Blogue fundado em 22 de Novembro de 2003 por Ana Gomes, Jorge Wemans, Luís Filipe Borges, Luís Nazaré, Luís Osório, Maria Manuel Leitão Marques, Vicente Jorge Silva e Vital Moreira
sábado, 28 de maio de 2016
Arrumado
- os contratos firmados pelo anterior Governo cobrem as turmas contratadas até ao fim do respetivo ciclo escolar mas não cobrem a abertura de outras tantas turmas no próximo ano escolar para a abertura de novos ciclos;
- o Estatuto do ensino particular de 2013, que removeu o requisito da carência da rede pública, é ilegal, pelo que são inválidos os contratos de associação que não passem esse teste.
Todavia, quanto ao segundo ponto, a PGR considera, erradamente, que o Estatuto não é incompatível com a lei de bases.
Seja como for, o ME não põe em causa os contratos existentes. O que diz é que eles só cobrem as turmas iniciadas no corrente ano e que só celebra novos contratos em caso de carência da rede pública, e a lei não obriga a fazer mais. Não existe nenhuma obrigação de financiamento público fora dessa situação. Questão arrumada, portanto.
[revisto]
Adenda
O lóbi dos colégios privados vem contestar a interpretação dada pelo ME ao Parecer da PGR, quanto ao primeiro ponto. Mas sem razão; a PGR só faz uma exceção, mais uma vez erradamente, para os contratos do 2º ciclo do básico, que, na sua interpretação, ainda abrangem a abertura de novos turmas no próximo ano.
[revisto]
Adenda 2
Por mais que os colégios privados tentem tresler a seu favor o parecer da PGR, é evidente que perderam a favor do ME a guerra que travavam sobre o âmbito dos contratos de associação em vigor. A partir de agora já não podem continuar a dizer que o Governo quer "cortar nos contratos", porque não há corte nenhum. Há, sim, corte no âmbito imaginário que os colégios reivindicavam.
sexta-feira, 27 de maio de 2016
Sem escrúpulos
É evidente que, quaisquer que sejam as suas simpatias políticas, Marcelo Rebelo de Sousa não podia consentir ser apresentado publicamente como apoiante de um grupo de interesses privados contra o Governo - o que seria inédito nos anais da democracia portuguesa -, ainda por cima quando está em causa a defesa de privilégios ilegalmente obtidos do anterior Governo e quando o Governo tem toda a razão, política e constitucional, na defesa da escola pública e do bom uso dos dinheiros públicos.
Mas o episódio mostra a vergonhosa falta de escrúpulos institucionais e políticos da corporação dos colégios privados na instrumentalização política do Presidente da República, com o despudorado apoio de toda a direita política e mediática.
quinta-feira, 26 de maio de 2016
Contra!
Num Estado laico, assente na separação entre o Estado e a religião, não cumpre às entidades públicas encarregarem-se da construção de templos religiosos ou financiarem atividades religiosas. Cabe-lhes, sem dúvida, respeitar a liberdade religiosa de toda a gente e de todas as igrejas, sem discriminações, e fazê-la respeitar por todos. Não lhes compete, nem podem, financiar o exercício da liberdade religiosa.
O oportunismo filorrelioso do Estado não é menos censurável do que o militantismo laicista. Ambos são incompatíveis com a laicidade respeitosa da liberdade e da diversidade religiosa.
Quando é que, de uma vez por todas, se leva a sério a laicidade do Estado em Portugal?!
Causas
Muitas delas foram/são causas coletivas, compartilhadas com muita gente; outras, porém, foram/são mais ou menos quixotescas, muitas vezes sem companhia visível.
2. A lista seguinte, limitada ao plano nacional (excluindo a UE), enuncia as minhas causas eletivas mais "heterodoxas", sem preocupação de hierarquia:
- pagamento de propinas no ensino superior público e aumento das bolsas de estudo;
- extinção das autoestradas SCUT;
- fim da subvenção orçamental da ADSE;
- cumprimento da obrigação constitucional relativa à cobertura e à qualidade da escola pública e fim dos "contratos de associação" com colégios privados;
- imposto sobre sucessões e doações de elevado montante;
- convergência dos regimes públicos de pensões;
- levar a sério a laicidade do Estado e fim da promiscuidade entre a política e a religião;
- educação cívica obrigatória nas escolas do ensino básico e secundário;
- extinção dos privilégios corporativos na esfera pública, incluindo o regime especial de pensões dos embaixadores, dos juízes e do Ministério Público;
- fim dos colégios militares;
- obrigação efetiva dos proprietários de reabilitação dos seus edifícios degradados;
- extinção do estacionamento automóvel gratuito nas cidades;
- punição efetiva das baixas médicas fraudulentas e das aposentações por falsa incapacidade;
- proibição das touradas, começando pela proibição da sua transmissão na RTP;
- reversão da invasão do eucalipto e taxação dos eucaliptais;
- contribuição das regiões autónomas para as despesas gerais da República.
3. É bom de ver que, apesar de alguns ganhos de causa (indicados no topo da lista), o balanço continua muito negativo. Averbei mais inimigos do que êxitos nessas causas.
Mas não irei desistir de lutar por nenhuma delas, em vista de um país mais justo, mais igual e mais decente, mas também mais livre, mais eficiente e mais responsável.
quarta-feira, 25 de maio de 2016
Estranha noção de democracia
Mas partir daí para acusar o Governo de "deterioração da democracia" (sic!), só porque rejeita as propostas do PSD e reverte muitas das medidas do anterior Governo -, eis um passo que é politica e democraticamente inadmissível. O Governo, apoiado na sua maioria parlamentar, tem todo o direito de levar a cabo o seu programa político e isso não é menos democrático do que quando a coligação de direita executava o seu, politicamente "a ferro e fogo", contra os protestos da então oposição.
2. Aparentemente, tal como quando impugnou a legitimidade democrática do atual Governo aquando da sua formação, o ex-primeiro-ministro parece entender que só há democracia quando a direita governa, Mas a primeira regra democrática numa democracia liberal é que a democracia não constitui monopólio de nenhuma força política nem de nenhum campo político.
Há retóricas políticas insensatas que não se admitem numa oposição responsável, muito menos a recomendam.
Risco
Todavia, se tomarmos como referência o défice do mês de abril - que foi o primeiro mês da execução do novo orçamento -, verifica-se que ele quase duplicou o défice somado dos três meses anteriores. Se o mês de abril vier a ser o padrão do resto do ano, parece evidente que a meta do défice orçamental nominal ficará em risco.
Um século
Ainda não tem os dias contados, mas com a abertura a pequenas e médias empresas privadas, começou o fim da economia coletivista de Estado em Cuba.
Já tinham sido admitidas atividades por conta própria a título individual. Agora são consentidas empresas verdadeiras e próprias, com trabalhadores assalariados. Estas aberturas de liberalização económica costumam ser irreversíveis e alimentar-se a si mesmas.
A confirmar-se a transição de Cuba para uma economia de mercado (mesmo sem transição simultânea para uma democracia liberal), a montra do velho comunismo económico ficará ocupada somente pelo irrecomendável "despotismo oriental" da Coreia do Norte. Triste saldo de um dos maiores insucessos do voluntarismo político e social na história da humanidade, nas vésperas da passagem de um século sobre a revolução russa de 1917...
sábado, 21 de maio de 2016
Fundamentalismo
A difamação e a injúria são crimes previstos e punidos no Código Penal e visam sancionar a ofensa de um direito fundamental previsto na Constituição, nomeadamente o direito ao bom nome e reputação (art. 26º da CRP). Trata-se de um "direito de personalidade" universal, que vale também nas relações entre particulares, e os políticos no ativo não perdem esse direito.
Ora, acusar alguém de ser "traidor à pátria" é uma das acusações mais infamantes que se podem fazer a um político, sobretudo quando ela não tem nenhum fundamento, visto que o crime de traição à pátria, tal como previsto no Código Penal, supõe o "uso da violência ou a ameaça dela ou usurpação ou abuso de funções de soberania" por parte do alegado "traidor" - o que obviamente não era o caso de Manuel Alegre aos microfones da Rádio Portugal Livre antes do 25 de abril.
2. É certo que um certo fundamentalismo dominante, com apoio numa infeliz jurisprudência do TEDH de Estrasburgo, atribui proteção absoluta à liberdade de expressão quando os alvos são políticos.
Mas tal como todos os demais direitos fundamentais, a liberdade de expressão não é um direito absoluto, sofrendo limitações derivadas da proteção constitucional de outros direitos fundamentais, - como o já referido direito ao bom nome e reputação, o direito à privacidade, o direito à imagem e à palavra - e de outros interesses constitucionalmente protegidos, como o segredo de Estado ou o segredo de justiça.
Absolutizar a liberdade de expressão para justificar todo o tipo de ofensas à honra alheia significaria aniquilar aqueles outros direitos e interesses constitucionalmente protegidos, o que não tem nenhum cabimento constitucional.
sexta-feira, 20 de maio de 2016
Contra a barbárie
O Governo de Castilha-La Mancha acaba de proibir o bárbaro espetáculo da tourada de Tordesilhas, em que o touro é picado com lanças até morrer, e o El País celebra justamente a decisão, que constitui mais um passo contra as touradas em Espanha.
É evidente que com o mesmo fundamento devem ser proibidas todas as touradas sangrentas, qualquer que seja o objeto de tortura ou morte (farpa, lança, espada). Em pleno séc. XXI a Ibéria ainda continua na Idade Média.
quinta-feira, 19 de maio de 2016
O sindicato dos colégios privados
Lead da minha coluna desta semana no Diário Económico. Sobre o assalto dos colégios privados ao orçamento do Estado.
Voltar ao mesmo?
Voltamos por isso ao tradicional défice comercial, agravando o endividamento externo da economia portuguesa -, o contrário do que devia acontecer.
Adenda
O défice comercial externo é tanto mais problemático quanto é certo que ele regressa numa situação de desvalorização do euro (que estimula as exportações para fora da zona euro) e de baixa cotação do petróleo (que embaratece a sua importação). Quando esses dois fatores favoráveis deixarem de funcionar, os termos do comércio externo tornar-se-ão mais exigentes.
quarta-feira, 18 de maio de 2016
É feio ser ingrato
Ora, não está nem nunca esteve em causa a manutenção do financiamento público dos atuais alunos dos colégios privados com contratos de associação, até ao fim do respetivo ciclo letivo plurianual. Apesar de muitos destes serem ilegais, por não corresponderem a falhas da rede escolar pública, como exige a lei, o Governo decidiu mantê-los, para não pôr em risco a estabilidade escolar dos alunos. Em vez de protestarem sem fundamento, os alunos deveriam estar gratos pela generosidade...
terça-feira, 17 de maio de 2016
Gostaria de ter dito isto
O antigo Presidente da República tem toda a razão. Vivemos obviamente numa democracia liberal, baseada nas liberdade política e na vontade popular, tal como resulta das eleições. Mas na conceção republicana a democracia é mais do que isso, implicando uma cidadania ativa, empenhada e responsável, o que temos pouco, como decorre do desprezo pela coisa pública, do clientelismo e da "cunha" nas relações com o poder, do vandalismo sobre os equipamentos públicos, da evasão aos impostos, da fraude com as baixas médicas, do incivismo na condução e no parqueamento automóvel, da vileza que campeia nas redes sociais, etc.
A família, a escola e os demais meios de socialização não cumprem a sua missão de criar cidadãos. E a República deixa correr. E sem cidadãos as democracias definham.
Ser cidadão é mais do que ter o cartão de cidadão!
Voltar ao mesmo?
Ora, na falta de poupança nacional, o crescimento do crédito ao consumo não apenas contraria a necessária desalavancagem do endividamento familiar mas também faz aumentar o endividamento da economia perante o estrangeiro -, o contrário do que deveria estar a suceder.
domingo, 15 de maio de 2016
Quem tudo quer...
Arriscam-se a ficar sem nada. De facto, o Governo anunciou que vai cumprir os contratos existentes, pelo tempo que eles abrangem, apesar de a maior parte deles serem ilegais, por não se destinarem a preencher falhas na oferta da rede pública. Ora se os colégios avançarem contra o Estado, é evidente que o Governo só tem de invocar a ilegalidade desses contratos para deixar de os cumprir.
Quem tudo quer, arrisca-se a tudo perder.
No seu pior
Em geral a direita acha que o Estado não deve subsidiar atividades privadas -, exceto quando são as dos seus. A direita acha em geral que os serviços públicos devem ser pagos pelos utentes -, mas nesta questão defende que os contribuintes devem pagar um serviço privado. A direita acha em geral que os Estado deve evitar gastos públicos supérfluos -, exceto quando se trata de servir os seus interesses particulares.
Nunca se viu tanta hipocrisia e tanto farisaísmo na arte de "chular" o Estado.
Disgusting!
[revisto]
Adenda
Um dos mais tristes espetáculos neste debate foi o de alguns juristas sem escrúpulos da direita que vieram tentar tresler a Constituição para concluir que afinal o Estado tem a obrigação de financiar todos os colégios privados para garantir a liberdade de escolha e que, portanto, o Estado anda há quarenta anos a fugir às suas responsabilidades. Patético!
Gostaria de ter escrito isto
«Daqui a alguns anos estaremos, outra vez, a discutir a previsibilidade como um direito dos privados, sem nunca ter investido o que é preciso na escola pública, começando exactamente pela pré-primária aos 4 e 5 anos. E, sem ter consolidado um bom ensino público na escolaridade obrigatória, andaremos na discussão de sempre, sobre a liberdade de escolha que, com a política feita assim, será sempre uma enorme falácia. O caminho é investir mais nas escolas do Estado, preferencialmente naquelas que estão inseridas em zonas desfavorecidas, onde vivem os filhos dos mais pobres, que nunca serão aceites em escolas privadas, mesmo que lá cheguem com um cheque-ensino de 300 ou 400 euros.»Paulo Baldaia, Diário de Notícias de hoje.
Colapso de um país
O problema é que o descalabro do "chavismo" custou aos venezuelanos a miséria económica e o caos social e político. O estertor autoritário do regime não augura nada de bom.
sábado, 14 de maio de 2016
Forte com os fracos...
É evidente que o Governo de Passos Coelho falhou seriamente os compromissos de consolidação orçamental em 2015, quer quanto ao défice nominal, mesmo corrigido do efeito Banif (3,2% em vez dos prometidos 2,7%), quer especialmente quanto ao défice estrutural (aumento em vez de redução).
Mas há dois argumentos para não sancionar Portugal: primeiro, o país está ainda a recuperar de um penoso processo de austeridade orçamental, mudou de Governo, tem objetivos claros de consolidação orçamental e merece portanto mais uma chance; segundo, a Comissão, que tão complacente tem sido com o défice orçamental da França (que não passou por nenhum estado de emergência orçamental), não pode usar de um padrão mais exigente em relação a países mais vulneráveis, como Portugal.
Uma advertência séria ou uma "pena suspensa" bastam, desde que aplicadas a todos os prevaricadores.
sexta-feira, 13 de maio de 2016
Nuvens pardas
Mesmo que a situação venha a melhorar sob efeito da maior procura interna, a meta orçamental de crescimento para este ano (1,8%) torna-se uma miragem, arrastando também o desempenho do emprego. Correspondentemente, o esforço para cumprir as metas orçamentais quanto ao défice e quanto à dívida pública torna-se ainda mais exigente.
Decididamente, não são boas notícias.
quinta-feira, 12 de maio de 2016
Direito público ao ensino = escola pública
quarta-feira, 11 de maio de 2016
UE-Turquia - refugiados por vistos?!
Restaurando ou desgovernando Schengen?
"Comissão e Conselho querem fazer crer que estamos caminho da restauração de Schengen, descobrindo "significativos progressos" (!) na situação na Grécia, onde há, vergonhosamente, milhares de refugiados bloqueados, presos e em risco de deportação, enquanto na fronteira entre a Hungria e a Eslováquia forças policiais e militares disparam sobre refugiados.
Ao mesmo tempo a Comissão recomenda que Estados Membros como Áustria, Alemanha, Dinamarca e Suécia mantenham fronteiras fechadas por “ameaça à ordem pública e segurança interna”. A negação da realidade até dói. "Mas é temporário", diz a Comissão, legitimando que Estados-Membros se associem para violar Schengen – liderados pela Áustria, mas telecomandados pelo governo alemão que, sem o proclamar, fechou repentinamente a porta aberta aos refugiados anunciada pela Chanceler no Verão passado.
Comissão e Conselho têm pesadas responsabilidades na violação de Schengen por não terem agido logo contra o PM Viktor Órban, quando ele desafiou a União, recusando partilhar a recolocação, começando a erguer muros e a atacar os refugiados.
Conselho e Comissão tudo ainda mais agravaram com o "dirty deal" com Turquia, que para além de imoral e ilegal é, também, impraticável, como desenvolvimentos na própria Turquia comprovam. E ineficaz - só desvia refugiados e redes de passadores para outras paragens...
A proposta da Comissão sobre a revisão do regulamento de Dublin, há muito pedida neste Parlamento, assenta na partilha de responsabilidades e na solidariedade entre Estados-Membros. Conselho e Comissão têm a responsabilidade de encarar este problema como europeu desde JÁ. Precisamos de mais Europa e mais Europa é Schengen. E precisamos de liderança estratégica - que hoje, desgraçadamente, não temos."
(Minha intervenção em debate no plenário do PE, esta tarde, sobre a restauração do Sistema de Schengen de controlo das fronteiras externas da UE)
Riscos acrescidos
A provável redução do crescimento do PIB implica mais dificuldades na execução orçamental (menos receita, mais despesa social) e anuncia riscos acrescidos no cumprimento das metas da consolidação orçamental e de redução do peso da dívida pública.
Crescem, por isso, os indícios sobre a necessidade de medidas orçamentais adicionais para cumprir essas metas.
Europol - contra criminalidade organizada e terrorismo
"Saúdo o relator Diaz de Mera e os relatores-sombra que conseguiram este Regulamento, ao cabo de dois anos de negociações, por Estados Membros resistirem a "lisbonizar" a cooperação policial - ou seja, mais integração através da Europol.
Importa agora que as modificações não fiquem pelo papel e efectivamente representem um mudar mentalidades e de práticas na cooperação policial na Europa. Como os atentados terroristas de Paris e Bruxelas tragicamente expuseram, um dos nossos maiores desafios é a falta de coordenação entre agências policiais e de segurança, aos niveis nacionais e ao nível europeu, o que aproveita à criminalidade organizada, cada vez mais transnacional, incluindo ao terrorismo.
Este Regulamento determina o reforço do controlo democrático a exercer pelo Parlamento Europeu, em associação com os parlamentos nacionais, através da criação do grupo de controlo parlamentar conjunto (GCPC). Fica à nossa responsabilidade exigir aos Governos que partilhem informação através da EUROPOL e colaborem com a EUROPOL: não há consideração maior que a segurança dos nossos cidadãos. E nesse sentido, é também importante o que o PE conseguiu impor neste Regulamento, em respeito pelos principios e em articulação com a Directiva de Protecção de Dados pessoais - crucial para facilitar a interoperabilidade de bases de dados policiais e para a nova Unidade de Referência da Internet.
Este Regulamento é o reconhecimento da Europol como essencial no combate ao terrorismo e outra criminalidade organizada, como ilustrado recentemente no desmantelamento, em colaboração com a polícia portuguesa, de uma rede mafiosa de origem russa que branqueava capitais através do controlo de clubes de futebol em Portugal.
Mas o reforço das capacidades da Europol não pode servir para a desresponsabilização dos Estados-Membros do que lhes compete fazer a nível nacional e europeu contra a criminalidade organizada e o terrorismo, no plano policial, judicial, legislativo, na cooperação entre serviços de informação e na articulação de estratégias e políticas de segurança interna e externa.
Se os Estados Membros continuarem a rivalizar numa corrida para o fundo em programas de "vistos gold" ou "investors' programmes" e na preservação de paraísos fiscais, não nos admiremos por descobrir que estão a contrariar os esforços da Europol e das outras agências de aplicação da lei, escancarando portas à importação de redes de criminalidade organizada, incluindo as terroristas."
(Minha intervenção em debate plenário no PE, esta manhã, sobre o novo Regulamento da Europol)
terça-feira, 10 de maio de 2016
Israel-Palestina: UE a deixar morrer o Processo de Paz
"No mês passado estive na Margem Ocidental, Jerusalém e Hebron. Vim alarmada com o ambiente explosivo e o desespero do povo palestiniano, descrente do Processo de Paz, da própria liderança, da solução dos dois Estados - que todos consideram já inviável face à política de colonatos, deslocamentos forçados, demolições, repressão militar e humilhação prosseguida, cruel e estupidamente, por Israel - sem falar em Gaza, prisão a céu aberto. Nada melhor para promover a radicalização da juventude e das crianças palestinianas.
Na comunidade beduína de Al Hadidiya, no Vale do Jordão, e noutros locais pude ver projectos financiados pela UE que têm sido sistematicamente destruídos por Israel.
Senhora Mogherini,
- Como avalia os resultados do diálogo estruturado UE-Israel que deveria congelar as demolições, quando elas têm aumentado?
- Já pediu compensações a Israel pelos danos que as demolições e o confisco de estruturas financiadas pela UE estão a causar aos contribuintes europeus?
- Vai tornar público o custo dessa destruição?
Pagaremos muito caro, na nossa própria segurança, esses e outros custos da UE não agir e deixar morrer o Processo de Paz."
(Intervenção que fiz no plenário do PE, em debate esta noite sobre as demolições e destruições na Palestina/Margem Ocidental)
A UE face ao descalabro na Venezuela
"Está iminente o colapso na Venezuela, acelerado pelo preço do petróleo em queda e pela "corruptocracia" a escalar a todos os níveis. Faltam produtos essenciais, como alimentos, medicamentos, cuidados médicos e até energia para os funcionários públicos poderem trabalhar.
De país mais rico da América Latina, a Venezuela está a caminho de se tornar o mais pobre. Com inflação a 600%, 3/4 da população a viver abaixo da linha de pobreza, em insegurança e violência totais.
A União Europeia e este Parlamento, ainda para mais com tantos bi-nacionais entre os venezuelanos, não podem deixar de condenar a actuação sectária, populista e delirante do Presidente Maduro, que não governa, desgoverna a Venezuela.
Senhora Mogherini,
Não demore a exigir, em nome da UE, ao Presidente e ao Governo da Venezuela que, se têm uma réstea de bom-senso, ponham fim imediatamente à censura e perseguição dos media, dos defensores dos direitos humanos e dos opositores, começando a trabalhar num entendimento patriótico com o Parlamento para salvar o país e o povo da catástrofe".
(Intervenção que fiz esta noite em debate plenário do PE sobre a situação na Venezuela)