O Novo Syriza -- depurado da ala mais radical, oposta ao novo resgate externo (a qual nem sequer teve votos suficientes para obter representação parlamentar) -- voltou a ganhar folgadamente as eleições gregas, preparando-se para repetir a anterior coligação governativa com a direita nacionalista.
Os gregos, que há menos de um ano tinham votado no Syriza para pôr fim à austeridade e ao resgate externo, votaram agora no mesmo Governo para cumprir o terceiro resgate e para continuar a austeridade. Meio ano bastou para que os gregos (e o próprio Syriza, resta saber se convictamente....) se convencessem que não é possível ter ao mesmo tempo o euro e o laxismo orçamental. Avisadamente escolheram permanecer no euro!
Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
domingo, 20 de setembro de 2015
Treinador de bancada (2)
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Vital Moreira
Penso que a tentativa de desqualificar pessoalmente os adversários políticos não rende ganhos eleitorais, pelo contrário. Isso pode entusiasmar as hostes partidárias, mas os eleitores do centro, que são quem decide as eleições, não apreciam o género.
Treinador de bancada
Publicado por
Vital Moreira
A resposta de António Costa à questão de saber se o PS viabilizaria o orçamento de um eventual novo governo da coligação de direita -- a que ele maquinalmente respondeu que não -- deveria ter sido "esperar que o próximo orçamento será do próximo governo do PS, pelo que a pergunta deve ser a de saber se os partidos da coligação o vão viabilizar".
O inimigo principal
Publicado por
Vital Moreira
Já não era sem tempo! Os Estados Unidos, que contribuíram como ninguém para a desestruturação política do Médio Oriente (Iraque, Afeganistão, Síria), com os resultados conhecidos (guerra civil, violência, regressão civilizacional e, por último, o aparecimento do Estado Islâmico e a vaga de refugiados sírios), descobriram finalmente que o inimigo principal é mesmo o Estado Islâmico (e não o regime sírio) e que a prioridade cimeira deve ser a sua destruição.
sábado, 19 de setembro de 2015
Castas
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Vital Moreira
Eis a abertura da minha coluna desta semana no Diário Económico. Fazem sentido os colégios privados do Exército?
Adenda
Um dos contribuintes para a caixa de comentários do DE pergunta se também denuncio os "privilégios dos funcionários públicos". Azar seu: se conhecesse o que fui escrevendo ao longo de muitos anos saberia que sempre foquei a minha luta cívico-política no combate aos privilégios de toda a natureza, incluindo os dos funcionários públicos, enquanto existiram (foram sendo quase todos suprimidos). É o que me distingue, enquanto funcionário público que fui durante 47 anos (e com muita honra!), daqueles que pensam que os seus próprios privilégios são direitos justíssimos e, além disso, intocáveis.
sexta-feira, 18 de setembro de 2015
Comprar votos (3)
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Vital Moreira
Depois de, como primeiro-ministro, ter sido campeão da introdução de portagens em todas as autoestradas SCUT, com meio imprescindível de equilíbrio das contas públicas,o candidato Passos Coelho vem agora prometer a "discriminação positiva" (o que quer que isso seja...) em algumas auto-estradas, numa manobra de despudorada compra de votos à conta do dinheiro público, numa versão do clássico "bacalhau a pataco". Em desespero eleitoral, o que se revela é o Passos Coelho de 2011, prometendo tudo para depois fazer justamente o contrário.
Uma vergonha e uma indignidade! Nas eleições não vale tudo!
Uma vergonha e uma indignidade! Nas eleições não vale tudo!
quarta-feira, 16 de setembro de 2015
A crise também é de segurança e a UE está a falhar
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AG
"A Comissão tem de impor sanções à Hungria e a qualquer Estado Membro que recuse receber refugiados e impeça a abertura de vias legais e seguras para quem pede protecção.
Como pode o PPE manter nas suas fileiras o partido de Orbán que vergonhosamente criminaliza e ataca os refugiados, incluindo com gás lacrimogénio, trazendo do passado os piores demónios da Europa?
Como pode o PPE manter nas suas fileiras o partido de Orbán que vergonhosamente criminaliza e ataca os refugiados, incluindo com gás lacrimogénio, trazendo do passado os piores demónios da Europa?
Quem usa a segurança como desculpa para violar os direitos humanos, o direito internacional e as leis e valores europeus, está, de facto, a fazer o jogo dos criminosos terroristas do Estado Islâmico, que querem a civilização a andar para trás.
Esta é também uma crise de segurança, da nossa segurança, porque a UE não agiu para travar a guerra na Síria, Iraque, Libia e a opressão noutros países, como está a falhar no combate aos terroristas do chamado Estado Islâmico - e por isso as pessoas fogem à procura de proteção na Europa. Foi o que confirmei nos 4 dias que, no final da última semana, passei no Curdistão iraquiano, onde todos me disseram que o êxodo não estancará enquanto o Estado Islâmico não for erradicado de Mossul e Raaqa.
Esta é também uma crise de segurança, da nossa segurança, porque a UE não agiu para travar a guerra na Síria, Iraque, Libia e a opressão noutros países, como está a falhar no combate aos terroristas do chamado Estado Islâmico - e por isso as pessoas fogem à procura de proteção na Europa. Foi o que confirmei nos 4 dias que, no final da última semana, passei no Curdistão iraquiano, onde todos me disseram que o êxodo não estancará enquanto o Estado Islâmico não for erradicado de Mossul e Raaqa.
Não é só o inverno que está a vir: pessoas desesperadas - refugiados e migrantes - continuarão a vir, com ou sem arame farpado. Quanto mais muros erguer, mais cercada se sentirá a Europa. Desunião e inacção são receitas para ruir. Não o permitiremos. O Conselho tem de assumir as suas responsabilidades e JÁ!"
(Minha contribuição para debate PE esta tarde sobre (in)decisões do Conselho face a crise por afluxo de refugiados)
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
Impressionante perda
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Vital Moreira
Vale a pena ler este estudo apresentado hoje no suplemento do Diário Económico: o que custa financeiramente ao País a emigração de quadros qualificados, somando o custo da sua formação e as receitas tributárias que eles deixam de pagar em Portugal.
E contudo permanece
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Vital Moreira
Este é o cabeçalho do meu artigo da semana passada no Diário Económico. O título foi obviamente pedido emprestado a um verso célebre de Fernando Pessoa e traduz bem a circunstância de a divisão distrital continuar à espera de ser definitivamente enterrada desde 1976. Na verdade, mesmo esvaziada de qualquer substância ela permanece como base da representação parlamentar.
domingo, 13 de setembro de 2015
Comprar votos (2)
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Vital Moreira
Tenho nas mãos uma "edição especial" da Revista Municipal da Câmara Municipal de Tondela (Viseu), acabada de publicar (indisponível online) por ocasião da feira industrial e comercial do município, que decorre por estes dias.
Para além das inúmeras aparições do presidente do executivo municipal (do PSD), o que é norma em publicações do género, o que chama a atenção é quantidade de visitas recentes de membros do Governo, nada menos que 9-nove-9, sendo quatro ministros e cinco secretários de Estado. Entre os ilustres visitantes governamentais conta-se inesperadamente o Ministro de Defesa (seguramente para se inteirar das condições defesa do município contra alguma invasão marciana...). Se a isto se acrescentar uma palestra com Marcelo Rebelo de Sousa, teremos uma ideia do grau de sectarismo e de proselitismo político reinante no poder autárquico "laranja".
Mas o mais grave é a escandalosa falta de escrúpulos na instrumentalização política do poder local pelo Governo PSD/CDS para efeitos eleitorais, já com as eleições parlamentares marcadas e com a pré-campanha em marcha. Imaginando que Tondela não é uma exceção e que a mesma peregrinação governamental se verifica em outros municípios do PSD e do CDS, teremos centenas de viagens governamentais à custa do erário público ao serviço da propaganda eleitoral da Coligação, em flagrante violação do princípio da neutralidade eleitoral dos poderes públicos.
Como já disse num post anterior: a direita não se limita a considerar o Estado como coutada natural sua; acha também que tem o direito de utilizar o dinheiro dos contribuintes na véspera das eleições para cativar os eleitores.
Adenda
Chamam-me a atenção para que a invasão governamental não poupa os municípios de outras cores políticas, fazendo-se "convidados" para tudo o que seja inauguração ou evento público...
Para além das inúmeras aparições do presidente do executivo municipal (do PSD), o que é norma em publicações do género, o que chama a atenção é quantidade de visitas recentes de membros do Governo, nada menos que 9-nove-9, sendo quatro ministros e cinco secretários de Estado. Entre os ilustres visitantes governamentais conta-se inesperadamente o Ministro de Defesa (seguramente para se inteirar das condições defesa do município contra alguma invasão marciana...). Se a isto se acrescentar uma palestra com Marcelo Rebelo de Sousa, teremos uma ideia do grau de sectarismo e de proselitismo político reinante no poder autárquico "laranja".
Mas o mais grave é a escandalosa falta de escrúpulos na instrumentalização política do poder local pelo Governo PSD/CDS para efeitos eleitorais, já com as eleições parlamentares marcadas e com a pré-campanha em marcha. Imaginando que Tondela não é uma exceção e que a mesma peregrinação governamental se verifica em outros municípios do PSD e do CDS, teremos centenas de viagens governamentais à custa do erário público ao serviço da propaganda eleitoral da Coligação, em flagrante violação do princípio da neutralidade eleitoral dos poderes públicos.
Como já disse num post anterior: a direita não se limita a considerar o Estado como coutada natural sua; acha também que tem o direito de utilizar o dinheiro dos contribuintes na véspera das eleições para cativar os eleitores.
Adenda
Chamam-me a atenção para que a invasão governamental não poupa os municípios de outras cores políticas, fazendo-se "convidados" para tudo o que seja inauguração ou evento público...
sábado, 12 de setembro de 2015
Direitos humanos em Angola: PE apreensivo
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AG
No dia 10 de Setembro, o PE aprovou uma resolução sobre a situação dos direitos humanos em Angola, por 550 votos a favor, 14 contra e 60 abstenções.
O texto com recomendacoes, acordado entre os principais Grupos políticos no PE, levou em conta o relatório que redigi e fiz circular pelos meus colegas eurodeputados, sobre a minha visita a Luanda em Julho passado. Pode ler-se aqui: http://www.anagomes.eu/pt-PT/home.aspx
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
Exceção comunista
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Vital Moreira
Toda a gente, incluindo a própria direita, reconhece a vitória de Costa sobre Passos Coelho no debate televisivo entre ambos.
"Toda agente", não! O PCP não tem esse opinião, achando que o debate foi "inconclusivo". Na sua conhecida obsessão anti-PS o PCP nunca poderá reconhecer nenhuma vitória socialista. É mesmo de suspeitar se não preferia uma vitória da direita...
"Toda agente", não! O PCP não tem esse opinião, achando que o debate foi "inconclusivo". Na sua conhecida obsessão anti-PS o PCP nunca poderá reconhecer nenhuma vitória socialista. É mesmo de suspeitar se não preferia uma vitória da direita...
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Compra de votos
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Vital Moreira
O Governo prossegue escandalosamente a compra de votos com dinheiro público em plena campanha eleitoral. Depois de há pouco tempo o Ministro da Educação ter anunciado um pacote de muitos milhões de euros de subsídio aos colégios privados, veio agora a Ministra da Agricultura anunciar mais uns milhões de subsídio aos produtores de leite, a título de dispensa de cobrança da contribuição para a segurança social durante três meses.
A direita não se limita a considerar o Estado como coutada natural sua; acha também que tem o direito de utilizar o dinheiro dos contribuintes na véspera das eleições para cativar os eleitores.
A direita não se limita a considerar o Estado como coutada natural sua; acha também que tem o direito de utilizar o dinheiro dos contribuintes na véspera das eleições para cativar os eleitores.
Fundamentalismo troikista
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Vital Moreira
Um dos mais comprometedores momentos da derrota de Passos Coelho no debate de ontem foi a sua despudorada tentativa de denegar a responsabilidade e o apoio do PSD na vinda da troika.
Ora, é indesmentível que; (i) se não foi o PSD que chamou a troika (ainda foi Sócrates, já depois de demitido), foi o PSD que tornou deliberadamente inevitável a assistência externa, ao rejeitar o PEC IV e ao fazer cair o Governo do PS; (ii) o PSD pediu e saudou publicamente a vinda da troika, participou nas negociações do programa de assistência (e gabou-se publicamente de o ter influenciado decisivamente), concordou com ele e comprometeu-se a cumpri-lo sem reservas caso viesse a ser governo; (iii) depois de ser governo, o PSD não só cumpriu zelosamente o programa como se ufanou publicamente de ir "além da troika" nas medidas de austeridade orçamental (mais corte de despesa e mais aumento de impostos), ao arrepio das suas próprias promessas eleitorais, e provocando o aprofundamento da crise económica e social .
Tudo isto é público e notório. Mas mais do que desmentir factos históricos incontroversos, o que é lamentável na conduta do líder do PDS é a falta de pudor político em tentar denegar a sua anterior afeição pela troika. Há quem tenha aceitado a troika e a austeridade orçamental à contrecoeur como mal necessário; mas há os que, como Passos Coelho, saudaram a sua vinda e seguiram o seu programa (e foram além dele!) com entusiasmo religioso...
Adenda
Como confirma o Público, com factos à mão, «o PSD, e Pedro Passos Coelho, solicitaram, oficialmente, e defenderam a vinda da troika».
Ora, é indesmentível que; (i) se não foi o PSD que chamou a troika (ainda foi Sócrates, já depois de demitido), foi o PSD que tornou deliberadamente inevitável a assistência externa, ao rejeitar o PEC IV e ao fazer cair o Governo do PS; (ii) o PSD pediu e saudou publicamente a vinda da troika, participou nas negociações do programa de assistência (e gabou-se publicamente de o ter influenciado decisivamente), concordou com ele e comprometeu-se a cumpri-lo sem reservas caso viesse a ser governo; (iii) depois de ser governo, o PSD não só cumpriu zelosamente o programa como se ufanou publicamente de ir "além da troika" nas medidas de austeridade orçamental (mais corte de despesa e mais aumento de impostos), ao arrepio das suas próprias promessas eleitorais, e provocando o aprofundamento da crise económica e social .
Tudo isto é público e notório. Mas mais do que desmentir factos históricos incontroversos, o que é lamentável na conduta do líder do PDS é a falta de pudor político em tentar denegar a sua anterior afeição pela troika. Há quem tenha aceitado a troika e a austeridade orçamental à contrecoeur como mal necessário; mas há os que, como Passos Coelho, saudaram a sua vinda e seguiram o seu programa (e foram além dele!) com entusiasmo religioso...
Adenda
Como confirma o Público, com factos à mão, «o PSD, e Pedro Passos Coelho, solicitaram, oficialmente, e defenderam a vinda da troika».
Força anímica
Publicado por
Vital Moreira
A clara vitória de António Costa no debate de ontem com Passos Coelho não só contraria a dinâmica de vitória que a coligação de direita artificialmente ensaiava como dá ao PS a força anímica que a campanha eleitoral até agora não revelava.
A disputa eleitoral (re)começa verdadeiramente agora.
A disputa eleitoral (re)começa verdadeiramente agora.
quinta-feira, 3 de setembro de 2015
Ir à origem
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Vital Moreira
A declaração desta criança síria diz tudo: o origem da vaga de refugiados que se dirigem à Europa está principalmente na guerra na Síria, que começou por deslocar milhões de pessoas dentro do País e para os países vizinhos (Líbano e Jordânia).
A Europa e os Estados Unidos têm grossas culpas no cartório na onda de refugiados que arriscam a vida (e tantas vezes a perdem) no Mediterrâneo, ao terem contribuído para a destruição do Estado e para a instalação da violência, da guerra civil e do caos no Iraque, na Líbia, na Síria (para não falar na criação do "Estado Islâmico"). A reposição da autoridade do Estado e da paz civil nesses países é a primeira condição para resolver o problema do refugiados que ameaça submergir a Europa.
Entretanto, até pela sua responsabilidade na situação, a Europa tem a obrigação de cuidar dos desesperados que chegam, com humanidade e meios adequados.
A dimensão regional
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Vital Moreira
Só pode considerar-se pertinente e oportuna esta iniciativa das candidaturas do PS dos círculos eleitorais da região Centro, expressa num compromisso de ação comum à escala regional.
Na verdade, embora disputadas numa base distrital (salvo nas regiões autónomas), as eleições parlamentares não podem ignorar o quadro regional, onde se equacionam e se resolvem os problemas de ordenamento territorial, de desenvolvimento regional e de coesão territorial. Além disso, a iniciativa consubstancia o tradicional compromisso do PS com a regionalização administrativa do País.
Adenda
Quando em 1975 a lei eleitoral par a Assembleia Constituinte escolheu os distritos como base territorial dos círculos eleitorais, mantendo a solução do Estado Novo, a opção fazia sentido. O distrito era uma autarquia local com órgãos e atribuições próprias (embora diminutas) e era também a sede da representação territorial do Estado (governador civil) e de quase todos os serviços desconcentrados da Administração do Estado. Nada disso se mantém, hoje em dia. Os distritos deixaram de ser autarquias locais (agora substituídos pelas CIMs) e os serviços regionais do Estado estão hoje sediados na maior parte ao nível regional (NUTS II). A extinção dos governos civis constituiu a machada final na divisão distrital. Só por atavismo é que eles se mantêm como base da representação parlamentar e, consequentemente, como base da organização dos partidos.
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
Obsessão
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Vital Moreira
1. Mesmo tendo em conta a obsessão anti-PS do PCP, há momentos em que os dirigentes comunistas "se passam", como esta tirada de Jerónimo de Sousa, segundo a qual o PS no governo "fez sempre politicas de direita" (sendo que no dicionário político da casa "políticas de direita" são todas as que o PCP não sufraga...).
Mas será que o PCP pode negar que todos os avanços do Estado social em Portugal, a começar pela CRP de 1976, têm marca do PS: o SNS, a primeira lei de bases da segurança social, o sistema de educação pré-escolar, o rendimento mínimo garantido, a subvenção solidária para idosos pobres, a universalização do ensino secundário, etc.?
2. Se há alguma coisa incontornável na política portuguesa é que para o PCP o inimigo principal é o PS, não a direita. Mesmo que o não diga, assim o pratica. E nesse contexto, qualquer disponibilidade do PCP para entendimentos governativos com o PS não pode ser tomada a sério (mesmo que fizessem algum sentido, o que não é o caso, dado o fosso que separa os dois partidos).
Mas será que o PCP pode negar que todos os avanços do Estado social em Portugal, a começar pela CRP de 1976, têm marca do PS: o SNS, a primeira lei de bases da segurança social, o sistema de educação pré-escolar, o rendimento mínimo garantido, a subvenção solidária para idosos pobres, a universalização do ensino secundário, etc.?
2. Se há alguma coisa incontornável na política portuguesa é que para o PCP o inimigo principal é o PS, não a direita. Mesmo que o não diga, assim o pratica. E nesse contexto, qualquer disponibilidade do PCP para entendimentos governativos com o PS não pode ser tomada a sério (mesmo que fizessem algum sentido, o que não é o caso, dado o fosso que separa os dois partidos).
"Sem sombra de divergência"
Publicado por
Vital Moreira
O primeiro debate eleitoral revelou a total convergência entre o PCP e o BE. Ambos igualmente radicais e fundamentalistas; ambos igualmente anti-europeus; ambos igualmente anti-PS.
Tendo-se tornado tão anti-UE e antissocialista como o PCP, o BE abdicou definitivamente da sua autonomia política face ao PCP, convertendo-se num eco deste. Como no mais, as pessoas preferem o original às imitações.
Tendo-se tornado tão anti-UE e antissocialista como o PCP, o BE abdicou definitivamente da sua autonomia política face ao PCP, convertendo-se num eco deste. Como no mais, as pessoas preferem o original às imitações.
Um pouco mais de rigor, sff
Publicado por
Vital Moreira
Uma das maiores ficções económicas da propaganda da coligação de direita diz respeito às exportações e ao saldo da balança comercial externa.
a) É verdade que todos os anos Portugal bate o record das exportações. Mas, com exceção de 2009 (em que a crise internacional deprimiu o comércio internacional), Portugal bate o record de exportações todos os anos desde há duas décadas, como se vê pela tabela junta (copiada daqui)
Há duas coisas a sublinhar: (i) ao contrário do mantra repetido à exaustão pela direita, Portugal manteve consistentemente ganhos de competitividade externa, com especial intensidade nos anos que precederam a crise entre 2005 e 2008 (por acaso, os primeiros anos do governos Sócrates...); (ii) aparentemente, a "desvalorização interna" promovida pelo programa de ajustamento da troika conseguiu recuperar o ritmo de crescimento das exportações apesar da recessão interna, aumentando por isso o peso das exportações no PIB.
b) É verdade que desde 2013 foi conseguido, pela primeira vez em décadas, um saldo positivo da balança comercial (exportações versus importações de bens e serviços). Mas importa ter em conta dois dados menos reconfortantes: (i) esse resultado foi menos consequência do aumento das exportações (cujo ritmo se mantém idêntico ao período antes da crise e parece mesmo estar a perder força) mas sim à conteção das importações, em consequência da depressão da procura interna entre 2009 e 2013; (ii) os últimos dados revelam que, em consequência do disparo da procura interna, as importações estão a crescer bem mais do que as exportações, pondo em risco o saldo da balança comercial externa, que começa a ceder a olhos vistos. Por isso, a convicção governamental de que em 2015 vai continuar a verificar-se um saldo positivo da balança comercial poderá revelar-se demasiado ousada.
a) É verdade que todos os anos Portugal bate o record das exportações. Mas, com exceção de 2009 (em que a crise internacional deprimiu o comércio internacional), Portugal bate o record de exportações todos os anos desde há duas décadas, como se vê pela tabela junta (copiada daqui)
Há duas coisas a sublinhar: (i) ao contrário do mantra repetido à exaustão pela direita, Portugal manteve consistentemente ganhos de competitividade externa, com especial intensidade nos anos que precederam a crise entre 2005 e 2008 (por acaso, os primeiros anos do governos Sócrates...); (ii) aparentemente, a "desvalorização interna" promovida pelo programa de ajustamento da troika conseguiu recuperar o ritmo de crescimento das exportações apesar da recessão interna, aumentando por isso o peso das exportações no PIB.
b) É verdade que desde 2013 foi conseguido, pela primeira vez em décadas, um saldo positivo da balança comercial (exportações versus importações de bens e serviços). Mas importa ter em conta dois dados menos reconfortantes: (i) esse resultado foi menos consequência do aumento das exportações (cujo ritmo se mantém idêntico ao período antes da crise e parece mesmo estar a perder força) mas sim à conteção das importações, em consequência da depressão da procura interna entre 2009 e 2013; (ii) os últimos dados revelam que, em consequência do disparo da procura interna, as importações estão a crescer bem mais do que as exportações, pondo em risco o saldo da balança comercial externa, que começa a ceder a olhos vistos. Por isso, a convicção governamental de que em 2015 vai continuar a verificar-se um saldo positivo da balança comercial poderá revelar-se demasiado ousada.
Upgrade
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Vital Moreira
Com a discreta elevação de Mário Centeno a novo porta-voz para as questões económicas é evidente que o PS ganhou maior visibilidade e credibilidade na disputa eleitoral com a coligação de direita.
A estrela que empalidece (2)
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Vital Moreira
O provável falhanço da meta do défice orçamental (ver post anterior), mantendo Portugal em défice excessivo mais um ano, não se limita a manchar indelevelmente a estrela da Ministra das Finanças e do Governo em geral.
É também uma derrota estratégica, pois se havia uma prioridade do programa de ajustamento e de toda a austeridade orçamental era a consolidação orçamental e o fim do défice excessivo. E, sobretudo, esse falhanço retira toda a credibilidade política ao programa de Governo da coligação de direita para o próximo quadriénio, que assenta nesse pressuposto, ao mesmo tempo que credibiliza os pressupostos do programa de Governo do PS, construído sobre a previsão da Comissão Europeia de um défice superior a 3% em 2015.
É também uma derrota estratégica, pois se havia uma prioridade do programa de ajustamento e de toda a austeridade orçamental era a consolidação orçamental e o fim do défice excessivo. E, sobretudo, esse falhanço retira toda a credibilidade política ao programa de Governo da coligação de direita para o próximo quadriénio, que assenta nesse pressuposto, ao mesmo tempo que credibiliza os pressupostos do programa de Governo do PS, construído sobre a previsão da Comissão Europeia de um défice superior a 3% em 2015.
A estrela que empalidece (1)
Publicado por
Vital Moreira
Os últimos dias não têm corrido politicamente bem ao PSD. Primeiro, foram os estatísticas económicas sofríveis; depois, o tropeção de Paulo Rangel sobre a justiça; a seguir, a confissão de Passos Coelho sobre a profunda desigualdade social no País; agora, é o claro risco de falhanço da meta do défice orçamental, em que a Ministra das Finanças e o Primeiro-Ministro têm investido todo o seu crédito político.
A UTAO, o organismo independente de monitorização das finanças públicas, não deixa grande margem para dúvidas, como se lê no Jornal de Negócios de hoje:
A UTAO, o organismo independente de monitorização das finanças públicas, não deixa grande margem para dúvidas, como se lê no Jornal de Negócios de hoje:
O Governo ainda não reagiu às conclusões da UTAO. No Ministério das Finanças devem fazer-se horas extraordinárias para congeminar os instrumentos para maquilhar as contas públicas. Em ano eleitoral vale tudo...
terça-feira, 1 de setembro de 2015
Treinador de bancada
Publicado por
Vital Moreira
Sou de opinião de que o PS deve manter-se parcimonioso e responsável em matéria de promessas eleitorais, devendo ater-se estritamente ao seu programa eleitoral. É conveniente evitar compromissos avulsos e reativos em plena campanha eleitoral, que só podem criar ruído e confundir os eleitores.
Foguetes fictícios
Publicado por
Vital Moreira
O PSD voltou a lançar foguetes eleitorais pelas estatísticas económicas recentemente publicadas pelo INE relativas ao segundo trimestre. Mas a retoma económica que reivindica é pelo menos frustrante, pela lentidão, e problemática, pelas suas caraterísticas.
a) O crescimento homólogo do PIB (1,5%), além de ficar aquém das previsões (e muito abaixo da Espanha e da Irlanda), é tudo menos são, porque grandemente baseado na procura interna, fortemente alavancada no crédito barato; mesmo assim, a este ritmo, o País vai demorar varios anos antes de recuperar o PIB de 2010 (neste momento o fosso ainda permanece em 5,5 pp!).
b) A taxa de desemprego lá vai diminuindo (o que é bom); mas mais importante do que a taxa de desemprego (que só mede os que procuram emprego, desprezando os que emigraram e os que desistiram de procurar emprego) é o nível do emprego, ou seja, o número de pessoas empregadas. Ora, permanece um enorme fosso em relação ao nível de emprego de 2011, tendo sido eliminados milhares e milhares de postos de trabalho.
c) A balança de transações externa (bens e serviços) mantém-se superavitária, mas a perder gás, com as importações a crescer bem mais do que as exportações; a este ritmo não tarda a reposição do défice externo.
Se é este o panorama e o balanço da legislatura, por que é que o PSD deita foguetes eleitorais?
[revisto]
a) O crescimento homólogo do PIB (1,5%), além de ficar aquém das previsões (e muito abaixo da Espanha e da Irlanda), é tudo menos são, porque grandemente baseado na procura interna, fortemente alavancada no crédito barato; mesmo assim, a este ritmo, o País vai demorar varios anos antes de recuperar o PIB de 2010 (neste momento o fosso ainda permanece em 5,5 pp!).
b) A taxa de desemprego lá vai diminuindo (o que é bom); mas mais importante do que a taxa de desemprego (que só mede os que procuram emprego, desprezando os que emigraram e os que desistiram de procurar emprego) é o nível do emprego, ou seja, o número de pessoas empregadas. Ora, permanece um enorme fosso em relação ao nível de emprego de 2011, tendo sido eliminados milhares e milhares de postos de trabalho.
c) A balança de transações externa (bens e serviços) mantém-se superavitária, mas a perder gás, com as importações a crescer bem mais do que as exportações; a este ritmo não tarda a reposição do défice externo.
Se é este o panorama e o balanço da legislatura, por que é que o PSD deita foguetes eleitorais?
[revisto]
segunda-feira, 31 de agosto de 2015
E não há responsáveis?!
Publicado por
Vital Moreira
Há ocasiões em que convém não negar as evidências mais gritantes, como esta constatação tardia de Passos Coelho sobre a profunda desigualdade social do País.
O líder do PSD esqueceu-se, porém, de acrescentar que Portugal está bastante mais desigual do que era em 2011 e que a responsabilidade politica lhe pertence, como Primeiro-Ministro.
Desperdício público (2)
Publicado por
Vital Moreira
Nem de propósito, o Público de hoje revela que os edifícios dos tribunais encerrados na reforma do mapa judiciário continuam desocupados e sem destino. É um escândalo. Trata-se em geral de edifícios nobres, espaçosos e bem localizados nas povoações. Em suma, valiosos. Se o Ministério da Justiça não tem serventia para eles, deve ser obrigado a cedê-los para outros usos públicos ou a colocá-los no mercado.
Infelizmente o mesmo se passa com muitas das escolas encerradas. E os exemplos poderiam multiplicar-se (como, por exemplo, o antigo hospital pediátrico de Coimbra). Se há exemplo gritante de incúria e incompetência no setor público ele está justamente na gestão do património imobiliário.
Infelizmente o mesmo se passa com muitas das escolas encerradas. E os exemplos poderiam multiplicar-se (como, por exemplo, o antigo hospital pediátrico de Coimbra). Se há exemplo gritante de incúria e incompetência no setor público ele está justamente na gestão do património imobiliário.
Desperdício público
Publicado por
Vital Moreira
1. Segundo o Expresso, reproduzindo números oficiais, «o Estado é proprietário de 22.957 imóveis, entre edifícios e terrenos, dos quais 75% estão ocupados. Para além destes, os vários ministérios da máquina estatal arrendam a privados 2033 imóveis que custam ao erário público 123 milhões de euros.»
Ou seja, o Estado mantém desocupados mais de 5000 imóveis (edifícios e terrenos), mais do dobro dos que tomou arrendados a privados por mais de 120 milhões de euros. Uma gestão patrimonial verdadeiramente ruinosa! Acresce que muitos dos edifícios abandonados do Estado estão a degradar-se e a perder valor. Se o Estado não precisa deles, por que os não vende ou arrenda?
(Só no local litoral onde costumo passar férias de verão existem pelo menos cinco edifícios abandonados pertencente à Marinha ou aos Portos).
2. Desde há muito defendo uma gestão integrada do património imobiliário do Estado, afetando-o a uma entidade de gestão centralizada, a quem os serviços pagariam uma renda. Orçamentalmente neutro (porque o Estado receberia de um lado as rendas que pagaria por outro), este sistema permitiria não somente racionalizar o uso dos edifícios afetos ao Estado mas também revelar mais cabalmente os custos dos serviços públicos, independentemente de funcionarem em edifícios públicos ou arrendados.
Além disso acabaria com o atual "feudalismo patrimonial", segundo o qual cada ministério considera ciosamente como sua propriedade exclusiva os imóveis do Estado que estão a seu cargo.
Ou seja, o Estado mantém desocupados mais de 5000 imóveis (edifícios e terrenos), mais do dobro dos que tomou arrendados a privados por mais de 120 milhões de euros. Uma gestão patrimonial verdadeiramente ruinosa! Acresce que muitos dos edifícios abandonados do Estado estão a degradar-se e a perder valor. Se o Estado não precisa deles, por que os não vende ou arrenda?
(Só no local litoral onde costumo passar férias de verão existem pelo menos cinco edifícios abandonados pertencente à Marinha ou aos Portos).
2. Desde há muito defendo uma gestão integrada do património imobiliário do Estado, afetando-o a uma entidade de gestão centralizada, a quem os serviços pagariam uma renda. Orçamentalmente neutro (porque o Estado receberia de um lado as rendas que pagaria por outro), este sistema permitiria não somente racionalizar o uso dos edifícios afetos ao Estado mas também revelar mais cabalmente os custos dos serviços públicos, independentemente de funcionarem em edifícios públicos ou arrendados.
Além disso acabaria com o atual "feudalismo patrimonial", segundo o qual cada ministério considera ciosamente como sua propriedade exclusiva os imóveis do Estado que estão a seu cargo.
domingo, 30 de agosto de 2015
Dupla revelação
Publicado por
Vital Moreira
1. Ficámos a saber, por revelação do eurodeputado Paulo Rangel, que as investigações criminais sobre Ricardo Espírito Santo e sobre Sócrates existem por obra e graça do Governo PSD-CDS. Ora, como é suposto que, de acordo com a Constituição, a investigação criminal é conduzida de forma independente pelo Ministério Público sem ingerência governamental, impõe-se urgentemente que a Procuradora-Geral da República esclareça que não recebeu nenhuma instrução ou recomendação do Governo (Ministro da Justiça ou Primeiro-Ministro) sobre os dois casos.
De outro modo fica a pairar uma grave dúvida sobre o respeito da separação de poderes pelo atual Governo.
2. Era inevitável que, em desespero de causa, o PSD não resistiria a tentar explorar politicamente a situação de José Sócrates para efeitos eleitorais. Só que importa recordar que Sócrates continua sem ser acusado de qualquer crime depois destes meses todos de frenética investigação em todas as direções e que, apesar da escandalosa incontinência com que o Ministério Público alimenta a "sua" imprensa com pormenores sobre a investigação, até agora não foi imputado ao antigo Primeiro-Ministro um único acto concreto que consubstancie os crimes de que é suspeito.
O que estas declarações revelam é que, se a investigação sobre Sócrates até agora não produziu nada, para além da sua prolongada prisão preventiva, a sua existência é porém indispensável para permitir estes "números" de baixa política. Mas, por isso mesmo, o PSD deveria ter o pudor político de não reivindicar para o Governo o mérito da investigação...
De outro modo fica a pairar uma grave dúvida sobre o respeito da separação de poderes pelo atual Governo.
2. Era inevitável que, em desespero de causa, o PSD não resistiria a tentar explorar politicamente a situação de José Sócrates para efeitos eleitorais. Só que importa recordar que Sócrates continua sem ser acusado de qualquer crime depois destes meses todos de frenética investigação em todas as direções e que, apesar da escandalosa incontinência com que o Ministério Público alimenta a "sua" imprensa com pormenores sobre a investigação, até agora não foi imputado ao antigo Primeiro-Ministro um único acto concreto que consubstancie os crimes de que é suspeito.
O que estas declarações revelam é que, se a investigação sobre Sócrates até agora não produziu nada, para além da sua prolongada prisão preventiva, a sua existência é porém indispensável para permitir estes "números" de baixa política. Mas, por isso mesmo, o PSD deveria ter o pudor político de não reivindicar para o Governo o mérito da investigação...
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