quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

O que vale o prestígio de uma Universidade?

No “Post Scriptum” sou directamente interpelado sobre a recente atribuição do doutoramento "honoris causa" pela Universidade de Coimbra ao director alemão da Auto-Europa, considerada desde logo como um caso de «mera prostituição académica, que afecta aquela que ainda é a nossa Universidade com maior prestígio histórico internacional».

Não acompanhei o processo nem participei na cerimónia, pelo que não tenho conhecimento directo das circunstâncias do caso. Mas sou contra a banalização desses agraciamentos académicos e ainda mais contra qualquer oportunismo interesseiro na sua concessão.
No entanto, os doutoramentos “honoris causa” não visam premiar somente a excelência académica e científica, literária ou artística, mas também as contribuições de destaque em outras áreas, desde a benemerência até ao desenvolvimento económico, desde os direitos humanos até à boa governação.
No caso da Universidade de Coimbra acresce que tradicionalmente ela tem sido utilizada como um instrumento de política internacional, sendo muitas vezes instada a doutorar personalidades que Lisboa gostaria de premiar por algum motivo relevante.
No caso concreto, se, como me asseguram, a principal motivação foi prestar reconhecimento simbólico à contribuição dos investidores estrangeiros para o desenvolvimento económico, social e tecnológico do país (o que em si não é censurável), então pode bem dizer-se que, tendo em conta o currículo da personalidade e da empresa em causa, a escolha até nem é despropositada.
Mas teria sido bom que tivesse sido só esta a mensagem passada para fora...

Vital Moreira