terça-feira, 30 de março de 2004

Um fantasma que vivia

Soube hoje que morreu Rui Rodrigues, aos 51 anos. Outro num tão curto espaço de tempo, depois de Emanuel Félix. Estes nomes não lhe dizem nada porque são poetas açorianos e a insularidade tem destas coisas. Mas eram grandes.
Conheci o jornalista Rui Rodrigues aos 16 anos, na RDP-Açores. Impressionava-me a imagem daquele homem taciturno, em absoluto contraste com a irreverência própria da minha adolescência, feliz no seu primeiro programa de rádio. Mas Rui Rodrigues não era taciturno. Era, talvez, "sofrido" - uma das mais belas palavras da nossa língua. Podem encontrá-la, provavelmente, em meia dúzia de fados. "Sofrido" e "fado", aliás, são palavras que vão bem com os Açores - e só quem lá viveu percebe que não digo isto com tristeza. Mesmo destinos pesados como o de Rui Rodrigues têm outro carisma naqueles 9 rochedos.
Rui Rodrigues era, aos meus olhos, um fantasma que vivia. Por uma simples razão: nunca trocámos uma palavra. Nunca me atrevi. Mas, anos mais tarde, li os seus livros. E, pela primeira vez, ouvi as suas palavras.
Mereceram a pena. Valeram o silêncio que parecia impor como regra no dia-a-dia. Deixo-vos uma crónica que explica melhor.