O PSD sempre teve a arte de ter uma cara para cada lugar e circunstância: despesista na Madeira e prosélito do corte da despesa pública no Continente, centralista em Lisboa e regionalista no resto do País, etc.
Agora, depois de o PSD ter obrigado o PS (e bem) e aplicar portagens em todas as SCUT, vem o PSD do Algarve propor uma frente de luta contra o fim da SCUT algarvia. Portgens são boas só para os outros...
Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Bipolarismo
Publicado por
Vital Moreira
Os jornais andaram meses a clamar por cortes a sério na despesa pública, a fazer coro com Passos Coelho. Agora que o novo programa de austeridade veio a público, apesar de não consistir só em corte da despesa, os mesmos jornais enchem-se de denúncias dos efeitos maléficos do corte da despesa pública!
Não há como estar sempre a favor da onda...
Não há como estar sempre a favor da onda...
sábado, 2 de outubro de 2010
O outro desafio
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Vital Moreira
Mais complicado do que corrigir o défice orçamental -- que se alcança em dois ou três anos com mais ou menos medidas de austeridade -- é corrigir do défice estrutural de competitividade da economia portuguesa, que está na base do défice externo e do endividamento externo da economia portuguesa e das próprias dificuldades orçamentais do país.
Sem maior competitividade não haverá melhoria das exportações, nem do investimento externo entre nós, nem do potencial de crescimento da economia, nem das perspectivas de emprego, nem aumento da receita fiscal do Estado.
Para melhorar a competitividade há que conter ou reduzir os custos de produção (crédito, trabalho, serviços), aumentar a produtividade (qualificação profissional, inovação tecnológica, organização empresarial), incentivar o investimento nos sectores de bens exportáveis, melhorar as infra-estruturas de transportes (rodoviárias, aéreas, portuárias), manter baixa a inflação interna (controlando ao aumento da procura), reduzir os custos administrativos da actividade empresarial (licenciamentos, etc.), superar as constrições do sistema judicial (cobranças, falências, etc.).
Sem maior competitividade não haverá melhoria das exportações, nem do investimento externo entre nós, nem do potencial de crescimento da economia, nem das perspectivas de emprego, nem aumento da receita fiscal do Estado.
Para melhorar a competitividade há que conter ou reduzir os custos de produção (crédito, trabalho, serviços), aumentar a produtividade (qualificação profissional, inovação tecnológica, organização empresarial), incentivar o investimento nos sectores de bens exportáveis, melhorar as infra-estruturas de transportes (rodoviárias, aéreas, portuárias), manter baixa a inflação interna (controlando ao aumento da procura), reduzir os custos administrativos da actividade empresarial (licenciamentos, etc.), superar as constrições do sistema judicial (cobranças, falências, etc.).
Remunerações no sector público
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Vital Moreira
Desde há muitos que venho defendendo a necessidade de redução do peso orçamental dos gastos de pessoal na Administração pública (bem acima da média europeia), reduzindo os efectivos e contendo o crescimento das remunerações.
O plano de austeridade orçamental agora decretado inclui pela primeira vez uma redução efectiva de remunerações dos escalões mais bem remunerados, maneira drástica de diminuir a despesa a pública. Embora se compreenda a justificação social que levou a poupar ao corte as remunerações menos elevadas, apesar serem em geral melhores do que nas actividades equivalentes no sector privado, a sobrepenalização dos remunerações mais altas (que pode chegar a 10%) vem estreitar ainda mais o leque salarial no sector público administrativo e dificultar o recrutamento de pessoal qualificado nas tarefas mais exigentes da Administração pública.
O plano de austeridade orçamental agora decretado inclui pela primeira vez uma redução efectiva de remunerações dos escalões mais bem remunerados, maneira drástica de diminuir a despesa a pública. Embora se compreenda a justificação social que levou a poupar ao corte as remunerações menos elevadas, apesar serem em geral melhores do que nas actividades equivalentes no sector privado, a sobrepenalização dos remunerações mais altas (que pode chegar a 10%) vem estreitar ainda mais o leque salarial no sector público administrativo e dificultar o recrutamento de pessoal qualificado nas tarefas mais exigentes da Administração pública.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Virtude da República 2
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Vital Moreira
A organização da Conferência internacional sobre o republicanismos na Universidade de Coimbra ofereceu aos conferencistas e participantes um concerto nocturno no convento de Santa Clara a Velha, com a orquestra Clássica do Centro e o Coro dos Antigos Orfeonistas de Coimbra.
Trata-se de um deslumbrante cenário, depois das grandes obras de recuperação do mosteiro dos aluviões de séculos de inundações do Mondego. Naquele grandioso local, as peças de Barber, R Strauss, Weber, Orff e Verdi, juntamente com José Afonso e José Niza soam ainda maias deslumbrantes.
Trata-se de um deslumbrante cenário, depois das grandes obras de recuperação do mosteiro dos aluviões de séculos de inundações do Mondego. Naquele grandioso local, as peças de Barber, R Strauss, Weber, Orff e Verdi, juntamente com José Afonso e José Niza soam ainda maias deslumbrantes.
Virtude da República
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Vital Moreira
O colóquio de ontem sobre o republicanismos na Universidade de Coimbra abriu com um bem conseguido discurso de fundo do Presidente da República. À beira de se candidatar a novo mandato presidencial, Cavaco Silva não quer deixar os créditos republicanos por mãos alheias.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Estado de necessidade
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AG
Anteontem, na RDP, expressei o meu ponto de vista sobre o Relatório da OCDE, conhecido na véspera, e sobre as medidas de corte na despesa pública e de agravamento de impostos que o próximo Orçamento do Estado implicaria, face ao crescente endividamento do país, à mercê das altissimas taxas de juros exigidas pelos mercados financeiros.
Ontem à tarde participei na Manifestação organizada pela Confederação Europeia dos Sindicatos, em Bruxelas, contra o “colete de forças” em que a Comissão Europeia, a mando do governo alemão, procura enfiar as economias mais vulneráveis de países como Portugal, como resposta “quadrada” à crise financeira global: a desejável maior disciplina orçamental não pode fazer-se inflexivelmente, à conta do estrangulamento das economias e de quem trabalha; e uma verdadeira recuperação económica europeia só acontecerá, com sustentabilidade, se tiver a criação de emprego como objectivo (e indicador) central e se corrigir os desequilibrios estruturais entre as economias dos seus Estados Membros.
À noite, como todos os portugueses, fui surpreendida na TV com as drásticas medidas anunciadas pelo Primeiro Ministro. À primeira vista correspondem ao que eu esperava – temia, mas esperava. A ver vamos os detalhes quanto à repartição social dos sacrificios.
Hoje, perante a monstruosidade do problema, sinto que não estamos em tempos para tergiversar:
- É tempo de todos os socialistas se unirem, estoicamente, em apoio ao Primeiro Ministro, pela agrura de ter de decretar medidas durissimas e de arrostar com incompreensão e impopularidade.
Com o travo amargo da injustiça de, apesar de fundamentais reformas feitas ainda antes de todos os outros países e da crise eclodir, nos acharmos hoje neste “estado de necessidade” pela selvajaria da lei dos mercados, que esta UE dominada pela direita neo-liberal não tem querido controlar.
Ontem à tarde participei na Manifestação organizada pela Confederação Europeia dos Sindicatos, em Bruxelas, contra o “colete de forças” em que a Comissão Europeia, a mando do governo alemão, procura enfiar as economias mais vulneráveis de países como Portugal, como resposta “quadrada” à crise financeira global: a desejável maior disciplina orçamental não pode fazer-se inflexivelmente, à conta do estrangulamento das economias e de quem trabalha; e uma verdadeira recuperação económica europeia só acontecerá, com sustentabilidade, se tiver a criação de emprego como objectivo (e indicador) central e se corrigir os desequilibrios estruturais entre as economias dos seus Estados Membros.
À noite, como todos os portugueses, fui surpreendida na TV com as drásticas medidas anunciadas pelo Primeiro Ministro. À primeira vista correspondem ao que eu esperava – temia, mas esperava. A ver vamos os detalhes quanto à repartição social dos sacrificios.
Hoje, perante a monstruosidade do problema, sinto que não estamos em tempos para tergiversar:
- É tempo de todos os socialistas se unirem, estoicamente, em apoio ao Primeiro Ministro, pela agrura de ter de decretar medidas durissimas e de arrostar com incompreensão e impopularidade.
Com o travo amargo da injustiça de, apesar de fundamentais reformas feitas ainda antes de todos os outros países e da crise eclodir, nos acharmos hoje neste “estado de necessidade” pela selvajaria da lei dos mercados, que esta UE dominada pela direita neo-liberal não tem querido controlar.
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Austeridade III
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Vital Moreira
Tendo resistido até agora, o Governo acabou por ter de seguir as pisadas da Grécia, da Irlanda, da Espanha e de outros países em dificuldades orçamentais, reduzindo a massa remuneratória da Administração pública em 5% (poupando, porém, os escalões de remunerações menos elevadas e penalizando as mais elevadas). Tratando-se da principal componente da despesa do sector público, era impossível reduzir tanto a despesa pública sem a diminuir.
Interrogo-me, no entanto, sobre se teria de ir-se tão longe, caso se tivessem evitado algumas medidas tão onerosas nesse capítulo como foi a aumento generalizado de 2,9% nas remunerações para 2009, já em plena crise, e o acordo com os professores, já depois das eleições de há um ano, cujo risco orçamental na altura assinalei aqui e aqui (sem bem me lembro, sem ser acompanhado pelos que sempre clamam pelo corte na despesa pública...).
Interrogo-me, no entanto, sobre se teria de ir-se tão longe, caso se tivessem evitado algumas medidas tão onerosas nesse capítulo como foi a aumento generalizado de 2,9% nas remunerações para 2009, já em plena crise, e o acordo com os professores, já depois das eleições de há um ano, cujo risco orçamental na altura assinalei aqui e aqui (sem bem me lembro, sem ser acompanhado pelos que sempre clamam pelo corte na despesa pública...).
Austeridade II
Publicado por
Vital Moreira
Entre as medidas anunciadas conta-se o aumento das contribuições dos beneficiários para a ADSE, o sistema de saúde privativo do pessoal da Administração pública.
É uma medida positiva, sem dúvida, na medida em que reduz a pesada dependência orçamental do serviço. Mas é pena que não se tenha aproveitado a oportunidade para extinguir a ADSE ou para a transformar num subsistema facultativo inteiramente financiado pelos beneficiários, sem encarfos orçamentais, como desde há muito defendo.
É uma medida positiva, sem dúvida, na medida em que reduz a pesada dependência orçamental do serviço. Mas é pena que não se tenha aproveitado a oportunidade para extinguir a ADSE ou para a transformar num subsistema facultativo inteiramente financiado pelos beneficiários, sem encarfos orçamentais, como desde há muito defendo.
Austeridade
Publicado por
Vital Moreira
Com vista a aliviar a crescente pressão dos mercados internacionais sobre a dívida pública portuguesa, o Governo resolveu antecipar o anúncio público das medidas de austeridade necessárias para cumprir a exigente meta da redução do défice orçamental para 2011.
Corrigindo a insuficiência das medidas do PEC I e do PEC II, desta vez o Governo seguiu a clarividente máxima politica de que os sacrifícios devem ser anunciados todos de uma vez e com margem de folga suficiente para não ter de haver um agravamento posterior dos mesmos.
Embora sem prescindir de aumento da receita fiscal (redução das deduções fiscais e subida do IVA), como era inevitável, a maior parte do esforço de reequilíbrio orçamental consiste numa forte redução da despesa pública, incluindo a despesa com pessoal da Administração pública, indo assim ao encontro das exigências do PSD.
Dada a dimensão do corte na despesa, seria imperdoável que o PSD insistisse no seu radicalismo sobre "nem um cêntimo de corte nas deduções fiscais", "nem um cêntimo de aumento de impostos" e continuasse a alimentar irresponsavelmente a incerteza sobre a viabilização do orçamento, que seria devastadora para as finanças públicas e para a capacidade da economia de se financiar no exterior.
Corrigindo a insuficiência das medidas do PEC I e do PEC II, desta vez o Governo seguiu a clarividente máxima politica de que os sacrifícios devem ser anunciados todos de uma vez e com margem de folga suficiente para não ter de haver um agravamento posterior dos mesmos.
Embora sem prescindir de aumento da receita fiscal (redução das deduções fiscais e subida do IVA), como era inevitável, a maior parte do esforço de reequilíbrio orçamental consiste numa forte redução da despesa pública, incluindo a despesa com pessoal da Administração pública, indo assim ao encontro das exigências do PSD.
Dada a dimensão do corte na despesa, seria imperdoável que o PSD insistisse no seu radicalismo sobre "nem um cêntimo de corte nas deduções fiscais", "nem um cêntimo de aumento de impostos" e continuasse a alimentar irresponsavelmente a incerteza sobre a viabilização do orçamento, que seria devastadora para as finanças públicas e para a capacidade da economia de se financiar no exterior.
Não existe uma receita única para a consolidação orçamental
Publicado por
Vital Moreira
O Prof Avelino de Jesus entendeu seleccionar-me como exemplo da "esquerda convertida" às virtudes disciplina orçamental.
Erra, porém, o alvo. Em matéria de disciplina orçamental e de controlo da despesa pública não sou propriamente um recém-converso. Em 2001 fiz parte da ECORDEP, nomeada pelo então ministro das finanças J. Pina Moura, que apresentou um pacote estruturado de disciplina da despesa pública. Em 2003, governando a coligação PSD-CDS e estando em descontrolo as finanças públicas, apoiei uma iniciativa que propunha um pacto entre o Governo e o PS para a consolidação orçamental. Há muito que me venho batendo pela sustentabilidade financeira do Estado social. Nunca condenei o PEC da UE nem defendi o seu incumprimento, pelo contrário. Tenho proposto ao longo dos anos uma série de medidas concretas para redução estrutural da despesa pública.
Dito isto, o que também sempre sustentei e continuo a sustentar é que não há apenas a cartilha da direita para a disciplina orçamental, que a consolidação orçamental não pode ser instrumentalizada para justificar a manutenção dos privilegios fiscais dos ricos, muito menos para impor a asfixia financeira do Estado social.
Ao contrário do que pensa a direita liberal, não existe uma receita única para a consolidação orçamental, baseada exclusivamente no corte da despesa, especialmente na despesa social, e na desarticulação dos serviços públicos. Foi isso que mais uma vez disse aqui.
Erra, porém, o alvo. Em matéria de disciplina orçamental e de controlo da despesa pública não sou propriamente um recém-converso. Em 2001 fiz parte da ECORDEP, nomeada pelo então ministro das finanças J. Pina Moura, que apresentou um pacote estruturado de disciplina da despesa pública. Em 2003, governando a coligação PSD-CDS e estando em descontrolo as finanças públicas, apoiei uma iniciativa que propunha um pacto entre o Governo e o PS para a consolidação orçamental. Há muito que me venho batendo pela sustentabilidade financeira do Estado social. Nunca condenei o PEC da UE nem defendi o seu incumprimento, pelo contrário. Tenho proposto ao longo dos anos uma série de medidas concretas para redução estrutural da despesa pública.
Dito isto, o que também sempre sustentei e continuo a sustentar é que não há apenas a cartilha da direita para a disciplina orçamental, que a consolidação orçamental não pode ser instrumentalizada para justificar a manutenção dos privilegios fiscais dos ricos, muito menos para impor a asfixia financeira do Estado social.
Ao contrário do que pensa a direita liberal, não existe uma receita única para a consolidação orçamental, baseada exclusivamente no corte da despesa, especialmente na despesa social, e na desarticulação dos serviços públicos. Foi isso que mais uma vez disse aqui.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Pocock
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Vital Moreira
Esta manhã, no hotel da Quinta das Lágrimas em Coimbra tive o prazer de conhecer pessoalmente e de dar as boas-vindas ao Professor John G A Pocock, que vem participar no colóquio internacional sobre o republicanismo, organizado pela Universidade de Coimbra no âmbito das comemorações do Centenário da República, que decorre na próxima quinta feira (programa aqui), recebendo também amanhã o doutoramento honoris causa, pela sua enorme obra académica.
A contribuição de Pocock para a história e teoria do republicanismo tem o seu ponto alto na obra seminal The Machiavellian Moment: Florentine Political Thought and the Atlantic Republican Tradition (Princeton: 1975), que lançou os fundamentos para a revisitação do pensamento republicano desde as origens da época moderna e da sua influência na pensamento politico norte-americano.
Sem exagero, pode dizer-se que Pocock está na origem do notável renovamento do republicanismo nas últimas décadas, especialmente no mundo anglo-saxónico, mas não só.
Adenda
A presença de Pocock entre nós assume ainda mais importância depois de sabermos que infelizmente o outro grande convidado, Jurgen Habermas, não pode vir, por inesperados motivos de saúde.
A contribuição de Pocock para a história e teoria do republicanismo tem o seu ponto alto na obra seminal The Machiavellian Moment: Florentine Political Thought and the Atlantic Republican Tradition (Princeton: 1975), que lançou os fundamentos para a revisitação do pensamento republicano desde as origens da época moderna e da sua influência na pensamento politico norte-americano.
Sem exagero, pode dizer-se que Pocock está na origem do notável renovamento do republicanismo nas últimas décadas, especialmente no mundo anglo-saxónico, mas não só.
Adenda
A presença de Pocock entre nós assume ainda mais importância depois de sabermos que infelizmente o outro grande convidado, Jurgen Habermas, não pode vir, por inesperados motivos de saúde.
Assimetria
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Vital Moreira
Poucas vezes se terá evidenciado uma assimetria tão grande no acesso ao espaço mediático como no caso das deduções fiscais.
Enquanto os beneficiários destas -- os contribuintes com elevados rendimentos e os negócios que delas tiram proveito, como as clínicas e escolas privadas -- podem desenvolver livremente uma vozearia concertada em defesa dos seus privilégios, onde está a voz daqueles que, por terem baixos rendimentos e não pagarem IRS, nem sequer podem descontar fiscalmente a consulta num dentista ou a sua parte nos medicamentos de que necessitam?
Enquanto os beneficiários destas -- os contribuintes com elevados rendimentos e os negócios que delas tiram proveito, como as clínicas e escolas privadas -- podem desenvolver livremente uma vozearia concertada em defesa dos seus privilégios, onde está a voz daqueles que, por terem baixos rendimentos e não pagarem IRS, nem sequer podem descontar fiscalmente a consulta num dentista ou a sua parte nos medicamentos de que necessitam?
Fazer o mal e a caramunha
Publicado por
Vital Moreira
É evidente que, enquanto se mantiver a dúvida sobre a aprovação de um orçamento credível que garanta a exigente redução do défice orçamental prevista para o próximo ano, vai manter-se, se não aumentar, a pressão dos mercados da dívida pública sobre Portugal. E é evidente que -- como mostra o relatório da OCDE -- ninguém acreditaria num orçamento que prometesse um corte impossível na despesa, sem um contribuição equilibrada do aumento da receita.
Os que alimentam a dúvida sobre o orçamento e depois denunciam o crescimento dos juros da dívida pública portuguesa fazem o mal e a caramunha...
Os que alimentam a dúvida sobre o orçamento e depois denunciam o crescimento dos juros da dívida pública portuguesa fazem o mal e a caramunha...
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
O que diz a OCDE (7)
Publicado por
Vital Moreira
Pela profundidade da sua análise e pela pertinência das suas propostas, o Relatório da OCDE deveria constituir leitura obrigatória para políticos, empresários e dirigentes sindicais, comentadores e jornalistas. Não obviamente para seguir acriticamente o que nele se diz, mas sim para fundamentar um debate racional -- em vez da prevalecente crispação politicamente sectária -- sobre os problemas do país e os meios para lhes responder.
O que diz a OCDE (6)
Publicado por
Vital Moreira
O Relatório confirma a natureza dualista do mercado de trabalho em Portugal, com excessiva protecção dos trabalhadores a tempo indeterminado à custa da excessiva precariedade dos trabalhadores temporários. Apesar da melhoria trazida pela recente revisão do Código do Trabalho, muito resta por fazer para aumentar o equilíbrio nas relações de trabalho entre nós.
O que a OCDE diz (5)
Publicado por
Vital Moreira
Sem surpresas, o relatório da OCDE confirma que entre as causas da baixa competitividade da economia nacional -- que alimenta o défice da balança comercial e gera o endividamento externo da economia -- está a baixa produtividade, os elevados custos unitários do trabalho e os altos encargos dos serviços para a indústria (non tradeables to tradeables).
Manifestamente este é o problema mais grave do País, bem mais difícil de resolver do que o actual desequilíbrio orçamental, que pode ser resolvido, com mais ou menos austeridade, num par de anos.
Manifestamente este é o problema mais grave do País, bem mais difícil de resolver do que o actual desequilíbrio orçamental, que pode ser resolvido, com mais ou menos austeridade, num par de anos.
O que diz a OCDE (4)
Publicado por
Vital Moreira
O relatório da OCDE considera essencial, para um país periférico como Portugal o investimento em infra-estruturas de transportes, incluindo o novo aeroporto de Lisboa e o projecto de alta velocidade ferroviária, aconselhando a sua retoma, logo que as condições financeiras do País o permitam.
Aposto que a fronda política e mediática que em Portugal se criou contra "os grandes investimentos públicos" -- mesmo quando os encargos para o orçamento do Estado são nulos ou relativamente reduzidos -- não vai sequer ler esta passagem do relatório...
Aposto que a fronda política e mediática que em Portugal se criou contra "os grandes investimentos públicos" -- mesmo quando os encargos para o orçamento do Estado são nulos ou relativamente reduzidos -- não vai sequer ler esta passagem do relatório...
O que diz a OCDE (3)
Publicado por
Vital Moreira
O relatório da OCDE diz que as deduções fiscais com base na despesa (saúde, educação, etc.), bem como com o crédito à habitação, são fiscalmente regressivos e injustos, além de diminuírem enormemente a receita fiscal, devendo por isso ser reduzidos ou eliminados.
Como defendo há muito, para ira dos beneficiários, nunca assumidos...
Apoiando também as posições que desde há muito defendo, o relatório sustenta igualmente a equiparação das pensões aos salários para efeito de IRS e uma efectiva tributação dos rendimentos dos profissionais independentes, pondo termo à escandalosa evasão fiscal de gozam esses rendimentos.
O mesmo se diga sobre a redução das deduções fiscais em matéria de IRC, que reduzem enormemente a eficiência do imposto.
Como defendo há muito, para ira dos beneficiários, nunca assumidos...
Apoiando também as posições que desde há muito defendo, o relatório sustenta igualmente a equiparação das pensões aos salários para efeito de IRS e uma efectiva tributação dos rendimentos dos profissionais independentes, pondo termo à escandalosa evasão fiscal de gozam esses rendimentos.
O mesmo se diga sobre a redução das deduções fiscais em matéria de IRC, que reduzem enormemente a eficiência do imposto.
O que diz a OCDE (2)
Publicado por
Vital Moreira
O relatório da OCDE defende que nos impostos sobre a propriedade imobiliária deve ser aumentado o IMI (e suprimidas as numerosas isenções), para elevar a receita fiscal, e reduzido ou suprimido o IMT, que constitui um desincentivo à mobilidade territorial (tal como eu próprio defendi recentemente).
O que diz a OCDE
Publicado por
Vital Moreira
O relatório da OCDE sobre Portugal que acaba de sair constitui uma severa bofetada no fundamentalismo da oposição indígena, e da generalidade dos media, quanto ao modo de encarar a necessária consolidação orçamental. O relatório apoia em geral a estratégia governamental, incluindo a redução das deduções fiscais nos impostos directos, e diz que o Governo deve estar preparado para aumentar a receita fiscal em relação ao previsto, se tal for necessário para cumprir as metas de redução do défice.
O coro (2)
Publicado por
Vital Moreira
A propósito do imprescindível aumento da receita fiscal para cumprir o programa de consolidação orçamental no próximo ano, aliás como previsto no programa de medidas apresentado a Bruxelas, vai por aí uma enorme gritaria contra o aumento de impostos, como se estivéssemos à beira de uma verdadeira asfixia fiscal.
Sucede, porém, que a carga fiscal entre nós (medida pela percentagem da receita fiscal e equiparada no PIB) está longe de ser elevada (cerca de 38%), continuando abaixo da média da zona euro (cerca de 40%). Alem disso, tendo natureza transitória algumas das medidas tomadas, até ao reequilíbrio das contas públicas, é mais do que justo que a consolidação orçamental se faça também por via do aumento da receita e não exclusivamente por via do corte na despesa, como defendem os novos cruzados do emagrecimento do Estado.
Adenda
É evidente que, a ter em conta apenas os meus interesses pessoais, eu também deveria estar a engrossar o coro dos inimigos dos impostos...
Sucede, porém, que a carga fiscal entre nós (medida pela percentagem da receita fiscal e equiparada no PIB) está longe de ser elevada (cerca de 38%), continuando abaixo da média da zona euro (cerca de 40%). Alem disso, tendo natureza transitória algumas das medidas tomadas, até ao reequilíbrio das contas públicas, é mais do que justo que a consolidação orçamental se faça também por via do aumento da receita e não exclusivamente por via do corte na despesa, como defendem os novos cruzados do emagrecimento do Estado.
Adenda
É evidente que, a ter em conta apenas os meus interesses pessoais, eu também deveria estar a engrossar o coro dos inimigos dos impostos...
O coro
Publicado por
Vital Moreira
É evidente, a todas as luzes, que o volume de corte no défice orçamental para cumprir a meta da consolidação orçamental para o próximo ano (cerca de 4500 milhões de euros) nunca poderia ser conseguida por nenhum governo só com redução da despesa pública, sob pena de cortes brutais nas despesas de saúde e de protecção social e de ruptura dos serviços públicos em geral. Por isso, além de uma forte contracção da despesa, aliás prevista, onde é possível, é mais do que razoável contar também com o aumento da receita fiscal, tal como previsto nos compromissos de estabilidade orçamental apresentados a Bruxelas, todos com apoio do PSD, incluindo nomeadamente a redução da despesa fiscal com deduções no IRS.
Por isso só pode estranhar-se o coro dos jornais económicos e dos editorialistas em geral no seu alinhamento com o fundamentalismo de Passos Coelho, na sua nova cruzada para asfixiar o Estado social por via dos cortes impossíveis na despesa pública. Era de esperar uma imprensa mais equilibrada e mais pluralista nos seus juízos...
Por isso só pode estranhar-se o coro dos jornais económicos e dos editorialistas em geral no seu alinhamento com o fundamentalismo de Passos Coelho, na sua nova cruzada para asfixiar o Estado social por via dos cortes impossíveis na despesa pública. Era de esperar uma imprensa mais equilibrada e mais pluralista nos seus juízos...
Inverdade e inconsequência
Publicado por
Vital Moreira
O líder do Bloco de Esquerda resolveu desembestar contra mim. Com base em falsidades, como é usual nele.
Primeiro, eu nunca disse que não votaria em Durão Barroso para Presidente da Comissão Europeia, pelo contrário. O que disse, sim, foi que não o apoiaria caso o Partido Socialista Europeu vencesse as eleições europeias, devendo ser este então a indigitar o Presidente da Comissão. Como isso não sucedeu, senti-me livre para votar em Durão Barroso, como dissera antecipadamente. Segundo, o "visto prévio" da UE sobre os planos orçamentais nacionais constitui uma obrigação elementar do cumprimento pelos Estados-membros dos seus compromissos para com a União Europeia inscritos no PEC e não é obviamente somente uma imposição da Comissão Europeia, mas sim também do Conselho da União e de todos os Estados-membros.
Muitas vezes, o Bloco de Esquerda quer fazer-nos crer que, ao contrário do PCP, não é anti-europeísta e até quer "mais Europa". Mas quando se trata de votar no Parlamento Europeu as medidas que se traduzem realmente em mais Europa, como sucedeu esta semana com o pacote da supervisão financeira a nível europeu, o BE recusa o seu apoio, acompanhando mais uma vez a posição anti-UE dos comunistas e da extrema-direita nacionalista europeia.
Em vez de atacar sem nenhuma razão quem, como eu, é coerente com as suas posições europeístas, Louçã deveria cuidar de mostrar um mínimo de consistência política na posição do BE em relação à UE.
Primeiro, eu nunca disse que não votaria em Durão Barroso para Presidente da Comissão Europeia, pelo contrário. O que disse, sim, foi que não o apoiaria caso o Partido Socialista Europeu vencesse as eleições europeias, devendo ser este então a indigitar o Presidente da Comissão. Como isso não sucedeu, senti-me livre para votar em Durão Barroso, como dissera antecipadamente. Segundo, o "visto prévio" da UE sobre os planos orçamentais nacionais constitui uma obrigação elementar do cumprimento pelos Estados-membros dos seus compromissos para com a União Europeia inscritos no PEC e não é obviamente somente uma imposição da Comissão Europeia, mas sim também do Conselho da União e de todos os Estados-membros.
Muitas vezes, o Bloco de Esquerda quer fazer-nos crer que, ao contrário do PCP, não é anti-europeísta e até quer "mais Europa". Mas quando se trata de votar no Parlamento Europeu as medidas que se traduzem realmente em mais Europa, como sucedeu esta semana com o pacote da supervisão financeira a nível europeu, o BE recusa o seu apoio, acompanhando mais uma vez a posição anti-UE dos comunistas e da extrema-direita nacionalista europeia.
Em vez de atacar sem nenhuma razão quem, como eu, é coerente com as suas posições europeístas, Louçã deveria cuidar de mostrar um mínimo de consistência política na posição do BE em relação à UE.
sábado, 25 de setembro de 2010
Provações da social-democracia europeia
Publicado por
Vital Moreira
Importei para o Aba da Causa o meu artigo desta semana no Público sobre a actual crise da social-democracia na Europa.
Interesse próprio
Publicado por
Vital Moreira
A maior parte das pessoas que têm acesso ao espaço público -- políticos, gestores, comentadores e jornalistas -- cai obviamente nos escalões de rendimento que mais são afectados pelo aumento dos encargos fiscais e pela redução dos subsídios fiscais às despesas com educação e saúde privadas.
Não admira por isso a aparência de plebiscito mediático contra tais medidas. Defendem colectivamente o interesse próprio. Nada de censurável nisso. Mas uma declaração de interesses ajudaria a relativizar as suas posições.
Não admira por isso a aparência de plebiscito mediático contra tais medidas. Defendem colectivamente o interesse próprio. Nada de censurável nisso. Mas uma declaração de interesses ajudaria a relativizar as suas posições.
"Ordoliberalismo"
Publicado por
Vital Moreira
Não sei se sou o "melhor representante do ordoliberalismo" entre nós, como insiste em dizer João Rodrigues, sendo certo que me revejo essencialmente na ideia de uma economia de mercado ordenada -- baseada um sistema de concorrência efectiva (incluindo o controlo das concentrações), na regulação pública das "falhas de mercado" e na estabilidade dos preços assegurada por um banco central independente --, como condição essencial do crescimento económico e do emprego. Sem bom desempenho económico não há condições para manter nem muito menos desenvolver as políticas sociais que estão na base do "modelo social europeu".
O que contesto, por não ter nenhum fundamento histórico nem ideológico, é a associação do ordoliberalismo -- nascido na Alemanha e na Áustria nos anos 30 e 40 do século passado como reacção liberal ao "capitalismo de Estado" e à "economia administrativa" que o nazismo e o fascismo instituíram -- com o neoliberalismo contemporâneo, patrocinado nos anos 80 do século passado por Reagan e Thatcher, em reacção ao modelo de capitalismo regulado dominante desde o após guerra.
Por um lado, a economia de mercado "ordenada" do "ordoliberalismo" é essencialmente distinta do capitalismo "laissez-faire" do moderno neoliberalismo, desde logo quanto ao papel incontornável conferido ao Estado na regulação económica (a "mão visível" contra a "mão invisível"). Não por acaso, um dos principais autores do ordoliberalismo, Alexander Ruestow, escreveu mesmo um requisitório contra o laissez-faire e o liberalismo económico clássico (O Fracasso do Liberalismo Económico, 1950). Por outro lado, ao contrário do moderno neoliberalismo, radicalmente hostil ao Welfare State, o ordoliberalismo sempre cultivou o papel dos sindicatos no domínio das relações laborais e o papel do Estado no domínio social, estando intimamente associado ao conceito alemão de "economia social de mercado" (soziale Markwirtschaft) -- agora também adoptado na ordem económica da UE pelo Tratado de Lisboa --, que presidiu à edificação do Soziastaat alemão, desde a II Guerra Mundial.
Por conseguinte, não existe nenhuma contradição, pelo contrário, na crítica do neoliberalismo desde um ponto de vista "ordoliberal" ou, se se quiser, "liberal-social". Ao contrário dos preconceitos marxistas e neomarxistas contra o liberalismo económico em geral, mesmo quando travestidos de "neokeynesianismo de esquerda", nem todo o liberalismo económico se reconduz ao laissez-faire anti-Estado do neoliberalismo nem tem de implicar o liberalismo social (melhor dito anti-social) que o neoliberalismo propugna.
Em nome da probidade intelectual e política, distinga-se o que não pode ser confundido.
O que contesto, por não ter nenhum fundamento histórico nem ideológico, é a associação do ordoliberalismo -- nascido na Alemanha e na Áustria nos anos 30 e 40 do século passado como reacção liberal ao "capitalismo de Estado" e à "economia administrativa" que o nazismo e o fascismo instituíram -- com o neoliberalismo contemporâneo, patrocinado nos anos 80 do século passado por Reagan e Thatcher, em reacção ao modelo de capitalismo regulado dominante desde o após guerra.
Por um lado, a economia de mercado "ordenada" do "ordoliberalismo" é essencialmente distinta do capitalismo "laissez-faire" do moderno neoliberalismo, desde logo quanto ao papel incontornável conferido ao Estado na regulação económica (a "mão visível" contra a "mão invisível"). Não por acaso, um dos principais autores do ordoliberalismo, Alexander Ruestow, escreveu mesmo um requisitório contra o laissez-faire e o liberalismo económico clássico (O Fracasso do Liberalismo Económico, 1950). Por outro lado, ao contrário do moderno neoliberalismo, radicalmente hostil ao Welfare State, o ordoliberalismo sempre cultivou o papel dos sindicatos no domínio das relações laborais e o papel do Estado no domínio social, estando intimamente associado ao conceito alemão de "economia social de mercado" (soziale Markwirtschaft) -- agora também adoptado na ordem económica da UE pelo Tratado de Lisboa --, que presidiu à edificação do Soziastaat alemão, desde a II Guerra Mundial.
Por conseguinte, não existe nenhuma contradição, pelo contrário, na crítica do neoliberalismo desde um ponto de vista "ordoliberal" ou, se se quiser, "liberal-social". Ao contrário dos preconceitos marxistas e neomarxistas contra o liberalismo económico em geral, mesmo quando travestidos de "neokeynesianismo de esquerda", nem todo o liberalismo económico se reconduz ao laissez-faire anti-Estado do neoliberalismo nem tem de implicar o liberalismo social (melhor dito anti-social) que o neoliberalismo propugna.
Em nome da probidade intelectual e política, distinga-se o que não pode ser confundido.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Despesa pública
Publicado por
Vital Moreira
Contra as ideias tradicionais na esquerda, tenho defendido ao longo dos anos a virtude crucial do equilíbrio das contas públicas e a necessidade da pertinente disciplina orçamental.
Concordo por isso com a redução do défice orçamental nos termos programados e com as necessárias medidas de corte na despesa e de aumento da receita. Concordo também que, para ser um movimento sustentado, o esforço tem de assentar maioritariamente na redução do peso da despesa pública (incluindo a "despesa fiscal", que não passa de forma encapotada de subsídios públicos).
Mas também penso, contra a direita, que a consolidação orçamental não tem de ser feita à custa dos pilares do Estado social, a saber, os sistemas públicos de saúde, de educação, de pensões e de protecção social (sem prejuízo da contribuição essencial da sua racionalização e do aumento da eficiência da despesa).
Assim, fui propondo várias medidas de poupança estrutural na despesa do Estado. Sem ser exaustivo, recordo as seguintes, algumas entretanto efectivadas:
- supressão das estruturas supérfluas da Administração directa e indirecta do Estado (realizado pelo PRACE na legislatura anterior);
- convergência da segurança social no sector público com o sistema de segurança social geral (realizado na legislatura passada);
- eliminação dos sistemas especiais de saúde e de segurança social no sector público (realizado na legislatura passada;
- redução do excesso de pessoal do sector público administrativo (em vias de realização desde a legislatura passada);
- generalização do princípio utilizador-pagador nos serviços públicos, salvo naqueles que constitucionalmente devem ser gratuitos ou quase-gratuitos;
- fim das auto-estradas SCUT (só agora decidido);
- supressão dos municípios e freguesias de pequena dimensão, por fusão ou agregação;
- eliminação da generalidade dos subsídios fiscais, incluindo os relativos às despesas privadas de saúde e de educação, bem como de ajuda à compra de casa;
- extinção da ADSE, ou sua transformação em sistema facultativo financiado exclusivamente por contribuições dos beneficiários;
- saneamento do desastre financeiro dos transportes colectivos de Lisboa e do Porto (um verdadeiro cancro financeiro) e transferência dos mesmos para os municípios por eles servidos;
- actualização das taxas de uso de infra-estruturas públicas, como as das obras hidroagrícolas, diminuindo os encargos públicos;
- contribuição das regiões autónomas para as despesas gerais da República, sendo inadmissível que elas não participem no financiamento da defesa, da segurança, do sistema judicial, da representação externa do País.
Continuo a defender todas essas reformas.
Concordo por isso com a redução do défice orçamental nos termos programados e com as necessárias medidas de corte na despesa e de aumento da receita. Concordo também que, para ser um movimento sustentado, o esforço tem de assentar maioritariamente na redução do peso da despesa pública (incluindo a "despesa fiscal", que não passa de forma encapotada de subsídios públicos).
Mas também penso, contra a direita, que a consolidação orçamental não tem de ser feita à custa dos pilares do Estado social, a saber, os sistemas públicos de saúde, de educação, de pensões e de protecção social (sem prejuízo da contribuição essencial da sua racionalização e do aumento da eficiência da despesa).
Assim, fui propondo várias medidas de poupança estrutural na despesa do Estado. Sem ser exaustivo, recordo as seguintes, algumas entretanto efectivadas:
- supressão das estruturas supérfluas da Administração directa e indirecta do Estado (realizado pelo PRACE na legislatura anterior);
- convergência da segurança social no sector público com o sistema de segurança social geral (realizado na legislatura passada);
- eliminação dos sistemas especiais de saúde e de segurança social no sector público (realizado na legislatura passada;
- redução do excesso de pessoal do sector público administrativo (em vias de realização desde a legislatura passada);
- generalização do princípio utilizador-pagador nos serviços públicos, salvo naqueles que constitucionalmente devem ser gratuitos ou quase-gratuitos;
- fim das auto-estradas SCUT (só agora decidido);
- supressão dos municípios e freguesias de pequena dimensão, por fusão ou agregação;
- eliminação da generalidade dos subsídios fiscais, incluindo os relativos às despesas privadas de saúde e de educação, bem como de ajuda à compra de casa;
- extinção da ADSE, ou sua transformação em sistema facultativo financiado exclusivamente por contribuições dos beneficiários;
- saneamento do desastre financeiro dos transportes colectivos de Lisboa e do Porto (um verdadeiro cancro financeiro) e transferência dos mesmos para os municípios por eles servidos;
- actualização das taxas de uso de infra-estruturas públicas, como as das obras hidroagrícolas, diminuindo os encargos públicos;
- contribuição das regiões autónomas para as despesas gerais da República, sendo inadmissível que elas não participem no financiamento da defesa, da segurança, do sistema judicial, da representação externa do País.
Continuo a defender todas essas reformas.
ADSE
Publicado por
Vital Moreira
Parece que o Governo vai propor que orçamento da ADSE passe a ser financiado por contribuições das diversas entidades públicas, a par da contribuição individual dos próprios beneficiários, de modo a resolver o défice do sistema de saúde dos funcionários públicos.
Do mal o menos. O défice da ADSE passará a ser repartido por todos os níveis do sector público (incluindo os municípios e as regiões autónomas), deixando de pesar exclusivamente sobre o Orçamento do Estado. Todavia, no fundo, mantém-se o mesmo problema de base, que é o financiamento de um sistema de saúde específico dos funcionários do Estado por todos os contribuintes, incluindo os que só podem recorrer ao SNS.
Defendi há muito a extinção da ADSE, com bons argumentos, segundo julgo. A actual crise das finanças públicas só vem reforçar os meus argumentos. Nas actuais circunstâncias, esta sobrecarga orçamental é um escândalo. Mas a questão central continua a ser a mesma. De duas uma: ou o Estado considera o SNS uma boa solução para todos, e então não se vê razão para manter e financiar um sistema paralelo para o seu pessoal, ou acha que modelo da ADSE (sistema de cuidados de saúde prestados por operadores contratados e parcialmente sustentado por contribuições específicas dos beneficiários) é que é a boa solução e então deve adoptá-lo para todos e extinguir o SNS.
Ter os dois ao mesmo tempo é que não faz nenhum sentido.
Adenda
Informam-me que já hoje as entidades públicas infra-estaduais, como os municípios, contribuem para a ADSE em função do seu pessoal. Corrigido esse ponto, tudo o resto obviamente se mantém.
Do mal o menos. O défice da ADSE passará a ser repartido por todos os níveis do sector público (incluindo os municípios e as regiões autónomas), deixando de pesar exclusivamente sobre o Orçamento do Estado. Todavia, no fundo, mantém-se o mesmo problema de base, que é o financiamento de um sistema de saúde específico dos funcionários do Estado por todos os contribuintes, incluindo os que só podem recorrer ao SNS.
Defendi há muito a extinção da ADSE, com bons argumentos, segundo julgo. A actual crise das finanças públicas só vem reforçar os meus argumentos. Nas actuais circunstâncias, esta sobrecarga orçamental é um escândalo. Mas a questão central continua a ser a mesma. De duas uma: ou o Estado considera o SNS uma boa solução para todos, e então não se vê razão para manter e financiar um sistema paralelo para o seu pessoal, ou acha que modelo da ADSE (sistema de cuidados de saúde prestados por operadores contratados e parcialmente sustentado por contribuições específicas dos beneficiários) é que é a boa solução e então deve adoptá-lo para todos e extinguir o SNS.
Ter os dois ao mesmo tempo é que não faz nenhum sentido.
Adenda
Informam-me que já hoje as entidades públicas infra-estaduais, como os municípios, contribuem para a ADSE em função do seu pessoal. Corrigido esse ponto, tudo o resto obviamente se mantém.
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Obviamente
Publicado por
Vital Moreira
Tendo-se hoje sabido que Passos Coelho recusou negociações prévias com o Governo para a viabilização do orçamento, aprofundando assim a incerteza sobre o destino do orçamento, o Ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, veio desfazer as dúvidas que pudessem existir sobre as consequências de uma eventual rejeição do orçamento. Crise orçamental igual a crise política, disse ele.
E disse o óbvio. Como escrevi na altura, o ultimato de Agosto do líder do PSD sobre o orçamento trazia no ventre o anúncio da abertura de uma crise política. Só a leviandade com que o PSD tem encarado a questão orçamental poderia alimentar ilusões a esse respeito. Na situação de pressão externa sobre a dívida pública portuguesa, agravada aliás pela incerteza alimentada pelo PSD sobre a aprovação do orçamento, a não aprovação de um orçamento que assegure a prevista redução do défice orçamental no próximo ano geraria uma crise orçamental de dimensões imprevisíveis, cuja insustentabilidade política o PS não pode deixar de denunciar perante o País.
E disse o óbvio. Como escrevi na altura, o ultimato de Agosto do líder do PSD sobre o orçamento trazia no ventre o anúncio da abertura de uma crise política. Só a leviandade com que o PSD tem encarado a questão orçamental poderia alimentar ilusões a esse respeito. Na situação de pressão externa sobre a dívida pública portuguesa, agravada aliás pela incerteza alimentada pelo PSD sobre a aprovação do orçamento, a não aprovação de um orçamento que assegure a prevista redução do défice orçamental no próximo ano geraria uma crise orçamental de dimensões imprevisíveis, cuja insustentabilidade política o PS não pode deixar de denunciar perante o País.
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