na eleição dos seus líderes (com uma segunda volta, caso nenhum candidato seja eleito na primeira), em prol de uma maior legitimidade e estabilidade das direcções partidárias.
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