Entre a última sexta-feira e domingo, passei dois dias fechado num hotel, 140 kms a norte de Barcelona, participando num colóquio sobre as relações ibéricas. Alguns dos meus companheiros de retiro eram jornalistas, intelectuais e políticos portugueses. Foi nesse ambiente um tanto irreal que fomos recebendo notícias do país: a comunicação do Presidente da República, a demissão de Ferro Rodrigues, a morte de Maria de Lourdes Pintasilgo.
Escusado será dizer que, apesar do interesse dos temas em debate no colóquio, passámos (nós, os portugueses) a maior parte do tempo a discutir as novidades do outro lado da península. Fiquei com a sensação de que a distância a que nos encontrávamos dos acontecimentos se tornara subitamente muito maior do que aquela que efectivamente nos separava do palco onde eles ocorriam. Uma sensação de estranheza, como se fôssemos estrangeiros observando, muito de longe, fenómenos surpreendentes. E sabendo, ao mesmo tempo, que eles tinham a ver directamente connosco.
Senti a impotência dos espectadores perante os acontecimentos, reforçada pelo décor bizarro de um hotel a meio de um campo de golfe à beira dos Pirinéus. Poderia ser o ponto de partida para uma «short-story», uma peça de teatro, talvez um filme. Entretanto, regressado a Lisboa, mergulhando no «vivo» da situação, lendo o nosso blog, que me resta dizer? Seguem acima algumas notas.
Vicente Jorge Silva