Eis um excerto das declarações do judoca João Pina, em quem a tribo lusitana deposita esperanças na obtenção de uma medalha olímpica, ao jornal Record de 9 de Fevereiro:
“O meu peso normal ronda os setenta e poucos quilos [para 1,76 m de altura] e é nesta fase que rendo mais nos treinos. Só que, a 15 dias das competições, sou obrigado a perder peso para entrar na categoria dos 66 kg e isso causa-me muito sofrimento. Antes de vir para Paris [para um torneio pré-olímpico, onde o atleta conquistou uma medalha de bronze], as refeições foram mínimas [uma frugal salada pode servir de repasto] e, para o peso baixar, nem sequer se pode beber água [João Pina chega a beber quase três litros de água depois de se pesar para uma competição, a fim de compensar a privação de líquidos por que passa nos dias anteriores]. Este tipo de coisas não dá saúde a ninguém. Isto mata.”
Após os Jogos Olímpicos de Atenas, João Pina quer mesmo subir à categoria dos 73 kg, já que a manutenção artificial nos 66 kg está a deixar o atleta psicologicamente afectado. É que, “se o peso não estiver equilibrado com as necessidades do organismo, aumentam os riscos de lesões e o sistema imunitário fica debilitado. Infelizmente, o judo [de competição] tem de conviver com este tipo de sacrifícios”.
Terá mesmo? E os dirigentes desportivos nacionais, também terão? E a medicina desportiva, também terá? Vale tudo para caçar medalhas?
Fotografia de David Finch (http://www.judophotos.com)
Luís Nazaré