segunda-feira, 8 de novembro de 2004

A carta de condução

ou
Motivos para a ausência prolongada

Nunca sei o que escrever em todo o tipo de formulários sempre que chega o espaço em branco reservado à "profissão". Mas poderei dizer com tranquilidade que me inclino cada vez mais para uma actividade relacionada com o teatro. Ao fim de alguns anos disto posso dizer que encontrei um padrão, um estranho, bizarro mas fascinante padrão: a minha vida torna-se bem mais interessante durante as temporadas de espectáculos em que estou envolvido.
Não o sei explicar, não tentarei sequer, mas é um facto. Há qualquer coisa que passa do palco para a vida no exterior. Um algo misterioso que me dá confiança e que conjuga uma série de acasos positivos. Por isso, mais do que o vazio a seguir à estreia, sinto-me particularmente triste no último espectáculo das temporadas. Tão perturbado como nos dias de aniversário - perante a constatação de que, inevitavelmente, estou um ano mais velho. Por outro lado, descobri sem querer que - com as "URGÊNCIAS" - algo novo mudou no que à minha própria maturidade diz respeito. Todas as pequenas peças me tocam, emocionam de determinada forma. Talvez tenha chegado a altura, no que a Teatro diz respeito, de tirar a carta de condução - isto é, de aceitar confortavelmente o facto inexorável de que estarei (e quero estar) ligado a este mundo para o resto da vida.
Porque descobri que não são importantes os meus 27 anos de vida mas sim o pormenor deste ser o meu 18ºespectáculo de teatro (contabilizando diversas funções nas fichas técnicas dos ditos dezoito).
Pai, mãe... já sou adulto, maior e imputável. Venha a meia-idade que não há tempo a perder.

publicado em Urgências