terça-feira, 6 de setembro de 2011

No negócio da tortura, com Khadafi

Vai um sururu em Londres, segundo a BBC, por documentação apanhada pela Human Rights Watch em Tripoli demonstrar a existência de estreitos laços entre o MI6, a CIA e o regime de Khadafi. Ao ponto do PM Cameron ter anunciado que pediu a um juiz para examinar as acusações de que tal colaboração envolveu cooperação na tortura de suspeitos de terrorismo, sujeitos ao programa dos chamados "voos da CIA" ( "extraordinary renditions").
O comandante das forças anti- Khadafi em Tripoli, Abdel Hakim Belhaj, revelou ter sido torturado depois de ter para la sido levado para a Libia numa operação da CIA e do MI6 em 2004, depois de preso em Bangkok.
E Abdelati Obeidi, ex-MNE de Khadafi, confirmou ao correspondente da BBC em Tripoli que o MI6 estava operacional na Líbia, de braço dado com os esbirros de Khadafi, a pretexto de combater o terrorismo, até há seis meses atrás. Isto é, o negócio de deslocalizar a tortura para Khadafi só foi interrompido pela rebelião popular Líbia de 17 de Fevereiro...
Enfim, governantes como Cameron, mais os dos governos Labour de Tony Blair ,como Jack Straw, que foram mais do que coniventes com a deslocalização da tortura para os esbirros dos regimes egípcio, sírio, marroquino, argelino, líbio, etc.... fazem agora de meninos de coro, pretendendo-se chocados, ofendidos e pressurosos na descoberta dos "culpados" . Tudo gentinha dos serviços secretos, claro. Como se eles próprios, ao mais alto nivel politico, não tivessem pesadas responsabilidades por tudo o que se passou e pelo encobrimento e negação a que dedicaram tanto esforço.
Isto aplica-se aos nossos responsáveis políticos, dos governos Barroso a Sócrates, incluindo os eleitos com assento na AR que se mancomunaram para impedir a investigação do grau de conhecimento e cumplicidade portuguesa nos "voos da tortura". Conhecimento e cumplicidade que existiu, por acção ou omissão. Como demonstram as listas de voos autorizados a passar ou aterrar em Portugal, que eu fui pedindo, decifrando, submetendo a comentários governamentais e tornando publicas, no quadro da investigação desenvolvida pelo Parlamento Europeu.
Uma vista de olhos pelas listas de voos suspeitos e autorizados por Portugal permite logo detectar exemplos de passagens para a Líbia que mereciam ser completamente esclarecidas. Quem autorizou a passagem ou aterragem em Portugal, como, em que termos, com conhecimento e verificação do objectivo do voo? Com controle do que transportava, carga ou passageiros, com prisioneiros declarados ou não? Com controlo alfandegário e do SEF sobre passageiros, equipagem, carga? Com as autoridades portuguesas a saberem e a serem cúmplices da entrega de presos para tortura, ou a serem enganadas pelas autoridades americanas ou outras? Com os nossos serviços secretos e as Forcas Armadas a saber, ou a leste, por conivência ou incompetência?
Por exemplo:

- Avião N85VM, GLF 4, voo civil, privado, operado pela Richmor Aviation (uma das usadas pela CIA), que foi autorizado por Portugal (INAC?) a voar no dia 26 de Julho de 2004, do aeroporto de Santa Maria para Misurata, Libia. E no dia 29 de Julho a voltar de Misurata para Santa Maria e dai partir no mesmo dia para Washington. Na primeira passagem por Santa Maria, o avião vinha de Rabat e Washington. E a seguir à segunda passagem, voltou no dia 30 de Washington para Rabat, no dia 31 passou por Santa Maria, a caminho de Guantánamo http://www.anagomes.eu/PublicDocs/5002c959-1789-401e-89c9-b11aa1ab699c.pdf

Avião N8068V, GLF5, (avião antes registado como N379P, o tristemente famoso "Guantanamo Express", com dezenas de passagens por Portugal) em voo civil privado, operado pela Premier Executive ( outra companhia usada pela da CIA) que em 8/9/2004 voou de Mitiga, Tripoli para Guantanamo e no dia 15/9/2004 voltou de Guantánamo a Tripoli, com autorização para sobrevoar território português, concedida pelo INAC?http://www.anagomes.eu/PublicDocs/ea8a0710-b093-4ba3-896e-a52a5c173fe1.pdf

- Avião UR82029, operado pela ANTONOV DESIGN BUREAU, em 26/27 de Setembro de 2004 voou de Tripoli para as Lajes, onde foi autorizado a fazer escala técnica (INAC? e a Forca Aerea não quis saber de nada? ) E das Lajes voou para Port-au-Prince (Haiti).
E o mesmo avião, operado pela mesma companhia, em 8 de Setembro de 2005, voltou a voar de Benghazi para as Lajes e de lá tambem para Port-au-Prince mas com a indicação (segundo lista do INAC) de "carga perigosa/ voo ONU".
Que carga? E a nossa Forca Aérea não foi consultada, não quis saber de nada, ali ao lado na Base das Lajes?
http://www.anagomes.eu/PublicDocs/19ec1b2b-7146-42c0-93bc-ea322cea75ed.pdf

Ora digam lá que os avioes acima, que passaram por Portugal a caminho ou com proveniência da Líbia de Khadafi (e a lista não é exaustiva), pelo tempo e pelo modo, não são merecedores de interesse! Tudo com as autoridades portugueses entretidas ...a ver navios.