Não, não foi tanto porque o meu relatório sobre o papel da UE no Iraque foi esta manhã aprovado por grande maioria no PE (506 votos a favor, contra 25 e outras 26 abstenções). Já sabia que ia correr bem!
Foi porque conseguimos reunir mais do que as trezentas e tal assinaturas necessárias para transformar em "resolução aprovada pelo PE" uma declaração que eu e mais quatro deputados (de vários países e cores políticas) tínhamos apresentado em Janeiro. Conseguimos hoje chegar às 410 assinaturas (incluindo todos os deputados portugueses)!
E sobre o que é esta declaração, agora passada a resolução?
Sobre Munir, um extraordinário defensor dos direitos humanos indonésio, que há três anos foi assassinado (envenenado, num voo entre Jacarta e Amesterdão). E sobre a necessidade de apoiar todos aqueles que na Indonésia - incluindo a família e amigos de Munir - se batem por que os mandantes do assassinato, e não apenas os executores (como o piloto Pollycarpus, já condenado), sejam levados à justiça.
Munir fundou, ainda durante o regime de Suharto, a mais importante ONG de direitos humanos indonésia, a KONTRAS. Mais tarde fundou outra, que ainda existe também, a IMPARSIAL. Munir foi muito meu amigo. Foi nosso amigo! dos portugueses em Jacarta, em 1999, que se esforçavam por compreender como funcionava a sociedade indonésia no tumulto do PREC habibiano e o que cozinhavam os seus mais reaccionários militares relativamente a Timor Leste. Munir confidenciou-me muita coisa que nós precisávamos de saber. Avisou-me de muitos golpes que se estavam a preparar. E publicamente denunciou sempre, com uma audácia de assombrar, as violaçoes mais grosseiras e a corrupção mais desenfreada a que se entregavam os apaniguados de Suharto, incluindo certos militares que no reinado de Megawati chegaram a posições de destaque (e as principais suspeitas da ordem para o seu assassinato levam a um patife que eu conheci como chefe da inteligência da Presidente Megawati - talvez porque Munir denunciara os seus negócios ilegais de madeira na Paupua).
Quantas vezes eu vi Munir em reuniões públicas em Jacarta expor, com inteligência e uma tenacidade rara em qualquer parte do mundo, os maiores desmandos por parte de generais ou ministros indonésios! E quantas vezes pensei: "Ai, este homem tão pequenino e tão grande na coragem!... Um dia vai acontecer-lhe alguma coisa...". Aconteceu!
Mas nós, todos aqueles que o admirávamos, não vamos esquecer, nem descansar, enquanto os principais criminosos não forem julgados e punidos.
Esta resolução hoje aprovada pelo PE é importante, vai ter impacte na Indonésia. Não serve apenas para respaldar Suciwati, a viúva de Munir. Mas para apoiar todos aqueles que na Indonésia - activistas, académicos, jornalistas, parlamentares, até membros do actual governo - se batem pela Justiça, pelos direitos humanos, pelas liberdadeds básicas e pela democracia.
Por tudo isso, hoje estou contente - comigo e com os meus assistentes (a Marta, em especial), que ajudaram persistentemente na tarefa dura de levar 400 membros a assinar a declaração. Hoje ganhámos uma batalha!