segunda-feira, 5 de janeiro de 2004

Bom nome

Não há como uma fuga à quadra festiva para recarregar baterias. Consegui sobreviver à privação da net e da imprensa nacional, embora secretamente ansioso por novas de estalo, como sempre acontece quando nos encontramos em retiro. De regresso, é bom verificar que a índole da terra não se alterou.

1 Bom nome
Doravante, só há uma saída transparente e não-discriminatória para o problema do bom nome. Se todos os portugueses acusarem, em carta anónima, um dos seus vizinhos de qualquer ilícito, teremos dez milhões de cidadãos em iguais circunstâncias de mau nome na praça. Só assim voltaremos a ser iguais perante a sociedade. Pressuponho, bem-entendido, que a magistratura continuará a observar os sãos princípios de transparência e publicidade que tem ultimamente exibido. E que os media continuarão a desempenhar o seu honroso papel de testemunhas da opinião pública. É certo que, dada a inevitabilidade de todos os portugueses ficarem desonrados, o interesse jornalístico diminui. Mas não deixarão de surgir ideias para novos reality shows, concursos ou bolsas de apostas. Uma excelente oportunidade para a indústria nacional de conteúdos.

2 Bom nome
É coisa que definitivamente os nossos juízes não têm. Na bola, os coitados dos árbitros queixam-se muito da falta de condições, do estatuto amador, dos sacrifícios que fazem em prol do desporto português, sem reconhecimento nem compensação. A sua mediocridade na função arbitral é coisa de somenos. Falhos de carácter e de rigor, os nossos homens do apito continuam a exibir a sua incompetência à pala da falibilidade da avaliação e da insustentável pressão dos dirigentes. No Benfica-Sporting de ontem, ficou bem patente que os piores sentimentos compensam. Antes do jogo, a direcção do Sporting denunciou publicamente o benfiquismo do árbitro, fez comunicados paranóicos e recusou mesmo deslocar-se à Luz. Falho de personalidade, visivelmente influenciável, o juiz quis ser estrela por um dia - o mundo inteiro ficaria a saber que ele não é lampião e não tem medo de ninguém. Sempre desconfiei dos árbitros com gel no cabelo e dos polícias com óculos escuros.

3 Bom nome
... teve a RTP2 de tempos idos. Esta noite vamos assistir ao nascimento de um belo projecto de bairro, pleno de boas intenções e debilidades mil. Espero sinceramente enganar-me, mas não antevejo qualquer viabilidade no projecto de A Dois. Pior, suspeito que a coisa foi desenhada para ter um fim trágico. Serei cliente da primeira hora, por dever de cidadania, mas que ninguém espere a complacência do mercado, nem sequer a dos segmentos mais esclarecidos. Esses, sobretudo esses, têm pouca paciência para experimentalismos.

Luís Nazaré