Tenho, destas coisas da WEB, uma prática meramente instrumental. Sirvo-me do mail para enviar e receber informações. Não navego ao acaso, vou sempre na direcção do que procuro. Nem sempre encontro. Naufrago com frequência. Não menos vezes, recolho as velas e desisto antes de alcançar o destino. Também não sou sensível à estética da WEB. Tenho “sites” preferidos e que consulto regularmente. Não por serem belos e fascinantes, mas por serem bem organizados e fáceis de perscrutar. Sou, portanto, um “internauta” de terceira categoria.
Nisto de escrever, opinar, polemizar e argumentar faz-me falta ver o interlocutor. Ou, no mínimo, fazer-me uma ideia de quem possa ser. Nos jornais fazemo-nos uma ideia (errada? falsa? ilusória? – pouco importa!) de quem nos lê. Para ajudar a essa ilusão, há aquelas histórias das empresas de marketing que despejam relatórios imensos sobre o “perfil do leitor”. Há também as pessoas concretas que reagem ao que se escreve, que gostam ou desgostam do que leram. Na Web, zero! Qualquer navegante – por acaso, por efeito de filtros, ou motores de busca – cruza-se com um escrito e… zás! Responde, intervém, entra-nos no mail, em casa, no nosso tempo. Não diz quem é, e, quando adianta dados biográficos parece que por hábito se apresenta como sendo mais novo, mais culto e mais rico do que realmente é. Enfim, uma cena de ocultação!
Por todas estas razões e por muitas outras mais, nunca me passaria pela cabeça criar um “blog”. Só o gosto da conversa – entre a cavaqueira, a crítica e o excesso próprio da polémica e do humor – que se foi tornando no condimento essencial dos nossos jantares na “Casa Nostra” me fez superar a distância que me separava de qualquer hipotética participação num “blog”.
Só isso e a certeza de que não vai ser preciso contabilizar, nem saber quem paga, os custos desta outra forma de continuar a conversar, me decidiram a entrar no espaço “bloguista”. É que já estamos todos fartos do discurso dos “donos da situação”. Não! As pessoas, as iniciativas, os direitos, os projectos, os serviços, as ideias e o futuro não podem ser vistos apenas como um custo supérfluo, desnecessário, ou sem cabimento orçamental! Aqui, cada um entra sem ter de pagar nada, não compromete o nível de vida das gerações futuras e por mais que visite este “blog”, que entre e saia, não tem de se preocupar com as contas do PEC.
Jorge Wemans